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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - Trigésimo Domingo do Tempo Comum

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Quem se eleva será humilhado e

Quem se humilha será elevado” (Lc 18,14b). 

            “Neste Trigésimo Domingo do Tempo Comum, continuamos acompanhando Lucas, que nos fala sobre a oração. Hoje a insistência é sobre ‘como orar’.

            A parábola do fariseu e do publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, marca a centralidade da celebração e da pregação deste domingo. Certamente o merece, mas convém procurar que a assembléia penetre no sentido da parábola e não fique na superficialidade de dizer que o fariseu é mau e o publicano é bom.

            Pode ser perigosa uma interpretação mal feita: se justificaria o pecado e se desestimularia a observância dos preceitos sagrados, que são importantes, mas não bastam. A justificação por meio do reconhecimento do próprio pecado e pela fé no amor de Deus é o tema de fundo desta parábola.

            Tanto o fariseu quanto o cobrador de impostos eram pessoas de fé. Também para nós, hoje, o problema não é tanto o contraste entre fé e falta de fé, mas entre modos diversos de colocá-la em prática. Ninguém tolera que uma pessoa religiosa viva de forma errada. Todos sentimos simpatia por uma pessoa de bem, independentemente de sua religião.

            A oração do publicano torna-se um modelo não só de oração, mas também da atitude de quem reza. Nossa oração deve partir de uma atitude fundamental de humildade, reconhecendo que não podemos nos salvar a nós mesmos. E igualmente isso que ouvimos na primeira leitura do Livro do Eclesiástico: a humildade é indispensável para que a oração possa ‘atravessar as nuvens’ e obter resultado. A oração do Salmo 33 se contrapõe aos soberbos que têm o coração atribulado: o Senhor está perto de quem tem o coração ferido’.

            A salvação da pessoa humana somente poderá vir de Cristo, o qual, embora sendo de natureza divina, humilhou-se a si mesmo até a morte e morte de cruz, e, por isso, foi elevado na glória. O cristão só se pode gloriar da cruz. Foi assim que São Paulo entendeu, bem expresso no final de sua vida: ‘Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro’ (1Tm 1,15). Quando era jovem fariseu, não teria dito palavras semelhantes, porém depois ele se converteu e experimentou, em si mesmo, a obra poderosa do Senhor que o libertou do mal, ou seja, de sua orgulhosa autossuficiência.

            O centro de tudo é este: saber-se e sentir-se pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão tanto no contexto individual quanto no comunitário. No contexto individual, devemos confessar que, muitas vezes, educamos nossos cristãos no farisaísmo: damos a eles as leis como norma fundamental de suas vidas. No contexto comunitário, o farisaísmo se manifesta em grupos da Igreja que se crêem os bons, os cumpridores, os fiéis. Estes rezam para que os que não pensam como eles se convertam, porque estão errados! Onde está radicado o mal do farisaísmo? Na nossa visão de Deus, a quem vemos como um comerciante que vende o céu em troca de obras humanas. Esta parábola prepara muito bem a teologia paulina da justificação que Deus concede a quem não pode se justificar a si mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo, e o Batismo é o seu instrumento.

            Aproximar-se de Deus consiste em abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebem as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então, e somente então, aparece Deus com a promessa da salvação.

            Deus salva os que não têm como se salvar: todos nós. Cristo, no evangelho, não louva a situação humana de pecado do publicano, nem sua indigência moral, sua escassa prática religiosa. Louva, isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais. Jesus também não condena o fariseu por ser religioso, por levar uma vida moral digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e o julgamento que faz dos outros.

            O Apóstolo Paulo frente aos que querem se salvar sozinhos lembra: a lei escraviza. Paulo foi o mestre em mostrar que o cristianismo não é a religião da lei. E a religião da liberdade em Cristo. Por isso, ele testemunha que seu êxito de vida não se deve a ter sido um bom observante da lei mosaica, mas se deve ao fato de Cristo ter estado ao seu lado e dado forças na missão. A salvação cristã vem pela fé em Cristo. Não podemos nos salvar, porque não merecemos a salvação. Participar da vida de Deus é graça, dom que recebe quem tem um coração capaz de receber. De ninguém, jamais, pode-se tirar o direito de amar! Ninguém tem o direito de não perdoar! Ninguém está acima de Deus para os outros julgar! Não há maior alegria do que perdoar, nem maior felicidade do que acolher o perdão!

            Recordemos algumas frases de três santos católicos e de um grande líder indiano: ‘Muito mal suplica a Deus quem nega aos outros o que pede para si’ (São Pedro Crisólogo). ‘Muitos vão à Igreja e recitam milhares de fórmulas de oração, mas quando saem já não sabem o que fizeram; trabalharam com os lábios, mas não compreenderam o que diziam. Então tu que não entendes a tua própria oração, como queres que Deus te ouça?’ (São João Crisóstomo). ‘Devo reduzir-me a zero. Enquanto um homem não se considera espontaneamente o último, não há para ele salvação’ (Mahatma Gandhi). ‘Só se sobe quando se desce’ (São Francisco de Sales).

 O Dia Nacional da Juventude, que, desde 1985, acontece todos os anos no último domingo de outubro, neste ano foi transferido para o próximo domingo, dia 3 de novembro. A temática de ‘Juventude e Missão’ deseja ajudar a sociedade a olhar para a juventude, refletir e acompanhar suas propostas que visam à transformação da realidade de morte em vida” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II de 2013 da CNBB, pp. 73-79).

            Oxalá nossas Comunidades, nossos Líderes, especialmente nós, os clérigos, nos convertamos a partir da Palavra de Deus deste Trigésimo Domingo do Tempo Comum! Saibamos ouvir mais, julgar menos e amar sempre, quem quer que seja. Como é feio ouvirmos “fofocas”, falarmos mal de quem não se encontra presente, logo sem condições de se defender. Pior ainda é escondermos nossos erros, limites e pecados atrás das feridas dos outros, aqueles que geralmente excluímos e julgamos perigosos diante de nossos “cargos, funções, poder e prestígios”. Catalogamos tantas vezes, pessoas que em algum momento de suas vidas caíram, erraram e foram surradas pela vida. Mesmo depois de reerguidos, fazemos questão de apontar mais as cicatrizes do que do o esforço que as pessoas de nossas relações empreendem por serem melhores hoje do que ontem. Precisamos mudar nossa relação com Deus, começando na relação mais humana, justa e amorosa com as pessoas com quem convivemos.

            Num desses mutirões de confissões em preparação ao Natal, a fila de um dos dez padres se alongava. O Bispo chegou e perguntou as pessoas que esperavam naquela longa fila, porque não procuravam os demais padres já desocupados. A resposta que o Prelado ouviu foi a seguinte: “Estamos nesta fila, porque este Padre sabe ouvir e não tem pressa!”

            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Eclo 35,15-17.20-22; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.16-18 e Lc 18,9-14).

Convite Missa Acolhida Dom Moacir


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum - Dia Mundial das Missões

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS

Obra Pontifícia da Infância Missionária 

“Juventude em Missão”.

A quem eu te enviar, irás” (Jr 1,7b).
 

            A Palavra de Deus do Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária nos remete ao tema da oração, nossa relação direta com Deus, do discipulado, nossa relação direta com Jesus Cristo, e da missão, nossa relação direta com o mundo, nesta mudança de época!

            Falar de oração, em nosso tempo, nem sempre é fácil. As pessoas de nosso tempo falam umas com as outras, como nunca antes. Mas como se comunicam? Basta observarmos um pouco, pessoas em encontros sociais, de trabalho ou no simples hodierno: elas (as pessoas) falam com diversas outras pessoas ao mesmo tempo. Temos diante de nós, pessoas que falam conosco, sim, porém, com um ou mais celulares ou outros aparelhos da modernidade de um mundo tecnologicamente avançado, porém virtual, conectados!

            Encontrar um sentido novo, mais burilado em nossa forma de rezar, é talvez, a intenção da Palavra de Deus deste domingo, desde Moisés no Livro do Êxodo, de Jesus no Evangelho de Lucas e dos conselhos de Paulo em sua Segunda carta a Timóteo. Afinal, a oração é o meio mais eficaz de dialogarmos com Deus. E na qualidade de nossa oração, que encontramos ou não, a confiança no amor de Deus para conosco. Só nos abrimos de todo coração, em quem confiamos de verdade. Só nos sentimos felizes e à vontade com quem amamos e queremos bem. O desabafo é sinal de confiança; significa confiar nossas aflições a alguém que sabe ouvir, entender e aceitar nossas limitações e fraquezas, que não poucas vezes nos levam a crises, angústias e depressões. Ou seja, a oração surge dos momentos nossos de todos os dias. Daí a importância da consciência de vivermos em oração sempre, dialogando com Deus que nos ama loucamente e seguramente quer estar em constante comunicação conosco.

            Para rezar, é preciso situar-nos num contexto. Como realidade absoluta de Deus; e Deus é inacessível à nossa realidade. Por isso, não devemos “negociar” com Ele; seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Se nossa realidade íntegra (total) não contém uma referência interna de Deus, e se não interferir em todas as ordens, nossa relação autêntica será impossível. Por isso, vivemos numa exigência interna de Deus (cf. Santo Agostinho de Hipona). São Paulo afirma: “Cristo é a imagem visível de Deus que é invisível” (cf. Cl ,15). A forma como Deus chega pessoalmente até nós, é o amor ao próximo; daí nunca esquecermos o novo mandamento do Amor!

            Por outro lado, na relação com Deus, não há nenhuma mediação legal, nem ritual (cf. Hb 8,8-12; Jr 31). Deus se relaciona com a pessoa através de uma lei escrita no Antigo Testamento, através de uma estrutura social, de preceitos. Agora já não está a lei fora da pessoa, e sim dentro, em seu interior. Por isso, a relação de Deus com a pessoa se faz de forma direta, profunda, em seu interior, em seu coração que significa o mais profundo do ser humano. Com Paulo VI poderíamos dizer, que Deus adentra ao “sacrário humano, a consciência da pessoa”, e mergulha aos porões de sua intimidade, para soprar-lhe do silêncio de seus dóceis lábios, uma declaração de amor ao ouvido de quem está disposto a acolhê-lo.

            Uma das formas místicas e belíssimas de dialogar com Deus é o próprio silêncio, num mundo tão conturbado e barulhento. “Deus é de longos silêncios e raras palavras...”. Não podemos correr o risco de não ouvir o que Deus tem a nos dizer.

            Conta uma pequena estória, que em determinada Igreja, por volta do meio-dia, um homem entrava na Matriz e sentava-se no último banco. Nada dizia. Apenas ficava sentado lá, olhando para frente, sem pestanejar. As zeladoras daquela Igreja, preocupadas, achando que poderia tratar-se de um mal-feitor, pediram que o padre falasse com o homem. Ao perguntá-lo o que fazia todos os dias, no mesmo horário, no último banco da Igreja, ouviu do homem simples: “Senhor Padre, venho aqui todos os dias e olho para Ele e Ele olha para mim. Tem algum problema que eu faça isso?”. O padre retrucou: “Mas o senhor olha para quem, se a Igreja está sempre vazia quando vem aqui?”. O homem concluiu: “Eu olho para Jesus! Não é ele que está naquela caixinha dourada (sacrário)?”. O padre envergonhado passou a fazer, desde aquele dia, companhia mais assídua, em espírito de oração, a Jesus Sacramentado.

            Mas a Palavra de Deus, que trata com delicadeza o tema da oração, quer mais: nossa oração não pode ser individualista, pidona ou simplesmente preceitual. A oração precisa produzir frutos com sabor de justiça, já que o Reino de Deus é um reino de justiça. Logo, onde não há justiça, não há Reino de Deus. Nossa oração deve refletir esperança aos que são oprimidos, pobres, enfermos e desolados. Oração sem confiança não produz esperança. E comunidade sem esperança é inútil. Como diz o Papa Francisco, não passa de uma ONG piedosa.  Assim sendo, nossa oração deverá trabalhar nosso discipulado e nossa missionariedade, justamente no Dia Mundial das Missões!

            Em 2007, o Santuário Nacional de Aparecida, sediou a 5ª Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, debatendo, como tema central a Missão, sob o lema: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida.” Marcado pelas palavras “missão” e “missionários”, o texto base resultante dessa conferência (presidido pelo Papa Francisco, o então Dom Jorge Mario Cardeal Bergoglio) constitui um grande entusiasmo para impulsionar a forma como nossa Igreja, na América Latina e no Caribe, propõe e incentiva a missão.

            E é, finalmente, o Dia da Coleta Mundial para as Missões. Distribuímos os envelopes, que deverão ser devolvidos neste domingo, contendo a partilha de nossa pobreza, em favor de nossos missionários e missionárias, dos quais não poucos passam grandes dificuldades em seu dia-a-dia, anunciando o Reino de Deus e fazendo conhecido Jesus a milhões de pessoas, muitas vezes passando fome. Enquanto em Ribeirão Preto (SP) usufruímos de mais de 200 Missas Dominicais, semanalmente, em lugares de missão, como na Amazônia, nossos irmãos passam anos sem celebrarem a Eucaristia. Um de nossos Padres, ao chegar a uma Comunidade Ribeirinha na Prelazia de Itaquatiara, na Amazônia, no início do Projeto Missionário de nossa Arquidiocese, leu uma faixa com os seguintes dizeres: “Seja bem-vindo Padre. Faz cinco anos que não vemos um!”.

            Ao distribuir os envelopes à minha Comunidade de Fé, Oração e Amor, sugeri, que durante este Mês Missionário, abríssemos mão de alguma guloseima, coisas supérfluas ou até mesmo de algum alimento ou vestuário secundários e colocássemos o resultado de tal renúncia como oferta generosa em favor de nossos missionários. Que ninguém: nem Padres e nem Conselhos Econômicos deixem de enviar à Cúria toda a coleta arrecadada neste Dia Mundial das Missões em todas as celebrações, e também fora delas. Nossa oração exige isso de nós: honestidade, justiça, transparência e generosidade. Só assim nosso amor terá cheiro de Deus. Quem retiver um único centavo, mesmo tendo rezado direitinho, cheirará a mofo, bolor e corrupção. Não sejamos, por favor, “mensaleiros eclesiásticos e pastorais”. Como exercer nossa missão profética de formar consciência crítica de justiça, de ética e de amor ao próximo, se não formos diferentes de tantos de nossos governantes (a minoria não), que tratam nosso povo, de um lado, como “galinhas” com as tais bolsas daqui e dali, mas de outro lado, tirando-lhes as mesmas migalhas da boca, com o vergonhoso desvio de verbas destinadas à saúde, saneamento básico, educação, moradia digna e oportunidades de trabalho justamente remunerado? Que Deus estampado no rosto de nossos missionários não se decepcione conosco!

            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ex 17,8-13; Sl 120(121); 2Tm 3,14-4,2 e Lc 18,1-8).

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - Vigésimo Oitavo Domingo do tempo Comum


Mês Missionário

 

"Senhor, se levardes em conta as nossas faltas,

quem poderá subsistir?

Mas em vós encontra-se o perdão,

Deus de Israel!" (Sl 129,3s).

 

A Palavra de Deus do Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum coloca nosso coração acolhedor diante do grande Milagre da Vida de Deus para conosco e de nossa Gratidão para com Ele!

 

Sou do tempo em que se pedia as coisas "por favor”, e depois de conseguir realizar o pedido, mesmo vindo dos pais, dizia-se "muito agradecido". Os tempos mudaram e a educação também. Os filhos exigem que os pais os sirvam com imediatismo e quando isso não é possível, comportam-se mal-educados e até agressivos. Isso se transfere às nossas Comunidades: somos hoje mais uma Igreja "pidona" do que "agradecida", e ai de Deus, quando não nos atende imediatamente! Viramos as costas para Ele, nos afastamos da Comunidade de Fé e corremos atrás de outros meios. Muitos ainda reduzem Deus a um "camelô", tentando "barganhar" com promessas incabíveis e sem sentido algum. Tenho certa dificuldade com as "salas de milagres": o que Deus fará com tanta coisa, como cabeças e pernas de cera, muletas, fotografias, roupas, e cartinhas?... Será este tipo de gratidão que o Senhor espera de nós? Com todo respeito à religiosidade popular e aos inúmeros Santuários que conservam tais depósitos de objetos, penso que a gratidão esperada por Deus de cada um que agracia com o precioso dom da vida é o amor com sabor divino, o amor realmente gratuito, a capacidade de perdoar e a acolhida, principalmente dos preteridos, discriminados e excluídos de nossa sociedade que vive da aparência e não da essência das pessoas.

 

Em minha infância, conheci no bairro onde cresci, duas senhoras hansenianas. Uma muito pobre já sem nariz e orelhas, trabalhava naturalmente na lavoura e tentava fazer de sua enfermidade um caminho de santidade. Trabalhava rezando e agradecendo a Deus por poder ajudar no sustento da família. Sentia uma admiração muito profunda por ela, pois me ensinava a ser ainda mais agradecido pelo corpo perfeito que Deus me dera. Nossa única semelhança era a pobreza material e a riqueza espiritual. Alguns coleguinhas me repreendiam porque me aproximava dela e a tratava com naturalidade, pois sentiam nojo e temiam serem contagiados com a sua lepra. Tratava-se em Hospital Público e faleceu logo. Nem os medicamentos conseguia comprar. Já na minha infância os preferidos de Deus morriam por falta de condições de tratamentos caros e pelo descaso da Saúde Pública, algo que continua em nossos dias, não obstante promessas jamais cumpridas em campanhas megalomaníacas e mentirosas. A outra, de família economicamente privilegiada, ficava escondida no quarto. A família sentia vergonha e não a expunha a ninguém. Numa tarde consegui, escondido de todos, espiá-la e até falar com ela. Disse-lhe que não se revoltasse, pois eu me comprometia a rezar por sua cura. Tempos depois a internaram numa Clínica em Manaus. Já sacerdote, anos mais tarde a encontrei praticamente curada, ao que me disse: "Tu tinhas mesmo que ser padre. Deus ouviu tuas orações, quando ainda criança. Já tive alta e agora ninguém mais tem vergonha de mim..." Minha alegria foi tamanha, que celebrei várias Missas em ação de graças, esforçando-me para não reclamar de dores insignificantes! 

 

            “Não foram dez os curados? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? Levante-te e vai! Tua fé te salvou” (cf. Lc 17,18-19).

           

            Entre outras, a mensagem principal da Palavra Proclamada neste domingo poderia ser: A maturidade e a grandiosidade de nossa fé consistem na generosidade de nossa gratidão. Sabemos se nossa fé é de verdade madura, na medida em que formos agradecidos a Deus! 

 

            Encontramos em Nossa Senhora, a Mãe Conselheira, Consoladora e Orientadora! Com o coração orante, estaremos unidos a todos, na Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, quando em nossa Igreja Santo Antoninho, no próximo sábado, dia 12, às 9 horas celebraremos a Eucaristia com a Benção das Crianças!

 

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

 

Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2Rs 5,14-17; Sl 97(98); 2Tm 2,8-13 e Lc 17,11-19).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

HOMILIA PARA O 27º DOMINGO COMUM - MÊS MISSIONÁRIO


Meus queridos Amigos e Irmãos na fé!

“Somos servos inúteis; fizemos o que

devíamos fazer” (Lc 17,10b).

 

            “É Cristo que nos chama. É nossa que responde e nos move ao encontro com Ele e com os irmãos.

            Somos, mais uma vez, convidados a tomar parte na Ceia do Senhor. Buscando nosso aperfeiçoamento, somos chamados a encontrar, no Pão da vida eterna, força e alimento para nossa vida de . Na escuta da Palavra de Deus, confiamos a Ele nossas aflições e dificuldades, na certeza de sua presença junto a nós.

            Estamos iniciando o mês de outubro, Mês Missionário e também dedicado a Nossa Senhora e à recitação do Rosário. O testemunho de de Maria, junto à cruz, nos mostra o real valor da para aquele que crê. Sua esperança nos mostra o verdadeiro significado da espera e da confiança naquele que nos chama à vida em plenitude.

            Reunimo-nos para reavivar em nós a chama do amor e da fé operante e transformadora, que nos compromete com o projeto de Jesus. O olhar da fé nos mostra o rosto sofrido de homens e mulheres desorientados pelas injustiças e necessidades do serviço e da missão da Igreja.

            As leituras nos revelam que o justo vive pela fé. Fortalecidos por ela, não  nos envergonhamos do evangelho e conseguimos cumprir com humildade e gratuidade o serviço ao reino que Jesus nos pede.

            O primeiro passo para a superação da violência é acabar com a impunidade e a injustiça. Perto do fim do Ano da Fé, somos motivados pelo evangelho a pedir ao Senhor que aumente a nossa fé, para que ela nos ajude a ser generosos e gratuitos em benefício da comunidade. O autor da segunda carta de São Paulo a Timóteo nos convida a não ter vergonha de viver e proclamar a boa-nova de Jesus.

            A eucaristia que celebramos adquire sentido e plenitude pela fé com que fazemos nossa ação de graças. A fé permite acolher o dom da libertação que Cristo nos oferece’ (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2013 da Paulus, pp. 27-30).

            Os ensinamentos que da Palavra de Deus recebemos, neste domingo, devem ser levados e considerados com máxima atenção.  Uma vez mais Jesus fala da a seus discípulos, de sua importância, mas também e principalmente da forma como devemos tratá-la em nossa vida.

            A não é um conjunto de verdades abstratas em que devemos simplesmente acreditar, com ‘olhos fechados’. A é, antes de tudo, uma atitude fundamental diante de Deus e das situações da vida e da história.

            Para falarmos sobre a , tem um significado particular o célebre texto de Habacuc (primeira leitura), que apresenta a como resposta misteriosa e, no entanto, a única em que se pode confiar perante as injustiças e as violências do mundo, assim como face ao aparente silêncio de Deus. Só quem continua a ter pode viver e esperar, ao passo que quem não tem confiança nem retidão cai na ruína.

            No Evangelho de Lucas, a , antes de ser uma palavra de Jesus, é um pedido explícito apresentado pelos apóstolos. E o pedido é dirigido ao ‘Senhor’, título solene atribuído a Jesus ressuscitado e que Lucas aplica com antecedência a Jesus pré-pascal. Os Apóstolos pedem, por isso, ao Senhor que lhes aumente a , sem a qual não estão em condições de seguir o Mestre e de cumprir os seus preceitos. Aqui não se trata, porém, de ‘aumentar a , mas de começar de verdade a crer, de não se limitar à genérica e ineficaz, mas de confiar em Deus de uma forma total e incondicional. ‘Então de verdade, tudo será possível’.

            Também a segunda leitura convida a tornar a operativa, ‘reanimando o dom de Deus’ recebido, dando ‘testemunho’ corajoso do Senhor.

            Recebemos de Deus a como dom, mas como lidamos com ela? Exigindo o agir de Deus em nossas dificuldades? Esperando ações concretas de Deus em nosso meio? [...]

            O que então dizer de nossos Deputados Federais, que contrários ao Supremo Tribunal Federal, readmitem um comprovado ladrão, o Deputado Donadan, para representar e formular leis àqueles que o elegeram e que ele comprovadamente roubou? Condenado a treze anos de prisão, nosso nobre Deputado não tem nem vergonha de sentar-se na Casa de Leis de um País que é movido pela mentira, corrupção e por atitudes diabólicas daqui e dali.

E o que pensar da Suprema Corte, que vota tecnicamente leis mal elaboradas, que só prendem os menos favorecidos, que não poucas vezes são empurrados a delitos para sobreviverem, enquanto doze dos exaustivamente condenados por um mensalão comprovado, seguramente não cumprirão suas penas em regime fechado? Quanta vergonha nos fazem sentir os nobres Ministros do Supremo Tribunal Federal! Quanta decepção desde a Presidente da República que se “blinda e se imuniza” de qualquer culpa, mesmo que seja tarefa sua, designar quem nos julga?

E o projeto maquiavélico de “Mais Médicos”, meramente politiqueiro e totalmente injusto para com os nossos bons e dedicados médicos: verdadeiros curandeiros em situações de calamidade. De repente nosso Ministro da Saúde, Alexandre Padilha remete a culpa da horrível situação da Saúde do País aos médicos! Quantos Hospitais e Postos de Saúde inacabados, sem condições mínimas de cuidar da saúde dos menos favorecidos! Não faltam médicos em nosso País: falta vergonha de nossos políticos que embolsam verbas destinadas à Saúde e que nunca chegam ao destino. E é este o homem que quer governar o Estado mais rico de nosso País. Quem tem lúcida e comprometida com a justiça, a verdade, o amor gratuito, jamais votará neste tipo de gente! A não ser que traia sua própria ! Mas não desanimemos, porque o que não é de Deus cai. Um dia cai e o tombo de muitos de nossos maus políticos desde a Presidência da República às Prefeituras e Câmaras de Vereadores não sobreviverão uma sociedade que viva sua no Deus da justiça, do amor pelos que sofrem as conseqüências da corrupção, mentiras e maquiagens diabólicas, que subestimam a capacidade de pensar de seu povo!  

[...] ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devemos fazer’. Somos chamados a viver a plenitude do Reino, no entanto, queremos, muitas vezes, nos satisfazer com a mediocridade de grandes e visíveis ações. O chamado de Jesus é para que saibamos encontrar força na graça, dom de Deus, mas muito além disso, para buscarmos viver de forma a cooperar com Deus na construção do Reino de Amor.

Recebemos hoje, portanto, uma mensagem para valorizar a . Mas nossa não é uma espécie de ‘fundo de garantia’ para que Deus nos atenda. Assim como ele não precisa prestar contas, também não é forçado pela nossa . Nossa é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus em Jesus Cristo. Deus mesmo, porém, é soberano, e soberanamente nos dá mais do que ousamos pedir.

Em sintonia com a Campanha da Fraternidade (CF 2013) e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013), o tema da Campanha Missionária deste ano é ‘JUVENTUDE EM MISSÃO’. A Juventude representa dinamismo e ousadia na tarefa missionária que precisa contar com todas as forças. O lema tirado do profeta Jeremias: ‘A quem eu te enviar, irás’ (cf. Jr 1,7b) recorda-nos que Deus continua a chamar e enviar pessoas para anunciar a Boa-Nova de Jesus a todos os povos.

Aproximando-nos da conclusão do ANO DA FÉ (Festa de Cristo Rei no dia 24 de novembro de 2013), a Liturgia da Palavra deste Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum nos ajudará muito a entendermos um pouco melhor este dom que recebemos” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II de 2013 da CNBB, pp. 43-48).

Costumo pensar que no dia do nosso Batismo recebemos, como dom precioso, a na medida em que precisamos. Comparo-a a um anel de brilhantes, que o noivo oferece à noiva, para selar o compromisso, a aliança e a fidelidade, convidando a ao sacramento do Matrimônio. No evento do pedido da moça em casamento, momento do noivado, o rapaz não leva o anel sem um estojo aveludado invólucro em um lindo papel de presentes. A moça recebe o anel de brilhantes, mas fica tão encantada com o invólucro, que nem se dá o trabalho de puxar a fitinha. Guarda o presente na última gaveta de seu criado mudo, para que ninguém lhe tome o anel. Assim, também nós, fazemos com a recebida no Batismo. Então nossa oração deveria ser “Senhor, ajudai-me a cultivar e a manifestar em atitudes concretas, minha fé. Que todos, vendo-a possam encontrar-se convosco!” É a proposta do Ano da Fé. Descubramos o dia de nosso Batismo e o celebremos, testemunhando nossa fé ao mundo, sem vergonha e sem medo. Sejamos corajosos, a fim de que nossa transforme nosso mundo. Não esqueçamos que o Reino de Deus é um Reino de Justiça. Todos os batizado são responsáveis por um Reino de amor, justiça, verdade, liberdade e de paz. Brilhe nossa ao mundo decaído, como brilha um anel de brilhantes no dedo da noiva, comprometida com seu noivo, na aliança e fidelidade. Somente assim, o Ano da Fé alcançará seu objetivo!

Sejam todos muito abençoados, sentindo-se também missionários. Com ternura e gratidão, meu abraço fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler  Hab 1,2-3; 2,2-4; Sl 94(95); 2Tm 1,6-8.13-14 e Lc 17,5-10).