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quarta-feira, 28 de abril de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DO TEMPO PASCAL

 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé

 

 


            A Liturgia da Palavra deste Quinto Domingo do Tempo Pascal sublinha a união vital dos discípulos com o Ressuscitado, do batizado com sua comunidade de fé. Esta união vital Jesus a explica através da alegoria da videira. Ele mesmo se apresenta como a “videira verdadeira” e nós, seus discípulos, os ramos, vitalmente unidos a ele. No primeiro Testamento, a videira era considerada o símbolo do povo eleito de Deus. Mas esta videira não correspondeu às expectativas do “agricultor”.

            O Pai (o agricultor) desejou que o Filho fosse o tronco da videira e nós os ramos. Se estivermos unidos à videira, que é Jesus, também daremos os frutos que Jesus deu e então poderemos ser Cristo para os nossos irmãos; sendo instrumentos de transformação em suas vidas. Não existe vida para o ramo, se ele estiver separado do tronco. O ramo que se separa da cepa, seca e morre sem produzir frutos, vira lenha e é lançado ao fogo. Portanto, sem Jesus não há vida, não há frutos. Os frutos aqui evocados são a santidade de uma vida fecunda pela união a Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2074).

 

 


            Jesus ressuscitado é a Videira e nós somos os ramos dessa Videira. São Paulo ensina que, pelo Batismo, nos tornamos Corpo de Cristo, membros do seu corpo (cf. Ef 5,30). Então no Batismo, o Espírito Santo nos enxerta como ramo na Videira, que é Jesus Cristo, e, consequentemente, “pelo poder do Espírito santo, participamos da Paixão de Cristo, morrendo para o pecado, e da Ressurreição, nascendo para uma vida nova; somos os membros de seu Corpo, que é a Igreja, os sarmentos enxertados na Videira, que é ele mesmo” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1988). Os ramos que não se alimentam da seiva do tronco murcham, secam e são jogados fora. Assim também nós, se não nos nutrirmos do Espírito de Deus, definhará a vida, gerada em nós pelo Batismo. Os ramos que se mantém unidos ao tronco recebem a seiva da vida que os torna fortes, vigorosos e férteis. Produzem muitos frutos e de excelente qualidade, como os de Jesus: perfeitos e comestíveis. Como ramos da videira, precisamos nos deixar impregnar por sua seiva, que é Jesus Cristo, assim “estareis capacitados a entender, com todos os santos, qual a largura, o cumprimento, a altura, a profundidade” (Ef 3,18) do amor de Deus. A nova comunidade, que Jesus ressuscitado inaugura, resulta da união vital entre ele e seus seguidores.

            Jesus repete por oito vezes a palavra “permanecer”. Para nós (os ramos) é vital permanecer no amor. Permanecer em Deus. O amor tem um rosto: no rosto de Cristo crucificado vemos Deus. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). Como a planta precisa de água, nós também precisamos da “Água Viva”, o Espírito de Deus, para nos encharcar desse amor. Ao permanecer nesse amor, a nossa alegria é completa, nada nos falta. Nossa vida cristã depende dessa união: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5), isto é, os frutos que produzimos vêm da união a Cristo. Quem não permanecer unido, secará e perderá a vida. Esta união é fonte de energia, é graça de Deus. Estar unido é produzir frutos.

            Quem ama sofre, pois o amor exige renúncia. Por isso, Jesus revela que, estar unido a ele é ter que suportar as podas para produzir mais frutos. Mesmo que a poda seja sofrida tanto para o agricultor, como para a videira e os ramos, ela se faz necessária. Sem ela, os ramos acabam prejudicando toda a videira, a qual não produzirá os frutos esperados. Muitas vezes, as podas do “Agricultor” (Deus) podem ser dolorosas e não entendermos como acontecem. Podem ser uma doença, um acidente, determinada provocação ou sofrimento que, no curso do tempo, se transformam em graça e melhor qualidade de vida. São podas que fazem parte do plano de salvação de Deus, para cada pessoa ou comunidade. A correção de Deus é de um Pai amoroso, que deseja ver seus filhos realizados e felizes.

 

 


 

            A Palavra de Deus deste Quinto Domingo do Tempo Pascal é um profundo convite a cada um e à Igreja toda, diante de um mundo sedento da seiva do amor de Deus, o amor gratuito entre as pessoas. A Comunhão e Participação expressa pelos Bispos reunidos em Puebla em 1979, e o Discipulado junto à Missionariedade tão desejada pelos Bispos reunidos em Aparecida em 2007, somados à Pastoral de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto nos identificam com os ramos “grudadinhos” na Videira, Jesus Cristo, o centro de toda nossa Pastoral, do sentido de nossa Eclesialidade. Queremos, unidos a Cristo, produzir frutos saborosos e que alimentem nossas Comunidades de Fé. Quem se omite ou se sente dispensado do compromisso de promover o amor gratuito de sua Comunidade, desliga-se da Videira (Jesus Cristo) e seca, deixando muitas vezes, uma videira incompleta e frágil, ao invés de robusta e viril! Por vezes, determinadas podas ou surras que a vida nos dá, bem administradas, nos tornam ainda mais robustos e férteis no serviço à Comunidade que nos tem como ramos preciosos, alimentados pela Videira, Jesus Cristo, o centro da Igreja que formamos!

            Saibamos alimentar nossa fé, esperança, sentido cristão, novo ânimo, novas perspectivas e horizontes, bebendo da seiva do amor da verdadeira Videira, tornando-nos uma Igreja linda, vistosa e saborosa a alimentar um mundo vazio de sentido, oprimido, porque oco de Deus!

            Com ternura e gratidão, desejando-lhes bênçãos, meu abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 9,26-31; Sl 21(22); 1 Jo 3,18-24 e Jo 15,1-8)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2021, pp. 19-24 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Páscoa – Maio de 2021, pp. 55-60.

 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO PASCAL

 

DOMINGO DO BOM PASTOR

 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

 

            O Quarto Domingo do Tempo Pascal, é o domingo do Bom Pastor e o Dia Mundial de Oração pelas Vocações!

            A mística pascal continua e, neste domingo, a comunidade sente-se especialmente enriquecida e animada com a presença viva de Jesus como Bom Pastor. Jesus ressuscitado é o Bom Pastor que doa sua vida pelas ovelhas. Ele as conhece pelo nome e elas reconhecem a voz de seu pastor. Boa Nova que revela ternura e cuidado para com seu povo, em especial, com os doentes e sofredores.

            Vivemos uma cultura da coisificação da pessoa. Se lhe atribuímos códigos e senhas. Não existe, porém, som mais deleitoso, do que ouvir alguém nos chamar pelo nome. Pessoalmente tenho grande dificuldade de guardar o nome das pessoas, embora não esqueça suas fisionomias. É algo que me entristece, porque é bom demais ser reconhecido pelo nome ao invés de identificado por códigos, apelidos pejorativos ou senhas. O que não suporto é o fingimento que muitas vezes disfarça nossa incapacidade de guardar na memória nomes de pessoas com quem nos relacionamos. Irrita-me profundamente quando alguém, seja ao telefone, seja pessoalmente, me peça que adivinhe quem é! Peço que se identifique de uma vez. Mas a questão de conhecer o rebanho, as ovelhas pelo nome e essas reconhecerem nossa voz é bem mais profundo e transcendente do que simplesmente lembrar o nome deste ou daquele colaborador em nossas Comunidades Eclesiais, Sociais, Políticas ou Profissionais.

            A sociedade atual, sobretudo os jovens e adolescentes, se move pela busca de figuras referenciais para sua vida. Os padrões editados pela mídia projetam modelos que condicionam as pessoas a assumi-los, por vezes com consequências nefastas. Cantores e artistas famosos, atletas bem sucedidos etc., alimentam o sonho de autorrealização, de fama e de ser um herói para milhões de indivíduos. Estes “ídolos” mexem com o universo imaginário e simbólico das pessoas, sobretudo dos mais jovens.

            Jesus é o Bom Pastor, não simplesmente em oposição à figura dos pastores mercenários, mas porque valoriza e conhece suas ovelhas e é reconhecido por elas. Ele dá a vida por elas por uma opção de amor. Portanto, Jesus se apresenta à comunidade como Bom Pastor, movido pela lógica do amor e não por interesses e favores pessoais, a exemplo dos mercenários. Quem não ama sua comunidade (seu povo) até a doação de sua vida, não pode ser considerado pastor exemplar.

            O Dia Mundial de Oração pelas Vocações nos convida a rezarmos ao Senhor que envie pastores configurados com Cristo, o Bom Pastor! A começar dos Ministros Ordenados aos Agentes de nossas Pastorais, somos também convidados à conversão, à coerência e ao bom senso em nossas atividades, que devem estar sempre pautadas sobre o Projeto Evangelizador e Missionário de Jesus Cristo, o Bom Pastor! Quem não gasta sua vida pela Comunidade (o rebanho) corre o risco de compreender sua vocação como “meio de vida”, o que se torna geralmente um desastre. Por isso é fundamental conhecer Jesus Cristo ressuscitado e identificá-lo como o Bom Pastor a ser seguido.

            Conhecer Jesus e tê-lo como modelo de vida implica conhecer seu amor e aderir ao estilo de seu agir. A mútua relação entre Jesus e os seus gera e nutre a relação de intimidade, de confiança, de diálogo, de pertença, de segurança. Não é em vão que a palavra pastoral evoca: zelo, sensibilidade, cuidado, carinho, misericórdia, compaixão, amor, dedicação, ternura, atenção às pessoas e às suas necessidades.

            O agir do Bom Pastor torna-se referencial da ação eclesial e dos diferentes serviços pastorais da Igreja em favor do povo. Por isso, falar de Pastoral na Igreja é ter presente Jesus Cristo, o Bom Pastor, enviado pelo Pai, que dá a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10,11.15) e à sua missão de pastoreio confiada à Igreja, colocando pastores à sua frente. Fazer pastoral é exercer a missão de Jesus, e em nome de Jesus Bom Pastor, lembra a generosidade e a disponibilidade de um número incontável de batizados, engajados nos serviços da ação evangelizadora e pastoral da Igreja. A nossa atuação pastoral é relacional, de amizade, é oblativa em união com a caridade do Bom Pastor, é transformante, porque faz de nós um sinal claro do próprio Jesus.

            Pela atuação da pessoa do Papa, Bispos, Presbíteros, Religiosos, Religiosas e das Lideranças Leigas, Jesus, o Bom Pastor, continua doando sua vida, manifestando seu carinho e sua atenção por nós, pelas comunidades, em especial, por doentes e sofredores. Estes são os privilegiados da ternura e do cuidado do Bom Pastor.

            Nossas Comunidades, com razão, são cada vez mais exigentes. Sejamos Bons Pastores para elas. Sejam elas, Queridas Ovelhas para nós. Essa relação só será possível se rezarmos com o coração configurado com Jesus Cristo ressuscitado e vivo entre nós, como o modelo de Bom Pastor:

Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão o abraço sempre fiel e amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 4,8-12; Sl 117(118); 1 Jo 3,1-2 e Jo 10,11-18)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2021, pp. 103-107 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Páscoa - Abril de 2021, pp. 49-54.

UNIÃO EM TEMPOS DE GRANDES DESAFIOS!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

A Pandemia que surpreendeu a humanidade sem dó nem piedade, descortinou em proporções talvez nunca antes percebidas, a solidariedade, o cuidado pelo outro, a fraternidade e a União em Tempos de Grandes Desafios! De repente todos se sentiram chamados a partilharem de sua pobreza! Incontáveis são as iniciativas de pessoas e grupos unidos para estender a mão àqueles que têm menos, ou que vão perdendo o pouquinho que ainda possuíam.

 

No primeiro ano da Pandemia empresas renomadas ocupavam espaços nobres, especialmente de telejornais, para divulgarem sua participação solidária, doando fortunas em cestas básicas, insumos e doações de toda natureza jamais vistos em tempos de “não pandemia”! Tratava-se de uma solidariedade remunerada, já que mostrar em horários nobres de televisão o bem realizado, era também, uma forma sutil de divulgar a existência de empresas de grande porte, que finalmente partilhavam de suas riquezas.

 

Outras milhares de entidades, centenas de milhares de grupos de pessoas, continuam a cuidar e amenizar a dor da fome, a dor do emprego perdido, a dor do luto dos que devolveram seus entes queridos, ceifados pelo vírus tão cruel, invisível e impiedoso para com as pessoas do mundo todo.

 

Número não menos expressivo de entidades continua sua missão na promoção da vida e da dignidade de seus assistidos, mesmo antes da Pandemia. Poderia elencar incontáveis delas. Mas me atenho à que conheço, a entidade que me tem como voluntário há oito anos. É o FAC – Fraterno Auxílio Cristão da cidade de Ribeirão Preto.

 

Desde o início da Pandemia o FAC seja em sua Sede Central na Rua Barão do Amazonas, 881, seja no Núcleo de Solidariedade Dom Bosco na Rua Imigrantes Japoneses, 1065 no Parque Ribeirão Preto, a cada vinte dias, conseguiu assistir as crianças, adolescentes, jovens e suas famílias, com a manutenção de cestas básicas, material de limpeza, de higiene pessoal e principalmente de atividades pedagógicas, como artesanato, inclusão digital entre outras, para mantê-los em suas casas, a maioria em seus “barracos” que chamamos de lar!

 

Coordenada pela Ana Abe, a Equipe do FAC não parou nenhum dia para assistir as mais de duzentas e sessenta pessoas que lhes são confiadas. Muitas vezes sem recursos suficientes, na véspera de entregar as cestas básicas, sem nenhuma ter chegado, a Providência Santíssima enviava algum dos tantos Anjos Bons que não deixaram o FAC fechar as mãos, o coração e muito menos as portas para aqueles que dele dependem em sua sobrevivência. A Equipe de Monitoras, Assistente Social, Colaboradores de inúmeras áreas, como Artesanato, Música, Teatro entre outras, visitaram, acompanhadas da Coordenadora Geral do FAC as residências para onde foram remetidas as doações todas. Falar em “distanciamento social” para aquelas famílias que vivem em três cômodos, amontoando entre sete e dez pessoas, é irreal. Mesmo assim a Equipe com paciência, sabedoria e elegante generosidade foi orientando o possível necessário para que um cuidasse do outro. Como que se Deus se debruçasse sobre os barracos, com a largueza de Seu coração, todos até hoje, se encontram protegidos, alimentados, bem orientados quanto à União em Tempos de Grandes Desafios!

 

Nossa gratidão, em primeiro lugar se remete ao Deus de Bondade que nunca nos abandonou. À Coordenação Geral do FAC na pessoa da Ana Abe e toda sua magnífica Equipe, ao nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, que sempre apoiou e colaborou com o FAC, ao Conselho Diretor, e sobretudo aos Parceiros todos, que formam um Corpo conosco, sem nem mesmo quererem ser identificados. Não canso de ouvir dos doadores a seguinte frase: “Não fale meu nome, gostaria de continuar ajudando sem divulgar o bem que faço”. Diferentemente daquelas grandes empresas, divulgadas em horários nobres de telejornais de emissoras de televisão, nossos parceiros não doam esperando resultados e recompensas pessoais, a não ser que Deus os recompense e abençoe grandemente, nestes tempos de grandes desafios e em tempos vindouros.



quarta-feira, 14 de abril de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO PASCAL

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

         

O Terceiro Domingo do Tempo Pascal nos apresenta Jesus ressuscitado dos mortos, revelando-se novamente à Comunidade dos discípulos, desejando-lhe: “a paz esteja convosco!”.

            A morte e a ressurreição do Senhor ocupam o centro da história da salvação. A escuta da Palavra de Deus suscita a fé em Cristo ressuscitado. Como outrora os discípulos, hoje, nós também experimentamos sua presença por meio da Palavra e do Pão da vida. Ele nos comunica a paz e nos confirma como testemunhas do mistério de sua Páscoa. Confirmados na fé pelos sinais sensíveis e instruídos pelas palavras da Escritura, podemos perceber a sua presença viva na comunidade e na história.

            Enquanto o pecado que nos faz virar as costas para Deus, deixando-nos mofos, embolorados, deprimidos e na sombra da solidão, o sepulcro vazio do Ressuscitado nos devolve aquela paz que nossa arrogância e prepotência nos roubam.

            Como Igreja, seguimos a caminhada pascal com as manifestações de Jesus ressuscitado em meio à comunidade de seus seguidores. O medo e a incerteza de outrora e de hoje levantam algumas interrogações: Jesus ressuscitou verdadeiramente? Como podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como podemos mostrar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer aos seres humanos a salvação?

            O Apóstolo Pedro afirma ser testemunha viva da ressurreição: “Deus ressuscitou Jesus dos mortos” (cf. At 3,15). Esse acontecimento é Boa-Nova para o mundo. Por isso, os apóstolos são, em primeiro lugar, testemunhas e anunciadores da ressurreição de Jesus Cristo. “Disto nós somos testemunhas”.

 

 

            O Evangelho do Terceiro Domingo da Páscoa pode ser chamado de a “a prova dos sentidos’”. Os sentimentos dos discípulos são de medo, susto, surpresa, alegria. Para que eles possam entender o que está acontecendo, o Ressuscitado fala, deixa-se ver, pede para ser tocado e come na presença deles. A seguir, para levar seus ouvintes a crerem, o Ressuscitado passa a fazer memória do que está escrito sobre ele na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos. A argumentação a partir das Escrituras, como palavra inspirada, torna-se uma fonte indispensável para compreender os acontecimentos relacionados ao Ressuscitado.

            A Palavra de Deus do Terceiro Domingo do Tempo Pascal nos chama ao compromisso e à fidelidade. Acesos no Círio Pascal, símbolo do Ressuscitado no meio da Comunidade de Fé, nos tornamos uma extensão do mesmo. Outros “Cristos” num mundo onde ainda somos atraídos por caminhos de prazeres imediatos, mesmo que nos esvaziem do amor de Deus derramado do próprio Filho, que abraçou a humanidade no abraço da cruz. Só ressuscita de verdade com Cristo, quem é fiel a Ele por meio da Comunidade de Fé, Oração e Amor. Não basta sermos solidários com a morte, quando nós mesmos protagonizamos a Cultura da Morte em nossas eleições. É interessante como arranjamos tempo para nossos compromissos sociais: aqueles que garantem nosso prestígio frágil, porque um dia acaba. É interessante como gostamos de aparecer e necessitamos de reconhecimento, que cai no esquecimento de quem fica depois de nossa passagem por este tempo e espaço terrenos. É interessante o tempo que investimos para estarmos sempre ao lado dos que estão “em alta”, quando nem sempre encontramos tempo, disponibilidade, generosidade e compaixão para com os menos favorecidos. Somos tão rápidos nas marteladas de pregos naqueles que erram de quando em vez, segundo as convenções sociais, mas tão lerdos para estender nossas mãos e oferecer o perdão que tanto imploramos quando nós mesmos caímos. Cristo seria bem mais presente e sentido entre nós, se não deixássemos apagar a chama que acendemos n’Ele na Vigília Pascal. Ele quer tanto ressuscitar mais do que ser constantemente crucificado pelos pregos de nossas línguas ferinas, caluniosas e tantas vezes venenosas.

            Sejamos um “Cristo aceso” a iluminar o caminho sombrio dos nossos irmãos que sofrem exclusões e são preteridos por nossa sociedade tantas vezes alimentada pela hipocrisia! Sejamos a Esperança dos que a perdem a cada esquina de suas vidas!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e cheio de novas esperanças,

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 3,13-15.17-19; Sl 4; 1 Jo 2,1-5 e Lc 24,35-48)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2021, pp. 84-89 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Páscoa - Abril de 2021, pp. 43-48.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA

 

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA 

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

O Segundo Domingo do Tempo Pascal nos introduz no Tempo em que celebramos a ressurreição do Senhor, como único e grande dia, que se estende desde o Domingo da Páscoa ao domingo de Pentecostes. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais ao Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, n. 22).

            Celebramos o domingo da Divina Misericórdia, instituído por São João Paulo II, e damos graças ao Senhor por seu eterno amor por nós, sempre disposto a nos perdoar, sempre que nosso coração arrependido volta-se para ele. Escolhi como lema de minha Ordenação Presbiteral, a quinta Bem-aventurança do Sermão da Montanha de Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7), justamente porque não obstante meus incontáveis limites, o Senhor me quis Sacerdote, tamanha Sua Misericórdia por mim! Como Tomé, exclamamos maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus”. Desde criança aprendi que a profissão da fé de Tomé seria a ideal, cada vez que fizesse a genuflexão diante do Cristo Sacramentado, seja na Hóstia Consagrada exposta, seja escondida no Sacrário. Por isso, quando coloco o joelho direito no chão, em sinal de adoração ao Senhor presente no mistério de nossa Fé, a Eucaristia, digo com a poesia de meu coração: “Meu Senhor e meu Deus”. Também quando ergo Jesus transubstanciado de um pedacinho de pão em Seu Corpo e de um pouquinho de vinho no Seu precioso Sangue, meu coração remete aos meus lábios a mesma expressão: “Meu Senhor e meu Deus!”

O primeiro encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos é marcado pela saudação feita por Ele: “A paz esteja convosco”. Por duas vezes o Ressuscitado deseja a paz a seus amigos. Em seguida, os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Buscar e construir a paz é missão dos seguidores do Ressuscitado, pois o Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz. Reino de Justiça, Paz e Alegria como frutos do Espírito Santo. O Apóstolo, amigo de Jesus, ressalta que a paz, para ser autêntica, deve ser trazida pelo Cristo. Uma paz diferente da paz construída pelos tratados políticos. Paz (é shalom) significa integridade da pessoa diante de Deus e dos irmãos. Significa também uma vida plena, feliz e abundante. Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da Paz” (Rm 15,33). Paz significa muito mais do que ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo o necessário para viver, convivendo felizes.

            A comunidade, que abre suas portas, acolhe o Senhor e o segue é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta da vida que, em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível com as situações desumanas em que vivem mergulhados milhões de seres humanos. “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e a anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade” (Documento de Aparecida, n. 134).

            O cristão isolado (ausente da comunidade) é vítima do egoísmo e exige provas para crer. É na vida da comunidade que encontramos as provas de Jesus que está vivo. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer a uma comunidade concreta, na qual se pode viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão. Por esta razão, a marca registrada deste Segundo Domingo da Páscoa é a , vivida em comunidade. É em comunidade que se realiza o encontro com o Ressuscitado e a experiência de uma vida nova.

Acolhamos o dom da paz e do Espírito que nos constitui em artífices de relações novas, reconciliadas e fundadas na justiça e na misericórdia.

            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler At 4,32-35; Sl 117(118); 1Jo 5,1-6 e Jo 20,19-31)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2021, pp. 67-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Páscoa - Abril de 2021, pp. 37-42.

PÉROLAS NA EDUCAÇÃO DE VALORES

 

Pe. Gilberto Kasper

pe.kasper@gmail.com

 

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

 

            O Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto, há 73 anos busca associar educadores e educadoras, que são verdadeiras Pérolas na Educação de Valores! Aproximadamente dois mil professores integram nosso Centro do Professorado Católico, que são Mestres inesquecíveis, pelos quais passaram milhares de cidadãos de nossa querida cidade e região. Quantos homens e mulheres, “fazendo a diferença” nas diversas áreas de nossa sociedade, usufruíram da nobre vocação à Educação de Valores de nossos associados!

            Ser assistente eclesiástico do Centro do Professorado Católico enriquece nosso ministério sacerdotal e enobrece nossa vocação, também, ao magistério. Baluartes da sabedoria, nossos professores dedicados à formação de pessoas em sua integralidade e não somente em habilidades técnicas, sempre procuraram discernir o que significa ser sábio do simplesmente ser sabido!

            O arsenal da sabedoria dos professores do Centro do Professorado Católico não consiste em proselitismo. Antes, forma pessoas capazes de transformar a sociedade à luz da ética, da cidadania em favor da dignidade humana. A luz que brilha no olhar, a doçura que balbucia dos lábios e a coerência que exala entre o que ensinam e vivem, são a identidade de nossos amados professores. Amam a vocação de educar e educam para o amor!

            Como sementes sob terrenos, os mais variados imagináveis, atuam no “silêncio”, quase que ignorados pelo prestígio ou reconhecimento de seus valores, competências, eficácia e influência positiva no caráter e na personalidade dos que têm o privilégio de aprender a “ser pessoas”. Gosto de pensar que o bem semeado pelos professores de nosso Centro do Professorado Católico emerge concretamente, embora nem sempre tenha merecido o devido e justo reconhecimento. Divulgam-se escândalos e “tapas” por conta de maior ibope; ignoram-se a dedicação, o carinho e a beleza de educar para a vida digna de milhares de professores que teimam amar a vocação ao magistério, sendo em nossa sociedade as verdadeiras Pérolas na Educação de Valores!

            Como seria edificante que o Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto fosse mais bem conhecido, para então ser mais reconhecido e amado por todos que almejam uma sociedade mais humana, justa, fraterna e solidária! Estar entre os amados Professores de nosso Professorado, significa enriquecer nossa capacidade de sermos mais sábios do que simplesmente sabidos!

            No próximo dia 11 de abril, completando 73 anos de fundação, nossa prece se remete a Deus com o coração agradecido a todos, desde Dom Manoel da Silveira D’Elboux, seu fundador, passando por Cônego Arnaldo Álvaro Padovani, que por longos anos serviu o CPC como Assistente Eclesiástico, chegando à Professora Lourdes Jorge e toda sua Diretoria, que sempre incansável, se dedica diuturnamente pela promoção dos mestres que integram a linda Família do Centro do Professorado Católico. Sintam a ternura de nossa proximidade na oração de todos os dias, especialmente naquele, em que nossa ação de graças toca de mansinho o coração misericordioso de Jesus Cristo, o Mestre dos mestres!