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quarta-feira, 31 de maio de 2023

SAÚDE NA CULTURA DE MORTE!

 

Falamos, hoje, com particular insistência, de uma cultura da morte. Podemos estendê-la à saúde para advertir acerca de uma cultura de doença. A pessoa humana é muito mais autora que vítima da doença que eventualmente a atinge. Entramos no campo da responsabilidade em todos os campos da atividade para não deteriorar a condição de vida.

           Nos Estados Unidos – para citar um país desenvolvido e longe daqui – morrem por ano em média, 92.000 pessoas por erro médico; 120.000 por remédios por eles receitados; e 240.000 por auto-medicação. Portanto, a própria medicina não é inócua e exige maior responsabilidade no seu uso.

           Uma segunda grande chaga provém da atuação sexual descontrolada. Falamos de doenças sexualmente transmissíveis, desde a Sífilis à AIDS; desde a pederastia à infidelidade conjugal...

           Não há necessidade de falar do aborto e da eutanásia, que não apenas eliminam uma vida humana, mas afetam também catastroficamente todos os envolvidos. Todo abuso contra a vida repercute na qualidade de vida.

           A cultura da morte encontra-se na violência e na guerra, de modo mais conspícuo. Além das mortes e destruições, deixam um rastro implacável de sequelas e malefícios. São horrendos. Mas provém da vontade humana. Representam falta de humanismo e de responsabilidade.

           Mesmo os campos mais básicos para a promoção da saúde não estão isentos do perigo. Seja exemplo a alimentação e o esporte. O excesso leva a catástrofes. A comida e a bebida, principalmente de teor alcoólico, fora da medida do necessário, prejudicam. O esporte profissional, principalmente em algumas categorias, leva inevitavelmente a encurtar os dias de vida.

           Toda ação má constitui um atentado contra a própria vida. Não por nada a Sagrada Escritura garante que “assassinos e homens de fraude não verão a metade da vida” (Sl 54,24). Ou que o malfeitor não vai de cabelos brancos para a sepultura. Morre bem antes.

           A saúde envolve toda a moral. Pecar não é apenas afastar-se de Deus, mas também reduzir o teor de vida, até a catástrofe final. Por isso, as terapias farmacológicas não bastam. Necessitamos da Cristoterapia e da Hagioterapia, ou seja, da graça divina para viver em plenitude (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha da Saúde – Um Apelo da Bioética. Presscom, Porto Alegre (RS), 2008, pp. 31-32).

           Gosto sempre de lembrar a frase do Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira, Professor de Nutrologia: “Somos aquilo que comemos!”, completando com a de minha autoria: Somos aquilo que escolhemos fazer por nós e pelos outros!

           Saibamos zelar mais por nossa saúde, não permitindo que maus hábitos nos adoeçam simplesmente, por falta de um pouquinho mais de esforço de nossa parte. Não podemos esquecer, que nosso corpo é, segundo as cartas de São Paulo, templo do Espírito Santo, e comparados aos membros de um corpo que teologicamente é a Igreja de Cristo, do qual corpo Ele é a cabeça.

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 24 de maio de 2023

O MUNDO PARECE ESTAR ENFERMO!

 

Nas visitas aos Postos de Saúde Pública tenho conversado muito com nossos servidores e servidoras. Sinto um esforço sobrenatural para um bom atendimento. Encontro homens e mulheres vocacionados ao serviço “sacerdotal” da saúde, embora entre esses, se encontre também pessoas cansadas, exaustas e por conseguinte mal-humoradas. Em minhas observações percebo não raras vezes cidadãos mal educados e sem paciência, quando não grosseiros e agressivos. Costumamos criticar nossos servidores e, com razão em alguns casos. Mas somos o “País das Filas” e nem por último campeões em “furar filas”. A pior das enfermidades de nosso povo é a falta de educação básica. Tratamos mal por conta de inúmeros escândalos na Saúde Pública, muitas pessoas que não têm culpa de mais um dos nossos Sistemas Corruptos, principalmente o desvio de verbas destinadas à Saúde e que acabam em contas bancárias fantasmas sabe Deus de quem!

           Sinto-me profundamente envergonhado quando solicitado a usar de meu prestígio junto às autoridades competentes, para resolver o que deveria ocorrer normalmente. Dezenas de vezes fui procurado para interceder junto a pessoas mal atendidas, e que talvez sofressem mais, caso não tivessem o adequado atendimento: pessoas em pé durante quatro horas, sem serem atendidas; pessoas com derrame cerebral aguardando leito adequado em algum Hospital, atendidas em macas nos corredores de Postos de Saúde, tendo também eu que esperar mais de duas horas para atender sacramentalmente pacientes esquecidos em salas de Raio X. Essa é nossa realidade. Mesmo assim, penso que todo cidadão é chamado a colaborar com educação e paciência exercendo sua cidadania sem agressividade. Não poucas vezes atribuímos a culpa às pessoas que sofrem tanto como nós, porque submetidos a um Sistema Único de Saúde – SUS mal administrado e menos ainda preparado para atender O Mundo que está enfermo!

           Nos Hospitais Particulares e que atendem por conta de elevados Convênios, a situação não é muito diferente. Assisto a cada situação que me leva a pergunta ao coração: “Será que este e aquele Hospital tem noção clara de que está tratando de gente? Animais têm tratamentos mais humanos e humanos estão sendo animalizados!”

           Ao invés de tentar resolver nossas necessidades com o tal “jeitinho brasileiro”, que nos torna egoístas, porque resolvido nosso problema, viramos as costas sem pensar nos outros, saibamos exercer uma cidadania comum, onde todos, sem excluir ninguém, tenham atendimento digno de seres humanos! Haja uma prestação de contas mais transparente, demonstrando onde são realmente aplicados os recursos destinados à Saúde Pública. Dinheiro temos, até para socorrer o Fundo Monetário Internacional. Em anos de eleições, corremos o risco de ver recursos da Saúde se transformar em asfalto de péssima qualidade ou em pinturas com tintas que não duram mais do que quatro anos.

           Mas nem tudo está perdido. Tenho sido atendido como um “príncipe” no nosso renomado Hospital da Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A primeira impressão assusta. É uma multidão de gente enferma de todos os cantos do País. Porém, desde a recepção, até receber os diagnósticos dos médicos especializados e seus médicos residentes, passando pelos mais complexos exames de diversas naturezas, cria-se uma confiança tão bonita, que grande parte dos sintomas de enfermidades já desaparecem antes mesmo de deixar o maior e o melhor Hospital de nossa cidade e região. Agradeço, de coração, a todos, especialmente aos médicos do Hospital da Clínicas que demonstram serem de verdade, vocacionados ao exercício da medicina, até porque são os médicos mais mal pagos desse sistema, ainda tão injusto em nosso País, cuja disparidade entre ricos e pobres continua gritando vergonhosamente por justiça e dignidade!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 17 de maio de 2023

NA FILA DO SUPERMERCADO - Padre Gilberto Kasper - Teólogo

 

Na fila do supermercado, o caixa diz para uma idosa:

                      
A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente. A senhora pediu desculpas e disse:

Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu:

Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.

Você está certo - responde a velha senhora nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo.
Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisávamos ir a dois quarteirões.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente.
Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias.
Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como? Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também necessitam de eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente.
Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.  Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

Que planeta vamos deixar para nossos filhos?

Há de se perguntar:

Que filhos vamos deixar para o nosso planeta?

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A CRISE DO BRASIL PODERIA NOS EDUCAR! Padre Gilberto Kasper - Teólogo

 

 

Ao chegar à Alemanha em 1985, antes de ingressar no seminário para concluir meus estudos de Teologia, fui acolhido por um casal que viveu a Segunda Guerra Mundial. Antes do primeiro almoço a dona da casa me perguntou quantas batatas eu comia. Estranhei e perguntei o tamanho das batatas. Depois de me mostrar uma, disse que duas bastariam. A experiência da fome e demais carências pós-guerra educou o povo alemão a economizar e ser criativo em questões de economia. Graças a Deus nunca passamos pela experiência de guerras parecidas, embora os dados da mortalidade estúpida nas grandes cidades se aproximem muito dos números de vidas ceifadas na Segunda Guerra Mundial: no trânsito, nos confrontos entre traficantes e policiais, no descaso da saúde pública e nem por último pela falta de infraestrutura e por causa da fome.

 

Ouvindo especialistas da área econômica, cientistas políticos e renomados sociólogos, faço minha reflexão leiga. Todos, de alguma maneira somos corruptos. Somos corruptos em maior ou menor escala de algum modo. Os pais corrompem os filhos, quando tentam premiá-los para que cumpram suas responsabilidades domésticas e de escola. Somos corruptos, quando buscamos levar vantagem em tudo, com a famosa pergunta: “O que vou ganhar com isso” ou ainda: “O jeitinho brasileiro resolve quase tudo”.

 

Temos ainda o disfarçado costume de manufaturar mais alimentos do que seria necessário. Daí que dizemos: “Onde comem dois, comem quatro”. Esse hábito nos condecora como produtores de um dos mais luxuosos lixos do mundo. Comida que sobra, azeda e é jogada fora. Mas tudo isso não justifica sacrificar o Povo Brasileiro. Pagamos os impostos mais altos do mundo e sustentamos uma “Política corrupta sistêmica”. O Governo Federal gasta 10% com os Projetos Sociais, como por exemplo, o Bolsa Família! Mas o “Andar de cima”, ou seja, nossos políticos a começar do Executivo aos serviçais mais simples, gasta 40%. Tenho minhas dificuldades sobre o Bolsa Família; penso que o esforço de nossos nobres representantes deveria contemplar Oportunidades aos seus Eleitores, ao invés de “Bolsas daqui e dali”, que mais me parecem “migalhas” que caem da mesa dos comensais do “Andar de Cima”. Além dos salários absurdos, nossos políticos são contemplados com verbas ainda mais absurdas para viverem afogados na abundância à custa do povo trabalhador simples, que ao final, é quem paga a conta.

 

A Crise do Brasil poderia nos educar a sermos mais criativos, como também mais espertos. Precisamos pensar um Brasil de Todos e não desse ou daquele partido. Com uma velocidade diária, os noticiários nos surpreendem com gravações, delitos, desvios, e uma assustadora falta de caráter. personagens do cenário político simplesmente “prostituídos pelo dinheiro alheio, público e até mesmo os centavos suados do nosso povo tão simples”. Gravações diabólicas, porque feitas premeditadamente: “Se eu for descoberto, terei provas para acusar quem comigo roubou ou falou o que não devia. Se não for descoberto, fica como está”. Todos que devem algo deverão devolver e pagar judicialmente, independente de Partido Político. Segundo noticiado amplamente, um pai de família foi preso roubando comida. Alegou que esposa e filho passavam fome. Os policiais verificaram ser verdadeira a afirmação do homem, se sensibilizaram e compraram comida para a família. Mas como o homem flagrado não tinha como pagar a fiança continua preso.

 

Concluo pensando que o crime de um não justifica o de outro. Todos, a seu tempo, devem ser julgados. Do contrário precisaríamos dizer que alguns detentos em nossas penitenciárias deveriam ser absolvidos, porque roubaram muito menos do que os que ainda não foram descobertos. O importante é que a Crise do Brasil poderia nos educar!

quarta-feira, 3 de maio de 2023

MATERNIDADE CRISTÃ! Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

O mês de maio começa celebrando a Festa de São José, operário, embora seja bem mais dedicado à MULHER! Comemora as Noivas, as Mães e é considerado pelos cristãos católicos, um mês dedicado à MARIA, Mãe de Jesus. O convite do Papa Francisco, especialmente para o mês de maio, é que rezemos em Família, todos os dias, o Terço. Será a Igreja Doméstica pedindo proteção a todos os filhos de nossa Mãe comum. “A Família que reza unida, permanece unida”, especialmente diante de tantos desafios e dificuldades!

Gostaria de refletir muitos temas, mas pensei em escrever algo sobre o sentido da maternidade cristã, a partir das milhares de mães que assumem seus filhos sozinhas. São as que nossa sociedade chama de “mães solteiras”! É interessante observar que nunca ouvi ninguém chamar uma mãe, casada, direitinho, ou cujo pai assume com ela o filho, de “mãe casada”!

Continuamos com o péssimo hábito de discriminar as pessoas, vivendo, muitas vezes, às escondidas, disfarçando gravidez antecipada, aliás, nas últimas décadas, a maioria das crianças nasce aos sete meses, ou me engano? Casamentos ou contratos de estabilidade conjugal forçados, que não passam de hipocrisia, para não admitir, ou então não se sentir motivo de conversinhas de vizinhos maldosos seriam válidos? Certamente a gravidez simplesmente, sem a certeza do amor gratuito, com sabor divino, profundo e verdadeiro, não é razão suficiente para “mentir” fidelidade diante de testemunhas, de ministros assistentes a matrimônios com aparatos megalomaníacos, como fotografias, filmagens, festas em renomados espaços de elegância exacerbada. São simplesmente nulos. Não acontece então o verdadeiro sacramento, eis uma farsa.

Penso que estaria na hora de revermos o verdadeiro sentido da maternidade cristã. O que significa ser mãe, com ou sem parceiro? Ser mãe implica uma vocação específica, sublime, nobre e abençoada por Deus, o Criador. Ser mãe é gerar vida com amor. Para ser mãe de verdade, é preciso “fazer amor” e não simplesmente relação sexual por mero prazer hedonista. É, por isso possível, dissociar vocação ao matrimônio da vocação materna? Penso que não. Quem se casa sem querer constituir Família, utiliza-se de uma Instituição Sagrada: A Família, colocada de bruços nas últimas décadas, continua sendo a célula da sociedade. Precisa urgentemente ser reerguida e reassumida por pessoas que ainda acreditam em valores humanos e promovem a pessoa na sociedade, que ao contrário, a coisifica.

Quero, neste mês de maio, prestar minha homenagem muito terna, às mães que chamam de “solteiras”: mulheres corajosas, especiais, que desempenham também o papel de pais, para educar e amar divinamente os filhos que geraram, tantas vezes com dificuldades impostas pela própria família, pelos parentes e por uma sociedade que precisa ser mais amorosa, fraterna e misericordiosa com elas. Quem julga, fala mal, condena e determina a sentença sobre qualquer pessoa e seu comportamento, ousa prepotentemente ser deus sobre o outro. Minha ternura a todas as Mães do mundo, sobre as quais invoco as bênçãos da Sagrada Família de Jesus, Maria e José!