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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM

MÊS DA BÍBLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



            Neste Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum, com toda a Igreja no Brasil, queremos destacar e valorizar a entronização da Sagrada Escritura. Para este domingo, a Igreja no Brasil propõe o aprofundamento do Evangelho de Marcos, que continuará no mês de setembro, dedicado especialmente à Bíblia Sagrada!
            Em cada Celebração Eucarística, o Senhor nos convida para participarmos das mesas da Palavra e da Eucaristia, estreitando assim os laços que nos unem a ele e aos irmãos e irmãs. Nossa semana é marcada pelo encontro com Deus e com os irmãos, no Dia do Senhor. O domingo é o dia em que a família de Deus se reúne para escutar a Palavra e repartir o Pão consagrado, recordar a ressurreição do Senhor na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousar diante do Pai.
            Somos convidados a discernir o que é ensinamento da Palavra de Deus do que é tradição humana. A liturgia que agrada ao Senhor é fazer opção pelo seu projeto, que se realiza na prática da solidariedade.
            A Palavra de Deus propõe leis e normas que favorecem a vida do povo, e não o apego a detalhes insignificantes. Sejamos praticantes da Palavra de Jesus, não apenas ouvintes. Pois é necessária a preocupação com leis justas que promovam a vida, sem subestimá-la como tanto acontece em nosso tempo. Contemplamos sentenças injustas, com argumentos e silogismos que justificam até mesmo crimes incontestáveis. O que é mais importante: a vontade de Deus ou a tradição humana? Na medida em que o homem cria seu próprio deus, ao invés de reconhecer na Palavra, a loucura do amor de um Deus verdadeiramente apaixonado por sua criatura predileta, a pessoa, alimentamos a ideia de um mundo vazio, sem perspectivas, sentido e esperança! A verdadeira religião é solidariedade com os marginalizados e ruptura com as instituições injustas.
            A palavra que ouvimos na celebração deste domingo é uma palavra que liberta e que comunica vida. A escuta e o cumprimento da lei de Deus são apresentados como um caminho de vida e libertação. Jesus corrobora isso, ensinando que é o esquecimento do mandamento de Deus e o apego às tradições dos homens o que perverte o coração humano.
            Os fariseus e alguns mestres da lei se aproximaram e se reuniram em torno de Jesus, o observando. Também nós, tantas vezes e por tantos motivos, nos reunimos em torno de Jesus. De que modo observamos a prática de nossos semelhantes, discípulos de Jesus Cristo? Acaso nos consideramos fiéis cumpridores de sua palavra? Que direito isso nos dá de julgarmos as atitudes de nossos semelhantes?
            Além de criarmos nosso próprio deus, com frequência tentamos ser deus sobre a vida dos outros. Isso acontece quando julgamos, condenamos e nem por fim escondemos nossos defeitos atrás dos defeitos e limites de nossos semelhantes. Coisa feia é sentir-se no direito de julgar, de difamar, de excluir, de discriminar ou até mesmo de ser conivente com quem nos garante algum prestígio. Ainda não conseguimos viver o Evangelho que pede correção fraterna, que acredita na mudança das pessoas. Ao contrário: preferimos colar adesivos na testa dos que não nos interessam ou por pura inveja, investimos nossa incapacidade de perdoar, dificultando e destruindo a vida do próximo. Isso é notável nas relações sociais, políticas e também eclesiais. Como viver configurados com Jesus Cristo sem a capacidade de sua misericórdia e capacidade de perdoar o outro, incondicionalmente? Com facilidade espalhamos o erro dos outros, desviando os olhares dos nossos próprios, não poucas vezes bem mais graves e cabeludos. É a mesma coisa que abrir um travesseiro de penas de ganso e espalhá-las ao vento. Nunca mais conseguiremos recolher todas as penas e devolvê-las ao travesseiro. Isso me parece no mínimo diabólico!
            Longe dos seguidores e seguidoras de Jesus deve estar todo tipo de culto exterior e vazio! Ouvir e praticar é o refrão que se repete, constantemente, na liturgia deste domingo.
            Israel era um povo admirado pelas demais nações por ter um Deus tão próximo e uma lei tão justa. Nossas comunidades cristãs, por quais motivos são admiradas e respeitadas? Realizamos, através das comunidades e de outras organizações, tantas coisas importantes para os indivíduos e para a sociedade, em diversos campos como os da educação, da saúde e da assistência social? As atividades subsidiárias um dia podem não serem mais necessárias, então, o que sobrará para essas organizações? Restará sempre o tesouro mais valioso que é a Palavra de Deus, o Evangelho.
            A Palavra ouvida se faz presença na ação eucarística! Aquele que é anunciado, proclamado na Palavra, se torna presença na Eucaristia.
            Com nossos corações inundados pelo amor de nosso bom Deus e de laços estreitados com ele, pela escuta atenta de sua Palavra, nos unimos ainda mais ao participarmos da mesa do Corpo e do Sangue de nosso Senhor. Mergulhamos mais perfeitamente nessa comunhão, quando a Eucaristia, alimento da caridade, nos faz reconhecê-lo e servi-lo em nossos irmãos e irmãs.
            Não canso de renovar o esforço por ser coerente entre o que penso, falo (anuncio) e faço. Do contrário torna-se hipocrisia minha missão e discipulado. Saibamos temperar nossas relações com conversão, coerência e bom senso sempre!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Dt 4,1-2.6-8; Sl 14(15); Tg 1,17-18.21-22.27 e Mc 7,1-8.14-15.21-23)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2018, pp. 20-23 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Setembro de 2018, pp. 27-31.

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


Nem sempre conseguimos equilíbrio entre as paixões políticas ideológicas, partidárias e a abertura aos que são, pensam, militam diferentemente de nós. Ao invés de adversários políticos, ouvimos gritos de “inimigos” daqui e dali. A Cartilha de Orientação Política distribuída amplamente às Comunidades de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto deixa isso muito claro na página 10, principalmente quando afirma “de que Igreja Católica louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, a serviço dos homens [...]”. Aqui vemos sublinhado de que o Bem Comum será sempre fundamental e referência para qualquer pessoa que se apresente para integrar o mundo da política. Política não é meio de vida, não permite que homens e mulheres defendam antes do bem comum, projetos de vida pessoal, partidária, corporativista, cada um cuidando tão somente de “seu metro quadrado”.
            Esta segunda parte da Cartilha, lembra alguns trechos da mensagem vídeo do Papa Francisco aos participantes do encontro de políticos católicos em Bogotá, em dezembro de 2017. O Papa Francisco lembra a “necessidade de reabilitar a dignidade da política”, de que “precisamos de políticos que, em primeiro lugar, preservem o dom da vida em todas as suas fases e manifestações”, bem como que “devemos nos encaminhar rumo a democracias maduras, participativas, sem as chagas da corrupção [...]”. Já num dos pronunciamentos, o Papa no Peru, questiona: “Por que tantos ex-presidentes da América do Sul estão sendo presos, acusados de tanta corrupção?”
            Embora exista o esforço por manter Escolas de Fé e Política, ainda são muito tímidas as adesões para essa formação. Muitíssimos dos Agentes de Pastoral, Fiéis e nem por último, Clérigos só se deparam com as questões políticas às vésperas das eleições. A Cartilha sugere que “a formação da consciência política dos leigos não fique restrita aos períodos eleitorais. No dia a dia das comunidades cristãs se realizam palestras, fóruns com a participação de especialistas e lideranças sobre temas e realidades da vida sociopolítica, econômica, jurídica e cultural”. Somos “provocados” a perguntar-nos se realmente abrimos espaço em nossas Comunidades para que um maior número de fiéis se interesse e se comprometa com questões políticas, ou se ficamos alienados, e por isso coniventes com um cenário político desolador, como é o do momento atual?
            A Cartilha também faz referência à Lei contra a corrupção eleitoral e a Lei da “FICHA LIMPA”. “A ‘Ficha Limpa’ se originou de um projeto de lei de iniciativa popular em que a participação ativa das comunidades católicas, na coleta de assinaturas, foi fundamental”.
            A segunda parte da Cartilha trata do “Incentivo aos leigos e leigas na vida pública”. Lembra que “As eleições deste ano acontecem no contexto do Ano Nacional do Laicato”. Por meio do Documento 105 da CNBB: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, A Igreja sente a necessidade de maior presença do laicato católico no âmbito político, com convicções éticas e religiosas, tornando-se referência nos espaços políticos”. ”A CNBB estimula maior participação dos leigos na política, vencendo o preconceito comum de que a política é coisa suja e supérflua; ao contrário, ela é essencial para a transformação da sociedade”.

            

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Estudo Bíblico - Santo Antônio Pão dos Pobres


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO COMUM

VOCAÇÃO DOS DIVERSOS
MINISTÉRIOS E SERVIÇOS NA COMUNIDADE
ESPECIALMENTE OS CATEQUISTAS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
  


           Com o Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo ComumMês Vocacional – agradecemos a rica presença dos diversos Ministérios e Serviços, especialmente os milhares de Catequistas, na Igreja toda ela ministerial e missionária! Todos os batizados são sacerdotes e sacerdotisas na Igreja de Jesus Cristo! São belíssimos os ministérios e serviços que conduzem crianças, adolescentes, jovens, noivos e adultos à presença do Senhor, que se faz alimento da PALAVRA e alimento EUCARÍSTICO às Comunidades comprometidas com um mundo mais digno e humano! Quão sublime é o Serviço dos Catequistas tão zelosos, dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística, dos Agentes da Pastoral da Saúde, da Pessoa Idosos e tantos outros em nossas Comunidades!
            É sempre uma graça e uma bênção estarmos reunidos, celebrando o mistério pascal de Cristo acontecendo em nossa vida e em nossos trabalhos, especialmente dos Ministros não ordenados, nossos Agentes de Pastoral com a Igreja Missionária de Jesus. Na Páscoa de Jesus, Deus revelou a sua opção pela humanidade. Jesus venceu, pela cruz, todos os limites que impedem a vida humana de ser feliz e divina.
            No centro do Evangelho deste domingo, está Pedro, que, questionado por Jesus, o identifica como Filho de Deus. E, falando em nome do grupo, decide seguir Jesus: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus”.
            Damos graças por essa opção de Deus por nós e pela presença da páscoa libertadora. Abrimos o coração à interpretação que Jesus nos faz, como fez a Pedro, e, a exemplo dos apóstolos, queremos estar com Ele no caminho e na luta por uma sociedade diferente, nova e fraterna. Ele nos encoraja a abandonar os ídolos, que nos levam à destruição e à morte.
            Há uma pergunta nos bastidores da Igreja e na consciência dos cristãos: o que significa e implica servir ao Deus verdadeiro, nos dias de hoje?
            É duro admitir que a fé na Eucaristia não seja unicamente crer na presença de Jesus nas espécies de pão e vinho, mas também no pobre, no aleijado, no espoliado, no maltrapilho, e que Ele encarna-se na realidade concreta das pessoas. O que significa ser pão para os outros? Por que muita gente se escandaliza e cai fora quando mostramos os compromissos da Eucaristia? Aparece hoje certo “espiritualismo eucarístico” que esconde e escamoteia a encarnação de Jesus no contexto histórico.
            A fé exige decisão e adesão sem reservas àquele cujas palavras prometem e comunicam a vida eterna. Jesus é efetivamente o enviado que Deus consagrou. A escola para segui-lo não suprime a liberdade e não impede a possibilidade de traição. Seguir Jesus impõe condições que nem todos aceitam. Servir o Senhor da vida é penoso e exigente, e podemos sucumbir à tentação de “ir embora” e largar o seguimento.
            Hoje existem formas discretas de nos retirar da caminhada sem dar muito na vista: ficar na comunidade sem assumir ou sem se importar com o projeto de Jesus, vivendo uma religião como rotina, para ter a consciência em paz; escolher trechos mais convenientes do Evangelho e fingir não ver as exigências cristãs da caridade, da justiça e da ação transformadora da sociedade; inventar um Jesus a nosso gosto, que nos incomode pouco, ou nada, e faça sempre a “nossa vontade”.
            Será que é possível se dizer cristão, frequentar a igreja, sem de fato ter tomado uma decisão verdadeira de seguimento a Jesus e de compromisso com o seu projeto?
            A Eucaristia nos coloca diante de Cristo e nos pede uma opção pronta e decisiva. A Palavra proclamada é luz, e o pão que recebemos é força e alimento, em vista de uma resposta positiva e responsável.
            Gosto de lembrar-me de duas pequenas estórias que iluminam minha relação com os efeitos da Eucaristia em minha vida: o silêncio e a ternura de um beijo! Em determinada Igreja havia um homem, que diariamente, sentado no último banco, olhava para o Sacrário, sem dizer uma única palavra. O homem olhava para Jesus no Sacrário e sentia Jesus olhando para ele. Em outra Igreja, uma menina de cinco anos de idade, dando voltas pelo sacristão que preparava a mesa para a celebração da Missa, vendo a hóstia grande na patena sobre o altar, a ser consagrada na celebração, subiu num banquinho e beijou a hóstia. Ao ver aquilo, o sacristão disse: “Oh! Menina bobinha. Porque fica beijando esta hóstia na patena, se Jesus nem aí está?” A Menina replicou: “Eu sei que Jesus ainda não está nesta hóstia. Mas quando chegar encontrará meu beijo!...”.
            Saibamos nós mergulhar no mistério da Eucaristia de tal modo maduro, e mais do que isso: anunciar Jesus com atitudes decisivas e coerentes entre o que celebramos, dizemos e fazemos!
            Sejamos os Ministros e Catequistas a serviço de nossas relações sempre! Com muitas bênçãos, ternura, gratidão e abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Js 24,1-2.15-18; Sl 33(34); Ef 5,21-32 e Jo 6,60-69)

FONTES: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2018, pp. 88-91 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Agosto de 2018, pp. 22-26.

PODER E CARGOS CONVERTIDOS EM “SERVIÇO”!


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Nosso primeiro Bispo Diocesano, Dom Alberto José Gonçalves, foi Deputado Estadual do Paraná, Deputado Federal e Senador. Diremos que isso foi no século passado. Ouve-se de bons lábios cristãos católicos, que Religião e Política não se misturam. Não obstante no século XXI e Terceiro Milênio da Era Cristã, muitos de nossos bons Cristãos Católicos ainda são da opinião de que o lugar do Padre é na Sacristia e que não deve se “meter na política”.
            Antes do Concílio Ecumênico Vaticano II, havia três autoridades nas cidades de nosso imenso País, especialmente no Interior: O Vigário, o Prefeito e o Juiz, não necessariamente nessa ordem. A partir do mesmo Concílio a Igreja Católica vem incentivando seus fiéis, através do Magistério, das Conferências Episcopais, especialmente “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sempre se manifestou sobre questões políticas”. Como Mãe e Mestra, a Igreja não tem medido esforços na formação de consciência política, consciência cidadã e consciência crítica, resgatando através do diálogo respeitoso a dignidade do povo, buscando à luz do Evangelho, o resgate do Reino de Deus, que é um reino de justiça.
            É bem verdade que não devemos confundir Homilias com Discursos Políticos e muito menos sermos partidários políticos. Mas a cartilha apresentada à nossa Igreja particular de Ribeirão Preto, especialmente em sua Segunda Parte, trata da Igreja e as Eleições, iniciando com a afirmação do Documento de Aparecida, n. 395: “A Igreja se sente chamada a ser ‘advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu’. Para cumprir essa missão, a Igreja incentiva os fiéis a interagir com a política”.
            Já o Papa Francisco na Evangelii Gaudium, n. 183 afirma que não podemos ficar indiferentes diante dos desafios que se nos impõem os Poderes Constituídos, e que “Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – (passiva ou intimista, mera cumpridora de preceitos, sem que a fé seja confrontada com obras e compromisso de mudança daquilo que não vai bem) comporta sempre um desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”.
            São inevitáveis determinadas expressões como poder, cargos, etc, embora confesse tais denominações inconvenientes seja na política, como na sociedade, uma vez que qualquer detenção de poder, ou deferimento de qualquer cargo, tanto na política, e mais ainda em nossas atividades pastorais, se não for convertido em serviço, certamente será de dimensões desastrosas tanto para quem os detém, quanto para quem deles deveria ser beneficiado. Aqui prevalece o mandamento dado pelo próprio Cristo naquela noite em que instituiu a Eucaristia, a alma da Igreja: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Deixei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,14). “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10,43-44).


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Vocação à Vida Consagrada
 Religiosos e Religiosas

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


             A solenidade deste domingo, considerada a festa principal da Virgem, recebeu, no início do século IV, o nome de “dormição” (dormitio Virginis), enquanto passagem para outra vida, e só mais tarde foi chamada de Assunção.
            Desde os primeiros séculos, conhece-se esta festa tanto no oriente como no Ocidente. Somente em 1950 foi promulgada verdade ou dogma de fé por Pio XII.
            No Brasil, a piedade popular venera Maria assunta ao céu como Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora da Abadia, Nossa Senhora do Pilar...
            Celebramos esta festa da páscoa de Maria dando graças ao Pai que eleva a humilde mulher, Maria de Nazaré, e, nela nos oferece o sinal da vitória definitiva de toda a humanidade, pela força da ressurreição de Jesus Cristo. Com a Virgem Maria, cantamos as maravilhas que o Senhor fez por nós, fazendo-nos participantes do mistério pascal do seu Filho.
            Somos chamados a celebrar esta vitória, vivendo o projeto de Jesus que vence, pelo poder da entrega da sua vida, a força enganosa do dragão, que devora e destrói todas as possibilidades duma vida humana digna e feliz.
            Cantamos com Maria a esperança dos pobres e pequenos, a quem Deus, em sua grande misericórdia, liberta e exalta. “Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando este dia festivo em honra da Virgem Maria: os anjos se alegram pela Assunção e dão glória ao Filho de Deus”.
            A festividade da Assunção é um sinal de esperança para os que seguem o caminho da fé e alimentam a certeza de que serão ressuscitados em Cristo. E a Igreja, reunida em comunidade, contempla Maria à luz do Mistério Pascal de Cristo, professa que ela, no término da caminhada por esta terra, foi elevada ao céu, assumida por Deus e colocada na glória dos céus. É a ação de Deus fazendo grandes maravilhas na vida da mãe do Salvador.
            A Assunção de Maria brotou da ressurreição de Jesus. Maria segue o caminho novo de acesso ao Pai, aberto pelo Filho Jesus. Deus antecipa em Maria o que é, na verdade, destino de toda a humanidade. A ressurreição de Jesus é caminho de ressurreição para todo o ser humano.
            Maria havia proclamado que Deus exalta os humildes e destrói a segurança e a prepotência dos soberbos. A sua vida tem a marca da humildade e do serviço. A sua resposta ao anjo na anunciação é um juramento: eis a serva do Senhor. O fato de se tornar a mãe do Messias não a tornou orgulhosa nem vaidosa. Como mulher humilde e servidora, foi exaltada na assunção e agradecida por Deus com o sinal antecipado da glória.
            Maria, a mulher vestida de sol do Apocalipse e do Magnificat, nos ensina a seguir o projeto de Deus em favor dos pequenos. Deus encontra um espaço em Maria para agir e manifestar-se hoje e realizar suas maravilhas em favor da humanidade.
            No Salmo de Maria, tradicionalmente chamado de Magnificat, ela proclama que Deus realizou a derrubada de situações opressoras para restaurar o seu projeto de Deus: Ele subjuga a autossuficiência humana e a soberba; destitui do trono os poderosos e enaltece os humildes, e destrói as desigualdades humanas; elimina os privilégios estabelecidos pelo dinheiro e o poder. Cumula de bens os famintos e despede os ricos de mãos vazias, para instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos, porque todos somos filhos de Deus.
            Deus olha a condição oprimida do pobre, o estado de desgraça, de aflição e humilhação em que vivem milhões de pessoas, e enviou Jesus para propor um jeito novo de viver que seja bom para todos. O que alegra Maria é ser parte integrante do projeto de Deus para a humanidade – salvação das opressões pessoais, mas também salvação de um povo.
            Como comunidade peregrina, grávida da salvação de Deus, nos reunimos para celebrar. Vivemos a experiência de Maria, que, vestida de sol e adornada de joias, canta a esperança oferecida aos pobres e humildes.
            Nossa ligação com Maria existe justamente por ser ela uma entre os pequenos que Deus escolhe. Se houver muita homenagem a ela e pouco compromisso com os famintos e desamparados, estaremos fora da obra que Deus realiza com Maria.
            Nesta Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu, agradecendo a Vocação à Vida Consagrada, a rica presença, a sublime missionariedade e discipulado de nossos Religiosos e Religiosas, na Igreja de Jesus Cristo, somos todos convidados, a exemplo da chamada pelo Papa Paulo VI, “A Estrela da Evangelização”, a sentirmo-nos também grávidos de Jesus. Mais ainda, não guardar para nós mesmos tal gravidez, mas levá-la pelo mundo, como Maria, a primeira missionária a levou à Isabel. O encontro das duas Mulheres me encanta sempre. A alegria daquele encontro deve ser sempre nossa alegria, quando nos encontramos, porque cheios da presença de Jesus e do Espírito Santo.
            Gosto, também de pensar, que a exemplo de Maria, podemos sentir-nos porta-joias do Senhor. Cada vez que O comungamos, nosso coração torna-se Seu Sacrário, Seu Tabernáculo, que deve brilhar para todos que encontramos pelo caminho, conduzindo-nos ao Senhor da Vida.
            Encerrando a Semana Nacional da Família, rezando e agradecendo a Vocação à Vida Consagrada, sintamos as mais abundantes bênçãos do Senhor que nos escolhe a dedo para a missão evangelizadora num mundo tão sedento de Deus em busca da sustentabilidade dos valores que devolvam ao ser humano sua verdadeira dignidade!

Padre Gilberto Kasper

(Ler Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44(45); 1Cor 15,20-27 e Lc 1,39-56).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2018, pp. 67-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Agosto de 2018, pp. 17-22.


            

INDECISOS PARA AS ELEIÇÕES DE 2018!


INDECISOS PARA AS ELEIÇÕES DE 2018!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Constato que nossos fiéis em número razoável ainda se sentem desmotivados e indecisos para as eleições de 2018, por conta do cenário político caótico. Talvez essa seja a eleição mais atípica de todas, desde 1989. Mesmo que muitos pensem que Religião e Política não devem se entrelaçar, precisamos nos preparar para bem orientar nossas Comunidades. É preocupante que aproximadamente 40% dos Brasileiros até o momento deixem escapar que anularão seu voto, votarão em branco ou nem irão às Urnas.
 Muitos confiarão as Eleições deste ano à Igreja, que ainda lhes inspira certa segurança e buscam com ela, a Igreja, novos horizontes e nova esperança. Como não somos partidários e nem convém declarar nossa acepção a partido nenhum, precisamos estar preparados e muito bem informados quanto aos candidatos que se apresentam para os diversos cargos. A Campanha Eleitoral já começou com o primeiro Debate promovido pela Rede Bandeirantes no dia 9 de agosto, que reuniu oito dos treze Candidatos à Presidência da República. Foram três horas de “farpas”, egocentrismo, demagogias, propostas, algumas delas até mesmo hilárias, mas lançadas ao ar, a fim de que mais de um milhão e quinhentos mil telespectadores comecem a formar consciência crítica sobre cada um deles. Nem sempre é prazeroso assistir aos debates, apresentação de propostas, devaneios de alguns, falta de postura e ética de outros, mas será através desses, que poderemos desenhar em nossa consciência o que nos espera nas eleições deste ano.
Só seremos capazes de orientar bem nossas Comunidades, na medida em que conhecermos as propostas dos candidatos ao Legislativo e Executivo. É possível que sintamos o desejo de uma maior renovação nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, não reelegendo Deputados Estaduais, Federais e Senadores, mas arriscando em homens e mulheres que oxigenem a velha política de caciques “embolorados”, porque colados há décadas numa dessas cadeiras, usufruindo de privilégios descabidos em detrimento dos milhões de cidadãos que acabam pagando absurdamente uma nobreza injusta, quando não imoral.
Isso só será possível na medida em que exercermos nossa cidadania, buscando o quanto possível, identificar quem são na verdade os candidatos. A civilidade não nos permite afirmar que não votaremos em ninguém. Acompanhar os debates dos presidenciáveis e conhecer bem os demais candidatos é tarefa difícil e nem sempre agradável, porém a meu ver, necessária. Além do primeiro debate na Band, teremos outros entre 17 de agosto e 4 de outubro, bem como os horários de propaganda eleitoral.
A Igreja diante das Eleições de 2018, por meio de seus Agentes de Pastoral e Líderes Religiosos, deverá orientar com fidelidade “apartidária” todos os fiéis de suas Comunidades, que talvez encontrem uma luz de esperança para um País mais justo numa palavra bem dita!


quarta-feira, 8 de agosto de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

DIA DOS PAIS
SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA
HORA DA FAMÍLIA
“O Evangelho da Família, alegria para o mundo”.

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Agosto é o mês vocacional. No dia dos pais, somos convocados pelo Senhor e estamos reunidos na força do seu Espírito, para render graças, bendizer o nome de Deus, nos alimentar com a Eucaristia e com a Palavra. É o Dia do Senhor, a Páscoa semanal dos cristãos. Nosso dia de descanso e louvor. Iniciamos, com alegria, a Semana Nacional da Família, que neste ano tem por tema a ser refletido: Hora da Família – “O Evangelho da Família, alegria para o mundo”. Este também é tema do IXº Encontro Mundial das Famílias com o Papa Francisco, de 22 a 26 de agosto em Dublin na Irlanda.
            A alegria da celebração se esconde na oração do dia: “Deus..., a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança que prometestes”.
            É dia de festa e alegria, porque o carinho e a bondade de Deus, nosso Pai, se manifestam e nos atingem pela missão e presença amiga de nossos pais. Neles, Deus se mostra e revela o seu amor por nós. Os pais são sacramento e sinais do amor de Deus.
            Jesus, conhecido como filho de José e Maria, se declara o Pão vivo descido do céu. Ele se revela na partilha do pão e nas pessoas que lutam para sustentar e proteger a vida.
            A experiência de Elias é a nossa inspiração. Com a Igreja no mundo inteiro, rezamos: “Considerai, Senhor, vossa aliança, e não abandoneis para sempre o vosso povo. Levantai-vos, Senhor, defendei vossa causa, e não desprezeis o clamor de quem vos busca” (antífona de entrada).
            Só por revelação de Deus é possível conhecer a condição de Filho amado do Pai, enviado como penhor de salvação, portador de vida eterna para a humanidade e pão da vida, que alimenta na longa caminhada rumo à casa do Pai.
            E, por conseguinte, o ser humano não pode conhecer Jesus por iniciativa própria. É o Pai quem coloca, no coração humano, o desejo de conhecer seu Filho e abrir-se ao seu Evangelho. Quem se deixa instruir pelo Pai torna-se discípulo de Jesus.
            Seguir Jesus, acreditar nele, é ter a vida eterna, desde agora. E a vida eterna é a vida de comunhão que une o Pai com o Filho. Dessa vida, Jesus é o pão. Ele a alimenta com o seu testemunho, o seu ensinamento, com a entrega da sua existência. A morte não põe fim a essa vida, como aconteceu com os que se alimentaram com o maná no deserto. O pão da vida nos liberta da morte. É a carne, o seu corpo, que vai sofrer a morte na cruz, o que nos dá vida. Assim, aquilo que causava incredulidade dos representantes do povo (é o que o termo “judeus” significa em João), a humanidade de Jesus, é na verdade matéria de fé e fonte de vida.
            Esta humanidade de Jesus deve nos levar a valorizar a fome e a sede concretas e históricas dentro do dom da vida eterna. Comungar na carne de Jesus nos faz irmãos de todos e cria entre nós uma comunidade de iguais, de pessoas que se perdoam mutuamente e vivem na doação da vida. Somente se dermos vida seremos “imitadores de Deus”. A vida em todas as suas formas e expressões. Dar vida pode significar dar a sua própria vida, e sobre isso, temos belos e dolorosos exemplos na Igreja que está no Brasil.
            A Palavra de Deus neste domingo é uma catequese sobre a vida. Nossas aspirações e lutas diárias giram em torno da vida e nascem na força da Palavra:
            - a luta contra a fome e as doenças é para preservar e prolongar a vida;
            - a luta pela justiça e pela paz é para evitar os conflitos, a violência e as guerras que destroem vidas;
            - Campanhas feitas pela Igreja no Brasil, como a Campanha da Fraternidade, a Semana Nacional da Família desta semana, são para promover a vida onde ela está ameaçada;
            - a luta pelo desenvolvimento é para melhorar os níveis de vida;
            - a ciência faz esforços enormes para afastar as causas de morte e elevar a expectativa de vida;
            - a educação prepara a vida;
            - a filosofia pretende dar sentido e interpretar a vida...
            Nossa busca fundamental é viver e lutar para que a vida seja mais humana e feliz. Nossa tragédia é não poder vencer a morte. Diante dessa realidade humana, Jesus apresenta-se Pão que dá a vida sem fim ao mundo.
            A experiência de Elias nos ajuda a enfrentar os dissabores da missão, que exige esforço grande para ser realizada com as próprias forças. Há necessidade imperiosa de caminhar sempre, apoiados nas forças do alimento que nos mantém vivos, rumo à felicidade plena.
            A Palavra de Deus deste domingo, temperada com o Dia dos Pais e Abertura da Semana Nacional da Família, coloca-nos diante das Urgências de nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral. Todos sabemos que a Igreja pensada por Jesus Cristo, faz partícipes da grande Família de Deus todos os batizados, tornando-nos filhos de um mesmo Pai e irmãos de Jesus Cristo!
            O convite é respondermos: Qual é a Família ideal, querida por Deus? Qual é a Família real, que formamos em nosso tempo? Quais os desafios a serem superados para resgatarmos a verdadeira Família amada tão loucamente por Deus Pai? Como e o que fazer, a fim de resgatarmos a dignidade de nossas Famílias, tão surradas por uma Cultura de Sobrevivência desumana e que desumaniza galopantemente nossas Famílias? O que cada um de nós poderá fazer para reerguer nossas Famílias colocadas de bruços por conta de um tripé de contravalores agressivos e animalescos, como: o Consumismo, o Hedonismo e o Individualismo?
            Rezemos, cantando com a Oração pela Família do Padre Zezinho: “Que nenhuma família comece em qualquer de repente... Abençoa, Senhor, as Famílias, Amém!”.
         
   Padre Gilberto Kasper
(Ler 1 Rs 19,4-8; Sl 33(34); Ef 4,30-5,2 e Jo 6,41-51)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2018, pp. 46-49 e Roteiros  Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Agosto de 2018, pp. 12-16.