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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Estamos vivenciando as festas natalinas, com a celebração da manifestação do Senhor em nossa vida e história. Nossa atenção se volta ao mistério da Mãe do Senhor sob o título de ‘Mãe de Deus’.
            Ao afirmar que o Menino, nascido de Maria, é Deus, em decorrência disso, a Igreja proclamou que Maria é Mãe de Deus. E isso não é de agora. Desde muito, nós cristãos honramos “... Maria sempre Virgem, solenemente proclamada Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem, segundo as Escrituras” (UR, n. 15: Decreto conciliar sobre a reintegração da Unidade dos cristãos).
            Neste Dia Mundial da Paz, iniciando um novo ano, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e da proteção permanente de Deus. É em nome de Jesus, a plenitude da bênção, que invocamos bênçãos de paz sobre nós e sobre os povos em conflito.
            A alegria deverá orientar nossa primeira celebração religiosa do novo ano civil.  As festas e os brindes da Passagem do Ano, geralmente, impedem as pessoas de participarem desta significante celebração. Muitos dormem sua ressaca, outros nem conhecem a profundidade de tão linda celebração, que deveria ter maior prioridade entre os cristãos. Acolhidos por Maria, Mãe de Deus e nossa, desperdiçamos a oportunidade de pedir a ela que nos acompanhe ao longo dos próximos 365 dias. Neste Dia Mundial da Paz, somos conclamados a fazer nossa a proposta do Papa Francisco: “Não mais escravos, mas irmãos!”, que é tema do 48º Dia Mundial da Paz. O Papa Francisco recorda-nos que esse flagelo social bem presente em nosso tempo manifesta-se de formas variadas, como no tráfico humano em geral, de imigrantes, na prostituição, na escravidão no trabalho e na exploração do homem pelo homem. Em comunhão com a CNBB, proclamamos Ano da Paz!
            O povo pode contar sempre com as bênçãos de Deus. A maior delas é a vinda do seu Filho, graças ao sim de Maria. A exemplo dos pastores, vamos abrir o coração e nos dispor para o encontro com Jesus.
            Deus quer nos abençoar ao longo de todo este ano. Os pastores, gente pobre e desprezada, são os primeiros a ir ao encontro de Jesus. Deus conta com a colaboração humana para realizar seus projetos. Os pastores cheiram mal, pois cuidavam de ovelhas e viviam ao relento. Poderíamos compará-los, em nossos dias, aos irmãos coletores de lixo. Imaginem que eles correm mais de trinta quilômetros por noite, em nossa metrópole rica e privilegiada, recolhendo nosso lixo depositado nas calçadas. Enquanto as autoridades eclesiásticas, políticas, civis e a nata da elite de uma sociedade economicamente privilegiada pensam anunciar o Salvador do mundo, este se revela, através da Corte Celestial dos Anjos, aos preteridos e “fedidos” entre todos: na época os Pastores; hoje, talvez, nossos Coletores de Lixo, ou aqueles que consideramos Lixo Humano entre nós: os idosos, os enfermos, os dependentes de alguma droga lícita ou não, e nem por último os mendigos mal-cheirosos que adentram nossas celebrações, pedindo uma esmola para suportarem a exclusão com mais um gole de cachaça ou uma cheirada de craque... Se não estivermos abertos ao diferente, ao simples, e não fizermos a experiência da humildade, deixando de lado nossa prepotência, arrogância, auto-suficiência, corremos o risco de desencontrar-nos com o Senhor que só nasce mesmo em manjedouras simples, humildes, puras e livres para acolhê-lo.
                        A palavra de hoje ressalta a imposição do nome de Jesus, sua inserção na sociedade humana. Como o Filho de Deus, nós também recebemos um nome ligado à nossa existência e à nossa missão. A atitude dos pastores nos ensina a acolher e anunciar a Boa Notícia da presença do Salvador em nosso meio. Com Jesus, nos tornamos herdeiros da salvação e podemos clamar: Abba, Pai, vivendo fraternalmente como irmãos e irmãs.
            Maria, a mãe de Jesus, é imagem da comunidade fiel e comprometida com o plano da salvação.
            Com o exemplo de Maria no seu sim incondicional, assumimos “de boa vontade” a proposta de Jesus de sermos promotores da paz em nossos lares e na sociedade em que vivemos.
            Invoquemos com confiança a bênção do Senhor, o Deus de bondade, sobre todos os povos e nações, neste Dia Mundial da Paz. Que ele guarde, ilumine, mostre a sua face de Pai e dê a paz a todos. Com Jesus, o Filho de Maria, a maior bênção da salvação para toda a humanidade, nos comprometemos a trabalhar alegremente na construção da paz.
            Saibamos rezar por nossos Governantes eleitos para promover, além da paz, a maior dignidade de todos os Filhos de Deus. Estejamos atentos e tenhamos a coragem e ousadia proféticas de “cobrar” melhores condições de vida em todos os setores que garantam uma vida digna a cada cidadão, sem nenhuma acepção ou discriminização, deixando de lado as inúmeras “barganhas” divulgadas no ano que se declina. Formemos “consciência política crítica” ainda maior neste novo ano. Esteve em nosso voto consciente o futuro de nosso País. Participar ativamente do processo eleitoral é sempre uma exigência interna e profético-evangélica de cada cristão. Agora não adianta reclamar. Votamos pelo Bem Comum de nosso Brasil e não pelo bem próprio, partidário ou em favor de ideologias diabólicas, porque mentirosas? Não é a economia de um País que o determina civilizadamente desenvolvido. É a dignidade do Povo de um País que deverá valorizar nosso voto! A cultura do consumo e do lucro à custa da indigência do Povo deve ser superada pela Cultura do Encontro, da Fraternidade, da Partilha e da Ternura!
Sejam todos muito abençoados neste Novo Ano que se inicia.  Sejamos protagonistas da paz, por onde passarmos, exalando o perfume da ternura em nossas relações.
Com a mesma ternura, o abraço amigo e fiel.

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7 e Lc 2,16-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus, Janeiro de 2015, pp. 17-19 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo do Natal – 2014-2015, pp. 55-59.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


         A festa da Epifania celebra a manifestação de Jesus Cristo, luz e salvação de Deus, a todos os povos e nações. Jesus é o verdadeiro Messias, o rei justo, o libertador, esperado por todas as pessoas comprometidas em construir o Reino da justiça. Os sábios do Oriente representam os que se deixam guiar pela luz, pelo projeto de Deus a serviço da vida plena. Eles experimentaram uma grande alegria ao encontrarem Jesus, o rei dos judeus, e o adoram, oferecendo-lhe os seus presentes.
            As promessas das Escrituras acerca do Messias são compreendidas à luz da fé na ressurreição. Quem se deixa iluminar pela sabedoria de Deus, acolhe e reconhece Jesus como o Messias prometido, o portador da salvação a toda a humanidade. A ambição, o poder, como os de Herodes, leva a rejeitar a presença do Salvador desde o seu nascimento. A atitude dos reis, que chegam de longe para adorar o Menino, contrasta com a dos chefes de Jerusalém que tramam sua morte.
            Somos convidados a seguir o exemplo dos magos: guiados pela estrela, caminhar ao encontro do salvador da humanidade. A páscoa de Cristo se manifesta como luz na vida de todos nós que esperamos a revelação do Senhor e ansiamos por unidade, justiça e paz.
            Contemplemos nas leituras a glória do Senhor, luz que ilumina e reúne em torno de si toda a humanidade, e acolhamos com fé a manifestação do recém-nascido, nosso salvador.
            Abandonemos o desânimo e olhemos para frente com esperança, pois a glória de Deus já se manifestou sobre a humanidade. Precisamos descobrir a estrela que nos guie de forma segura ao longo do ano. Já não há povo excluído das promessas divinas, manifestadas em Jesus. Deus se manifesta a todos os povos na pessoa frágil do menino Jesus.
            O episódio dos reis magos acentua o acolhimento de Jesus e sua mensagem pelos gentios e prefigura a missão universal dos discípulos de evangelizar “todas as nações”. É um apelo bem atual para a nossa realidade. “Que todos os povos, representados pelos três magos, adorem o criador do universo; Deus seja conhecido não apenas na Judéia, mas no mundo inteiro, a fim de que por toda a parte o seu nome seja grande em Israel” (São Leão Magno).  O itinerário percorrido pelos magos propõe o caminho para encontrar Jesus. Ao descobrir os sinais (a estrela), eles se colocam no caminho, perguntam aos que conhecem as Escrituras, procuram até encontrá-lo e o adoram, aderindo a ele com a fé e a vida.
            O encontro com o Senhor transforma a nossa vida. Sua presença e palavra nos iluminam e nos convidam a levantar, comprometendo-nos a construir um caminho novo de libertação. Em Cristo nos tornamos discípulos e discípulas, participantes da mesma herança, do mesmo corpo, da mesma promessa de salvação. A “Epifania” do Senhor nos proporciona viver a comunhão e a fraternidade com todos os povos do universo.
            Lá na periferia, longe do palácio real, “os magos viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” que indicam, respectivamente, a sua realeza, divindade e incorruptibilidade.
            A estrela que leva os cristãos a Jesus nos dias atuais, é a fé recebida, como dom gratuito no dia em que mergulhados no útero da Igreja, a Pia Batismal. Adotados da sabedoria divina, nosso horizonte aponta a “estrela” que nos conduz a Jesus. Além disso, todo cristão é convidado a ser estrela a qualquer pessoa que esteja à procura de Jesus. É interessante que os Magos procuram saber o itinerário com Herodes, porque nem de longe poderiam imaginar que aquele rei não soubesse do acontecido em Belém. Enganados pelo rei invejoso, tomam caminho adverso, depois de encontrar-se com Jesus. Mesmo assim não conseguem evitar que a inveja incontrolável de Herodes mande matar todos os meninos com menos de dois anos de idade. Seria insuportável conceber um rei em seu lugar, ou então, alguém superior a ele.
            Quantas vezes, entre nós, vestimos a inveja de Herodes, degolando (com nossa língua maldosa) nossos irmãos por pura inveja?
            Há quem engane o itinerário até Jesus. São aqueles que se rogam o direito de julgar, condenar e despistar, para não dizer, enxotar as pessoas de nossas Comunidades: seja por ignorância, seja por pura inveja, esta que cheira a Herodes!
            Como seria bom e agradável ao Senhor, que a Epifania fosse mais real, sincera, sentida e comprometida em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. Ainda há tempo de conversão! Sejamos a Estrela que conduza nossos irmãos a Jesus o Salvador!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3.5-6 e Mt 2,1-12).

Fontes: Liturgia Diária de Janeiro de 2015 da Paulus, pp. 25-28 e Roteiros Homiléticos do Tempo de Natal 2014-2015 da CNBB, pp. 60-66.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Alegremo-nos todos no Senhor:
Hoje nasceu o Salvador do mundo,
Desceu do céu a verdadeira paz!”(Sl 2,7).

ANÚNCIO NATALINO    
“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo
e fez o homem à sua imagem,JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI,
querendo santificar o mundo com a sua vinda,
foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses nasceu da Virgem Maria em Belém de Judá.Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.Venham, adoremos o Salvador.Ele é Emanuel, Deus Conosco.”
(Liturgia Diária de Dezembro de 2014 da Paulus, p. 76)

Nosso Comentário da Palavra da Solenidade do Natal do Senhor, tentará, resumidamente abordar as Celebrações da Noite de dia 24 e do Dia 25 de Dezembro!,
 Procurar
Por isso, “Exultemos todos no Senhor: nasceu o salvador do mundo, do céu desceu a verdadeira paz e felicidade. Na fragilidade da criança, contemplamos a revelação de Deus na história da humanidade. Deus se encarna no humano para nos tornar mais divinos.
           
Todos somos convidados a formar coro com os anjos: glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra às pessoas de boa vontade. Jesus chegou até nós, trazendo-nos a salvação. Chegou a salvação dos pobres e oprimidos (Is 9,1-6). Por meio de Jesus, Deus entra na história da humanidade para dela fazer parte (Lc 2,1-14). A graça de Deus traz salvação a toda a humanidade (Ler Tt 2,11-14).
            Cristo, que nasce pobre em Belém, está entre nós na simplicidade do pão que compartilhamos, dando graças ao Pai. Com Maria e os pastores, reconheçamos e adoremos nosso Senhor.
            As promessas de Deus se cumprem: um menino nasceu para nós; ele é o príncipe da paz e a luz que brilha para o mundo, afastando toda treva. Na fragilidade da criança, Deus se torna presente em nosso meio. A palavra se fez pessoa e veio morar junto conosco.
            A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Acolhamos com alegria a palavra de Deus, força de vida e salvação. Deus vem trazer-nos paz e salvação. A palavra de Deus torna-se carne e habita entre nós. Ele nos fala diretamente por meio de seu Filho.
            Louvemos o Pai porque, com a encarnação de seu Filho, possibilita o encontro do divino com o humano. A palavra eterna do amor de Deus se fez homem, e nós vimos brilhar a sua luz” (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2014 da Paulus, pp. 74-84).
            Gosto muito da frase que se pronuncia, geralmente em voz baixa, durante o canto da preparação das oferendas na Missa, enquanto se coloca uma gota de água no cálice de vinho: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Penso que esta afirmação deveria ser dita em voz alta, pois sintetiza o evento do Natal do Senhor! Nossa participação de toda a História da Salvação é apenas uma gotinha de água, o mínimo, unicamente o esforço por acolher A palavra de Deus que se faz Pessoa igualzinha a nós em tudo, menos no pecado, remetendo-nos ao mais profundo conhecimento de Deus, na meiguice de um recém-nascido. Todo o resto Deus mesmo realiza em nós, na medida em que o permitimos agir.
A Natividade de Jesus é uma festa antiga. Esta celebração deita suas raízes na veneração da gruta em que o Senhor nasceu. No rito romano, como liturgia orgânica e já instituída somente tem-se notícia a partir do século IV, quando aparece pela primeira vez a data de 25 de dezembro, segundo os testemunhos de um antigo documento chamado Cronógrafo Romano.
            O que se celebra nesta liturgia é bem mais do que o aniversário do nascimento histórico de Jesus. É, em suma, a celebração de sua Páscoa vista sob a perspectiva de sua entrada no horizonte da história humana de modo inaudito e admirável, como sugere a bucólica cena do nascimento narrado no Evangelho de Lucas. Embora se possa (e deva!) localizar os feitos maravilhosos do Senhor no âmbito da história humana, que o ocidente convencionou consignar em “passado – presente – futuro”, a ação divina sempre precede e supera os nossos limites temporais e espaciais. Por isso, a liturgia divina quando celebrada se torna uma espécie de parêntesis no tempo cronológico, como momento da história da salvação que nos alcança aqui e agora, um acontecimento que deve ser lembrado em todo tempo e lugar.
            A celebração da Natividade do Senhor é festa de sua manifestação na carne, isto é, Deus vindo ao encontro da humanidade como pessoa humana: “sob véus de humildade podemos ver” o Deus invisível e eternal grandeza (Adeste Fidelis – Cristãos, vinde todos).
            Para Agostinho, no século V, a celebração do Natal do Senhor não tinha sentido de sacramento, era a recordação da Natividade de Jesus. Para o bispo de Hipona, o único sacramento era a Páscoa, pela qual os seres humanos e a criação inteira tinham sido reintegrados à sua origem, que é o próprio Deus, sumo bem. Será Leão Magno, no mesmo século e alguns anos mais tarde quem encontrará o sentido mistérico e por isso, sacramental, do Natal do Senhor. Para ele, a Natividade, celebração da encarnação do Verbo, está intimamente ligada à Páscoa. É seu início, pois, quando a Igreja celebra esta solenidade, comemora o aspecto do novo nascimento dos fiéis para uma vida redimida: ‘No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um de nós, nós nos tornamos eternos’. Fica evidenciado o aspecto sacramental e pascal do Natal do Senhor.   
Gosto de pensar como Deus dribla a humanidade, nascendo numa manjedoura, entre animais. Como se não bastasse, se permite anunciado em primeiro lugar aos mais simples dos simples: os pastores, durante uma fria madrugada. Talvez os únicos acordados naquela noite. Certamente os mais sensíveis e talvez os mais disponíveis para ouvir o jubiloso anúncio dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”, isto é, aos homens e mulheres de coração aberto para acolher, como que uma “manjedoura”, um recém-nascido envolvo em panos, Emanuel, o DEUS CONOSCO, a meiguice e fragilidade de um bebê. Simplesmente uma criança. Isto me convence que Deus é muito mais simples do que O complicamos! Basta estar aberto, atento, ser hospitaleiro e acolhedor. Basta ler a face do Senhor no semblante do Outro!
Feliz e santo Natal a todos!
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18).

UMA NOVA PARÓQUIA ACOLHE O PRÍNCIPE DA PAZ

Natal não é senão uma Páscoa
em tom menor!

  

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.


            Natal é um tempo e lugar de encontro. É como se todos os povos marcassem um tempo e lugar para, em torno do Presépio, uma casa modesta, viver um momento de paz e de balanço da própria vida.
            O Natal é celebrado como um tempo da manifestação de Deus no meio de nós: Epifania! É o momento em que o céu se encontra com a terra: Deus se encontra com homens, mulheres, crianças, jovens, idosos, santos e pecadores, anjos e pastores. Não é linda a cena de Belém? A “Belém” de nosso tempo é nossa casa, nosso lar, nossas Comunidades e Paróquias, é a manjedoura que o Príncipe da Paz busca em cada coração humano. Uma nova Paróquia, convertida, acolhe como Belém, o Príncipe da Paz!
            A estrela de Belém aponta a direção. Cada cristão hoje é convidado a ser essa estrela e apontar a direção que decifre a mensagem para encontrar o Menino, o Príncipe da Paz! Interessante! Normalmente as pessoas famosas em um trono ou palco é que costumam chamar a atenção e aglomerar a multidão. De repente um desconhecido recém-nascido, na periferia da periferia, sem casa e sem trono, torna-se o Príncipe da Paz! Até o cruel Herodes queria encontrar o Menino. É claro que a sua intenção era o pior possível. Não poderia deixar que outro rei nascesse ali bem perto. Isto ameaçaria seu trono. É a velha história de sempre. O singelo Natal acaba mexendo com todos.
            O Natal é muito parecido com a Páscoa. Nascimento e Ressurreição são como que as duas faces da mesma moeda. A Páscoa é o nascimento definitivo para uma nova vida. O Natal é o início de uma quaresma que dura toda a vida. Pode parecer estranho, mas o Natal não é senão uma Páscoa em tom menor!
            Se o Verbo se fez pessoa armando sua tenda, sua casa entre nós (cf. Jo 1,14), somos também convidados a sermos o bálsamo do Natal, que anime os desanimados, que ilumine os desencantados, encarnando de tal modo O Príncipe da Paz, que nos tornemos Palavra, tempo e lugar para o mundo!
            O nascimento do Príncipe da Paz é muito mais do que panetones e presentes. Há uma Teologia muito profunda por detrás deste maravilhoso mistério da encarnação. Mas a generosidade de quem escolhe um presentinho para a pessoa amada é um sinal singelo de que, mais importante do que dar presentes, é se fazer presente! Antes de fazermos um juízo sobre o Natal comercial, devemos aproveitar a oportunidade para dar um grito de paz neste minuto em que o mundo pára para ouvir a proposta cristã.

            Natal é tempo de abrir a casa de nosso coração para celebrar a vida que renasce!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

ONDE SERÁ QUE ELE SE ENCONTRA

Pe. Gilberto Kasper
                                *pe.kasper@gmail.com

Numa das noites mais frias de São Paulo, dirigindo-me ao meu destino, observava os mais pobrezinhos ajeitando suas camas de papelão às portas das lojas já fechadas nas calçadas. Uma cena, porém chamou-me a atenção: uma senhora muito simples, mal vestida fazia um embrulho de jornal. Embrulhava algo ou alguém? Parei e perguntei o que embrulhava com aquele jornal, ao que me respondeu: “É meu bebê que nasceu ontem”. Mas por que o embrulha no jornal? “É para não morrer de frio moço; o jornal esquenta”. Pensei alto: deve ser JESUS! “Quem é Jesus, moço?”

Expliquei a ela que também Jesus precisou nascer e dormir entre animais; não havia lugar para ele em hospedaria nenhuma.  Então a mulher perguntou: “Onde será que ele se encontra?” Continuei conversando com aquela mãe preocupada com seu bebê.

            Finalmente surgiu-me a idéia de oferecer-lhe hospedagem num hotelzinho próximo dali. Ela aceitou. O gerente do hotel colocou inúmeras dificuldades para aceitar a hóspede com seu filhinho a quem já decidira chamar de Jesus. “Gostei do nome e da história dele. Ele vai chamar-se JESUS”. Depois de muita insistência e pagamento adiantado o gerente do hotel cedeu-lhe um quarto para dormir aconchegado com seu filhinho nascido há apenas um dia.

              O Natal nos conduz para o encontro entre o humano e o divino, a maravilhosa partilha, o Deus humano, a humanidade divina, a participação na divindade daquele que assumiu a nossa humanidade.

              A Festa da Sagrada Família está, neste ano, coladinha à Festa do Natal. Apesar da crescente onda de descrença em relação à família, o projeto de Deus ensina o valor inalterável que ela merece. É uma de nossas prioridades no Plano Arquidiocesano de Pastoral e merece nossa especial deferência. A Sagrada Família ajuda-nos a caminhar na fé, na constante sintonia com Deus.

            Neste Natal somos convidados a perguntar-nos como acolher, aconchegar Jesus em nossos corações. A manta de calor chama-se coração, amor, aos nossos irmãozinhos mais pobres, no seio da Família.  Embrulhá-los  em simples jornal significa indiferença. Não sejamos indiferentes, mas celebremos a VIDA COM DIGNIDADE, todos os dias do novo ano, já a partir do Natal do Senhor em nós!

              As celebrações em nossa Igreja Santo Antoninho, na Av. Saudade, 202, nos Campos Elíseos, serão às 19 horas no dia 24, quarta-feira; às 9 horas na quinta-feira, dia 25, celebrando a Solenidade do Natal do Senhor. Já a Sagrada Família celebraremos no domingo, dia 28, as 8 e 10 horas, para as quais celebrações todos são convidados! Permitam-nos partilhar de nossa pobreza e simplicidade!

              Deus nos criou à Sua imagem, quis participar de nossa humanidade na meiguice de um Menino não embrulhado em jornal, mas envolto em faixas numa manjedoura, a fim de que pudéssemos saborear de Sua divindade! Que este seja um Natal de amor com sabor divino em cada dia do Novo Ano!


*Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Que a paz de Cristo reine em vossos corações
e ricamente habite em vós sua palavra!”(Cl 3,15s).

       
            Como é bom celebrarmos a Solenidade da Sagrada Família diante de uma das prioridades do Plano de Pastoral de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto, A Família!
            “Neste dia da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias. Elas são convidadas a imitar e encarnar os valores propostos pela família de Jesus, Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de obediência à vontade de Deus.
            A liturgia da palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a palavra significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua proposta.
ORAÇÃO PELAS FAMÍLIAS
    Deus nosso Pai, vós quisestes habitar numa família humana.
Abençoai os pais, as mães e os filhos.
Afastai de nossas famílias todos os males.
Ajudai-nos a promover nas famílias,
em todos os lares de nosso país,
os sentimentos e os propósitos de união,
amor generoso, fidelidade permanente e
perseverança constante na vossa graça.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

(cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2014 da Paulus, pp. 89-92).
                                           
A Solenidade do Natal do Senhor se prolonga e se desdobra em várias comemorações que ajudam a aprofundar o mistério da encarnação. Todas essas, em íntima conexão com o nascimento do Filho de Deus, revelam aspectos importantes de um único acontecimento: Deus se fez um de nós. É dentro deste horizonte que se situa a Festa da Sagrada Família. No Evangelho, Maria e José se encaminham para Jerusalém a fim de cumprir os preceitos da lei: apresentar o primogênito, oferecer sacrifícios, purificar a mãe... O Filho de Deus nasceu sujeito à lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à lei (cf. Gl 4,4). Significa dizer: Deus vem ao encontro da vida humana por inteiro, não se isentando de participar de nada, somente do pecado, para, em contrapartida conceder a todos a participação na vida divina. Os antigos chamavam isso de sacrum comercium, isto é, sagrado comércio, ou divina troca: Deus entra em comunhão com a vida humana para possibilitar aos seres humanos entrar em comunhão com a vida divina. Lembremos da gotinha de água (nossa mínima participação) misturada ao vinho no cálice (a máxima ação de Deus) na Preparação das Oferendas: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou assumir nossa humanidade”.
            Maria e José, os pais de Jesus, levam ao templo, lugar de encontro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres, a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa situação onde se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons a humanidade oferece aquilo que tem: fragilidade, pobreza, pequenez... Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família, é esse o lugar do encontro, profundamente humano e existencial, com a obra preferida de suas mãos. A nós ele oferece o seu Filho. A humanidade, figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus, que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado e da morte.
            Mas é no contexto litúrgico que se torna decisivo para a compreensão dos textos bíblicos: a Sagrada Família é a “lente hermenêutica” proposta pelos textos eucológicos desta festa. A ela acorrem os pastores. É ela modelo de amor e de virtude para nossas famílias, bem como intercessora em favor das famílias que celebram o sacrifício de reconciliação. Mas a virtude e a piedade conduzem ao mistério da Igreja. As famílias terrestres, valor inestimável para as nossas comunidades, são sinais de outras realidades: a comunhão entre os irmãos e a comunhão com Deus que nos foi alcançada por Jesus. Os laços de amor aqui vividos no ambiente familiar, conduzem os fiéis às alegrias da casa de Deus. As famílias são firmadas na graça divina, e por intercessão de José e da Virgem, conservadas na paz de Deus.
            A graça e a paz nos foram comunicadas no mistério de Cristo. Por sinal, esta é uma das saudações mais frequentes do início de nossas celebrações (cf. 1 Cor 1,3). As comunidades celebram periodicamente pedindo, como família cristã, pelas mesmas coisas que a liturgia desta festa suplica para as nossas famílias. A comunhão da Igreja encontra seu reflexo nos lares e vice-versa. Não é por acaso que, por longa tradição, os fiéis se nomeiam “irmãos e irmãs” uns dos outros, pois todos foram irmanados em Cristo, aquele que conviveu com os homens. A comunhão sacramental nos refaz para os embates da vida e nos associa à Sagrada Família.
            Enquanto a Cultura da Sobrevivência coloca a Família de bruços, engolindo-a com o tripé de contra valores: o consumismo, o hedonismo e o individualismo, a Solenidade da Sagrada Família nos conclama e incentiva a reerguê-la, devolvendo-lhe a necessária dignidade humana! Saibamos, a partir desta solenidade, reencontrar meios para ancorar nossa Família em valores essenciais, como o amor gratuito, a verdade, a justiça e a liberdade!
            Desejando-lhes abençoado Ano de 2015, nossa ternura, gratidão e abraço cheio de novas esperanças!
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Col 3,12-21 e Lc 2,22-40).

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Céus, deixai cair o orvalho;
nuvens, chovei o justo;
abra-se a terra e brote o Salvador!”(Is 45,8).

            Já no Quarto Domingo do Advento e às portas da Solenidade do Natal do Senhor, a liturgia dirige o nosso olhar para o anúncio do Anjo feito a Maria e para sua própria pessoa enquanto imagem da Igreja que aguarda a chegada do Natal. Para sublinhar em que ponto a celebração nos situa, recordemos nosso trajeto realizado: nos dois primeiros domingos do Advento escatológico, nossa expectativa foi reacendida em vista das realidades futuras e dos últimos tempos que Jesus inaugurou a partir de sua vinda histórica e sua glorificação. A acolhida do anúncio da Palavra de Deus nos preparou na direção desse evento derradeiro, que o povo da Primeira Aliança viu realizar na Igreja, como já participante das realidades futuras.
No terceiro domingo do Advento, com o olhar mais voltado para a vinda histórica, a Igreja se alegrou, como que antecipando aquilo a que se prepara e no canto de Maria, proclamou as maravilhas que Deus realizou por seu povo e continua a realizar por meio de Jesus e de seu Espírito. Nesse mesmo período iniciamos a novena do Natal do Senhor, intensificando a nossa espera e vigilância, enchendo nossas lâmpadas com o azeite da oração, adentrando no festim do noivo que veio ao nosso encontro. Cada domingo, como luz a iluminar nossos passos, nos conduziu a este momento, onde contemplamos a Virgem como a um espelho, onde podemos ver a imagem daquilo que a Igreja é chamada a ser: casa preparada por Deus, arca da Aliança e receptáculo do Mistério outrora escondido e que Deus, por imensa bondade, revelou a todos.
“Graças ao sim de Maria, Deus veio habitar entre nós na pessoa de Jesus. Todos devemos estar disponíveis para a ação do Espírito de Deus, acolhendo no coração o mistério da encarnação. A páscoa de Jesus se manifesta nas pessoas e grupos que se dispõem a receber a boa-nova trazida pelo anjo Gabriel.
De coração alegre e agradecido, acolhamos a Palavra de Deus. Ela nos mostra o plano divino de salvação e em Maria realiza a prometida encarnação do Salvador.
Deus quer caminhar com seu povo, e não ficar trancado no templo. Maria aceita a proposta de ser a mãe de Jesus. O mistério de Deus se revela à humanidade em Jesus encarnado.
Respondendo nosso amém à oração eucarística, aceitamos com gratidão o plano de Deus; acolhendo a palavra feita carne, deixamo-nos transformar, pelo Espírito, em novas criaturas” (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2014 da Paulus, pp. 64-67).
A celebração do quarto domingo, como último Domingo do Advento histórico, na mesma dinâmica do terceiro domingo, antecipa a realidade festiva que se desabrocha no Natal. Nesta celebração a Igreja é a receptora do anúncio do Anjo, participando da encarnação do Verbo ao acolher a Palavra proclamada, exercendo seu discipulado na escuta e na obediência e deixando realizar em seu seio a salvação esperada. Contudo, a chave messiânica da compreensão dos textos nos convida a perceber que a salvação principiou neste mistério e se completa na páscoa do Senhor, para a qual rumamos. Nós, que também já desfrutamos da vida divina em Cristo pela participação em sua páscoa, não devemos fazer o seu caminho de encontro com as realidades carentes de vida nova? Prolongar o anúncio do Anjo ao mundo, descobrindo a semente do Verbo nas realidades mais sofridas, não seria nossa resposta obediente, discipular e atenta à vontade do Pai? O Natal do Senhor se orienta e se aprofunda também na páscoa do mundo que anseia por vida nova e por salvação.
O mistério da encarnação, iniciando hoje com a anunciação do Anjo à Virgem, é aprofundado pelo mistério da cruz que nos leva à ressurreição. Segundo uma mensagem de Natal, “Para quem consciência ainda tem, o Natal  é dura cruz na casa de alguém”, poderemos nos encaminhar mais ligeiramente para o acontecimento natalino, se estivermos mais atentos e solícitos aos sofrimentos e cruzes que carregam os outros!
Com a Igreja, portanto, somos convidados a sentirmo-nos também grávidos do Senhor! Mais ainda: somos conclamados a “dar à luz ao Cristo não mais Menino, mas Ressuscitado”.  Por isso o Natal do Senhor precisa ser motivado por nossa missionariedade e discipulado a exemplo de Maria. Sejamos o porta-jóias de Jesus, anunciando-O com a própria vida ao mundo que nem sempre O reconhece em nossas incoerências. Quantas aparências, falsidades, mentiras, fingimentos e invejas atrapalham um verdadeiro Natal que não aborte Jesus, por conta do consumismo, hedonismo e individualismo! Sejamos livres para celebrarmos um Natal diferente, como nunca antes em nossa vida pessoal, comunitária e social!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper


    (Ler 2 Sm 7,1-5.8-12.14-16; Sl 88(89); Rm 16,25-27 e Lc 1,26-38).