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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


"Preparai o caminho do Senhor,
Endireitai suas veredas!
Toda a pessoa há de ver a salvação de nosso Deus" (cf. Lc 3,4.6).

No Segundo Domingo do Advento, em preparação à vinda do Senhor, mais uma vela acende-se na Coroa do Advento. A luz fica mais forte, podemos visualizar o caminho a percorrer rumo à celebração do Natal de Jesus.
O profeta Isaías anuncia a chegada de um rei que vai restabelecer a paz e a harmonia. É Jesus que vem trazer a salvação para seu povo e mostrar o verdadeiro caminho que conduz ao reino. É necessário converter-se à prática da justiça para reconquistar a harmonia. A conversão é a condição para acolher o reino dos céus. Sabemos acolher-nos mutuamente, como Cristo acolhe a cada um? Neste domingo somos convidados ao sincero esforço de conversão contínua. O Espírito Santo nos torne acolhedores uns dos outros e faça de nós um corpo unido na caridade.
Se no Primeiro Domingo do Advento refletíamos sobre a Vigilância, o Segundo nos propõe uma profunda, sincera, radical e persistente Conversão. São cinco os personagens proclamados na Palavra deste domingo, que nos incentivam à profunda e verdadeira Conversão: O Profeta Isaías, João Batista, o próprio Cristo cujo Natal preparamos, abrindo-lhe caminho em direção à manjedoura de nosso coração, o Espírito Santo, que derrama seus dons até as entranhas de nossa intimidade e a Igreja: o corpo do qual Cristo é a cabeça e nós, seus membros.
Conversão implica em perseverança, em esforço por tornarmo-nos melhores hoje do que ontem, superando o que nos dificulta abertura ao projeto de amor de Deus revelado em Jesus Cristo para cada ser humano. Enquanto preparamos as Festas Natalinas, seria tão salutar pensar qual dificuldade, defeito e por que não dizer, pecado ou hábito ruim que temos a superar! A conversão não acontece num toque de mágica. É como decorar a tabuada: todos os dias devemos repetir, esforçar-nos por sermos melhores hoje do que ontem. Não adianta querermos mudar tudo num só momento. Somos humanos e cheios de defeitos. Façamos uma listinha deles, e a cada dia, tentemos superar um. Se conseguirmos ou não, não é a questão. Importante mesmo é o esforço que empreendermos por jogar fora nossos pecados e acolher os preciosos dons do Espírito Santo que nos devolverão a dignidade de pessoas queridas e amadas por Deus. Assim seremos mais capazes de amar-nos uns aos outros!
Pensar na Coleta da Campanha Nacional da Evangelização nos ajudará nesse exercício de conversão, na medida em que abrirmos mão de algum valor que gastaríamos para presentes, ceias e enfeites de Natal, depositando o mesmo valor no envelope e entregá-lo com o coração orante e feliz no próximo domingo, Gaudete: Domingo Rosa, Domingo da Alegria!
O que significa hoje esse “endireitar a estrada humana”? A estrada humana somos nós mesmos, são nossas atitudes, a nossa vida, o nosso dia a dia. Olhando para dentro de nós e para o mundo que nos cerca, descobrimos uma infinidade de coisas que não andam direito. O que não anda direito hoje? O que anda enchendo de desvios e, até mesmo, “esburacando” a estrada de nossa vida? Se o Senhor viesse hoje para passar por ela, Ele encontraria a estrada de nossa vida preparada, endireitada? Ou há razão para desconfiar que Ele escolheria um outro caminho, porque o nosso está impedido e intransitável? Está na hora de limpar o leito de nossa estrada do egoísmo, do amor próprio, da vontade de humilhar os outros e de progredir na vida à custa dos que não tem voz e nem vez.
Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler: Is 11,1-10; Sl 71(72); Rm 15,4-9 e Mt 3,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2016, pp. 23-26 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Dezembro de 2016), pp. 18-22.

ADVENTO: TEMPO DE ESPERANÇA!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,  Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Santo Agostinho de Hipona, um dos maiores sábios do Cristianismo, afirmou que o desespero é a punição para aqueles que, voluntariamente, deixam de acreditar na verdade e no amor de Deus. E qual é a melhor reação diante de um quadro que quer nos arrastar para o abismo da tristeza e do desespero?
            Devemos assumir nossas limitações e fragilidades com o coração aberto. Fizemos tantas experiências lindas nesse sentido, durante o Ano Santo Extraordinário do Jubileu da Misericórdia!
            Não podemos mudar o que a vida nos reservou, mas temos capacidade, sim, de lidar com nossas perdas e frustrações. Quando o corpo e a alma padecem, a razão e a fé podem nos dar novas respostas.
            Não por acaso, São Francisco de Assis fala da Esperança. Esperar em Deus. Esperar o novo, o bem. Esperar a vida em abundância.
            Esperança tem muito a ver com perseverança. Perseverar em Deus. Não se trata de esquecer o que vivemos e seguirmos como se nada tivesse acontecido. Podemos viver calejados, com cicatrizes na alma, algumas vezes com momentos de dor, mas nunca perder a Esperança de que dias melhores virão. Isso depende de nós! De nossa abertura à Misericórdia de Deus!
            A Esperança não nos ilude, mas nos faz caminhar com serenidade, acreditando que novas possibilidades surgirão, como nos fazia ver o Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires: “Caminhar, de certo modo, já é entrar numa Esperança viva. Assim como a verdade, a Esperança é um dom que nos faz seguir adiante e nos convida a acreditar que cada novo dia trará consigo o pão necessário para a nossa subsistência”.
            Como alpinistas da graça divina, precisamos seguir em frente. Do meio das sombras nascerá a luz. Na hora da dor, brotará a verdadeira Esperança.
            Bem por isso, iniciamos o rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, a Luz que veio iluminar os corações aquecidos pelo Príncipe da paz, num Advento: Tempo de Esperança!

            João Batista, no Segundo Domingo do Advento nos conclama a “prepararmos o caminho do Senhor”, começando com nossa conversão pessoal e interior!

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Bendito sejais, Deus da Esperança,
Pela luz de Cristo, sol de nossa vida,
A quem esperamos com toda a ternura do coração.”
(Antífona para o acendimento da 1ª vela da Coroa do Advento).

            Iniciando o ano litúrgico, as leituras já nos apontam para o final: a vinda do Filho do Homem e nos dão uma luz orientadora para nossa caminhada até sua chegada. O salmo nos ajuda a compreender quem é o Senhor que nos mantém na caminhada: “Que Ele não deixe teu pé vacilar, que teu vigia não cochile! Não! Ele não cochila nem dorme, o vigia de Israel.” Nesta confiança, vamos permanecer vigilantes à espera do Senhor que vem, a cada dia, ao nosso encontro e de toda a comunidade. “Acorramos com nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem”, conforme rezamos neste domingo na oração do dia.
            A visão de Isaías nos enche de esperança de vermos a humanidade toda vivendo sob a orientação do Senhor, andando em seus caminhos e Ele mesmo nos ensinando seu projeto. A sua Palavra julgará as nações e os povos, e todos, ouvindo sua voz transformarão suas armas de guerra em instrumentos de trabalho. Não mais haverá combates uns contra os outros. Toda a humanidade sairá das trevas do ódio, da injustiça, da competição e será guiada pela luz do Senhor. Para que esse final chegue, é urgente começar agora.
            Nosso pedido ardente neste tempo é: Vem, Senhor Jesus! Ele já veio, vem e virá mostrar que é possível viver o projeto definitivo do Pai. Projeto comunitário, sociedade igualitária, de irmãos que vivem na justiça e na fraternidade. A nós cabe mudar a história da humanidade no momento atual para que “venha a nós” o Reino de Deus. É com a globalização da solidariedade, do cooperativismo, da corresponsabilidade, conforme a convocação feita pelo Papa Francisco em Lampedusa, que poderemos “estar preparados para a hora que vem o Filho do Homem”:
            “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolas de sabão: estas são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização, caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!”
            Que o Senhor nos encontre atentos, abertos e solidários ao sofrimento dos irmãos!
            Hoje existem catástrofes provocadas por uns poucos que se sentem donos do mundo e do restante da humanidade. É preciso acordar para a questão ecológica, para o direito das águas, das plantas e dos animais. Mais ainda, acordar para os direitos dos pobres, das crianças, das mulheres, dos indígenas, dos sem água, sem terra e sem teto.
            Como peregrinos em travessia, seres inacabados em processo permanente de crescimento e maturação e, vivendo num mundo ainda não totalmente redimido, marcado por tantas discórdias, exclusões, guerras e desrespeito à vida, recebemos do Senhor, neste domingo, o dom do seu Espírito. Ele nos mantém vigilantes, firmes, confiantes, insistentes, despojando-nos das atitudes e ações das trevas para vestirmos as armas da luz.
            É necessário continuar suplicando e nos comprometendo incansavelmente com a vinda do Reino de amor, de justiça, de inclusão, de igualdade, de solidariedade e de paz em nosso tempo.
            A Palavra de Deus do Primeiro Domingo do Advento que deverá enriquecer nossa semana nos sugere duas atitudes: Vigilância e Confiança em Deus, que será capaz de humanizar nossas relações, tornando-nos sinal de Esperança a todos os desesperançados!
            Iniciamos, certamente, os preparativos para o Natal. Músicas natalinas e luzes piscando nas Lojas, nas Praças e nas fachadas das casas, nos fazem balbuciar inconscientemente os aromas do Natal. Há uma corrida desenfreada para as compras de presentes. A figura do Papai Noel, bem maior do que a pequenina Imagem do Menino Jesus na manjedoura rouba a cena por todos os lugares, mesmo que o aniversariante seja o Menino indefeso e minúsculo reclinado entre as palhas e o feno da estrebaria de animais. Pensemos, então, na Campanha da Evangelização que a Igreja no Brasil propõe para este tempo, e que neste ano tem como lema: “JESUS ESTÁ NO MEIO DE NÓS”. A coleta da partilha de nossa pobreza será no Terceiro Domingo do Advento. Não levemos restos, sobras e migalhas para essa coleta. A cada presente, decoração, guloseimas que formos comprando com o 13º salário e com demais gastos, seria justo separarmos pelo menos 1% para a Coleta, que garante o êxito da Evangelização em nosso Brasil, tão pobre e carente de recursos, para anunciar essa grande alegria: Que Jesus nasceu para nós, mesmo que nem sempre o reconheçamos entre nós ou não tenhamos preparado para Ele a manjedoura de nosso coração.
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 2,1-5; Sl 121(122); Rm 13,11-14 e Mt 24,37-44).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2016, pp. 91-94 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Novembro de 2016), pp. 13-17.

OS FRUTOS DO JUBILEU DA MISERICÓRDIA!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Encerrado o Ano Santo Extraordinário do Jubileu da Misericórdia, e fechadas as “Portas Santas” nas Dioceses do mundo no dia 13 e na Basílica de São Pedro, no Vaticano, dia 20 de novembro, somos todos profundamente agradecidos ao Papa Francisco, por nos ter dado um ano inteiro, para reavaliarmos nossa relação com Deus, com os irmãos e conosco mesmos. Então chegou o momento de cada um se perguntar quais são, de verdade, Os Frutos do Jubileu da Misericórdia!
As celebrações, os eventos, os exercícios das Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais foram, sem dúvida, majestosas, solenes e imbuídas de magnífica criatividade. Milhões de pessoas participaram, de alguma maneira, de eventos tão bem preparados tanto nas Dioceses como na “Cidade Eterna”: Roma.
O Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, Dom Moacir Silva, em sua Homilia, indica alguns frutos, que esperamos sejam saborosos: “Concluímos, hoje, o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, mas não fechamos a Porta da Misericórdia; ela continuará sempre aberta... Não fechamos a porta para manifestar a consequência do Ano da Misericórdia na vida da Igreja que assume uma atitude acolhedora, com portas escancaradas para acolher com amor a quem quer que se arrisque a entrar”. Entendo, assim, que é urgente abrirmos também cada um de nós, a porta da misericórdia de nosso coração. Depois de um ano tão magnífico, não temos o direito de ignorar que o Rosto Misericordioso do Pai se encontra no rosto sofrido e machucado do irmão. Não nos é mais permitido “enxotar” quem quer que seja de nossas Comunidades, de nossas Pastorais, de nossos Serviços e Movimentos Eclesiais. Nossa capacidade de acolher e perdoar, sem rusgas e mágoas, deve ultrapassar nossa mania de querermos ser justos, “certinhos” e melhores do que os outros, mesmo aqueles, que em algum momento “deslizaram”, pecaram e se distanciaram do coração “misericordioso da Igreja-Mãe”.

Dom Moacir Silva disse ainda em sua Homilia, na majestosa Celebração do Encerramento do Ano Santo Extraordinário do Jubileu da Misericórdia: “Agora, com mais dedicação continuemos a praticar as obras da misericórdia corporais e espirituais, certos de que na raiz das obras da caridade está presente o rosto do Deus misericordioso e a necessidade do homem: elas nascem da experiência do amor de Deus e cumprem o mandamento do amor ao próximo”. Os Frutos do Jubileu da Misericórdia serão saborosos na medida em que tivermos a ousada coragem de conversão pessoal. Mudar o que não anda bem nos porões de nossa intimidade. Cumprir o mandamento do amor ao próximo, seja ele quem for. Geralmente amamos “mercenariamente” aqueles que nos convém. Esse amor cheira mal. É fruto azedo, apodrecido e indigesto. Com frequência excluímos pessoas de nossas relações, principalmente quando questionam nosso modo de vida. Isso é muito comum na vida política, social, familiar e muito marcante na vida eclesial. Eis o ponto nevrálgico que grita por uma imediata conversão! Se assim não for, o Jubileu da Misericórdia ficará marcado apenas pelas majestosas celebrações, sem nenhum fruto de conversão!

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Encerramento do Ano Santo – JUBILEU DA MISERICÓRDIA!


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder,
a divindade, a sabedoria, a força e a honra.
A ele glória e poder através dos séculos" (Ap 5,12; 1,6).

Na festa de Cristo Rei do Universo, conclusão do ano litúrgico, encerramento do Ano Santo, O Jubileu da Misericórdia, também comemoramos o dia nacional do leigo e da leiga. Homens e Mulheres que, pelo batismo, são plenamente Igreja e vivem sua missão nas pastorais, nos movimentos e no tecido humano da sociedade, sobretudo na família. Na festa de Cristo Rei, reflitamos sobre quem é esse rei para o mundo de hoje. Os hebreus pedem que Davi seja seu rei, pois crêem que ele os fará felizes. Séculos depois, um grupo dentre eles zomba do rei do universo - o princípio da criação, a palavra que gerou o universo e gera continuamente a vida. As leituras de hoje nos fazem pensar sobre o reinado de Deus no mundo. Davi é ungido rei e reconhecido por todas as tribos de Israel: como acontece a escolha das nossas lideranças políticas (eclesiais e sociais). Jesus é rei que morre para nossa salvação e ouve o clamor dos excluídos. A humanidade de Jesus tornou visível o rosto do Deus invisível.

Gosto de pensar que desde o início da História da Salvação, Deus dribla a humanidade. Não é um rei convencional aos parâmetros de nossa sociedade. Onde já se viu um rei que escolhe um berço de madeira com palhas de feno para nascer; barcos de madeira, como cátedra para ensinar, e uma cruz de madeira, como trono definitivo de Sua realeza!?! Cruz que para os judeus significava vergonha e escândalo; para os romanos, loucura, mas para nós, tornou-se sinal de Salvação!

Somos convidados na Festa de Cristo Rei, a revermos nosso modo de sermos: pessoas, irmãos, sacerdotes, leigos e leigas coordenadores e líderes em nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor. Corremos tanto atrás de poder, cargos, funções, ambientes luxuosos (confundimos bom gosto com luxo exacerbado) e prestígio a todo custo, mesmo que para isso tenhamos de deixar nossa inveja destruir a reputação de outros. Sim, porque a inveja foi o "derramar da garrafinha" da condenação do Rei do Universo à morte mais cruel e escandalosa de sua época: a morte de Cruz! Ou convertemos o poder em serviço, os bens temporais em partilha e o prestígio em humildade, ou não nos identificamos com Jesus Cristo, Rei do Universo!

O Documento de Aparecida, no número 174, referindo-se aos leigos, assim diz: “É importante recordar que o campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim como das esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a igreja se faz presente somente por eles”.

            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler 2Sm 5,1-3; Sl 121(122); Cl 1,12-20 e Lc 23,35-43)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2016, pp. 73-76 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2016), pp. 81-85.


SURPRESAS FRANCISCANAS!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Outubro termina com uma excelente notícia para os cristãos que rezam o que Jesus ensinou na chamada Oração Sacerdotal como vem expresso no Evangelho segundo João, na qual pede que seus discípulos “sejam um”!

A Unidade é essencial para que haja comunhão entre os que desejam os mesmos objetivos e caminham em busca do mesmo ideal. Ninguém consegue desatolar sozinho o carro que encravou num brejo; se não houver ajuda, pode se afundar também. A Unidade é essencial para os cristãos se, de fato querem ser no mundo sinal de Cristo. Entretanto, unidade exige respeito, diálogo, tempo para cicatrizar feridas e, sobretudo desejo de superar as divisões.

Dentre as surpresas boas do Papa Francisco, anoto as recentes viagens apostólicas que fez a países cristãos nos quais o número de católicos é pequeno, mas a fé cristã é firme. O peregrino da Misericórdia tem proposto o diálogo fraterno para que os irmãos e irmãs que se separaram por questões humanas menores vivam hoje impulsionados “pelo que nos une”, que é muito mais valioso que qualquer desculpa separatista. Nisso não há nenhuma artimanha para enquadrar os que pensam diferentes e sim para fazer ver que a unidade é bem para todos os que creem no Cristo. “Estaria Cristo dividido”? Nos perguntava são Paulo! Se cremos no Cristo, e não há outro que nos possa salvar, não faz sentido vivermos desunidos.

Comemorando os cinquenta anos da reaproximação com os Luteranos, o Papa foi à Suécia e se reuniu com os líderes luteranos, rezaram juntos, fizeram memória de todos os passos de cinco séculos até celebrarmos a reconciliação e a proposta de um caminho de unidade. E quem dialoga sai mais fortalecido do diálogo, cresce na sua fé e consegue ver novos horizontes à sua frente. Quem não dialoga revela uma fraqueza interior, um egoísmo fanático e um medo desastroso de perder o que não conquistou.

As “surpresas franciscanas” vêm cobrar de todos os cristãos, principalmente os que vivem na mesma comunidade, atitudes de maior colaboração, diálogo, incentivo, apoio, sinceridade e ajuda nos diversos momentos e necessidades de nossas comunidades. Não tem sentido ficar os diversos grupos se batendo como se fossem inimigos e, na sagrada liturgia se chamarem “irmãos”! Também não tem sentido as pessoas esconderem seus dons e não servir aos irmãos decretando um grave prejuízo ao anúncio do Evangelho aos que esperam a boa nova da salvação.

O papa nos desconcerta porque nos convida a viver com força e fé o cristianismo que se despoja dos aparatos e aparências supérfluas que encobrem o rosto de Cristo. Ao concluir o Ano da Misericórdia, o Papa ensina que ser misericordiosos e misericordiosas é também buscar a união e a unidade, arrepender dos erros e perdoar os dos outros, é propor, acima de tudo Jesus Cristo, e não as nossas manias.

Bendito seja o amor de Deus que faz soprar em sua Igreja essa brisa suave de esperança e de alegria, de dialogo e desejo de comunhão. Estejamos todos a serviço da unidade, da união e da comunhão. Esse é o desejo de Jesus Cristo, nosso Senhor e Redentor.


(Parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO-TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"Meus pensamentos são de paz e não de aflição,
diz o Senhor. Vós me invocareis, e hei de escutar-vos,
e vos trarei de vosso cativeiro, de onde estiverdes" (Jr 29,11s.14).

O Trigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum é o penúltimo do Ano Litúrgico, e traz consigo, na Palavra proclamada, acolhida, refletida, rezada e vivida um sabor de despedida, mas também de um maior compromisso de re-ligare = religião, nossa vida com a vida do mundo em que vivemos e onde somos ou formamos um corpo do qual somos os membros e Cristo é a cabeça. Quando faltamos ao corpo, por menor ou mais insignificantes que possamos parecer, mutilamos o mesmo. O corpo, que a Igreja não nossa, mas de Jesus Cristo, torna-se aleijada, com necessidades especiais...

O evangelho deste domingo parece descrever cenas da vida atual: fala de violência, destruição, tragédias naturais e sociais. Tudo isso não significa o fim do mundo nem é castigo de Deus; antes, é um alerta sobre o nosso comportamento violento em relação aos outros e à natureza. Diante desse quadro sombrio, a eucaristia torna-se fonte de esperança para todos nós na luta pela vida.

Com a palavra de Deus aprendemos que nossos esforços não são inúteis, pois, permanecendo firmes, transformaremos a realidade violenta em realidade de paz, na qual nascerá e brilhará o sol da justiça.

A primeira leitura nos garante que um dia a impunidade acabará. O que não é de Deus cai. Mais cedo ou mais tarde cai: a mentira é descoberta, a inveja e a maldade sobre os outros recairá sobre nós mesmos; morreremos engolindo nosso próprio veneno preparado para prejudicar e puxar o tapete do outro, a ganância, prepotência e arrogância de querer ser mais do que os outros nos darão um belo tombo no tempo em que menos esperarmos. O fim de instituições não significa o fim do mundo. Só Deus não decepciona. As pessoas nos decepcionam porque não são perfeitas, tem seus limites. Daí a necessidade de aprendermos a compreender, acolher o pecador, sem sermos coniventes com seus pecados, mas capazes de perdoar sempre, como nós somos perdoados por Deus.

 Perguntava a uma moça nesta semana, se ela acreditava em Deus, ao que me respondeu Sim, Senhor! Quando perguntei a qual religião pertencia, respondeu: A nenhuma não, Senhor! Só acredito em Deus e não nas religiões que não me dizem nada! O número de pessoas que dizem acreditar em Deus, porém declarando-se sem religião cresce sempre mais e isso me preocupa. Porém não concordo quando a mídia diz que a Igreja Católica perde a cada ano mais fiéis. Para mim, quem deixa a Igreja Católica não é fiel, mas infiel e de infiéis a Igreja não precisa. A pessoa que diz não precisar de religião é individualista, egoísta e descomprometida, acomodada... Certamente não é tão especialista na ação de re-ligare a humanidade a Deus através dos outros. Mutila isso sim, o Corpo, que é a Igreja de Jesus Cristo, independentemente da profissão religiosa. Mas esse tipo de comportamento individualista começa na Família, colocada de bruços, e dos demais Alicerces em Crise de nossos tempos, a Educação, O Governo e a Religião. O povo quer trabalho, não simples emprego, e justiça social, que lhe devolva a dignidade roubada por um capitalismo selvagem que necessita de indigentes para sua própria sobrevivência cruel e desumana.

Reunidos pelo Espírito, formamos a assembléia de irmãos e irmãs que desejam se alimentar do Corpo de Cristo, que nos fortalece nos desafios da vivência cristã. Do contrário, além de mutilarmos o Corpo que formamos com nossa ausência, tornar-nos-emos anêmicos espiritualmente, sem o alimento que nos fortalece para enfrentarmos os desafios que o mundo se nos impõem.

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ml 3,19-20; Sl 97(98); 2Ts 3,7-12 e Lc 21,5-19)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2016, pp. 52-54 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2016), pp. 75-80.


A PESSOA E SUA DIGNIDADE!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Em nome da Reitoria Santo Antoninho, Pão dos Pobres, do Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto e demais Grupos Organizados que acompanho através de meu ministério presbiteral, especialmente crianças e famílias empobrecidas e surradas pela vida, e nem por último meus alunos da AFARP/UNIESP – Faculdade de Ribeirão Preto, desejo ao Prefeito Municipal de Ribeirão Preto eleito no dia 30 de outubro, Duarte Nogueira, um Governo coroado de êxito e orientado pelo diálogo com todos os cidadãos, também com os que pensam diferente, que resgate a dignidade das pessoas e a credibilidade política de nossa tão rica cidade.
Sabemos que os desafios dos Poderes Executivo e também Legislativo serão cruéis. Só o compromisso do diálogo e a participação de TODOS serão capazes de superar e resgatar a dignidade, a confiança e a esperança do povo desencantado de nossa amada Cidade!
Os Poderes constituídos como o Executivo, o Legislativo e o Judiciário deverão sempre merecer o respeito de cada cidadão. Para que isso aconteça, é necessário que os cidadãos sintam nas pessoas eleitas ou designadas para suas funções e cargos, a garantia da transparência, da verdade, da ética, da justiça imparcial, da coerência e do bom sendo, visando sempre e antes de tudo, o serviço ao bem comum!
A maior elegância de nossos eleitos nasce da educação de berço, do empenho debruçado sobre o bem-estar da pessoa, que não é um simples número, código, senha ou coisa. Vivemos a era da “coisificação, da senhaficação, da robotização” das pessoas. Nossa esperança é de que nenhum eleito, nenhum partido ou grupos ideológicos sejam mais importantes do que as pessoas que vivem uma nova esperança, remetida ao Prefeito Municipal, seu Vice-Prefeito, o Secretariado que o ajudará e também sobre os 27 Vereadores, que certamente estão cientes de que o bem comum sempre deverá ser a principal meta a alcançar.

Não me são simpáticas expressões como cargos e funções. Prefiro a expressão serviço! O Prefeito e os Vereadores não são donos do povo, e sim servidores! É o próprio Cristo que ensina seus Apóstolos: “Quem dentre vós quiser ser o primeiro, seja aquele que serve”. Ainda: “Eu não vim para ser servido, mas para servir! Se todos, Governantes e Governados, seguirmos o exemplo do Mestre, certamente superaremos juntos: cada um fazendo a sua parte, os desafios que apontam para um primeiro ano difícil deste novo Governo eleito. Estaremos sempre dispostos a colaborar no que nos for possível, e naturalmente, cobrar postura, educação, respeito e ações salutares de todos os eleitos. Que tanto em nossos discursos, como em nossas ações concretas de elaboração de projetos e suas execuções, jamais percamos de vista em primeiro lugar, A Pessoa e sua Dignidade!

terça-feira, 1 de novembro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS E SANTAS!

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"Alegremo-nos todos no Senhor,
celebrando a festa de Todos os Santos.
Conosco alegram-se os anjos e
glorificam o Filho de Deus".

O Trigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum cede lugar à Solenidade de Todos os Santos e Santas, celebrado, segundo o calendário litúrgico, no dia 1º de Novembro, porém no Brasil, no domingo seguinte.

            A Igreja militante honra a Igreja triunfante celebrando numa única solenidade todos os santos - são as palavras que o sacerdote pronuncia na oração da missa - para render cumulativamente homenagem àquela multidão de santos que povoam o Reino dos céus. A epístola repete as palavras de são João no Apocalipse: E vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as gentes e tribos e povos e línguas.

 Aquela grande multidão que está diante do Cordeiro compreende todos os servos de Deus, a qual a Igreja decretou a canonização, e todos os que - em número imensamente superior - conseguiram a salvação, com a eterna visão beatífica de Deus.

Deus prometeu de fato dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da humilhação. Hoje todos esses santos que tiveram fé na promessa de Cristo, a despeito das fáceis seduções do mal e das aparentes derrotas do bem, alegram-se e exultam pela grande recompensa dada por um Rei incompreensivelmente misericordioso e generoso. E a Igreja militante, unida pelo indissolúvel vínculo da caridade com os filhos que passaram à melhor vida, honra-os com particular solenidade.

A origem da festa hodierna remonta ao século IV. Em Antioquia celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI e cem anos após era fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do Panteon a Nossa Senhora e a todos os mártires. O monumento pagão assumiu o nome cristão de Santa Maria dos Mártires. Naquele dia, durante a missa, fazia-se chover uma chuva de rosas vermelhas. No ano de 835 esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV para 1º de novembro, provavelmente por motivos de simples comodidade, como refere João Beleth no século XII, isto é, porque após a colheita do outono era mais fácil arrecadar comida e bebida para a grande multidão de peregrinos que acorriam a Roma naquela oportunidade.

 Todos são chamados à vida e vocacionados à santidade, tendo como auxílio o testemunho de tantos que são reconhecidos pela Igreja como modelo de vida. Vivendo em plenitude as bem-aventuranças, formamos comunhão com todos os que já foram glorificados com Cristo. É grande a multidão dos que buscaram o Senhor. Eles estão vivendo a plenitude da vida feliz, convivendo face a face com o Deus da vida. As leituras de hoje apontam o caminho que devemos trilhar para também conquistar essa felicidade. São vitoriosos os que se mantêm fiéis ao projeto de Jesus. As bem-aventuranças são o caminho da santidade proposto por Jesus. Já somos filhos de Deus e seremos semelhantes a ele. A Eucaristia transforma-nos, lenta e progressivamente, em seres capazes de contemplar o Pai com todos os que já são salvos. A santidade não só é possível, mas é uma realidade.

Com frequência ouvimos de lábios católicos e cristãos: "Não sou santo... Não nasci para ser santo... Não sirvo para a santidade..." Tais pessoas não compreenderam ainda o próprio Batismo. Uma vez mergulhados no útero da Igreja e tornando-nos filhos de Deus, passamos a seres divinizados! Não divinos, mas divinizados, ou seja, candidatos à Santidade! Gosto de pensar que santo é todo aquele que morrendo, vê Deus como Deus é: tem coisa melhor? Todo ser divinizado procura esforçar-se para viver o Projeto de Vida de Jesus, que são as Bem-aventuranças! Se conseguirmos ou não viver tal proposta de vida, não importa. O importante para Deus é o esforço que empreendemos diariamente por vivê-lo, abrindo-nos à Sua graça. Gosto de comparar esse esforço com as características da criança. Jesus afirma que entra no Reino dos céus, quem for como uma criança. Tais características nós perdemos facilmente quando crescemos, e penso ser necessário reconquistá-las em nossas relações com os irmãos, conosco e com o próprio Deus:
A criança é sincera, nós ao crescermos, mentimos... E como!
A criança é espontânea, nós ao crescermos, fingimos... Por conivência ou conveniência!
A criança é pura, nós ao crescermos maliciamos... Tudo e todos!

Oxalá possamos reconquistar as características da criança, tornando-nos desde já candidatos à santidade!
           
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1Jo 3,1-3 e Mt 5,1-12)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2016, pp. 34-37 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2016), pp. 69-74.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Alegremo-nos todos no Senhor,
celebrando a festa de Todos os Santos.
Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus”.


            Celebrando a Solenidade de Todos os Santos de Deus, comungamos com aqueles que já se encontram na casa do Pai e vivem em plenitude as bem-aventuranças. Nós também somos proclamados felizes, porque formamos a grande família de Deus e procuramos seguir a multidão dos que nos deixaram exemplo de fidelidade e amor.
            A multidão dos fiéis seguidores de Jesus, filhos e filhas amados pelo Pai, reúne-se numa celebração celestial. Ainda em vida são proclamados felizes porque depositaram sua confiança em Deus.
            Todos os que se mantêm fiéis a Cristo serão vitoriosos. As bem-aventuranças são o caminho da santidade proposto por Jesus. Somos filhos e filhas de Deus, pois ele é nosso Pai, e seremos semelhantes a ele.
            A Eucaristia transforma-nos, lenta e progressivamente, em seres capazes de contemplar o Pai, unidos a todos os que são salvos.
            A celebração de Todos os Santos é a festa da santidade anônima. Da santidade entendida, em primeiro lugar, como dom de Deus e resposta fiel da criatura humana. Torna-se impossível enumerar todos os santos, tido como sinais da manifestação maravilhosa da ação de Deus. A santidade pode ser comparada a um grande mosaico que reflete a grandeza da única santidade de Deus.
            Cada santo é um exemplar único e exclusivo. Não podemos pensar a santidade como um produto em série. A comemoração de todos os santos nos abre à imprevisibilidade do Espírito Santo.
            A multiplicidade de santos faz deles um modelo perfeito para a vivência dos carismas pessoais e para a diversidade de opções no seguimento de Jesus e no serviço à Igreja e à sociedade.
            Quando veneramos ou falamos de um santo de nossa devoção, somos tentados a contemplá-lo (a) pela ótica perfeccionista. “Ele foi perfeito”, “Um super-humano’” Não! Os santos, antes de tudo, foram pessoas comuns. Eles fizeram sua caminhada de vida seguindo os passos de Jesus. Participaram da realidade do povo santo e pecador. Contudo, eles se destacaram na vivência radical do ideal proposto pelas bem-aventuranças. Foram pessoas que, por seu modo de viver a Boa-Nova, marcaram significativamente a sociedade de seu tempo e se transformaram em referenciais atualizados para a história.
            O convite evangélico à santidade é proposto a todos. Não é uma realidade impossível de alcançar. Tudo depende do vigor com que se vive o ideal das bem-aventuranças na relação com Cristo e nos compromissos inerentes à vida. Eu e você podemos ser santos. Não importa se somos pessoas de muitas qualidades ou não. O que conta é que sejamos pessoas extraordinárias pela vivência do programa de Jesus resumido nas bem-aventuranças.
            Fica mais uma vez entre nós a pergunta crucial: como ser santo? O que significa ser santo? A liturgia vai nos conduzir para mais perto da santidade de Deus.    
Ouvem-se frequentemente de bons lábios cristãos algumas frases em relação à santidade, como: “Eu não nasci para ser santo...”. “Não sirvo para ser santo...”. “Não sou santo, logo não tenho culpa...” Gosto de pensar que tais cristãos não compreendem o próprio Batismo. O Batismo torna-nos seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade! Não creio que sejam as coisas boas que conseguimos realizar, nem as coisas más que praticamos, por vezes, involuntariamente, que nos conduzem à santidade, porém o esforço empreendido por fazer de tudo para ser bondoso, humilde, servo e anjo para os irmãos, vivendo uma relação de ternura constante. Quem sabe, fazendo uma listinha de esforços diários nos ajude a conquistar a santidade proposta a todos os filhos e filhas de Deus, nascidos do “útero da Igreja, a Pia Batismal!” Já paramos para pensar, com quantos santos convivemos ao longo de nossa vida, mesmo que não reconhecidos, oficialmente, por decretos de beatificações ou canonizações?
            Não deixemos para amanhã, nem mesmo para daqui há pouco: comecemos já nosso esforço por sermos santos, sendo anjos uns dos outros. Só quem é simples e bondoso, sabe o quanto é magnífica a ante-sala da santidade!
                        Desejando-lhes, por intercessão de Todos os Santos, muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1 Jo 3,1-3 e Mt 5,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2016, pp. 34-37 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II de Novembro de 2016, pp. 69-74.

POR QUE MEDO DA MORTE?

Padre Gilberto Kasper Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação – PASCOM, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com 

                    Se há alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez tivessem de serem revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.

                   Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...

                    Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!

                    Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas deve caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!

                   O ônibus, de vez enquando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um email para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, o email são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!

                    Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!"