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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A Palavra de Deus do Quarto Domingo do Tempo Comum apresenta-nos a missão do Profeta ao lado do início do ministério de Jesus, pautado em sua autoridade, porque coerente entre o que prega e vive, diante do compromisso de transformação da Comunidade de Fé!
            Segundo o Livro do Deuteronômio, a missão do profeta é anunciar a Boa Notícia da Aliança desejada por Deus para com a Humanidade, e denunciar tudo aquilo que possa impedir a fidelidade da mesma. O Profeta é o porta-voz de Deus ao coração acolhedor e atento da Pessoa. Tem o serviço de comunicar Deus ao mundo, que quando não ouve, torna-se oco, vazio, sem sentido e sem perspectivas de vida, como herdeiro e filho desse mesmo Deus, que ama louca e apaixonadamente Sua criatura predileta.
            O mundo barulhento em que vivemos, não deve ser muito diferente daquele em que os Profetas tentaram transmitir a vontade Deus, na promoção da dignidade de Suas criaturas amadas e queridas. É salutar o silêncio interior, a busca de uma mais profunda espiritualidade, a fim de um compromisso mais concreto de mudança das estruturas injustas em que nos encontramos. O Reino de Deus anunciado pelos Profetas é sempre um Reino de Justiça. Insisto em pensar que onde não há justiça, é também impossível a sobrevivência do Reino de Deus.
            A criatura humana é livre para escolher entre o bem e mal. O que se constata, é que o homem parece vazio da presença amorosa de Deus em sua vida, uma vez tendo endeusado o consumismo, o hedonismo e o individualismo. O Profeta quer ser o eco da voz de Deus no coração vazio e estéril da humanidade.
            Depois de formado seu grupo de Discípulos, Jesus inicia seu ministério com autoridade, segundo o Evangelho de São Marcos. A autoridade de Jesus é um convite aberto à coerência, à conversão e ao bom senso àqueles que desejam ser seus discípulos e missionários. Sem essas três dimensões, dificilmente é possível configurar-nos com o ministério do Senhor, que conta conosco na Comunidade, para devolvermos ao mundo a dignidade humana que a “Cultura de Morte” nos tira cada vez que somos coniventes com as injustiças institucionalizadas na Família, na (des) Educação, na Sociedade, na Política e também na Religião.
   


    Todos ficavam admirados com o seu ensinamento,
          pois ensinava como quem tem autoridade,
não como os mestres da lei” (Mc 1,22).

            De que adiantam nossos diplomas, cargos, funções e posições de prestígio, se nossa palavra não tem credibilidade, porque incoerente com nossa vida, vivida no hodierno. Com facilidade emitimos juízos, repreendemos pessoas, deixamos de atendê-las com a caridade pastoral proposta em nossos lindos Projetos Missionários e Planos de Pastoral. Será que temos tal direito? Quantos de nossos erros escondemos atrás dos erros dos outros!... Enquanto nossas normas estiverem acima de nossa misericórdia, dificilmente seremos configurados com o Senhor, que nos confia Sua própria autoridade ministerial, desde que estejamos a serviço da vida plena das pessoas. Gosto sempre de concluir que não devemos “banalizar” nossos projetos, até mesmo porque justiça e misericórdia somadas, resultam no AMOR COM SABOR DIVINO! Isso só é capaz de viver, ministerial e missionariamente, quem acolher e viver a autoridade do Senhor, porque coerente entre o que prega e vive de verdade. Não importa se conseguimos ou não tal coerência. Importa, isso sim, o esforço empreendido todos os dias por sermos hoje um pouco mais coerentes do que ontem. Então experimentaremos a AUTORIDADE MESSIÂNICA!
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Dt 18,15-20; Sl 94(95); 1Cor 7,32-35 e Mc 1,21-28).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2015, pp. 17-19 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Fevereiro de 2015, pp. 84-88.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM




 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Um dos nossos limites humanos é o Tempo ao lado do espaço. A Palavra de Deus do Terceiro Domingo do Tempo Comum nos conclama a refletirmos sobre o tempo que nos é dado como dom gratuito de Deus!
            Geralmente tendemos deixar para depois, para amanhã, aquilo que deveríamos realizar hoje, agora. A profecia de Jonas mostra o Profeta a caminho de Nínive, a fim de convencê-la à conversão. Jonas, dócil à vontade do Senhor, não espera, faz logo o que o Senhor Deus lhe pede. O resultado da docilidade do Profeta tem consequências positivas. Os frutos da conversão de Nínive lhe são saborosos e ele sente-se realizado em sua missão profética.
            Também Jesus caminha. Segue para a Galileia anunciando o fulcro e sua missão: o tempo e o Reino de Deus que está próximo, como lemos no evangelho de São Marcos. Para que se perceba tal maravilha, é necessária a conversão, ou seja, a mudança de vida; mudando tudo aquilo que impede a pessoa de perceber que o tempo de Deus nem sempre é nosso tempo, que a vontade de Deus nem sempre é nossa vontade, mas que uma coisa é segura: o Reino de Deus já é uma realidade entre nós.
            Para cumprir com seu ministério, Jesus, após convidar os primeiros, continua formando seu colégio apostólico. A proposta é desafiadora: deixar tudo e seguir Jesus. Mas deixar tudo mesmo! Eis a proposta à vocação específica. Esvaziar-se de si mesmo, deixar projetos pessoais e uma vez discernido o Projeto Missionário de Jesus, deixar tudo para tornar-se um verdadeiro discípulo! Certamente isso não é tão simples como parece. Carece novamente de um tempo de discernimento. Carece, também, de coragem, coerência, transparência, ousadia e total despojamento. Muitos pensam que tem vocação, mas não conseguem desprender-se de seus projetos pessoais. Outros ainda, se utilizam ilicitamente, ou se apropriam do ministério ordenado, como trampolim para alcançar êxito, sucesso e prestígio social. Esses se tornam naturalmente um verdadeiro desastre e, muitas vezes, fazem grandes estragos na Igreja do Senhor, surrando e enxotando pessoas das Comunidades, especialmente as que não concordam com tudo que tentam lhes impor. Daí a necessidade de uma profunda espiritualidade presbiteral, pastoral, eclesial e nem por último, pessoal!

 Nem todos sobrevivem aos desafios de nossa sociedade hoje. Quem estiver desprovido de uma profunda espiritualidade, configurada com a do Mestre, não consegue ser um verdadeiro discípulo e missionário na Igreja de Jesus.
São Paulo também adverte a Comunidade de Corinto, em sua primeira Carta, que o tempo é breve. As coisas deste mundo, nós inclusive, passam. Mas a Palavra de Deus, seu Reino não passa. É, portanto, urgente, que Sejamos melhores hoje do que ontem. Quando enchemos nossas Igrejas com multidões de pessoas, saindo porta afora chorando e emocionadas com nossas celebrações, devemos estar atentos se realmente nossos fiéis saem cheios de Deus ou de nós, ministros e agentes de pastoral? É necessário que haja compromisso com o Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, que é um reino de Justiça. Logo, onde não há justiça, não há Reino de Deus.  Saibamos ser sempre coerentes entre o que pensamos, falamos (rezamos) e fazemos. Só então, a autenticidade de nosso discipulado e missionariedade serão agradáveis ao Senhor.Caixa de texto: “Contemplai a sua face e alegrai-vos,
E vosso rosto não se cubra de vergonha!” 
(Sl 33,6)
Saibamos permitir que o Senhor nos ajude em nossa conversão, a fim de seguirmos com generosidade e alegria o projeto do Reino de Deus que já está entre nós!
            Há quem diga que tempo é questão de prioridade! Gosto de acrescentar a esta afirmação, de que precisamos estabelecer prioridades em nossas relações, e para a criatura humana, não é concebível que nosso tesouro prioritário não seja nosso Deus e Senhor!
            Saibamos administrar o dom precioso do tempo que o Senhor da Vida nos concede. Saibamos viver a ternura humana com sabor divino!

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Jn 3,1-5.10; Sl 24 (25); 1 Cor 7,29-31 e Mc 1,14-20)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2015, pp. 73-75 e Roteiros Homiléticos de Janeiro de 2015 da CNBB, pp. 78-83.

A TERNURA DE DEUS EM MEU SACERDÓCIO

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

               Há 25 anos, na manhã do sábado, dia 20 de Janeiro de 1990, Festa de São Sebastião, na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, ajoelhado sobre o túmulo do primeiro Bispo de nossa Arquidiocese, Dom Alberto José Gonçalves, por imposição das mãos de nosso amado Dom Arnaldo Ribeiro, fui ordenado Sacerdote para Sempre! Muitos erros e acertos, grande experiência de vida e profunda gratidão a cada dia, sem nenhum momento de arrependimento, pelo sim dado com minhas mãos entre as mãos do Arcebispo.

               Quantas pessoas passaram por minha vida nestes 25 anos? Pela vida de quantas pessoas passei eu? Penso ser um momento de avaliação, de balanço, de gratidão e de pedido de perdão, pelas vezes em que não consegui ser um bom padre! Escolhi como lema sacerdotal, a quinta bem-aventurança do Sermão da Montanha: "Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7), já que sempre me senti um servo inútil e indigno da graça do ministério sacerdotal! Mesmo assim Deus me quis Padre, tamanha é Sua Bondade, Seu Amor e Sua Misericórdia para comigo.

               Ao longo do amadurecimento no meu exercício ministerial, fui descobrindo que a melhor maneira de ser fiel ao Sacerdócio, é adotar a Teologia da Ternura! Mesmo que não tenha conseguido ser fiel, como quis ou deveria sempre me acompanhou o esforço pessoal por ser um sacerdote bom e misericordioso, a exemplo de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars, cuja vida conheci no primeiro Seminário que me acolheu na Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dedicado a ele. Como ele, o Sacramento que mais gosto de celebrar, é o da Reconciliação, depois, é claro, da Eucaristia. Como é bom ser dispensador do perdão de Deus àqueles que perderam sua paz interior para o pecado. Pois é no Sacramento do Perdão, que Jesus nos devolve a paz que o pecado nos rouba. Tenho sido muito feliz ao acolher tantas pessoas em nossa amada Santo Antoninho, Pão dos Pobres, que é para mim, o lugar ideal para a santificação de meu sacerdócio, colaborando na santificação dos irmãos!
                                                                                                                                             
                Como coroinha na Igreja Matriz, ou brincando de Missa com os vizinhos na estrebaria de casa, minha vocação ao sacerdócio foi se confirmando a cada dia que passava. Sentia sempre a necessidade de perdoar, desde tenra idade a quem me ofendesse ou machucasse. Nunca consegui bater em ninguém. Mas sempre fui muito peralta e, mais pedia perdão do que precisava perdoar. Daí meu lema sacerdotal ser a bem-aventurança da misericórdia.

               Que eu consiga viver meu sacerdócio pautado nos olhos de Deus, que promovem a justiça e amar as pessoas com o coração de Jesus, que dão sentido ao meu lema e à minha fidelidade sacerdotal: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! E em cada Eucaristia que celebro, cabem todas as pessoas que me ajudaram a ser Padre, no precioso cálice do Senhor, como minha mais sublime e profunda gratidão!


                 Para selar A Ternura de Deus em meu Sacerdócio, passarei meu Jubileu de Prata de Ordenação Presbiteral em retiro! Nos últimos anos tivemos o privilégio dos magníficos Concertos de Acordeon com As Meninas Gilda Montans e Meire Genaro! Para celebrar minha ação de graças escolhi o “deserto” e o silêncio, nos quais me encontrarei com cada um na oração profunda e na Eucaristia. Àqueles que quiserem me presentear por este Jubileu de Prata Sacerdotal, por favor, façam-no na oração por mim e sintam o carinho de minha oração por cada um dos que meu Sacerdócio permitiu amar!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Com a celebração do Batismo do Senhor, encerramos o Ciclo do Tempo do Natal e iniciamos um breve Ciclo do Tempo Comum que nos remete à Quaresma.
            A Palavra de Deus proclamada neste Segundo Domingo do Tempo Comum tem sabor de Vocação, de Chamado, de Seguimento e de Encontro com o Senhor!
            A página do Primeiro Livro de Samuel supõe o discernimento vocacional. Nossa primeira vocação deve ser a Vocação ao Amor. Quem não ama um amor com sabor divino, dificilmente discernirá sua vocação específica no mundo! A Igreja tem a missão de acolher aqueles que se apresentam a alguma vocação específica e ajudar no discernimento cuidadoso da mesma, visando antes de tudo a felicidade plena da pessoa. Uma pessoa só será realizada e feliz, na medida em que descobrir sua verdadeira vocação, a começar pela Vocação ao Amor!
            Nossas Casas de Formação se empenham com zelo esmerado, para que os candidatos ao Presbiterado, por exemplo, sejam antes de tudo, pessoas felizes, realizadas, bem resolvidas, a fim de então dizerem um Sim definitivo, coerente e feliz de verdade! Nunca, a vocação específica na Igreja deve ser meio de vida, de autopromoção, busca de prestígio e reconhecimento ou poder. “Já que não sirvo para casar, serei padre!” Geralmente tal pessoa torna-se amarga, um tipo de “solteirão intratável” e infeliz, fazendo de sua “suposta” vocação, um trampolim carreirista ou machucando aqueles que lhe são confiados no ministério pastoral.
            No Evangelho de São João, João Batista, reconhecendo Jesus, como o Messias, apresenta-o aos seus seguidores, aqueles que sentem desde as entranhas de sua intimidade uma vocação específica, como o Cordeiro de Deus a ser, doravante seguido. João Batista se retira e deixa o Messias convidar aos que lhe perguntam: “Mestre, onde moras?”, “Vinde ver”.
            Uma vez vendo onde Jesus mora, onde se encontra, encontrando-se sinceramente com Ele, já não há mais volta. É impossível não ficar com Jesus, que escolhe um a um, olha bem nos olhos e os cativa, adiantando até mesmo o coordenador entre eles: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer pedra).
            Deus escolhe quem Ele quer, desde o seio materno. A pessoa já nasce escolhida para sua vocação específica, porém nem sempre corresponde ao chamado. Por isso os Bispos reunidos em Puebla diziam que “A Vocação (específica) é a resposta de um Deus providente a uma Comunidade orante”. A resposta generosa à vocação específica na Igreja, geralmente é fruto saboroso da Oração pelas Vocações. Muitos rezam pelas vocações, desde que sejam os filhos dos vizinhos. É necessário que nossas Famílias incentivem os próprios filhos à vocação, também sacerdotal e religiosa. Mais do que falar mal de nossos Sacerdotes, somos conclamados a rezar por eles e ajudá-los em seu caminho de santificação. Como seria bom se cada Comunidade gerasse um Padre! Como seria ainda melhor se cada Padre formasse outro para sucedê-lo no futuro!...
            São Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios, lembra-nos de que somos, como membros da comunidade, templos vivos do Espírito Santo. A responsabilidade das vocações específicas na comunidade é de TODOS! Ninguém deve sentir-se isento. Na medida em que faltarmos na Comunidade, mutilamos o Corpo de Cristo que ela representa. Somos os membros e Cristo é a cabeça. Mesmo sentindo-nos o dedo menor do pé, e faltarmos, estaremos mutilando este lindo corpo, malhado, sarado, que é a Igreja de Jesus Cristo!
            Meu primeiro incentivador à vocação sacerdotal foi meu amado pai. Costumávamos acolher as visitas com uma poesia, um canto ou algum teatrinho exibido pelas crianças. Faz 53 anos que meu pai faleceu. Eu tinha quatro anos naquele entardecer do dia 15 de Janeiro de 1962, quando o sol se debruçava sobre uma montanha rochosa diante da casa de meus avós, enquanto meu pai se reclinava eternamente no colo do Criador.  O crepúsculo revestia o céu de indescritível beleza. E era ele que me pedia para “rezar uma missa sobre a máquina de costura de minha mãe, para as visitas que chegavam...”. Imitava o Padre da cidade, sem nem mesmo saber exatamente o latim que balbuciava. Mas todos ficavam admirados com a “Missa do Beto”.
            Hoje, por amor e misericórdia de Deus minha Missa não é mais teatro e tenho o incomparável privilégio de oferecer a memória de meu amado pai no cálice precioso do Senhor! Sejamos dóceis ao convite do Senhor: “Vinde Ver” e teremos muitas e santas vocações para servir a Igreja da qual todos somos membros por conta de nosso batismo!
            Com ternura e gratidão, bênçãos e abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler 1Sm 3,3-10.19 / Sl 39(40) / 1Cor 6,13-15.17-20 e Jo 1,35-42)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2015, pp. 57-59 e Roteiros Homiléticos do Tempo Comum de Janeiro de 2015 da CNBB, pp. 72-77.

OMISSÃO E HIPOCRISIA SÃO PARENTES!

 Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

            O presente artigo não pretende esgotar a reflexão sobre a Omissão compreendida como parente da Hipocrisia, já que nos porões de minha consciência amadurece um pequeno livrinho sobre o candente tema. Mas há frequente coceira em meus dedos, pedindo-me digitar pelo menos algumas linhas, que possam provocar nossa relação humana diante desse mau hábito!

            A omissão, embora declarada “pecado” na fórmula penitencial que tanto pronunciamos em nossas celebrações católicas: “Confesso a Deus... que pequei por pensamentos, palavras, atos e omissões...” parece não ser muito considerada em nossas relações, a começar da própria família. Desde a educação familiar, sabemos de mães que omitem erros cometidos pelos filhos, aos maridos, para evitar agressões, transtornos e tantos outros tipos de confusão.

            As pessoas se omitem com muita facilidade, quando conclamadas a tomar decisões, comprometerem-se com situações que ameacem seu prestígio ou cargos que se lhes foram confiados. “Não sei de nada... Não vi nada... Não ouvi e tais coisas não me dizem respeito...” são desculpas da maioria de agrupamento de pessoas, quando responsáveis pelas mais variadas instituições de nossa sociedade, especialmente de nossos governantes!

            As omissões são frequentes na esfera social, política e também eclesial. Enquanto determinadas pessoas nos convém, somos coniventes até mesmo com atitudes nem sempre recomendadas ou “politicamente incorretas”. A partir do momento em que não preenchem mais nossos caprichos, princípios lícitos ou não; quando perguntam o desnecessário ou se tornam inconvenientes, nossa tendência é imediatamente a omissão, chegando a excluir tais indivíduos de nossa relação. Não poucas vezes por pura inveja!

            Inquieta-se minha consciência quando me dou conta de ser omisso, uma vez que toda criatura humana é chamada a ser comprometida com valores que a configuram com seu Criador: a Verdade, a Justiça, a Liberdade e o Amor. Ouve-se muito que “há coisas que não se diz, nem se escreve e muito menos se discute...”. Assim instaura-se o que gosto de chamar de “paz de cemitério”! Porém como ser profeta, missionário, discípulo de Jesus Cristo numa sociedade onde a Omissão se revela parente da Hipocrisia? João Batista perdeu a cabeça porque não foi omisso. Jesus Cristo derramou o sangue na cruz porque não foi omisso. Talvez Públios Lentulus, que descreve o Jesus Histórico, nos ajude a sermos mais autênticos do que hipócritas. Descreve Jesus em algumas atitudes: “Até nos rigores é afável e benévolo”... “Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém, antes se esforça para fazer toda gente venturosa!”.

            Se a omissão não for superada em nossas relações, continuaremos vestindo a sobreveste da hipocrisia, varrendo sujeiras para debaixo de tapetes até não aguentarmos mais o mau cheiro de nossas mentiras, que tentamos servir como “verdades” abomináveis, que nos conduzem sobre areias movediças, aumentando o número de nossas vítimas. E como então viver o Ano da Paz, mergulhados na lama de nossas mentiras, mesmo as institucionais?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

UM ANIVERSÁRIO NO CÉU!

                   Amanhã, dia 7 de Janeiro, haverá Um Aniversário no Céu! Com certeza a corte celestial já preparou tudo para celebrar o precioso dom dos 80 anos de vida de Dom Arnaldo Ribeiro. Sempre que pode, passou seu aniversário natalício com a Família. Tanto o Natal, como o Aniversário Natalício, celebrava com seus familiares. O Natal era celebrado alguns dias antes, para poder presidir a Solenidade do Nascimento do Senhor, com sua Família Arquidiocesana na Catedral Metropolitana de São Sebastião. Assim, ele ia a Belo Horizonte celebrar em Família e a Família vinha, enquanto possível, celebrar o Natal com ele em Ribeirão Preto. Como responsável pela Catedral, pude experimentar esta riqueza de Dom Arnaldo muito de perto em meus primeiros anos de ministério sacerdotal. Foi esta uma das razões pelas quais Dom Arnaldo me permitiu amá-lo "em família". Certa vez Irmã Valentina Augusto, do Colégio Auxiliadora e eu lhe fizemos uma surpresa: fomos a Belo Horizonte almoçar com Dom Arnaldo e sua querida irmã, Maria Thereza no dia do seu natalício. Ele ficou tão feliz e emocionado, que foi uma das primeiras vezes que vi Dom Arnaldo chorar de alegria.

                     Seu nome ecoou na eternidade no dia 15 de dezembro de 2009, como ecoou no coração da Arquidiocese de Ribeirão Preto, igualmente o seu nome no dia 15 de dezembro de 1988, para assumir-nos como seus filhos na fé, sendo o nosso sexto Arcebispo Metropolitano. Eu vivia já como diácono, na Alemanha. Assim que soube de sua nomeação escrevi-lhe uma carta, apresentando-me. A resposta da carta que lhe mandei a Belo Horizonte chegou-me às mãos em seis dias apenas. Fato inédito. Aliás, uma das qualidades de Dom Arnaldo, foi a de não deixar nunca para amanhã, aquilo que podia fazer hoje e nunca deixou ninguém sem resposta. Ele tomou posse dia 4 de março de 1989 e eu retornei dos meus estudos da Europa no dia 8 de maio do mesmo ano. Recebeu-me em sua residência como a um filho. Depois de apresentados, atribuiu-me os serviços de desenvolver meu ministério diaconal na Catedral e na Cúria Metropolitana, nomeando-me seu secretário e moderador da Cúria.
Ordenou o primeiro Padre para Ribeirão Preto, meu irmão e amigo fiel Pe. Ilson de Jesus Montanari no dia 17 de agosto de 1989 e a mim no dia 20 de janeiro de 1990, às nove horas da manhã na Catedral de São Sebastião. Éramos 34 padres e muito havia trabalho. Assim, meus primeiros anos de sacerdócio foram de muitas atribuições, sempre orientadas por Dom Arnaldo. Quantos exemplos de vida, que em nenhum seminário aprenderia, ele foi me permitindo conhecer e aprender.

                    Dom Arnaldo, celebrando seus 80 anos de Vida entre a Corte Celestial, certamente espera de mim e de meus irmãos Padres, neste Ano Sacerdotal, um presente diferente. O presente que sempre desejou, e que talvez, não tenhamos conseguido dar-lhe em vida: a Fidelidade Sacerdotal! Que sejamos fiéis a Deus, na pessoa de Jesus Cristo; à Igreja, no amor ao Santo Padre; à Comunidade, no exercício disciplinado da Oração, da Eucaristia diária, na devoção à Nossa Senhora e a São José, sendo irmãos uns dos outros, sem rusgas, mágoas, rancores, invejas, ciúmes. Como ele desejava que os Padres fossem amigos uns dos outros! Quando vi a urna no chão, diante da Catedral, na Celebração de suas Exéquias, tentei imaginar quantos segredos, que inchavam o coração de Dom Arnaldo, seriam enterrados com ele?

                    Que nossas felicitações ecoem na eternidade com sabor de perdão, de acolhida, de conversão e do propósito de esforçarmo-nos por vivermos nossa vida ao exemplo da Fidelidade a Cristo, do Amor pela Igreja, da capacidade de Perdão e da noção de Justiça que nortearam os 80 anos de vida de nosso amado e saudoso Dom Arnaldo Ribeiro!

                                                                                                               Pe. Gilberto Kasper

                                                                                               Teólogo

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DO BATISMO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
         Concluindo as celebrações natalinas, festejamos o Batismo de Jesus. Embora não precisasse ser batizado, o Senhor quis se solidarizar com todo o povo que buscava o batismo de João. Esta liturgia é momento favorável para relembrarmos e renovarmos nossos compromissos batismais.
            As leituras nos revelam o servo de Deus, fortalecido pelo Espírito e enviado para proclamar a boa-nova da paz. Pelo batismo também nós recebemos o Espírito que nos anima na missão e nos dá força para perseverar no bem.
            Somos servos do Senhor a serviço da comunidade e responsáveis por construir uma sociedade justa. Jesus é o servo fiel e o Filho amado e querido do Pai. A prática da caridade e da justiça deve ser nosso diferencial diante de Deus.
            Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé? Geralmente a reposta é “NÃO”. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia de nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano da Fé foi um insistente convite, de que arejássemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “Útero da Igreja”, a Pia ou Bacia Batismal!
            A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade. Jesus se faz solidário, e mais ainda, Servo e Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele assume nossa condição humana, num ato solidário, que o leva até a Cruz. É uma caminhada que vai em direção à Páscoa.
            Podemos nos perguntar se, a partir do Batismo de Jesus, procuramos entender e concretizar o nosso batismo. Se estivermos dispostos a “mergulhar” no projeto de Jesus para construir relações humanas construtivas, a começar pela família, no aconchego do lar, na escola, no trabalho, na Igreja, no mundo, com atitudes solidárias, ecumênicas.
            A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo do Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscavam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.
            Jesus havia acolhido o movimento de João Batista, a voz profética que ressoa, após anos de silêncio. Sobre ele desce a plenitude do Espírito Santo, a força do amor do Pai, para realizar a sua vontade. Assim o Reino, que se manifesta através de seu ministério, expressa o desígnio salvífico de vida plena para toda a humanidade. Quem o segue no caminho do discipulado é impelido a trilhar o seu caminho de justiça e de solidariedade.
            Deus se revelou em Jesus, confiando-lhe a missão de Servo e Filho amado. Pelo batismo, mergulhamos no mistério da morte e da ressurreição de Jesus para vivermos a vida nova. Em Cristo, recebemos o Espírito para a missão e fomos adotados/as como filhos e filhas de Deus. Somos gerados a cada dia, pelo amor misericordioso e bondade infinita do Pai, para renovarmos a nossa adesão e o nosso compromisso com o seu Reino.
            Iluminados e “banhados em Cristo, somos uma nova criatura! As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”. Unidos a Cristo, o Ungido do Pai, nos tornamos continuadores de sua missão profética, sacerdotal e régia. Ele nos confirma no anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino, pois “passou a vida fazendo o bem e curando a todos os que estavam sob o poder do mal”.
            Vamos abrir o ouvido do coração para acolher a voz do Pai, que ressoa dentro de nós, e que declara nossa missão: Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado.
            O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como Deus é, e isso nos basta. Renovemos nossos compromissos batismais, buscando viver nosso Batismo na relação com Deus, que nos adota como seus de verdade, e com os outros, que se tornam nossos irmãos, para santificar-nos. Todo batizado torna-se um ser divinizado, isto é, candidato à santidade. Por isso não é nenhuma pretensão descabida, queremos ser santos. Devemos, isso sim, esforçar-nos todos os dias, para sermos santos.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,

Pe. Gilberto kasper

(Ler Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29); At 10,34-38 e Mc 1,7-11).

Fontes: Liturgia Diária de Janeiro de 2015 da Paulus, pp. 41-44 e Roteiros Homiléticos do Tempo do Natal 2014-2015 da CNBB, pp. 67-72.