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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

COMENTANTO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Meus olhos viram o Salvador que preparastes,

ó Deus, para todos os povos” (Lc 2,30s).

 

            “No Quarto Domingo do Tempo Comum, quarenta dias depois do Natal, celebramos o mistério da Apresentação de Jesus no Templo, nos braços de Maria e José. Esta festa situa-se ainda no contexto do Natal, apresentando outro aspecto da manifestação do Senhor: humano como nós, nasce de uma mulher e submisso às tradições da lei.

            Esta festa já era celebrada nos finais do século IV, em Jerusalém, e, mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. No século V, com inspiração no cântico de Simeão, eram usadas tochas, tornando a celebração mais expressiva: Celebremos o mistério deste dia com lâmpadas flamejantes, dizia São Cirilo de Alexandria (+ 444). O Missal atual conserva, com este sentido, o rito inicial da bênção das velas.

            Com a reforma do Concílio Ecumênico Vaticano II, a festa que, por muito tempo tinha o título de ‘Purificação da Bem aventurada Virgem Maria’, em conformidade com a prescrição da lei judaica de os pais apresentarem o filho recém-nascido, quarenta dias após o nascimento, e da purificação de sua mãe, foi mudado para a Apresentação do Senhor. Fica assim mais evidente que se trata de uma festa do Senhor, cujo mistério se inscreve na dinâmica da Páscoa.

            Contudo, entre nós esta festa mantém ainda um acentuado caráter mariano, recebendo vários títulos, como: Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Luz, Candelária, Nossa Senhora de Belém.

            A festa da Apresentação do Senhor enche-nos novamente do espírito natalino. O conjunto desta festa é de alegria, mesmo que uma espada paire sobre a vida de Maria. É festa de pureza e de luz. É festa que une o início e a plenitude da vida humana. Festa da família, na qual se reúnem crianças, jovens, adultos e idosos, cada um com sua preciosa contribuição para que se realize o projeto de Deus na humanidade. Ao mesmo tempo, é festa que evoca o mistério de Deus encarnado em Jesus de Nazaré.

            Ao nascer, Jesus se manifestou, em primeiro lugar, aos pastores, que eram pobres e excluídos. Agora, ao ser apresentado no Templo, revela-se, em primeiro lugar, não aos levitas nem aos sacerdotes que executaram os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino, mas a dois ‘pobres de Deus’, os anciãos Ana e Simeão. Os dois pertenciam aos círculos dos anawim e esperavam a libertação de Israel. O lugar da nova revelação messiânica não é o campo aberto, a manjedoura, entre trabalhadores pobres, mais é o Templo.

            O nome ‘Simeão’ significa ‘escutador’, aquele que vive atentamente à escuta dos sinais dos tempos, dos acontecimentos como Palavra viva de Deus. É idoso justo, piedoso e esperançoso pela consolação de Israel. Vivia à espera e à escuta. Foi ao Templo, e, ao ver aquele Menino, pegou-o nos braços: por isso, os padres gregos dão a Simeão o título de Theodóchos = recebedor de Deus.

            Também Ana, profetisa, uma velhinha que andava sintonizada em onda curta com a Palavra de Deus, chegou carregada de esperança. Ana, significa ‘graça’. Tanta intimidade com Deus! Também a profetisa Ana, serena e feliz, viu aquele Menino. Diz o evangelho que se pôs a falar dele a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém!

            Hoje, onde encontramos Ana e Simeão? Em nossos Templos? Em nossas famílias? Na sociedade? Como os ouvimos? Que lugar ocupam neste mundo da globalização do bem estar e da beleza?

            Com nossas velas acesas, entramos no mistério de Cristo, deixando-nos iluminar por ele, luz do mundo. Maria, com seu silêncio e meditação, nos ensina como acolhê-lo, reconhecê-lo e oferecê-lo” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum de 2014 da CNBB, pp. 89-96).

            Gosto do silêncio: em minha vida pessoal, passando bom tempo durante o dia, meditando em silêncio. Gosto do silêncio nas celebrações: procuro cultivar vários momentos de silêncio, especialmente durante a Celebração Eucarística. Penso sempre que “Deus é de longos silêncios e raras palavras!”. Não corramos o risco de, num mundo tão barulhento, deixarmos de ouvir o que Deus tem a nos dizer, ao ouvido de nosso coração. Certamente nos pedirá que, acesos em Jesus Cristo, sejamos luz e seta para a humanidade!

            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ml 3,1-4; Sl 23(24); Hb 2,14-18 e Lc 2,22-40).

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

SANTO ANTONINHO, PÃO DOS POBRES - A IGREJA DO IR


Pe. Gilberto Kasper
 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente da Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. 

            A Reitoria Santo Antônio, Pão dos Pobres, carinhosamente conhecida como a Santo Antoninho na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos de Ribeirão Preto, na comemoração dos seus 110 Anos de Fundação, sendo freqüentada por maioria de fiéis que vivem o “entardecer de suas vidas”, tendo em média 75 anos de idade, acolhendo nosso Projeto Missionário SIM – Ser Igreja em Missão e os insistentes pedidos do Santo Padre o Papa Francisco, de irmos às periferias de nossas Paróquias, passou a celebrar as Missas Semanais nas residências das pessoas que já não podem vir, tornando-se para elas, seus familiares e vizinhos, A Igreja do Ir!

            As Missas Dominicais continuam as 8 e 10 horas. Já as Semanais são celebradas nas residências, que reúnem um razoável número de fiéis. Para o ano de 2014, a partir do mês de fevereiro, já estão agendadas as Missas nas residências e condomínios.

            Em sua primeira Exortação apostólica, A Alegria do Evangelho, o Papa Francisco nos conclama a sermos “Uma Igreja ‘em saída’”, o que já vimos praticando em nosso Projeto Missionário:

            “Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de ‘saída’, que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12,1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: ‘Vai; Eu te envio’ (Ex 3,10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3,17). A Jeremias disse: ‘Irás aonde Eu te enviar’ (Jr 1,7). Naquele ‘ide’ de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.” (PAPA FRANCISCO, documentos do magistério – Exortação apostólica do Sumo Pontífice – Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Ed. Loyola e Ed. Paulus. 2013, n. 20, p. 19). Quando falamos em periferia nos vem logo a idéia de comunidades pobres, como favelas e cortiços. Há, também, as periferias dos condomínios e dos segmentos da sociedade, que vive da cultura do consumo, vazia do Evangelho!

            A idéia da Igreja do Ir não é criatividade pessoal. Aprendi com Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Emérito de Blumenau (SC), enquanto me encontrava em missão naquela dinâmica Diocese. Este Homem angelicamente Angélico conclamava em cada pronunciamento, seu rebanho a sair dos Templos e ser A Igreja do Ir aos que já não podiam ou queriam vir. Colaborei com ele e um seleto grupo de Diáconos Permanentes a fundar a primeira Escola Diaconal de Blumenau, da qual ele, antes de se tornar emérito, ordenou 38 homens pastoralmente generosos e empenhados na formação de líderes das inúmeras Comunidades. Hoje somam ao primeiro grupo dessa Escola e aos 31 que já atuavam como Diáconos Permanentes, centenas de novos Formadores de Lideranças, valorizando, sobretudo, a presença sempre marcante de Leigos e Leigas à frente das Pastorais, Serviços, Movimentos e Animadores das Comunidades de Fé, Oração e Amor! Ao invés de uma “Igreja Clerical e Centralizadora”, pensa-se uma Igreja inteiramente missionária e ministerial, como tanto nos pede o Concílio Ecumênico Vaticano II. Minha gratidão é profunda, pela experiência profética que Dom Angélico me permitiu e que hoje se confirma nos incontáveis pedidos do Santo Padre o Papa Francisco!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“O Senhor é minha luz e salvação.

O Senhor é a proteção da minha vida” (Sl 26).

 

            “O mistério pascal, que celebramos no Terceiro Domingo do Tempo Comum, permite-nos acompanhar Jesus no início de sua missão, na Galileia e sermos chamados à conversão e à missão.

            Junto aos doentes, aos sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus, chama os primeiros discípulos, cura e alivia as enfermidades do povo.  Na visão de Mateus, ele realiza a profecia de Isaías, proclamada no Natal – O povo que andava nas trevas viu uma grande luz – e repetida para nós, neste domingo, na primeira leitura.

            Jesus começa sua missão entre os mais desprezados, os que são considerados pecadores. A luz que resplandeceu no Natal é para todos, não apenas para os puros, os eleitos, os melhores. Pelo contrário, a preferência de Jesus é mesmo para os que são tidos como menores. Dessa opção, nasce a espiritualidade cristã do seguimento não de uma doutrina perfeita, mas de uma pessoa e seu projeto, Jesus. Seguir Jesus é entrar em sua escola, a favor de quem se encontra na periferia do mundo, como disse o Papa Francisco em sua viagem ao Brasil.

            Na Bíblia, o mar é sinônimo do mal, da escuridão, algo caótico e forças contrárias à vida. A missão dos seguidores de Jesus é tirar as pessoas dessa situação e levá-las para a luz. O chamado de Jesus se estende até nós. Deixemos com generosidade tudo para entrar nessa caminhada.

            Seguir Jesus parece uma loucura, a loucura da cruz. Seguimento que não cria divisões, mas abraça com amor e compreensão, tudo o que é humano e que promove a dignidade de filhos e filhas de Deus. Pertencemos a Cristo que pertence a Deus. Também nós somos chamados a anunciar o evangelho sem nos determos em competições e disputas sobre quem é maior.

            Podemos nos deixar iluminar hoje também pelas palavras de ordem do Papa Francisco, quando esteve entre nós na Jornada Mundial da Juventude. Muitas vezes, ele repetiu que devemos viver a misericórdia. A misericórdia adquire o sentido amplo de ‘serviço’, ‘diálogo’, ‘proximidade’, ‘encontro’, ‘simplicidade’ e ‘transparência’. Muitas vezes, ele repetiu que é preciso ‘sair de si’ e ir para as ‘periferias existenciais’. Falando aos Bispos do CELAM – Comissão Episcopal Latino-Americana -, disse palavras que são programáticas para nós, para todos os cristãos, não só para os Bispos. São exigências feitas por Cristo para todos seus seguidores: ‘... amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade de vida’.

            O projeto de Jesus, sua pregação, tem seu início oficial, na Galileia das nações, entre os mais espezinhados, maltratados, pecadores, pobres em todo o sentido. Galileia das nações, periferia social, geográfica, existencial, lugar descartável, de gente descartável, considerada estorvo ao desenvolvimento global nas análises econômicas. É lá que devemos ir, ver o Senhor e permanecer com Jesus Cristo em seu projeto de salvação e libertação total.

            Como filhos e filhas da luz, somos chamados para, continuamente, vencer, pela conversão constante, as trevas e a dureza que envolvem nossa vida e a vida dos irmãos.

            Renovando hoje seu chamado, o Senhor nos revigora com seu Espírito, pela comunhão fraterna, por sua Palavra e com o sacramento de seu Corpo e Sangue, para que, mais disponíveis, prestativos e alegres, abandonemos também ‘nossas redes’ para sermos pescadores de gente em vista do Reino” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum de 2014 da CNBB, pp. 84-88).

            Segundo a Palavra de Deus deste Terceiro Domingo do Tempo Comum, bem como a Exortação do Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, somos convidados a tornar-nos discípulos e missionários do Senhor, seguindo em tudo, o modo de ser e de viver do Mestre. Penso que poderíamos levar de nosso Encontro, como alimento para a semana, dois pensamentos: sermos simples e humildes servidores do Reino de Deus e revestir-nos da ousada coragem profética de transformação de uma cultura do descartável, promovendo a cultura do encontro entre as pessoas, que lhes devolva a dignidade!

            Sejam todos sempre e muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 8,23-9,3; Sl 26(27); 1Cor 1,10-13.17 e Mt 4,12-23).

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A ALEGRIA DO EVANGELHO


Pe. Gilberto Kasper
 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente da Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. 

Um magnífico presente de Natal para os cristãos é a primeira Exortação apostólica do Papa Francisco, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual: A Alegria do Evangelho! A leitura da Exortação é tão deleitosa, que é impossível interrompê-la. Tem-se a impressão de que o Papa Francisco está aí, falando não à nossa razão, mas principalmente ao coração de quem se sente pastor, amante de suas ovelhas. Nosso estimado Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, colocou a Exortação nas mãos de todos os padres, como presente de Natal. Certamente todos já lemos e assimilamos os contundentes e desafiadores conselhos do Santo Padre Francisco!

A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele e são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, a alegria renasce sem cessar. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de convidá-los para uma nova etapa evangelizadora marcada por essa alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

Alegria que se renova e comunica. O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é a tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, não se ouve a voz de Deus, não se goza da doce alegria do seu amor nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Esse risco, certo e permanente, correm também os crentes. Muitos caem nele, transformam-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha de uma vida digna e plena nem o desígnio que Deus tem para nós. Esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado” (PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho – Exortação Apostólica – documentos do magistério. São Paulo: Ed. Loyola e Ed. Paulus. 2013, n. 1-2, p. 7).

Minha oração e minha esperança são de que esta Exortação Apostólica desça ao coração da Igreja, começando pelo meu, a fim de renovar nosso ministério, ajudando-nos na conversão de tudo aquilo que atrapalha A Alegria do Evangelho em nossa vida de cristãos!

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS


     Há 24 anos, na manhã do sábado, dia 20 de Janeiro de 1990, Festa de São Sebastião, na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, ajoelhado sobre o túmulo do primeiro Bispo de nossa Diocese Centenária, Dom Alberto José Gonçalves, por imposição das mãos de nosso amado Dom Arnaldo Ribeiro, fui ordenado Sacerdote para Sempre! Muitos erros e acertos, grande experiência de vida e profunda gratidão a cada dia, sem nenhum momento de arrependimento, pelo sim dado com minhas mãos entre as mãos do Arcebispo.

 

               Quantas pessoas passaram por minha vida nestes 24 anos? Pela vida de quantas pessoas passei eu? Penso ser um momento de avaliação, de balanço, de gratidão e de pedido de perdão, pelas vezes em que não consegui ser um bom padre! Escolhi como lema sacerdotal, a quinta bem-aventurança do Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7), já que sempre me senti um servo inútil e indigno da graça do ministério sacerdotal! Mesmo assim Deus me quis Padre, tamanha é Sua Bondade, Seu Amor e Sua Misericórdia para comigo.

 

               É também momento de renovar minha Fidelidade Sacerdotal, já que celebro meu vigésimo quarto aniversário de Ordenação Presbiteral com sabor de Alegria do Evangelho! Mesmo que não tenha conseguido ser fiel, como quis ou deveria, sempre me acompanhou o esforço pessoal por ser um sacerdote bom e misericordioso, a exemplo de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars, cuja vida conheci no primeiro Seminário que me acolheu na Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dedicado a ele. Como ele, o Sacramento que mais gosto de celebrar, é o da Reconciliação, depois, é claro, da Eucaristia. Como é bom ser dispensador do perdão de Deus àqueles que perderam sua paz interior para o pecado. Pois é no Sacramento do Perdão, que Jesus nos devolve a paz que o pecado nos rouba. Tenho sido muito feliz ao acolher tantas pessoas em nossa amada Santo Antoninho, Pão dos Pobres, que é para mim hoje, o lugar ideal para a santificação de meu sacerdócio, colaborando na santificação dos irmãos, além, é claro, das tantas outras atividades, como o exercício do magistério junto à Faculdade de Ribeirão Preto da UNIESP e do Centro do Professorado Católico, e nem por último no exercício do jornalismo que me edifica!

 

               Foi na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Novo Hamburgo (RS), que cultivei minha fé, confessei pela primeira vez e também, pela primeira vez recebi o Cristo: Único, Sumo e Eterno Sacerdote, nas espécies do pão e do vinho consagrados! Recebi os sacramentos do Batismo e Crisma na Paróquia Sagrada Família de Três Corôas (RS), minha cidade natal! Cresci em Novo Hamburgo. Como coroinha na Igreja Matriz, ou brincando de Missa com os vizinhos na estrebaria de casa, minha vocação ao sacerdócio foi se confirmando a cada dia que passava. Sentia sempre a necessidade de perdoar, desde tenra idade a quem me ofendesse ou machucasse. Nunca consegui bater em ninguém. Mas sempre fui muito peralta e, mais pedia perdão do que precisava perdoar. Daí meu lema sacerdotal ser a bem-aventurança da misericórdia.

 

               Que eu consiga viver meu sacerdócio pautado nos olhos de Deus, que promovem a justiça e amar as pessoas com o coração de Jesus, que dão sentido ao meu lema e à minha fidelidade sacerdotal: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! E em cada Eucaristia que celebro, cabem todas as pessoas que me ajudaram a ser Padre, no precioso cálice do Senhor, como minha mais sublime e profunda gratidão!

                                                                                                                                       Pe. Gilberto Kasper

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Sabemos que Deus nos ama

e cremos no seu amor” (1Jo 4,16).
 

            “O Segundo Domingo do Tempo Comum liga a Festa do Batismo do Senhor ao seu ministério público na Galileia. Ainda em clima de epifania, o evangelho de João torna-se mais adequado que o evangelho de Mateus (evangelista do ano A), para iniciar a narração da vida pública de Jesus. Continua assim o mistério de sua manifestação que terá seu desfecho final na cruz.

            Ao recordar o testemunho de João Batista após o batismo no Jordão, celebramos o mistério da Páscoa de Jesus. João o reconhece e o apresenta como o Servo Fiel, o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo e que batiza no Espírito para que o mundo seja renovado.

            Nossa missão é participar da missão de Jesus que recebemos em nosso Batismo na água e no Espírito. O Espírito do Ressuscitado está sobre nós para colaborarmos com a luta contra todo pecado que ainda domina a humanidade. Não podemos fechar nossos lábios, mas levar a todos os lugares as boas novas da justiça de Deus. O reino de Deus, diz Jesus, é um Reino de Justiça. Logo, onde não há justiça de verdade, não pode haver Reino de Deus!

            Em Cristo, sofrem e salvam, morrem e ressuscitam todos os que aceitam romper com os ídolos, acabar com o medo e sair da ‘casa da escravidão’, porque sabem que a Palavra que os conduz não cessou de ser eficaz. Não é possível dizer-se cristão, sendo conivente com a ‘Cultura do Descartável’, como afirma o Papa Francisco. Não é possível dizer-se cristão, ignorando a corrupção, as barganhas políticas, levando os mais simples e pobres ‘no bico’ com migalhas, como Bolsas daqui e dali... Precisamos criar consciência crítica e, por onde andarmos, resgatar a dignidade de cada ser humano!

            Pelo Batismo assumimos nossa missão de seguir Jesus. Isto amplia nossa missão humana. Como filhos amados do Pai, servos de Deus, nossa fidelidade consiste em nos empenharmos, de todas as formas, para tirar o pecado do mundo, lutando contra todas as espécies de morte, e proclamarmos a vitória da vida, pelo cultivo constante da reconciliação, da justiça e da paz.

            Rezamos em nossas celebrações: ‘Cordeiro de Deus que tirais o pecado mundo, tende piedade de nós e dai-nos a paz.’ O pecado consiste na autoafirmação do ser humano, que se encerra em seu próprio poder para colocar-se contra Deus e os irmãos. O pecado a algo que atinge o mais profundo da pessoa, pois vai desumanizando, pessoalmente, socialmente, até atingir as estruturas sociais e políticas. O pecado não se trata de uma violação de leis ou de uma ofensa a Deus, mas de uma recusa ao amor gratuito de Deus, infidelidade ao seu projeto, desprezo à sua Aliança, rejeição ao reinado do Senhor. Pecar é não aceitar que Deus quer que vivamos entre nós. Pecadores somos, se formos ‘servidores’ do nosso insignificante poder físico, intelectual, econômico, político, social e não aceitarmos servir aos irmãos e nos fecharmos a Deus a à sua graça e ao futuro último que Ele nos oferece em sua misericórdia e sabedoria.

            Deixemo-nos inundar pelo Espírito de Jesus. Como água viva, seu Espírito nos penetra, impregna e transforma nossos corações. Ele é fonte de vida nova, porque é Espírito de vida! É Espírito de verdade e não nos deixa enganar por falsas seguranças. É Espírito de amor, capaz de nos libertar da covardia e do egoísmo e nos abrir à solidariedade e a compaixão. É Espírito de conversão que nos faz viver com os critérios de Deus, suas atitudes e ternura. É Espírito de renovação, despertando o melhor que há em nós e na Igreja, levando-nos à maior fidelidade ao evangelho.

            Recordamos a vocação de toda a humanidade de realização plena. Todos somos chamados para a plenitude! Como discípula de Jesus, a comunidade cristã é chamada a irradiar a luz de Cristo em todas as situações e instâncias da vida” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum de 2014 da CNBB, pp. 79-83).

            Saibamos alimentar nossa missão de transformar a realidade, comungando da Palavra e da Eucaristia, que são nosso mistério de fé, como também a fortaleza de que precisamos para mudar o que precisa ser mudado, a fim de que Deus encontre prazer e alegria em nós, seus filhos muito amados!

            Com ternura e gratidão, desejando-lhes muitas bênçãos, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 49,3.5-6; Sl 39(40); 1 Cor 1,1-3 e Jo 1,29-34).

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

PREGAÇÃO PARA O SEGUNDO DIA DA NOVENA DE SÃO SEBASTIÃO


“Nossa Igreja Particular: uma história sonhada por Deus e

concretizada por Ele através de nossos Pastores”
 

Nossa Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a construção da vinha do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux 

Meus queridos Irmãos e Irmãs na Fé!

Profundamente agradecido aos meus irmãos sacerdotes responsáveis pela Igreja-Mãe de nossa Igreja Particular, por me terem convidado, confiando-me a pregação do segundo dia da Novena que prepara a Festa de São Sebastião, Mártir, Padroeiro da Catedral Metropolitana e de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto, venho com o coração transbordando de alegria, para juntos, celebrarmos também, na Festa do Batismo do Senhor, o término do Ciclo de Natal. Celebramos quatro grandes novidades neste Natal; como que presentes antecipados que prepararam os corações dos cristãos e não cristãos, para acolhermos o projeto de Deus que se fez pobre, para enriquecer-nos: a ousada coragem do Papa Emérito Bento XVI, que a exemplo de João Batista se retirou, com a expressão do profeta: “É preciso que eu desapareça, a fim de que Jesus seja anunciado por alguém menos idoso, mais saudável e cheio de novo vigor e novas forças!”. A eleição do Papa Francisco, o Papa da Ternura, que encanta o mundo com seu jeito humilde e descomplicado de ser. Desejoso, como expressa em sua primeira Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho, de arejar, restaurar e reanimar a Igreja de Jesus Cristo, como o fez com tanta propriedade São Francisco de Assis. A chegada de nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, que com delicadeza, serenidade e sutileza desce ao rebanho, para cheirar, como o pede o Papa Francisco, as ovelhas que lhe são confiadas em nossa Igreja particular. Por fim, a 28ª Jornada Mundial da Juventude, iniciada no Rio de Janeiro sob a presidência do Santo Padre o Papa Francisco, e que se estende mundo afora com um ânimo primoroso, parecendo nossa Juventude com aquela estrela que conduziu os Magos a Belém.

            Achei muito criativa a preparação desta Novena. Muitas são as coincidências aproveitadas, para enriquecer nossa espiritualidade, animar nossa missão, tornando-nos à luz da Festa de nosso Padroeiro, discípulos ainda mais fiéis de Jesus Cristo. Penso que toda Novena em preparação a festa dos padroeiros de nossas Comunidades, deve sempre enriquecer nossa maneira de sermos Igreja! Foram nove, os Pastores que serviram nossa Arquidiocese, desde sua criação em 1908. Durante a Novena serão “celebrados os Mistérios da vida, recordando e fazendo memória dos nove Bispos falecidos”. A mim cabe celebrar o Mistério da Vida e fazer memória, recordando a breve, embora riquíssima história, do segundo Bispo Diocesano, com vocês nesta noite: Nossa Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a construção da vinha do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux.

            Dom Manuel, nascido na cidade paulista de Itu, antes de sentir o chamado ao sacerdócio, foi jogador de futebol e músico, pois tocava violino. Ingressou ao seminário já com 21 anos de idade e depois de sete anos era ordenado sacerdote na Igreja Santa Efigênia de São Paulo, onde anos depois nosso saudoso Dom Joviano seria pároco. Coincidência ou Providência de Deus! Com apenas 36 anos de idade foi nomeado Bispo Titular de Barca e Auxiliar de Ribeirão Preto.

            Outra Coincidência ou Providência foi dia 17 de abril (dia de meu natalício, embora 17 anos antes do meu nascimento) que Dom Manuel chegou a Ribeirão Preto, para auxiliar o já convalescente primeiro Bispo, Dom Alberto José Gonçalves. “Dinamizou a Obra das Vocações Sacerdotais, apoiou a fundação do Círculo Operário Ribeirãopretano, incentivou as Congregações Marianas (masculina e feminina), promoveu a construção do salão ‘Dom Alberto’ – destinado às Associações Religiosas da Catedral -, procedeu à reforma da Igreja São Benedito, destinando-a a Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento”, onde posteriormente foi instalada a mesa da sagrada comunhão, que hoje embeleza o altar da celebração desta linda Catedral, em que vemos esculpida a Santa Ceia, pelas mãos de Antônio Palocci.

            “As características do trabalho de Dom Manuel como bispo auxiliar foram excepcionais nos seguintes pontos, que resumimos:

            - Discrição, prudência e paciência aliados a um dinamismo de todos os dias, procurando sustentar e dinamizar os planos de Dom Alberto, já combalido pela doença. Neste esforço, foi-lhe de grande valia a ajuda constante e criteriosa do Mons. João Laureano, esforçado Vigário Geral, que muito contribuiu para encaminhar problemas e aplainar as naturais dificuldades de visão entre um bispo idoso e cansado e outro moço e cheio de entusiasmo”. Coincidência ou Providência: na época Mons. João Laureano era também o Capelão da Igreja Santo Antoninho, onde hoje sirvo com alegria aquela Reitoria cuja Igreja é a mais antiga em pé, já que o início de sua construção data de 1892. No ano em que Dom Manuel nasceu, 1904, Padre Euclides Carneiro abriu a mesma Santo Antoninho ao povo dos Campos Elíseos e da cidade!

            Foi o responsável pela abertura do Seminário Diocesano no dia 19 de março de 1945. O prédio da Rua Rui Barbosa era ocupado pelos seminaristas dos Padres Estigmatinos, que o devolveram à Diocese, quando concluído seu Seminário Próprio, que lá funciona até os dias atuais, na Rua Conde Afonso Celso. Coincidência ou Providência. Em 1995, quando o Seminário Diocesano comemorou seu Jubileu de Ouro, servindo na formação do atual prédio, o Seminário Maria Imaculada de Brodowski, alunos e formadores, estudando a história de fundação, deparamo-nos com a figura dinâmica e zelosa pelas Vocações Sacerdotais, Dom Manuel da Silveira D’Elboux. Ele adquiriu o terreno na Vila Virgínia, o atual Conjunto Habitacional D’Elboux, pensando num Seminário moderno, distante do centro da cidade, sonhando com um eficaz crescimento de Vocações.

            Após o falecimento de Dom Alberto, foi eleito o segundo Bispo Diocesano de Ribeirão Preto no dia 31 de janeiro de 1946. Coincidência ou Providência: tomou posse com parecida jovialidade e vigor de Dom Moacir, nosso Arcebispo atual! Segundo a imprensa da época, a Posse de Dom Manuel foi uma das mais solenes festividades vistas até então pelo povo de Ribeirão Preto. A recepção carinhosa seguramente devia-se ao trabalho de Dom Manuel como Bispo Auxiliar. Foi profundamente amado por nossa Igreja particular.

            Coincidência ou Providência, Dom Manuel criou cinco paróquias e ordenou oito padres, dos quais convivemos com sete. Entre eles o Côn. Arnaldo Álvaro Padovani, que sucedemos na Igreja Santo Antoninho e no Centro do Professorado Católico, onde foi Assistente Eclesiástico; ambos serviços assumidos por nossa pobreza nos dias atuais. Ordenou também o Côn. Antônio de Oliveira, que doou a maior parte de seu ministério a Sertãozinho; Dom Jaime Luiz Coelho, primeiro Bispo e Arcebispo de Maringá (PR); Côn. Sebastião Ortiz Gomes, falecido em Pontal; Pe. Alceu Garcia Prado, que conhecemos em Franca; Côn. Aguimar Luiz de Paula Marques, falecido em Bento Querino e o Côn. Gilberto Maria Delfino, de São Simão, que por longos anos foi o Diretor Financeiro da FAI – Faculdades Associadas do Ipiranga. Os sete passaram de alguma forma por esta Catedral, no exercício de seu ministério. O tempo de Dom Manuel foi marcado por uma maior espiritualização e insistência na formação daquilo que já existia. Não deixou muitas obras materiais, mas espiritualizou as que aqui encontrou. Insistiu, sobretudo, na espiritualidade eucarística. Dinamizou a Ação Católica; dedicou-se ao Círculo Operário, atestando suas preocupações com a classe operária.

            Um marco, na vida da Igreja, em Ribeirão Preto, que revelava a abertura de visão de Dom Manuel, foi a aquisição do Diário de Notícias, o maior Jornal da região, entre 1º de setembro de 1945 até 1978. Outras tantas fundações poderiam ser elencadas, mas nos alongaríamos demasiado, não obstante Dom Manuel estivesse à frente da Diocese de Ribeirão Preto apenas por quatro anos, porque foi nomeado Arcebispo de Curitiba no Paraná em 1950. Deixou para trás, entre outros, o sonho de fundar uma Faculdade de Filosofia da Diocese. Depois de 20 anos servindo a Arquidiocese de Curitiba, acolheu serenamente seu nome ecoando na eternidade no dia 5 de fevereiro de 1970, 24 dias antes de completar 74 anos. Seus restos mortais se encontram na Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral daquela Metrópole paranaense!

            Dom Manuel, homem bom, sorridente, amável, discípulo e imitador do suave São Francisco de Sales. Viera da reitoria do Seminário do Ipiranga e lá deixara, ao sair em 1940, um vazio que não sei se chegou a ser coberto: o vazio da bondade... Há os que preferem ser temidos e os que sabem ser amados. Dom Manuel escolheu esta melhor parte: ‘Itu, sua terra, onde tudo tem fama de grande, deu-lhe um enorme coração’, segundo Dom Benedito de Ulhôa Vieira, Arcebispo Emérito de Uberaba (cf. CORREIA, Francisco de Assis. História da Arquidiocese de Ribeirão Preto (1908-2008). Brodowski: Grafcolor, 2008, pp. 150-169).

A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo de Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.

Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: “Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé?” Geralmente a resposta é “não’. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia do nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano da Fé foi um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “útero da Igreja”, a Pia Batismal!

A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade, tornando-nos assim, seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade.

O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como é, e isso nos basta. Renovemos sempre nossos compromissos batismais, recordando-nos que através do Batismo Deus nos adota como seus. E, por conseguinte, tornamo-nos irmãos uns dos outros. Sejamos mais do que irmãos. Sejamos anjos uns dos outros, a fim de celebrarmos com o vigor de nossa fé, a Festa do Padroeiro de nossa Catedral e Arquidiocese de Ribeirão Preto. Nos encontramos, em espírito batismal, na oração. Tenham uma abençoada Festa de São Sebastião. Com ternura, minha gratidão! 

Padre Gilberto Kasper

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

NOSSA MISSÃO DE SEGUIDORES DE JESUS!


Pe. Gilberto Kasper

 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente da Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. 

Esta semana nos introduz no Tempo Comum do Ano Litúrgico, e liga a festa do batismo do Senhor ao seu ministério público na Galileia. Ao recordar o testemunho de João Batista no Jordão, celebramos o mistério da Páscoa de Jesus, e recordamos a forte palavra do Papa Francisco, durante a visita à Comunidade de Varginha, em Manguinhos (RJ), no dia 15 de julho de 2013, sobre nossa missão de seguidores de Jesus, que nos parece pertinente para este artigo:

“O povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase um palavrão: solidariedade. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade, comprometidas com a justiça social: não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, não é! Mas sim a cultura da solidariedade... ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos... Não deixemos entrar em nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos, ninguém é descartável. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica!... A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!” (CNBB. PAPA FRANCISCO, mensagens e homilias – JMJ 2013. Brasília: Ed. CNBB, 2013, p.29).

Somos chamados a viver bem nossa vocação e nossa missão de seguidores de Jesus. No próximo dia 20 de Janeiro, Festa de São Sebastião, celebraremos na Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, na Av. Saudade, 202, Campos Elíseos em Ribeirão Preto, às 19 horas a ação de graças pelos 24 anos de Ordenação Sacerdotal, que tem como lema: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

 Logo após a Missa, teremos a alegria da quarta edição do Concerto de Acordeon com Gilda Montans e Meire Genaro, nesta data, em nosso Espaço Cultural de Espiritualidade! Sintam-se todos convidados para aquele momento de gratidão!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DO BATISMO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

         Concluindo as celebrações natalinas, festejamos o Batismo de Jesus. Embora não precisasse ser batizado, o Senhor quis se solidarizar com todo o povo que buscava o batismo de João. Esta liturgia é momento favorável para relembrarmos e renovarmos nossos compromissos batismais.

            As leituras nos revelam o servo de Deus, fortalecido pelo Espírito e enviado para proclamar a boa-nova da paz. Pelo batismo também nós recebemos o Espírito que nos anima na missão e nos dá força para perseverar no bem.

            Somos servos do Senhor a serviço da comunidade e responsáveis por construir uma sociedade justa. Jesus busca, em João, o batismo. Aí é proclamado ‘Filho amado de Deus’. A prática da caridade e da justiça deve ser nosso diferencial diante de Deus” (cf. Liturgia Diária de Janeiro de 2014 da Paulus, pp. 43-46).

            Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé? Geralmente a reposta é “NÃO”. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia de nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano da Fé foi um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “Útero da Igreja”, a Pia ou Bacia Batismal!

            “A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade. Jesus se faz solidário, e mais ainda, Servo e Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele assume nossa condição humana, num ato solidário, que o leva até a Cruz. É uma caminhada que vai em direção à Páscoa.

            Podemos nos perguntar se, a partir do Batismo de Jesus, procuramos entender e concretizar o nosso batismo. Se estivermos dispostos a ‘mergulhar’ no projeto de Jesus para construir relações humanas construtivas, a começar pela família, no aconchego do lar, na escola, no trabalho, na Igreja, no mundo, com atitudes solidárias, ecumênicas.

            A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo do Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscavam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.

            Jesus havia acolhido o movimento de João Batista, a voz profética que ressoa, após anos de silêncio. Sobre ele desce a plenitude do Espírito Santo, a força do amor do Pai, para realizar a sua vontade. Assim o Reino, que se manifesta através de seu ministério, expressa o desígnio salvífico de vida plena para toda a humanidade. Quem o segue no caminho do discipulado é impelido a trilhar o seu caminho de justiça e de solidariedade.

            Deus se revelou em Jesus, confiando-lhe a missão de Servo e Filho amado. Pelo batismo, mergulhamos no mistério da morte e da ressurreição de Jesus para vivermos a vida nova. Em Cristo, recebemos o Espírito para a missão e fomos adotados/as como filhos e filhas de Deus. Somos gerados a cada dia, pelo amor misericordioso e bondade infinita do Pai, para renovarmos a nossa adesão e o nosso compromisso com o seu Reino.

            Iluminados e ‘banhados em Cristo, somos uma nova criatura! As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo’. Unidos a Cristo, o Ungido do Pai, nos tornamos continuadores de sua missão profética, sacerdotal e régia. Ele nos confirma no anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino, pois ‘passou a vida fazendo o bem e curando a todos os que estavam sob o poder do mal’.

            Vamos abrir o ouvido do coração para acolher a voz do Pai, que ressoa dentro de nós, e que declara nossa missão: Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 24, pp. 60-65).

            O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como Deus é, e isso nos basta. Renovemos nossos compromissos batismais, buscando viver nosso Batismo na relação com Deus, que nos adota como seus de verdade, e com os outros, que se tornam nossos irmãos, para santificar-nos. Todo batizado torna-se um ser divinizado, isto é, candidato à santidade. Por isso não é nenhuma pretensão descabida, queremos ser santos. Devemos, isso sim, esforçar-nos todos os dias, para sermos santos.

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,

Pe. Gilberto kasper

(Ler Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29); At 10,34-38 e Mt 3,13-17).