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quinta-feira, 19 de abril de 2012

HOMILIA PARA O TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO PASCAL DE 2012

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

O Terceiro Domingo do Tempo Pascal nos apresenta Jesus ressuscitado dos mortos, revelando-se novamente à Comunidade dos discípulos, desejando-lhe: ‘a paz esteja convosco!’.

A morte e a ressurreição do Senhor ocupam o centro da história da salvação. A escuta da Palavra de Deus suscita a fé em Cristo ressuscitado. Como outrora os discípulos, hoje, nós também experimentamos sua presença por meio da Palavra e do Pão da vida. Ele nos comunica a paz e nos confirma como testemunhas do mistério de sua Páscoa. Confirmados na fé pelos sinais sensíveis e instruídos pelas palavras da Escritura, podemos perceber a sua presença viva na comunidade e na história. [...]

Enquanto o pecado que nos faz virar as costas para Deus, deixando-nos mofos, embolorados, deprimidos e na sombra da solidão, o sepulcro vazio do Ressuscitado nos devolve aquela paz que nossa arrogância e prepotência nos roubam [...].

Como Igreja, seguimos a caminhada pascal com as manifestações de Jesus ressuscitado em meio à comunidade de seus seguidores. O medo e a incerteza de outrora e de hoje levantam algumas interrogações: Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos seres humanos a salvação?

O Apóstolo Pedro afirma ser testemunha viva da ressurreição: ‘Deus ressuscitou Jesus dos mortos’ (cf. At 3,15). Esse acontecimento é Boa-Nova para o mundo. Por isso, os apóstolos são, em primeiro lugar, testemunhas e anunciadores da ressurreição de Jesus Cristo. ‘Disto nós somos testemunhas’.

O Evangelho do Terceiro Domingo da Páscoa pode ser chamado de a ‘a prova dos sentidos’. Os sentimentos dos discípulos são de medo, susto, surpresa, alegria. Para que eles possam entender o que está acontecendo, o Ressuscitado fala, deixa-se ver, pede para ser tocado e come na presença deles. A seguir, para levar seus ouvintes a crerem, o Ressuscitado passa a fazer memória do que está escrito sobre ele na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. A argumentação a partir das Escrituras, como palavra inspirada, torna-se uma fonte indispensável para compreender os acontecimentos relacionados ao Ressuscitado.

São Jerônimo, o ‘Leão do Deserto’, alerta: ‘Desconhecer as Escrituras é ignorar o próprio Cristo’. ‘Quem conhece a Palavra divina conhece plenamente também o significado de cada criatura’ (Verbum Domini, n. 10). ‘Desde o início, os cristãos tiveram consciência de que, em Cristo, a Palavra de Deus está presente como Pessoa. A Palavra de Deus é a luz verdadeira, de quem o homem tem necessidade. Sim, na ressurreição, o Filho de Deus surgiu como Luz do mundo. Agora vivendo com ele e para ele, podemos viver na luz’ (Verbum Domini, n. 12). No Mistério Pascal, realizam-se ‘as palavras da Escritura’ (Verbum Domini, n. 13). (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 21, pp. 37-42).

A Palavra de Deus do Terceiro Domingo do Tempo Pascal nos chama ao compromisso e à fidelidade. Acesos no Círio Pascal, símbolo do Ressuscitado no meio da Comunidade de Fé, nos tornamos uma extensão do mesmo. Outros “Cristos” num mundo onde ainda somos atraídos por caminhos de prazeres imediatos, mesmo que nos esvaziem do amor de Deus derramado do próprio Filho, que abraçou a humanidade no abraço da cruz. Só ressuscita de verdade com Cristo, quem é fiel a Ele por meio da Comunidade de Fé, Oração e Amor. Não basta sermos solidários com a morte, quando nós mesmos protagonizamos a Cultura da Morte em nossas eleições. É interessante como arranjamos tempo para nossos compromissos sociais: aqueles que garantem nosso prestígio frágil, porque um dia acaba. É interessante como gostamos de aparecer e necessitamos de reconhecimento, que cai no esquecimento de quem fica depois de nossa passagem por este tempo e espaço terrenos. É interessante o tempo que investimos para estarmos sempre ao lado dos que estão “em alta”, quando nem sempre encontramos tempo, disponibilidade, generosidade e compaixão para com os menos favorecidos. Somos tão rápidos nas marteladas de pregos naqueles que erram de quando em vez, segundo as convenções sociais, mas tão lerdos para estender nossas mãos e oferecer o perdão que tanto imploramos quando nós mesmos caímos. Cristo seria bem mais presente e sentido entre nós, se não deixássemos apagar a chama que acendemos n’Ele na Vigília Pascal. Ele quer tanto ressuscitar mais do que ser constantemente crucificado pelos pregos de nossas línguas felinas, caluniosas e tantas vezes venenosas.

Sejamos um “Cristo aceso” a iluminar o caminho sombrio dos nossos irmãos que sofrem exclusões e são preteridos por nossa sociedade tantas vezes alimentada pela hipocrisia! Sejamos a Esperança dos que a perdem a cada esquina de suas vidas!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e cheio de novas esperanças,

Padre Gilberto Kasper
(Ler At 3,13-15.17-19; Sl 4; 1 Jo 2,1-5 e Lc 24,35-48)