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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

HOMILIA PARA A FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé

            “A Festa da Sagrada Família se insere no Tempo do Natal, ou seja, ‘tempo de manifestação’ do Senhor. Quer dizer, o Verbo eterno do Pai se torna humano, vem morar entre nós.

            Celebrando a Sagrada Família, valorizamos a vida de nossas famílias como santuário da vida, lugar da vivência da gratuidade, do amor e do perdão, sacramento do mundo novo, apesar dos seus inevitáveis contratempos.

            Nesta celebração, o Pai nos convida a entrar no mistério sempre atual da encarnação do Filho, na realidade de uma família que, independente de seus limites, é convidada a assumir o caminho de Jesus como Maria e José que foram fiéis a Deus, apesar das vicissitudes da época.

            ‘Na festa da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias. Elas são convidadas a praticar hoje os valores vividos pela família de Jesus, Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de amor e cuidado mútuos e de obediência à vontade de Deus.

            A liturgia da Palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a Palavra significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua proposta.

            A família é uma pequena Igreja em que se partilham valores humanos e cristãos. A família é o lugar privilegiado em que se favorece o amadurecimento dos filhos. A comunidade cristã é a família de Deus em que se partilha a bondade e o amor’ (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2012 da Paulus, pp. 88-91).

            A Sagrada Família de Nazaré cumpre seus compromissos religiosos e ilumina as relações entre pais e filhos, sendo modelo para todos os lares. Mas Jesus revela que sua família, mais do que nos laços de sangue, está centrada na obediência a Deus, Pai comum de todas as pessoas que creem e realizam a sua vontade.

            Compreender a vontade do Pai, seus desígnios, seu projeto de amor, exige meditação, oração e contemplação constante de sua palavra. Maria conservava no coração a palavra, os acontecimentos da salvação, acolhendo com fé o plano de amor do Pai, que se revela no Filho. Sua atitude de discípula ilumina a nossa caminhada a serviço do Evangelho de Cristo.

            O Filho de Deus vindo a terra numa família humana, oferece a ocasião para refletir sobre a família como ambiente vital e social, onde cada ser humano se insere ao nascer. Ele ensina a viver o amor filial, a comunhão, a solidariedade, a partilha. O amor é o elemento essencial que faz reinar a paz e a harmonia nas famílias. É o critério para viver a felicidade em Deus e a fonte da unidade familiar.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que a ‘família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária. As relações dentro da família acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos e de interesses, afinidade essa que provém, sobretudo, do respeito mútuo entre as pessoas. A família é uma comunidade privilegiada, chamada a realizar uma carinhosa abertura recíproca de alma entre os cônjuges e, também, uma atenta cooperação dos pais na educação dos filhos’ (Catecismo da Igreja Católica, p. 576).

            [...] Com propriedade, lembramos na festa de hoje, uma das três prioridades do Plano Arquidiocesano de Pastoral de nossa Igreja particular de Ribeirão Preto: A Família! Tenho um primo, Padre Jesuíta que ao chegar, costuma perguntar: ‘E a Família, como vai?’ Também nós somos nesta Festa da Sagrada Família, perguntados pela Palavra e pela Eucaristia que celebramos: ‘E nossa Família Arquidiocesana, como vai?’ Temos nos esforçado para zelar e cuidar bem de nossas famílias, especialmente daquelas que foram colocadas de bruços por conta do capitalismo selvagem, da cultura de sobrevivência e nem por último de nossos caprichos cheios de rubricas pastorais? [...]

            A nossa reunião dominical na casa do Senhor (Igreja) é expressão, sinal de nossa caminhada com o Senhor e do desejo de vivermos como irmãos, numa família sagrada, unidos pelos laços da fé e da solidariedade. [...] Mas nossas Igrejas lotaram nas celebrações natalinas? E se lotaram, quem veio? A família inteira ou alguns de seus membros? Trocou-se a Igreja pelo Shopping (muito mais confortável, elegante e tentador) do que nossas celebrações tantas vezes mal preparadas. As pessoas não se importam esperar muitas horas, enfrentando longas filas nos congestionamentos das estradas que as conduzem ao lazer, nem nos caixas, onde pagam exacerbadamente por presentes tantas vezes supérfluos. Mas não suportam que a ‘Missa do Galo’ ultrapasse uma hora contadinha no relógio. O que percebo, é que nossas celebrações, por maior que sejam nossos esforços, já não contam mais com multidões de famílias que buscam celebrar ‘em família’ o sentido de sua existência. [...]

            Um desejo, uma busca essencial em relação à vida da família hoje, com certeza, deve ser procurado no exercício da caridade que é a fonte da unidade familiar (caridade entendida como vivência da gratuidade, do perdão e do amor, do exercício de relações verdadeiras, da prática da misericórdia, da partilha e da solidariedade).

            A Palavra de Deus neste domingo nos introduz no mistério desta Família. Estejamos com olhar atento para ver o quanto de bom existe na nossa pequena família também” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB, n. 24, pp. 41-45).

            Sempre gosto de pensar, que Deus gostou tanto de ver a nossa Família, que também quis uma para Si. Não decepcionemos este Deus de amor, que não se contentou em ser nosso Pai, mas providenciou-nos também uma Mãe e um Irmão tão seletos! Oxalá reanimemos nossas Famílias, reerguendo-as das depressões e dos vazios de sentido de vida em Família. E então poderemos responder a quem perguntar: Nossa Família vai muito bem, sim Senhor!       

       Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ecl 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Cl 3,12-21 e Lc 2,41-52).

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Natal, festa da luz, das confraternizações e troca de presentes. É festa que desce ao nosso coração e nos move em direção das mãos estendidas que aguardam solidariedade.

            É a festa da encarnação do Verbo, Palavra eterna do Pai, em que seu ato solidário, assumiu nossa condição humana no seio de Maria pela ação do Espírito Santo. Ele mesmo, em pessoa, é o presente a nós doado de forma incondicional. Ele é a luz que brilha nas trevas, assim entendemos, porque Natal é festa de luz! Ele é a luz que vai fulgurar e nos guiar como o Círio fulgurou no coração e na noite pascal, anunciando o Ressuscitado!

            Celebrando a festa do nascimento de Jesus (Mistério da Encarnação), celebramos a realização da promessa de Deus, conforme as Escrituras, de fazer Aliança de paz com a humanidade e de inaugurar o seu reinado no mundo: “Hoje nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi” (Lc 2,11). “Hoje” entoamos o anúncio dos anjos “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade”.

            Vamos tornar célebre o nascimento de Jesus em nossas vidas, em nossas famílias, em nossa comunidade eclesial, com Maria e José, com o empenho de cultivarmos relações solidárias entre nós, com gestos concretos de solidariedade com os irmãos necessitados e a natureza inteira.

            ‘Somos convidados a formar coro com os anjos: glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra às pessoas de boa vontade. Jesus chegou até nós, trazendo-nos a salvação.

            Com o nascimento do príncipe da paz, chegou a salvação dos pobres e oprimidos. Por meio de Jesus, Deus entra na história da humanidade para dela fazer parte. A graça de Deus traz salvação a toda a humanidade.

            A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Acolhamos com alegria a palavra de Deus, fonte de vida e salvação.

            Os anunciadores da paz trazem grande alegria ao povo. A palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós. Em Jesus, todas as manifestações de Deus foram plenificadas’ (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2012 da Paulus, pp. 74-79).

            A chegada do Messias Salvador é a Boa Notícia, pois ele traz a vida em plenitude, a paz – shalom’ como a plenitude de bens para todos os povos. Sua manifestação na história humana, no seio de um povo sofrido e dominado, nos compromete a seguir seu projeto com fidelidade, cooperando na nova criação, sonhada por Deus. O anúncio  aos pobres, tornando-os testemunhas, revela a gratuidade do seu amor.

            Jesus é a luz que brilha no meio da escuridão, o Salvador que ilumina a vida dos pobres e discriminados pastores, atentos aos sinais de Deus. Ele é a Palavra do Pai que se faz carne no meio dos pequenos para ser o Emanuel, o Deus conosco. Em sua vida solidária revela-se o amor e a ternura de Deus, a graça da salvação oferecida a toda a humanidade. Seu exemplo nos impele a viver a solidariedade com os mais desamparados, a fim de que todos participem da alegria e da felicidade em Deus.

            Vamos render graças ao Pai por ter trazido, em Cristo Jesus, a aliança definitiva conosco. Ele, Jesus, que nasce pobre entre os pobres, em Belém, está entre nós com os sinais pobres e simples do pão que compartilhamos, dando graças ao Pai por tal mistério” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 24, pp. 33-40).

            Gosto de resumir o mistério do Natal naquela frase que se pronuncia, durante a Celebração Eucarística, enquanto, na Preparação das Oferendas, se coloca uma gotinha de água no vinho a ser transubstanciado no precioso sangue do Senhor: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Aí está descrita a profundidade do mistério de Deus que nasce igual a nós em tudo, menos no pecado. Nossa participação neste mesmo mistério da Encarnação é apenas uma mínima gotinha de água. Todo o resto é por conta de Deus, que oferece seu Filho amado em holocausto. Jesus derrama todo seu sangue, lavando-nos de nossos limites e tornando-nos seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade. Basta seguirmos suas instruções evangélicas.

            Portanto, viver o Natal do Senhor em nossos dias, nos pede que acolhamos Sua proposta de vida e vida em plenitude. Quando nasceu há mais de dois milênios, precisou cheirar a feno, porque só encontrou lugar entre animais, numa manjedoura que até hoje nos comove, ao contemplarmos os lindos presépios montados em nossos Templos e Lares. Hoje Jesus já não mais meigo Menino, mas o Senhor de nossa vida, quer nascer cheirando a Pessoas. Quer acostar-se na manjedoura de cada coração humano. Oxalá, a manjedoura de nosso coração cheire a amor, paz, justiça, liberdade, verdade e solidariedade. Eis o perfume que agradará ao Senhor, ao procurar acolhida nas entranhas de nossa intimidade. Não corramos o risco de Jesus passar adiante, já que não se deitará em manjedoura mal cheirosa de egoísmo, individualismo, carreirismo, busca de poder e prestígio, mentira, hipocrisia e falsidade.

            Seja, enfim este Natal do ANO DA FÉ, Um Natal dos Sonhos à luz da Fé madura!

            Desejando-lhes um abençoado, santo e feliz Natal, abraço-os com a ternura de meu coração,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler para a Missa da Noite: Is 9,1-6; Sl 95(96); Tt 2,11-14 e Lc 2,1-14)
(Ler para a Missa do Dia: Is, 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

HOMILIA PARA O QUARTO DOMINGO DO ADVENTO DE 2012

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “No último domingo do Advento, olhamos para a figura de Maria que é plenamente a Virgem do Advento. Ela é a bendita entre as mulheres, é a cheia de graça, a serva do Senhor, a nova mulher. Ela carrega no ventre o Bendito, o Esperado das nações. É a filha de Sião que representa o antigo e o novo Israel. O seu sim na anunciação se converte em sim da nova aliança. Maria resume em si as esperanças de seu povo. Hoje, esperança da Igreja.

            A assembleia de fé, reunida neste domingo, é convocada a escutar e a acolher a boa nova anunciada, na certeza da fidelidade de Deus que cumpre suas promessas de salvação para o seu povo.

            Exultemos de alegria como João Batista e, inspirados pelo Espírito, a exemplo de Isabel, proclamemos que é Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor prometeu: Deus virá morar no meio de nós.

            ‘Graças ao sim de Maria, a Comunidade de Fé se reúne para celebrar a Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição do Senhor. De modo muito especial nesta liturgia, acompanhemos os passos da mãe de Jesus: ela, a bendita entre as mulheres, se dirige solidária e apressadamente a Isabel para saudá-la e auxiliá-la.

            Aquele que aguardamos e nos santifica vem até nós e nos traz a paz. Maria soube acolhê-lo em seu seio e o ofertou à humanidade para que esta se alegre com o dom da salvação.

            Há valores que brotam do que é considerado pequeno e insignificante aos olhos da sociedade. A solidariedade leva alegria e esperança aos necessitados. Aprendemos com Jesus a realizar a vontade do Pai.

            Apresentemos a Deus o sacrifício de obediência e amor que Cristo ofereceu uma vez por todas. Tornemo-nos nós também uma agradável oferenda viva e, a exemplo de Maria, estejamos disponíveis para levar Cristo aos outros’ (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2012 da Paulus, pp. 69-71).

            Deus manifesta a plenitude da vida e da salvação no meio dos pobres e excluídos, como Maria, Isabel, Zacarias, João, que exultam de alegria. Ele visita o seu povo e faz resplandecer a luz para toda a humanidade, através do Messias Salvador que há de nascer da pequena Belém.

            Jesus vem para realizar a vontade do Pai até a oferta total da vida. A disposição em doar-se pela nossa salvação e santificação é apelo para uma adesão profunda ao seu plano de amor. A resposta à gratuidade da salvação deve ser manifestada, através de nossa entrega amorosa: Estamos aqui para fazer a vossa vontade.

            O nascimento de Jesus se aproxima e a figura de Maria, sua mãe, é ressaltada, pois ela encarnou a espera e a fé de Isabel. Maria confiou plenamente no Senhor ao dizer: ‘Faça-se em mim segundo a tua palavra’  (Lc 1,38). A sua docilidade, em acolher a bondade de Deus, faz ressoar como um eco a atitude do Filho Jesus ao entrar na história humana: ‘Eis que venho para fazer a tua vontade’.

            Maria manifestou a fé na disponibilidade para o Senhor, no serviço pleno ao Filho de Deus e à sua obra redentora, na solicitude maternal com toda a humanidade como demonstrou, através da visita à sua prima Isabel. A sua fé foi crescendo, progressivamente, com o decorrer dos acontecimentos da salvação que ela ‘guardava em seu coração’ (Lc 2,51). Por isso, a Lumen Gentium, n. 58 afirma que ‘Maria avançou pelo caminho da fé’.

            A exemplo de Jesus, façamos da nossa vida uma oferta agradável a Deus que se oferece sem reservas” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 24, pp. 28-32).

            Maria dirigiu-se apressadamente à região montanhosa da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou sua prima Isabel. O encontro destas duas mulheres sempre me encanta ao mesmo tempo em que fico intrigado com a expressão “apressadamente”. Dá a impressão de que Maria se apressou em fugir das más línguas da pequena cidade de Nazaré. Ainda hoje, quando a filha da vizinha engravida do namorado, “fica mal falada”. Geralmente os bons cumpridores dos preceitos de nossas Comunidades, como também muitos de nós, clérigos, discriminamos tais pessoas, e depois, chamamos a menina de “mãe solteira”. Nunca ouvi ninguém chamar uma mãe, de “mãe casada”. À parte da Teologia Moral, “mãe é mãe, e pronto!”. Imaginemos a situação de Maria, em seu tempo, numa minúscula e escrupulosa cidade, Nazaré: grávida sem antes ter-se casado com José. Do ponto de vista humano, ela poderia ter fugido para a casa de sua prima, a fim de ficar longe de qualquer comentário maldoso. Isso me parece muito comum e normal.

            Por outro lado, também do ponto de vista humano, ela poderia ter ficado em Nazaré, de pernas para o alto, nariz empinado, afirmando ser a Mulher mais importante da face da terra, uma vez escolhido o seu útero, para tornar-se o “porta-jóias do Salvador”. Poderia existir Mulher mais importante do que a Mãe do próprio Deus feito Menino?

            Ainda, ela poderia ter calado, disfarçado a gravidez, guardando só para si mesma, a gravidez de Deus! Geralmente é esta a escolha de nossa sociedade. De alguns anos para cá, a maioria das crianças, afirma-se, nascem de sete meses. Será mesmo? Não estaríamos escondendo os dois primeiros meses de gestação? E a correria para casar, disfarçadamente, de branco? Guardamos somente para nós mesmos, a presença amorosa de Deus em nossa vida. Engessados, tímidos, envergonhados ou até mesmo ignorantes, não declaramos nossa “gravidez divina” à sociedade oca e vazia de um Deus louco de amor pela criatura humana. O Sínodo dos Bispos, sobre a Nova evangelização para manifestar nossa fé ao mundo, neste Ano da Fé, espera dos cristãos, justamente o que Maria fez: “levar Jesus, ainda nas entranhas da intimidade pessoal, a todos que encontramos pela frente!”, sem vergonha e timidez, mas ousados e corajosos. Trata-se da Fé, recebida como dom, anunciada como conduta, e vivida como valor essencial!

            Já do ponto de vista teológico, Maria torna-se a primeira missionária. Segundo Paulo VI, “A estrela da Evangelização”, porque não  guarda para si o fruto de seu ventre, Jesus, mas o leva adiante, chegando à região montanhosa de Judá. Põe-se a serviço da esterilidade e velhice. Sim, porque soube que sua prima já estava no sexto mês de gravidez, justamente aquela que era considerada estéril e já de idade avançada. Maria torna-se também, modelo de , confiando que o Senhor pode tudo; até mesmo produzir vida da esterilidade e velhice. Quantas vezes nos sentimos estéreis e velhos, cansados e desanimados diante dos desafios da vida: confiemos, de que para Deus, nada é impossível!

            As duas crianças pulam de alegria no ventre de suas mães. Oxalá, também nós sintamos Jesus pular de alegria em nossa intimidade, em nossas relações e saudações, que esperam de nós um pouco mais de humanidade, dignidade e divindade neste Natal, que já aponta em nossa vida cristã!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Mq 5,1-4; Sl 79(80); Hb 10,5-10 e Lc 1,39-45)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma Fé Missionária e Evangelização


Outubro,   mês   das   missões.  No  Ano da Fé.  Se  a Fé é algo transcendente,  incompreensível  aos olhos humanos, maior do que podemos e do que produzimos, é ela que impulsiona os seguidores de Cristo a levar adiante a proposta de Deus de vida para todos, algo sem limites. Fé missionária!
 
Mas as coisas devem estar em seu lugar e definidas: é verdade que “ninguém vai ao  Cristo  se  não  for atraído pelo Pai”; é verdade, também, que o Pai nos atrai pela Palavra proclamada e acolhida - por alguém -, pelo testemunho experimentado, pela história de vida de cada um de nós,  por  circunstâncias às vezes inesperadas e não explicadas... A fé não é ingênua,    nem   conclusão  humana, é dom gratuito de Deus, mas entra para fazer parte da vida do crente; é vida nova, nova maneira de ver, apreciar, agir... E ela não é invasiva, manipuladora,  opressora; ela é proposta de vida para o amor, proposta de rumo novo em vista à esperança, impulso de vitalidade para se levar aos  outros aquilo que se vive.
 
Não me passou despercebida a indignação do senhor Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, em suas considerações na edição de 24 de agosto, do Jornal Folha de São Paulo, A3, sob o título “Oração da vitória”, sobre a atitude dos atletas brasileiros de vôlei, ouro na Olimpíada recém realizada, de se ajoelhar em “ostensiva prece de agradecimento” ao que ele chama de “hipotético sujeito poderoso suficiente para fraudar uma competição olímpica”.  Diz  ele  que “professar uma religião em público não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em volta”. Acrescenta que “crescente parcela dos cristãos não se contenta com a prática privada; para eles é importante a ostentação... ela tem valor de proselitismo.” “No caso das Olimpíadas, a publicidade é irregular por que... deixa  em  situação constrangedora todos os que não  partilham  a   mesma   crença...”  “A oração  fere a liberdade constitucional de consciência  e  crença  dos  jogadores”.   “O   que   os   atletas fizeram foi sequestrar aquele  privilegiado espaço publicitário para promover atividades sectárias  que  só beneficiam seus fins particulares, em detrimento de todos os demais cidadãos brasileiros”. Amplia o raciocínio o autor: “no que diz respeito aos poderes públicos, somos todos, sim, cristãos à força...” Quanto aos atletas, diz que  “a  seleção olímpica deixa de representar a mim e aos milhões de brasileiros não cristãos”. Para ele “aí está um dos aspectos mais corrosivos da religião: priorizando pretensos seres metafísicos em detrimento dos humanos de verdade, ela só causa sofrimento”.
 
São afirmações que fazem pensar, mesmo  parecendo  ter muito  de suposição,  exagero  e  racionalização da própria atitude. Tanto quanto me causou agradável surpresa e contentamento ver os atletas ajoelhar-se e agradecer Àquele que é a fonte da vida, o Pai do Senhor Jesus e de todos nós, um Deus pessoal, o que não os eximiu de terem se preparado ao máximo para a competição, percebo que se deve mais e mais estar atento para que fé não seja só reação emocional, ou apenas sentimentalismo, ou acomodação, ou fuga dos problemas. Nem seja algo como verniz exterior, só casca, só aparência. E que a decisão de viver a fé e levar vida a todos não  seja  proselitismo,  imposição ou desrespeito ao que os outros pensam ou deixam de pensar, mas oportunidade de favorecer vida a todos.
 
Que nossas autênticas atitudes de fé missionária favoreçam à vida, ao crescimento das pessoas, à dignidade de todos, ao reino que vai se estabelecendo contando com nossa generosa, embora frágil colaboração!
 
Sejamos   missionários    de    fé   profunda, feliz e provocadora. E com muita  alegria  e  convicção  de estar vivendo e fazendo o melhor! 

 

Pe. Nasser Kehdy Netto,
administrador arquidiocesano

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

HOMILIA PARA O TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO DE 2012


GAUDETE – DOMINGO DA ALEGRIA

 

            Alegrai-vos! O Senhor está próximo! Nesta certeza, celebramos o Terceiro Domingo do Advento, chamado o ‘domingo da alegria’. Há muitas definições de alegria, uma delas é a manifestação de contentamento e júbilo.

            Estamos em tempo de preparação, espera, mas a liturgia, neste domingo, nos convida a uma espera alegre. O Prometido’ está para chegar, por isso somos tocados por uma alegre exultação. O ‘Esperado’ se aproxima, e mesmo em meio à dor, somos convidados a cantar de alegria e rejubilar.

            [...] Os cristãos não têm direito de desesperarem-se. É a esperança nossa razão de viver, sempre com novas perspectivas de vida, e de Vida em Abundância! Gosto de pensar que o Reino de Deus (que na Pessoa de Jesus já está entre nós), é um Reino de Justiça. Logo, onde não há Justiça, Liberdade, Fraternidade, Amor e Paz, também não há Reino de Deus. Nossa tarefa, nossa demonstração da fé em Deus, deve ser profética, sacerdotal e real: Anunciar Deus no meio de nós (e não há nada melhor) e Denunciar tudo aquilo que impede os efeitos do Reino de Deus, anunciado por Jesus, como um mundo de irmãos que se amam, se querem bem, se ajudam, onde ninguém inveja ninguém, onde não se disputa nem mesmo os espaços públicos, onde não há mentiras e nem enganações. Onde todos sejam ANJOS uns para os outros [...].

            ‘A alegria invade nosso coração, pois o Natal de Jesus está cada vez mais próximo. Essa alegria, porém, não pode ser ofuscada pelo consumismo nem por interesses egoístas. João Batista tem para cada um de nós uma mensagem de esperança e de compromisso.

            Enquanto comunidade alegre e orante, acolhamos a palavra de Deus. Ela aponta a presença do Senhor em nosso meio e, por intermédio de João Batista, traz a cada um de nós uma proposta de vida.

            Exultemos de alegria, pois Deus está em nosso meio. A alegria deve nos motivar para a retidão e a bondade em nosso agir. Qual é nossa tarefa neste mundo e como devemos proceder?

            Demos graças, porque Deus está no meio de nós. Por meio de sua palavra e da Eucaristia, ele quer nos alimentar e iluminar, para que sejamos testemunhas vivas da alegria da encarnação do seu Filho. Agradeçamos a Deus o trabalho de evangelização realizado pela Igreja e também os seus evangelizadores’ (cf. Liturgia Diária de Dezembro de 2012 da Paulus, pp. 52-54).

            Este é o domingo Gaudete’, isto é, da alegria, pois ‘o Senhor está próximo’. Sua salvação já está atuando em nosso meio pela ação do Espírito Santo, fortalecendo a nossa missão a serviço da vida. João Batista nos chama a uma conversão autêntica, manifestada com frutos de justiça e de fraternidade.

O apelo do precursor do Messias leva a assumir atitudes essenciais que consistem em compartilhar roupas e comida, ou seja, os bens que possuímos; a não praticar injustiças, extorsões; a não oprimir, abusando do poder e acusando falsamente. Trata-se de uma conversão pessoal e social para acolher Jesus Cristo, Palavra do Pai, que vem revelar o seu amor.

                        A exortação da liturgia de hoje é parte integrante da mensagem da alegria e salvação, que vem de Deus. É necessário manifestar nossa alegria na retidão e na bondade de nossa forma de viver. A proximidade do Senhor, a sua presença em nosso meio, nos proporciona viver na alegria, na tranquilidade, na oração e na paz. A transformação pessoal nos compromete a tornar as estruturas deste mundo mais de acordo com o Evangelho e o Reino de Deus

            Perante a proximidade da vinda do Senhor, somos convidados a mudar atitudes, comportamentos. Madre Teresa de Calcutá dizia:

            ‘... sermos felizes com Deus agora significa: amar como ele ama, ajudar como ele ajuda, dar como ele dá, servir como ele serve, salvar como ele salva, ficar vinte e quatro horas com ele, encontrá-lo em suas tristes aparências’.

            Neste domingo, fazemos a coleta nacional da Campanha para a Evangelização, para a sustentação dos diversos serviços de evangelização da Igreja no Brasil. Por causa desta Campanha a Igreja no Brasil pode levar a alegria do Evangelho a muitos lugares e por diversos meios de ação pastoral” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB nº 24, pp. 22-27).

            Sejamos generosos na Coleta para a Evangelização. Nossa oferta deverá ser o resultado daquilo que deixamos de gastar, pensando em quem tem menos do que nós. Presentes, Enfeites e Guloseimas de Natal poderiam ser menos exagerados e ao invés, abrirmos mais nosso coração às necessidades que a Evangelização no Brasil, um País de dimensões continentais, têm, para anunciar com maior eficácia que Deus está no meio de nós, embora nem sempre o reconheçamos! Uma quantia qualquer por simples desencargo de consciência não agrada a Deus e nem ajuda a Igreja a cumprir, em nome dos cristãos já evangelizados, sua missão evangelizadora!

            O IXº Concerto Ecumênico de Natal em nossa Santo Antoninho, acolhe neste Domingo da Alegria o Coral Coopercitrus-Credicitrus de Bebedouro, com seu Diretor Artístico e Regente, Maestro Sérgio Alberto de Oliveira, a Regente-assistente e Pianista, Suzana Samorano e o Orientador de técnica vocal, Alexandre Mazza. Sob o tema de nosso Concerto: Um Natal dos Sonhos à luz da fé madura. Sintam-se todos convidados!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sf 3,14-18; Sl Is 12; Fl 4,4-7 e Lc 3,10-18)