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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Textos Padre Gilberto Kasper

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

CAMPANHA ELEITORAL EM CLIMA DE MISERICÓRDIA!

Nesta semana tem início a Campanha Eleitoral. Na Vigília da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia na Polônia, no dia 30 de julho passado, o Papa Francisco falava aos Jovens e ao Mundo: “Se Deus lhe chamar para cumprir uma missão, não diga que não será capaz. Não pensem no que somos, no que fomos, mas no que poderemos ser e fazer, em favor de um mundo melhor”! Costumamos de um lado, rotular as pessoas por seu passado, e de outro, ignorar que a Misericórdia é o segredo mais íntimo de Deus!

A Campanha eleitoral deste ano tem sabor de misericórdia. “Misericórdia é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia é a Lei Fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à Esperança de sermos amados para sempre, apesar de nossas limitações” (cf. Papa Francisco).

Campanha Eleitoral em Clima de Misericórdia significa que não há quem não tenha defeitos e não há quem não tenha virtudes. O que será necessário por parte de nós, eleitores, são o discernimento e a consciência política sobre os candidatos que realmente são vocacionados ao bem comum. Aqueles que são chamados por Deus para cumprirem a missão de resgatar a dignidade de nosso Povo tão sofrido, explorado e enganado por políticos, que fazem de sua missão, um meio de vida. Aqueles que se lembram dos mais pobres a cada quatro anos, quando os visitam, lhes prometem oportunidades, quando na verdade só lhes ofereçam “migalhas” depois de eleitos.


Será necessário que acompanhemos com atenção a Campanha Eleitoral em Clima de Misericórdia. A maioria desliga a televisão e o rádio no Horário em que os candidatos se apresentam. Se não elegermos com critérios éticos nossos próximos Vereadores e Prefeitos, passaremos outros quatro anos “chorando o leite derramado”. Não poderemos eleger quem nos promete “coisas”, nem os que delimitam projetos pessoais desse ou daquele bairro. Os Vereadores deverão zelar por leis que promovam a solidária dignidade de toda a população, e não apenas de alguns grupos. Já os Prefeitos deverão cercar-se de técnicos responsáveis e capazes de resgatar nossas cidades do “fundo do poço” a quem foram esmagadas nos últimos anos. Tenhamos um Governo que saiba dialogar com a sociedade, que não grite, mas que seja humilde e não se aposse do Povo, subestimando sua honestidade e capacidade de emitir juízos. A Igreja, neste ano do Jubileu da Misericórdia é chamada a oferecer sinais de presença e proximidade de Deus, despertando nos corações de todos a capacidade de olhar para o essencial nas próximas eleições: o Bem Comum e não o bem pessoal ou de interesses de alguns poucos privilegiados!

MELHOR QUE DINHEIRO!

Mudar a sociedade! Eis o desafio que nossos jovens receberam ao final da JMJ (Jornada Mundial da Juventude). Mudar os sentimentos, desejos e planos que não privilegiam a vida e precisam ser transformados por fraternidade, amor, respeito, tolerância. Nossa sociedade precisa ser misericordiosa que é uma via de mão dupla, ou seja, oferecer e receber a misericórdia em todos os relacionamentos. Nossa juventude não precisa de migalhas, e sim de oportunidades para colocar em prática seus ideais de vida e fraternidade que acalentam em seu generoso coração; precisa também ter respeitados os seus direitos: a educação com excelência, emprego e salário dignos.

            Mudar a sociedade com entusiasmo, fé, amor, otimismo que são fonte da empolgação e desafio para os desanimados; mudar os costumes semeando fraternidade e solidariedade, tolerância e respeito, porque todo fanatismo é ausência de inteligência e morte da vida digna.

            E, no final, os trabalhos, esforços e fadigas foram recompensados com uma experiência ímpar de se encontrar com jovens de todas as partes do mundo, ouvir palavras de ânimo e esperança para semear amor e misericórdia nesse nosso mundo assustado de hoje em dia.

            A Jornada Mundial da Juventude é um capítulo especial para começarmos entender como superar certos problemas políticos e sociais do nosso tempo. Acompanhar atentos o desfecho do Impeachment da Presidente Afastada e as reais intenções e propostas do Presidente Interino, seja qual for o resultado desse desgastante processo. Quem mais sofre com tudo isso é o Povo Brasileiro, especialmente o trabalhador e cidadão honesto, tão surrado e enganado com “sofismas” absurdos e diabólicos.

            Melhor que dinheiro mal administrado, desviado e roubado escancaradamente, é a paz de consciência, a transparência e a verdade que liberta. O grande convite, enfim, é que acompanhemos com muita lucidez e senso crítico o processo eleitoral que se aproxima. Fiquemos atentos às propostas dos Candidatos que se apresentam aos Palácios Municipais e às Câmaras de Vereadores. A consciência crítica política será indispensável a todos os eleitores. A Juventude nos encoraja a assumirmos nossa missão profética numa sociedade movida simplesmente pelo dinheiro. E Melhor que dinheiro são as riquezas de uma sociedade acolhedora, fraterna, preocupada com os mais pobres, que vise antes do bem pessoal e partidário, o bem comum!

 É urgente apoiar os jovens em causas nobres, libertá-los das escravidões modernas e dar-lhes lugar no protagonismo da história poderá ser o início de uma nova jornada que se abre.

(Em parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Quem não carrega sua cruz
e não caminha atrás de mim
não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

            Como seria bom se retomássemos o Domingo como Dia do Senhor, promovendo, segundo sugestão do Santo Padre o Papa Francisco, uma verdadeira Cultura do Encontro. Encontro da Família, Igreja Doméstica, encontro com a Comunidade de Fé, Igreja dos Filhos de Deus reunidos em torno das Mesas da Palavra e da Eucaristia!
            Ao domingo aplica-se, com muito acerto, a exclamação do salmista: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: exultemos e alegremo-nos nele” – é o que nos dizia São João Paulo II, na carta apostólica “Dies domini”.
            Repletos de alegria, portanto, nos reunimos neste Vigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum para louvar e bendizer nosso Deus e para pedir, “que a bondade do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos conduza”.
            Somos chamados a voltar nosso olhar para a cruz de Jesus, pois neste mês dia 14, celebraremos a festa da Exaltação da Santa Cruz. Ao iniciar a Santa Missa, lembramos que “nele, e por seu sangue, obtemos a redenção e recebemos o perdão de nossas faltas, segundo a riqueza da graça, que Deus derramou profusamente em nós, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência” (Ef 1,7-8).
            Jesus nos desafia a segui-lo, deixando de lado tudo o que não condiz com seu projeto. Decidir-se a caminhar com ele significa discernir e escolher, com sabedoria, os valores que fazem nascer a nova sociedade. Atentos à proposta do Senhor, somos chamados a estabelecer e assumir prioridades, colaborando para a construção do reino de Deus.
            Para penetrar os pensamentos de Deus, vamos abrir nosso coração à sua palavra, que nos dá a conhecer o que ele espera de cada cristão e o que nos é necessário para sermos fiéis seguidores de Jesus.
            A verdadeira sabedoria nos ajuda a discernir o valor de cada coisa. O seguimento de Jesus é exigente. O cristão é convidado a se empenhar em eliminar as desigualdades, discriminações e preconceitos.
            Com o pão e o vinho, ofertamos nossa vida e a vida de todos aqueles que deixam tudo para seguir Jesus na opção radical pelo evangelho.
            “Ser cristão é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, um caminhar juntamente com Jesus Cristo. Ir naquela direção que ele indicou e indica”. Assim ensinou o Papa Emérito Bento XVI, na homilia do Domingo de Ramos de 2010.
            O evangelho deste Vigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum nos chama a esse seguimento, a esse caminhar junto, participando da vida do Ressuscitado, como nos indica o Catecismo da Igreja Católica. O mesmo documento assim complementa seu ensinamento: os cristãos “seguindo a Cristo e em união com ele, podem procurar tornar-se imitadores de Deus como filhos amados e andar no amor, conformando seus pensamentos, palavras e ações aos sentimentos de Cristo Jesus e seguindo seus exemplos” (CIgC, n. 618).
            Numa sociedade imersa em intensa crise de sentido, em que o vazio avança sobre o coração humano, é difícil entender e mais ainda assumir a proposta de vida mostrada por Jesus. No entanto, para aqueles que conseguem sair de dentro de si mesmos e vislumbrar a grandeza deste chamado, ele se torna entusiasmante.
            Podemos pensar que tal proposta diz respeito tão somente àqueles e àquelas que querem seguir o caminho cristão como presbíteros ou como membros de ordens religiosas. Eis uma idéia incompleta. Viver intensamente um ideal, no caso o ideal cristão, requer desapego, disponibilidade, doação de si. Contudo, tal forma de vida pode ser exercida, também, como leigo, como leiga. Como esposo e esposa. Como pai e mãe. Maria é exemplo disto. Ela assumiu uma família, foi esposa, mãe... Teremos algum ser humano de maior santidade do que ela em quem nos espelharmos?
            O desapego de que fala o evangelho de hoje está longe de representar um afastamento do mundo, um distanciamento do mundo tal qual ele é. Pelo contrário, para quem assume tal desapego, por estar assumindo a pessoa de Jesus, significa viver no mundo, inserir-se nele para transformá-lo, sem se deixar dominar “pelas coisas deste mundo”, pois “as coisas do alto” são mais valiosas (Cl 3,1).
            Acontece que hoje o ser humano está muito voltado para dentro de si mesmo. Por incrível que pareça, o primeiro “desapego” na opção pelo caminho de Jesus terá que ser o desapego de si mesmo. O soltar as amarras do egoísmo, do individualismo, para se abrir a Deus e consequentemente aos irmãos e às irmãs.
            Não poucas vezes nossa cruz a ser assumida para seguir coerentemente o projeto de vida de Jesus Cristo é uma pessoa, uma situação, uma perda ou até mesmo uma conquista. Lembro-me com emoção do Jovem de Londrina (PR), que durante a Vigília da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, na noite do dia 27 de Julho de 2013, testemunhou seu amor pela Igreja, pela vida e pela cadeira de rodas que ocupava, como sua CRUZ. Fora baleado na medula, quando tentaram roubar o dinheiro arrecadado para seu Grupo de Jovens participar da JMJ no Rio. Anunciou, também, diante do Papa Francisco e de quase três milhões de jovens sua outra CRUZ, dizendo-se Virgem e propondo-se como tal até o dia de seu casamento. Não houve um único ruído, sinal de deboche ou algo parecido: apenas lágrimas de emoção. Oxalá o Senhor também possa contar com nossa alegria, enquanto carregamos e anunciamos ao mundo o quanto é maravilhoso assumir nossa cruz e seguir com ela, Jesus!
            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 9,13-18; Sl 89(90); Fm 9-10.12-17 e Lc 14,25-33).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2016, pp. 22-24 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2016), pp. 8-12.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, sois bom e clemente,
cheio de misericórdia para
aqueles que vos invocam” (Sl 85,5).

            Encerramos com o Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum o  Mês Vocacional, celebrando em comunhão com os servidores da comunidade, especialmente com os catequistas neste seu dia.
O Senhor nos reúne para tomarmos lugar na ceia eucarística e partilharmos de sua intimidade e amizade, ouvindo sua palavra e recebendo-o como alimento. Somos convidados ao banquete do reino, onde não há privilégios, mas sim privilegiados: os empobrecidos, para os quais Deus prepara a mesa com muito carinho. A Liturgia deste domingo abra o nosso coração ao espírito do evangelho.
            As leituras nos conclamam a viver a humildade e a gratuidade, que nos fazem encontrar graça diante do Senhor, nos aproximam dele e nos tornam felizes participantes do seu reino.
            A verdadeira modéstia nos conduz a Deus e nos dá a consciência da nossa fragilidade e da necessidade de aprender com os outros. Modéstia e gratuidade são as condições para sentar à mesa com Jesus em seu reino. Com Jesus, temos novo modo de experimentar Deus.
            Na eucaristia, renova-se o gesto de humildade de Jesus: tornou-se pequeno entre os pequenos. Ao tomarmos lugar à mesa eucarística, recebemos o vigor e a força que vêm do pão partilhado.
            No Evangelho de São Lucas deste domingo, Jesus, convidado pelo fariseu, encontra naquele ambiente de festa pessoas que se consideravam umas melhores do que as outras. Cada qual queria superar seu vizinho em importância. Jesus, ao ver tal situação, toma uma atitude para levá-los a refletir sobre o que é realmente importante, sob a ótica misericordiosa de Deus. A parábola contada por Jesus deve ter chocado a todos, pois ela se contrapõe àquilo que os fariseus consideravam socialmente certo. Jesus lhes diz que aqueles que se consideram “os tais” cairão do alto de seu orgulho e ficarão envergonhados ao perceberem que seu lugar é o menos importante. Mais ainda, Jesus diz que os melhores lugares estarão reservados aos que são autenticamente humildes. Por que isto? Porque os que se consideram grandes, os maiores e melhores são pessoas “cheias de si”, como se diz comumente. Elas estão com o espírito de tal modo repleto de orgulho e autossuficiência que, em seu interior, não sobra espaço para praticarem as virtudes evangélicas, especialmente a caridade. A festa a que Jesus se refere, com certeza, não é uma festa como as que realizamos em datas comemorativas. Jesus se refere à grande festa que acontecerá no céu ao final dos tempos. Nela, os convidados não serão nem os orgulhosos, nem os autossuficientes, nem os egocêntricos. Para ela, receberão convite os mais humildes, simples, que reconhecem sua fraqueza e se deixam guiar pela mão de Deus; os que se reconhecem simples e humildes e por isso são capazes de olhar seus irmãos.
            São Paulo nos fala desta festa celestial, reunião festiva de milhões de anjos, dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição. Obviamente, o caminho da perfeição não será o seguido pelos orgulhosos fariseus, mas o trilhado pelos humildes. Na própria resposta que damos à Palavra proclamada, dizemos isto a nosso Deus: “com carinho preparaste esta terra para o pobre”. No entanto, em muitas outras situações, ele próprio vivenciou aquilo que disse. Jesus é nosso modelo de humildade e doação. Qual humildade pode ser mais forte, mais autêntica do que a praticada por alguém que, embora sendo de condição divina, tornou-se humano como nós, tornou-se um conosco?
            Fica-nos ainda a lição do livro do Eclesiástico: encontraremos graça diante do Senhor, ao praticarmos autenticamente a humildade, pois o Pai escolheu os humildes para a eles revelar seus mistérios.
            Só quem é humilde sabe o quanto é bom ser humilde. Muitas vezes nos deparamos, em nossas Comunidades, com a arrogância, a prepotência, o abuso de poder, cargos e funções. Quantas vezes, dizemos não aos mais simples, mas fazemos a chamada Pastoral da Amizade, dizendo sim aos que nos são convenientes? Saibamos rever nosso zelo e nossa sensibilidade pastoral. Não nos roguemos o direito de julgar, mas saibamos acolher, ouvir e inserir na Comunidade todos que nos buscam!
            Quando o Papa Francisco falou do clericalismo, referia-se aos nossos esmerados e queridos Agentes de Pastoral. Embora trabalhem incansavelmente, nem sempre são suficientemente humildes e acolhedores. Daí surge a Pastoral da Exclusão! Quando o Santo Padre falou de carreirismo, referia-se aos Ministros Ordenados que gastam suas energias na busca de poder, cargos, funções e prestígio, mesmo que, para alcançarem isso, tenham que “subir às custas dos erros dos outros”. Coisa feia! Devemos ser porta-vozes da misericórdia de Deus e, antes de julgar os outros, entrar aos porões de nossa própria intimidade, onde certamente encontraremos muitas coisas a serem mudadas. Sejamos Anjos uns dos Outros e não meros juízes!
            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67(68); Hb 12,18-19.22-24 e Lc 14,1.7-14).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2016, pp. 89-91 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2016), pp. 100-104.

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE E OLIMPIADAS!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

A Jornada Mundial da Juventude – JMJ - realizada em Cracóvia, na Polônia, gravou em nossa memória imagens vibrantes de esperança, alegria, fé, amor, fraternidade e solidariedade. Jovens de todas as partes do mundo se mobilizaram, se sacrificaram, abriram mão de suas vaidades e se uniram em torno de um testemunho de fé em Jesus Cristo, o Jovem que encanta outros jovens a continuar sua missão.

            A imprensa brasileira pouco falou dessa Jornada, diferentemente das Olimpíadas que invadiram os cenários das redes sociais, especialmente televisivas. Quanto faturaram as emissoras que transmitiram as competições por uma medalha? Quanto custou aos cofres públicos, mantidos pelos que ainda têm algum trabalho digno, a abertura e o encerramento deste evento que enriqueceu a Cidade Maravilhosa? Pelo menos duzentos e setenta milhões, mesmo que se afirme que não bastaram para o encerramento.

Mas o importante é que os jovens participantes deixam uma lição interessante para os que governam as nações e detêm nas mãos o poder de governo e de formar opiniões. A juventude pode salvar a sociedade que está morrendo sufocada em seus interesses mesquinhos e sofre por achar que se vive bem sem Deus. Todos os males de nosso tempo têm sua origem no fato de o ser humano se achar um “super” astro ou atleta e, com sua inteligência insuperável, pensar que pode tomar o lugar de Deus. E já sabemos no que isso vai dar...

            Quando os jovens se mobilizam por uma causa, abrem mão de si, deixam seus interesses em segundo plano e se dedicam ao “bem” que se reparte e se faz bem comum; se empolgam com o que pode se transformar em gesto de amor, mas rejeitam o que signifique egoísmo ou que diminua a pessoa humana.

            A Jornada Mundial da Juventude é uma demonstração de que nossos jovens não são como folhas levadas pelo vento; também não são massa de manobra de lideres sem escrúpulos que prometem e não entregam. Nossos jovens, como tantos jovens vivem no mundo sem ser mundanos, escutam Jesus que lhes fala ao coração e lhes ilumina a vida; estão sujeitos a erros e quedas, porém sentem-se amparados pela Mãe Igreja que os ampara e acolhe. Podem ser fermento de uma sociedade que deve ressurgir desses escombros de violência, terrorismo, corrupção, tráfico de drogas...

            Os milhões de participantes da JMJ voltaram para nossas comunidades com a certeza de que precisam “sair dos sofás e calçar o tênis” para a missão e o anúncio da misericórdia; trazem o desafio de se fazerem ouvir pela sociedade que não respeita a vida alegre que pulsa no coração do jovem que se deixa encantar por Jesus Cristo.

            Em tempo de Campanha Eleitoral, nossa Juventude renova nossa esperança por tempos melhores, principalmente alimentados pelo recente XVII Congresso Eucarístico Nacional celebrado em Belém do Pará.


            (Em parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)
                       

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Felizes aqueles que ouvem a
Palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11,28).

            Celebramos no Vigésimo-Primeiro Domingo do Tempo Comum uma das festas mais populares e consoladoras dedicadas à Virgem Maria: Assunção de Nossa Senhora!
            Cantamos as maravilhas que Deus realizou em Maria, exaltada acima dos anjos na glória junto a seu Filho Jesus. A páscoa de Cristo se realiza nos corações e comunidades que, a exemplo de Maria, se abrem à palavra de Deus e formam família com o Ressuscitado.
            Elevada ao céu, Maria intercede por nós e nos espera para que desfrutemos de sua companhia. Celebramos em comunhão com os vocacionados à vida consagrada: religiosos e consagrados seculares, que a exemplo de Maria, dão seu sim generoso ao projeto de Jesus.
            Mulher revestida de honras e glórias, Maria reconhece, agradecida, as maravilhas que Deus nela realizou em favor do povo. Ela é o grande sinal da nova humanidade redimida pelo seu Filho.
            Maria assunta ao céu é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória. Em Maria, humilde serva do Senhor, Deus tem espaço para operar maravilhas. A vitória de Cristo sobre a morte é símbolo também de nossa vitória.
            Maria já participa do banquete do reino com seu Filho. Quanto a nós, na eucaristia nos é concedido antecipar a alegria que o Pai reserva a todos os que são fiéis a Jesus.
            É a partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte que nós contemplamos Maria toda gloriosa no céu. Vemos como o próprio Evangelho coloca na sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus que, na vitória de Jesus, realizou uma tríplice inversão das falsas situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra de Cristo:
            No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas, confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, erguem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.
            No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem discriminações...
            No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos.
            A festa de Nossa Senhora da Assunção representa uma injeção de ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos na fé e na caridade rumo à pátria definitiva. Nela celebramos a esperança de estarmos todos juntos, um dia, com Maria, participando da festa que no céu nunca se acaba, a festa da total e definitiva libertação.
            Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria também é Mãe da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.
            Para os tempos de hoje, no momento histórico em que vivemos, a contemplação da serva gloriosa pode nos trazer uma luz preciosa.  Que seria a humilde serva no século 21, século da publicidade e do sensacionalismo? Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é um sinal de esperança para os pobres. Sua história joga também uma luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, duplamente oprimida, Maria é a mãe libertadora.
            Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é figura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o Poderoso opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das comunidades que lutam contra os dragões que procuram roubar-lhe as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua maternidade e mais ainda pela prática da Palavra participa da vitória de Cristo, primícia da vida em plenitude. O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo irá se tornando realidade concreta se formos cidadãos conscientes e responsáveis.
            Reunimo-nos, neste domingo, com Maria para proclamar as maravilhas operadas em nós pela morte e ressurreição de Jesus. Desta forma, iniciamos mais uma semana que, com a graça de Deus e proteção de Maria, será uma semana de paz, abençoada.
            Neste domingo, na Arquidiocese de Belém do Pará, encerra-se o XVII Congresso Eucarístico Nacional. Somos convidados a acolher os frutos deste evento tão lindo, comungando com nosso povo sofrido, castigado e surrado pelas crises, que não nos deverão desanimar. Pelo contrário: Nossa Senhora Assunta ao Céu nos enche de esperança por um Município Melhor e um País mais Justo, menos corrupto e mais ético, que promova e zele por todos!
            Nada mais justo que Jesus acolhesse de corpo e alma Sua Mãe, a Virgem Maria, na feliz eternidade, uma vez que, totalmente Imaculada emprestou seu útero, a fim de que se tornasse o porta-jóias do próprio Deus, feito pessoa. Penso que o grande convite desta festa, é que cada um de nós se sinta, igualmente, o porta-jóias, o sacrário, o tabernáculo de Jesus Sacramentado, bem como no semblante do irmão, preferencialmente no rosto triste, enrugado, sofrido, desolado e desesperançado. Enfim, celebrar, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, para nós é celebrar novo ânimo, nova esperança e novas perspectivas de um mundo mais humano e fraterno.
            Que todos sintam as carícias da bênção materna de Nossa Senhora Assunta ao Céu! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44(45); 1Cor 15,20-27 e Lc 1,39-56).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2016, pp. 71-74 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2016), pp. 93-99.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Os discípulos de Cristo hoje estão situados num mundo cheio de oportunidades, mas também de contradições. Como viver a vocação nessa realidade? Seja ela qual for, mas olhando hoje de modo especial a vocação de ser pai, é possível assumir a missão, muitas vezes incômoda, de ser sinal do Reino de Deus na família e na comunidade? A Palavra de Deus nos encoraja através do exemplo de Jeremias e da trajetória de Cristo mostrando que este caminho é viável e é ele que traz a verdadeira realização humana.
            A fidelidade ao Senhor pode provocar divisões, mas também nos mostra o caminho para a superação dos conflitos. Recordemos a vocação para a vida em família, com atenção especial aos pais neste seu dia.
            A Palavra de Deus vem em nosso auxílio para nos animar na luta contra o pecado e no enfrentamento das dificuldades que sobrevêm por causa de nossa opção por Cristo.
            O verdadeiro profeta não se cala diante da mentira e do erro, mesmo que isso lhe traga perseguição. Jesus, sinal de contradição e questionamentos, segue na sua missão até o fim. Com o olhar fixo em Jesus, empenhemo-nos com coragem na missão que recebemos do Pai.
            A unidade celebrada na Eucaristia não oculta nem elimina as diferenças entre os fiéis. A comunhão nos ensina que é possível progredir no caminho da união.
            Onde Deus nos plantou podemos viver os autênticos valores espirituais e humanos: despojamento e solidariedade, amor misericordioso, responsabilidade e coerência, oração e diálogo com os outros. Também a luta pelos direitos humanos e a liberdade, compromisso firme com a justiça e contra toda discriminação social, cultural, racial, sexual, religiosa, política e econômica e promoção das pessoas que necessitam. Tudo isso trará certamente reações, conflitos e até violência. Mas Deus sempre estará ao lado de quem assim se empenha para realizar o seu Reino.
            A Palavra de Deus escutada nos convida a assumir com mais radicalidade a mensagem de Cristo para ajudar a implantar um amor sem fronteiras e a fraternidade humana, pois temos um Pai comum. Isto pressupõe o esforço de buscar novas estruturas sociais e uma convivência social fundada na paz que só Cristo pode dar. Empenhamo-nos de verdade para viver em nossa vida pessoal e comunitária a experiência de Cristo ressuscitado, como pessoas maduras na fé, alegres e cheias de esperança? Por que será que nossa vivência causa tão pouco impacto nos outros? Se vivermos de fato nossa condição de batizados, necessariamente chamaremos a atenção em um mundo egoísta, cujos critérios são diariamente opostos aos do Evangelho.
            Celebremos os mistérios de nossa fé em comunhão com a Arquidiocese de Belém do Pará, na véspera do XVII Congresso Eucarístico Nacional, nos dias 15 a 21 de agosto, tendo como temática: “Eucaristia e partilha na Amazônia missionária” e lema: “Eles o reconheceram no partir o Pão”.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, especialmente aos pais vivos, e rezando pelos falecidos, meu abraço com ternura e gratidão.

Pe. Gilberto kasper
(Ler Jr 38,4-6.8-10; Sl 39(40); Hb 12,1-4 e Lc 12,49-53).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2016, pp. 50-52 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2016), pp. 89-92.

DEUS SE MANIFESTA PESSOA EM FAMÍLIA!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
             
 Aproxima-se o Dia dos Pais, que abre, no mês vocacional, a SEMANA DA FAMÍLIA. A Igreja nos conclama a revermos os valores de nossa Família, colocada de bruços nas últimas décadas. Precisamos salvar nossa Família, engolida pelo tripé de contra-valores do consumismo, hedonismo e individualismo, devolvendo-lhe a dignidade e atribuindo-lhe a responsabilidade confiada pelo próprio Criador, que a constituiu célula da sociedade. Deus viu que era bom pertencer a uma Família, tanto que quis uma para si. O Povo de Deus, a Igreja de Jesus Cristo identificam-se em torno de um espaço sagrado, o Templo; em torno de uma mesa, a Eucaristia. A Família precisa retomar os valores que a identifiquem como tal e deixar de ser uma simples "pensão melhorada", onde ninguém se compromete com ninguém. À luz da Sagrada Família, somos convidados a promover nossas famílias, principalmente as que passam por problemas e dificuldades. Na Família pensada por Deus para nós, um é Anjo da Guarda do outro, porque Deus se manifesta Pessoa em Família.
               Na Festa do Dia dos Pais seria bom refletirmos a Vocação à Paternidade, que tem sido desfigurada com a ausência paterna no seio de tantas Famílias. Quantos Pais que não assumem a Paternidade, outros abandonam suas Famílias e outros ainda remetem a responsabilidade paterna às mães abandonadas à própria sorte. Outros, ainda, sentem-se engolidos pela Cultura da Sobrevivência e acabam entregues à sorte de inúmeros tipos de dependências: químicas, alcoólicas, falta de trabalho e oportunidades dignas, perdendo o que Deus lhes deu de mais precioso: a própria Família.
               A Festa da Epifania do Senhor é a primeira de três grandes manifestações que tratam de Deus feito Pessoa. As duas outras manifestações acontecem no Batismo de Jesus por João Batista no Rio Jordão, e na Sua Transfiguração no Monte Tabor diante de alguns discípulos. Nesta primeira, visitam o Menino recém-nascido os Três Reis Magos: Baltazar, árabe, levando incenso que representa a divindade do Menino; Belchior, indiano, levando ouro, que representa a sua realeza e Gaspar, etíope, levando mirra, mostrando a humanidade de Deus respirando vida naquele indefeso menino junto de seus pais!
                Somos convidados a ser manifestação de esperança em nosso mundo turbulento, perdido em si mesmo, sem rumo, sem perspectivas, e tantas vezes sem sentido. Uma estrela que conduza as pessoas desesperadas e carentes à Jesus que salva e renova a esperança de que nossas Famílias voltem a reencontrar os verdadeiros alicerces que as sustentem.

 “Que nenhuma Família comece em qualquer de repente. Que nenhuma Família termine por falta de amor. Que a mãe seja um céu de aconchego e ternura, e que o homem carregue nos ombros a graça de um pai. Que a Família comece e termine sabendo aonde vai” (cf. Oração da Família do Pe. Zezinho). Somente assim poderemos acolher o mistério, de que Deus se manifesta Pessoa em Família!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“É preciso vigiar e ficar de prontidão;
em que dia o Senhor há de vir não sabeis, não!” (Mt 24,42.44).

            A vida é uma caixinha de surpresas. A toda hora somos surpreendidos pelo inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente preparados, sobretudo para as situações desagradáveis ou, eventualmente, até dramáticas da vida. Por isso nos reunimos todos os domingos com nosso melhor mestre, o Senhor Jesus, para ouvir e assimilar dele a verdadeira sabedoria para viver a vida com perene sentido.
            O espírito da liturgia deste domingo quer suscitar em nós o espírito de constante vigilância e serviço, tendo o coração voltado para Deus. O reino que ele nos oferece por meio de seu Filho é o verdadeiro tesouro que os ladrões não roubam nem a traça corrói. Com confiança e fé celebramos em comunhão com os vocacionados ao ministério ordenado: diáconos, presbíteros e bispos.
            Com os olhos da fé, a palavra de Deus nos convida a avaliar nossa caminhada e a nos manter sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor, buscando em tudo a sua vontade.
            A vigilância de Israel na noite da libertação é modelo para todo cristão até a libertação final. A comunidade, pequeno rebanho, precisa estar sempre vigilante e pronta para o seu Senhor. A fé é a força dinâmica que projeta ao futuro a vida do cristão.
            A Eucaristia nos leva a partir o pão juntos. Neste dia oferecemos, com o pão e o vinho, a vida e a missão dos pais, responsáveis por manter a família unida e fraterna.
            É bom nos conscientizarmos de que o fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da libertação encontrou os israelitas preparados para saírem – como lemos na página do Livro da Sabedoria -, e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada de seu patrão – como lemos no Evangelho de Lucas.
            Devemos preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não tem filhos. Assim como os antigos judeus colocavam sua esperança de sobrevivência nos seus filhos, estas pessoas a colocaram na sociedade do futuro. É nobre. Mas será suficiente?
            Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Ali a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na terra.
            Para a cultura judaica, quanto maior o número de filhos, maior significava a graça de Deus. Em nossos dias, quanto maior o número de filhos, maior parece ser a desgraça. Tenta-se a todo custo controlar a natalidade, ao invés de planejá-la. Como não se investe o suficiente em educação, saúde, sanidade básica, oferecendo oportunidades aos cidadãos, jogam-se “migalhas” para que sobrevivam. Refiro-me às tais bolsas família, escola e até Olimpíadas! Para o tal controle da natalidade, aprovam-se leis e medidas que castram a sociedade, ao invés de educá-la a ser gente!
            A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À utopia histórica, a visão cristã acrescenta a fé, prova de realidade que não se vêem. A fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última – razão do nosso existir.
            Lembro, que na minha infância, falar na morte era bem mais natural do que nos dias atuais. Hoje virou tabu falar em morte, como se as pessoas fossem imortais. Só nos damos conta de que morreremos, quando a morte passa perto de nós, levando-nos pessoas que amamos. Antigamente as pessoas morriam no aconchego familiar e hoje, na frieza e solidão de Hospitais, especialmente quando adormecem para a eternidade na geladeira de Unidades de Terapia Intensiva. Precisamos retomar a naturalidade da morte, que gosto de comparar ao nosso “terceiro e definitivo parto. Nós cristãos, partimos primeiro do útero materno; depois do útero da Igreja, a Pia Batismal e, finalmente, do útero da terra (vida terrena), em direção à vida definitiva, acostando-nos ao amoroso colo de Deus, nosso Pai! O Ano do Jubileu da Misericórdia amadurece nossa certeza de que morrendo, veremos Deus como Ele é. Nossa fé se debruça sobre a esperança, de que vendo como Deus é, seremos santos! Até porque aprendemos neste Ano Santo, de que o julgamento de Deus é o Perdão!
            Na busca que fazemos do verdadeiro tesouro como forma de vivermos em estado de serena vigilância para o que der e vier. Jesus vem ao nosso encontro com suas sábias palavras.
            Não deixemos para amar amanhã. Pode ser que hoje seremos chamados a prestar contas de nossa vida, passando pela temível morte, diante do Pai que nos amou primeiro, mas nos medirá pelo amor amado a cada dia de nossa vida!
            Sejam todos muito abençoados, especialmente todos os Diáconos, Presbíteros e Bispos vivos. Rezemos, também, pelos que já nos precedem no colo do Pai dos nos batizaram e administraram os sacramentos de nossa vida cristã! Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 18,6-9; Sl 32(33); Hb 11,1-19 e Lc 12,32-40).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2016, pp. 30-33 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2016) da, pp. 83-88.