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sexta-feira, 31 de maio de 2013

HOMILIA PARA O NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis;

inclinai o vosso ouvido e escutai-me!” (Sl 16,6).

 

            “Estamos precisamente no início do mês de junho, mês de muitas festas: dia 7, celebramos a solenidade do Sagrado Coração de Jesus; depois teremos as festas juninas, pelas quais admiramos e celebramos alguns irmãos nossos, especialmente santificados pelo Espírito do Senhor: Santo Antônio, dia 13, Padroeiro de nossa Reitoria que neste ano celebra os 110 anos de sua abertura, carinhosamente conhecido por todos como Santo Antoninho, Pão dos Pobres, São João, o Batista, dia 24, São Pedro e São Paulo, dia 29, em que nosso novo Arcebispo Metropolitano, DOM MOACIR SILVA, recebe das mãos do  Santo Padre o Papa Francisco, o Pálio na Basílica de São Pedro, no Vaticano em Roma.

            Hoje, especialmente hoje, como todos os domingos, é festa. Grande festa, pois é domingo, dia semanal em que celebramos a Páscoa do Senhor e nossa Páscoa. Como, aliás, diz uma das orações do Missal: ‘Senhor, Pai santo, é nosso dever e salvação, dar-vos graças e bendizer-vos, porque, neste domingo festivo, nos acolhestes em vossa casa. Hoje, vossa família, reunida para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado, recorda a ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então, contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia’.

            O Senhor nos fala, quando são proclamadas as Escrituras. Somos convidados a alimentarmo-nos dela, comungando-a como comungamos o pão consagrado, que é Seu próprio Corpo dado a nós, tornando nosso coração seu ‘Porta-Jóias’, seu ‘Sacrário’ ou seu ‘Tabernáculo’. Que tal comunhão da Palavra e da Eucaristia continue ressoando aos nossos ouvidos e aquecendo nosso coração.

            ‘Contemplamos neste Nono Domingo do Tempo Comum o exemplo de fé deixado pelo oficial romano. Seu testemunho nos anima a celebrar e fortalece nossa caminhada neste Ano da Fé. Segundo o Papa Emérito Bento XVI, ‘a fé vivida abre o coração à graça de Deus, que liberta do pessimismo’, e o Ano da Fé pode ser compreendido como ‘uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: o evangelho e a fé da Igreja’.

            A nos une na escuta da palavra de Deus. Ela reconhece fronteiras e faz de muitos povos e grupos um só povo comprometido com o evangelho de Jesus.

            Somos convidados a rezar por todas as pessoas, e todas podem ter acesso à casa que é de todos, a Igreja. A fé não conhece fronteiras nem grupos étnicos ou religiosos. Para ser fiel a Jesus Cristo, é preciso fidelidade ao evangelho em sua essência’ (cf. Liturgia Diária de Junho de 2013 da Paulus, pp. 17-19).

            A Palavra nos coloca hoje frente a uma admirada e elogiada por Jesus. Que ? ‘A fé que não conhece fronteiras nem raças. Jesus Cristo e o Pai que ele veio revelar são os mesmos em qualquer parte do mundo. Pode acontecer que, como aconteceu com Jesus, encontremos mais fé fora que dentro de ambientes religiosos. Isso nos deve manter em atitude humilde e respeitosa. O respeito é devido também a quem não crê ou professa a nossa mesma fé. Temos em comum a mesma fé no Senhor morto e ressuscitado por nós, mas cada povo deve expressar a própria fé a partir de sua cultura e realidade’.

            Os que moram mais perto da Igreja não são necessariamente os que têm mais fé. Muitos cristãos tratam a religião como tradição de família ou forma de aparecer; mas no fundo do seu coração não acreditam, não dão crédito a Deus. Dirigem-se por seu próprio nariz, sem deixar Deus se intrometer nos seus negócios... Decidem por conta própria o que lhes convêm, Deus e religião à parte. E mesmo quando estão em apuros por interesse próprios. Diferente é a fé do oficial romano pagão, que usa a magnífica imagem tirada da vida militar para reconhecer o poder de Jesus e lhe pedir pela vida de seu empregado. Este pagão reconheceu em Jesus a presença do Deus da vida.

            Então poderíamos perguntar e nos questionar: Será que também hoje se encontra tamanha fé entre os que não pertencem oficialmente à Igreja, mas talvez no coração estejam mais próximos de Jesus do que nós? Não apenas os pagãos que ainda não ouviram o Evangelho..., mas os pagãos de nossas selvas de pedra, de nossa sociedade, que abafou o Evangelho a tal ponto que, apesar dos muitos templos, ela já não chega ao ouvido das pessoas. Tal que se diz ateu, talvez porque nunca encontrou verdadeiro cristianismo, ou tal que vive dissoluto, por ter sido educado assim; ou então, tal que busca Deus com o coração irrequieto de Santo Agostinho... todos esses não receberão maior elogio de Deus do que os cristãos acomodados?

            Graças a Deus que sua Palavra hoje nos faz tomar consciência disso. É muito bom para todos nós, cristãos, discípulos e discípulas de um Mestre muito especial, Jesus Cristo. É bom e libertador, porque nos ajuda a descobrir a riqueza dos outros, o modo como Deus se manifesta em todo o universo humano. É bom e libertador, porque aprendemos a dar mais valor a esse modo único no qual Deus se dá a conhecer em Jesus Cristo.

            Que o Espírito Santo de Deus e seu santo modo de operar nos ilumine, para sermos humildes e termos a admirável fé que teve o oficial romano, não judeu, portanto pagão, que generoso e solidário com os outros, foi capaz de ver, no ser divinamente humano, Jesus de Nazaré, a presença perfeita do Deus solidário, o Deus da vida” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 25-30).

            Insisto sempre comigo mesmo e com meus interlocutores, que nossa fé só amadurecerá na medida em que for comprometida com os valores essenciais ao cristão: amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz. A vivência em nossas Comunidades, Pastorais e Movimentos de uma madura, logo comprometida, só será verdadeira, na medida em que tivermos coragem de profunda conversão, coerência entre o que cremos e vivemos e bom senso, que nos incentive ao zelo e sensibilidade pastorais sempre!

Sejam sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler 1Rs 8,41-43; Sl 116(117); Gl 1,1-2.6-10 e Lc 7,1-10).

sexta-feira, 24 de maio de 2013

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações

o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai” (Gl 4,6).
 

            “Domingo passado, celebramos o dom do Espírito Santo sobre cada um de nós. Assim concluímos os cinquenta dias das solenidades pascais. Na Páscoa de Jesus e em nossa páscoa na dele, pudemos experimentar como Deus foi – e continua sendo – extremamente bom para conosco.

            Hoje, como que buscando vivenciar ainda mais intensamente a beleza de Deus, celebramos sua própria intimidade de amor e vida a se expandir para dentro da história da humanidade.

            Que bom estarmos reunidos, na Solenidade da Santíssima Trindade. Deus acabou de nos falar, pelas leituras bíblicas proclamadas. Deixemos, agora, que o Senhor nos explique o que ele nos disse: primeiro recordando, brevemente, o que Ele nos falou para, depois, mergulharmos mais fundo no mistério da festa deste domingo e, enfim, celebrá-lo bem na liturgia e no nosso próprio viver cristão do dia a dia.

            ‘Bendito seja o Pai, bendito seja o Filho unigênito e bendito o Espírito santificador. Somos todos acolhidos, amados e convidados a fazer parte da Família de Deus.

            O Espírito da verdade nos fala através da Palavra proclamada. Prometido por Jesus, ele nos leva a experimentar o amor de Deus, que nos conhece e nos ama desde toda a eternidade.

            A verdadeira sabedoria procede de Deus e precede a humanidade, é posterior a Deus e anterior ao universo, é inferior a Deus e superior ao mundo. O Espírito nos faz conhecer os planos do Pai celeste revelados em Jesus. Deus derramou seu amor sobre cada um de nós.

            Na Eucaristia damos graças ao Pai, por Cristo, no Espírito, pelas maravilhas da criação e principalmente por seu plano de salvação que continuamente nos reúne e atua em nossa vida” (cf. Liturgia Diária de Maio de 2013 da Paulus, pp. 90-93).

            Santíssima Trindade! Eis a riqueza inesgotável que a Igreja nos aponta para que saibamos onde Deus abre seu íntimo para nós: em seu Filho Jesus e no Espírito de Jesus que nos anima. Lá encontramos Deus, o encontramos não como bloco de granito, monolítico, fechado, mas como pessoas que se relacionam, tendo cada uma sua própria atuação: o Pai que nos ama e nos chama à vida; o Filho Jesus que, sendo bom e fiel até o dom da própria vida na morte de cruz, nos mostra de que jeito é o Pai; e o Espírito Santo, que ainda de outro jeito, fica sempre conosco. O Espírito atualiza em nós a memória da vida e das palavras de Jesus e anima a Igreja. Todos os três estão unidos e formam uma unidade naquilo que Deus essencialmente é: amor.

            Que bom seria se toda a humanidade tomasse consciência desta riqueza de vida e se conectasse com ela!... A saber, que somos, juntamente com todas as criaturas, totalmente permeados pela presença do amor criativo, ativo e unitivo da Trindade santa. Para além (ou aquém) das couraças e armaduras de nosso corpo pessoal e social, este amor trinitário está presente, fez de nós sua morada, seu espaço predileto. O problema é que nos identificamos facilmente com o efêmero de nossas couraças e armaduras, nosso ego, de tal modo que nos desconectamos da nossa essência, com tristes consequências: perdemos a unidade, nos fragilizamos, nos fragmentamos, nos tornamos inseguros, medrosos, desesperados, estressados, agressivos, amargurados, sem qualidade de vida pessoal e social.

            Sobretudo em nossos tempos, quando a humanidade tende a isso mesmo, à falta de qualidade de vida, decorrente do endeusamento do efêmero e transitório, temos que aprender a nos conectarmos sempre mais à essência de nós mesmos, isto é, à Trindade santa que nos habita. Então o mundo será melhor, com certeza.

            A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, feita união, comunhão e partilha. A partir dela, em conexão permanente com ela, é que seremos bons colaboradores dela para uma sociedade humana mais sadia” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 11-17).

            Como é interessante que haja tanta disparidade, desunião, inveja e competição entre cristãos, que se sentem filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, animados pelo Espírito Santo. Não causaria tamanha contrariedade uma tristeza profunda no coração do Senhor? Gosto de pensar a Santíssima Trindade como Comunidade Perfeita a ser acolhida, imitada, vivida e anunciada com a vida relacional dos cristãos, especialmente das Comunidades que celebram um mesmo mistério, cada um a seu modo, mas que nem sempre conseguem viver o mesmo mistério com a disponibilidade da conversão, da coerência entre fé e ação e, finalmente o bom senso.

            O amor com sabor divino que somente a pessoa é capaz de experimentar é o “ingrediente” principal da Santíssima Trindade: o Pai é o amante; o Filho é o amado e o Espírito Santo é o amor com o qual o Pai ama o Filho e no Filho, cada um de nós, criaturas prediletas feitas à Sua imagem e semelhança.

            Saibamos amar as pessoas com amor de sabor divino, e só assim transformaremos o mundo do desamor!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5 e Jo 16,12-15).

sexta-feira, 17 de maio de 2013

HOMILIA PARA SOLENIDADE DE PENTECOSTES

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

“O amor de Deus foi derramado em nossos corações

pelo seu Espírito que habita em nós, aleluia!” (Rm 5,5; 10,11).
 

            “O Domingo de Pentecostes (no qual desemboca todo o tempo pascal) recorda o Espírito Santo, dom do Pai, Amor de Deus derramado sobre nós, condição de nossa comunhão no Cristo Ressuscitado, fonte da transformação pascal de toda a realidade. Esta festa ativa em cada um de nós a vocação e a capacidade para o encontro, para  o amor, para a união, para a doação, como pede a aclamação ao Evangelho: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.

            No Pentecostes, o mistério pascal é celebrado como um todo (morte, ressurreição, ascensão, envio do Espírito).

            Neste dia, o mistério pascal atinge a sua plenitude no dom do Espírito derramado em nossos corações. Imbuídos deste mesmo Espírito somos capacitados para o anúncio da Boa Notícia, sem temer perseguições, nem morte.” [...]

            Devido à importância da Solenidade de Pentecostes, celebramos sua Vigília. A Palavra de Deus da Vigília de Pentecostes, “é uma mensagem que nos ajuda a superar as divisões e nos convida a saciar com a água viva oferecida por Jesus.

            As três grandes e permanentes tentações da humanidade acabam em desastre: a pretensão da subida acaba em queda; a concentração, em dispersão; o nome famoso, em infâmia (Ler Gn 11,1-9). Jesus é a fonte de água viva que sacia a sede da humanidade (Ler Jo 7,37-39). Temos os primeiros frutos do Espírito, que vem em socorro de nossa fraqueza (Ler Rm 8,22-27).

            Na Solenidade de Pentecostes o Espírito do Senhor desceu sobre nós e nos congregou na mesma fé e numa só família. O universo todo se rejubila conosco pela presença do Espírito criador e unificador.

            O Espírito de Deus, recebido no batismo, desafia-nos a falar a linguagem do amor, compreensível a todos, e assumir o compromisso proposto por Jesus.

            A comunidade santificada pelo Espírito fala de modo que todos entendem. A linguagem que todos entendem é a do amor com sabor divino. Quem descobre a capacidade do amor gratuito, nem precisa de palavras: basta amar e todo o resto acontece naturalmente. Isto é, falar a linguagem do amor divino significa esforçar-se por promover, quer bem, perdoar e ser sempre querido e terno nas relações humanas.

            A presença do Espírito, prometido por Jesus, torna a comunidade acolhedora e reconciliadora. Uma comunidade que não dá espaço para a ação do Espírito Santo torna-se estéril, fechada e incapaz de acolher, amar o diferente e muito menos perdoar. A comunidade que acolhe os dons do Espírito do Senhor, não é mera instituição engessada em normas, regimentos, funções e cargos, mas se gasta, consome-se por amar as pessoas com o amor proposto pelo próprio Cristo Senhor.

            Os dons recebidos do Espírito são para a edificação da comunidade. Não poucas vezes tentamos apropriar-nos do Espírito Santo ou considerar-nos plenos de todos os dons. Sabemos que o próprio Espírito Santo sopra onde quer. Nem todos somos portadores de todos os dons do Espírito Santo. Cada um recebe os dons de acordo com as suas qualidades que colocados a serviço da Comunidade, é que a edificam e não sacrificam como muitas vezes acontece. Há frequentemente pessoas nas Comunidades, que se sentem insubstituíveis, ou ainda aquelas que pensam que sem elas a Comunidade não sobreviverá. Uns querem fazer tudo, outros se comprometem muito pouco, o que empobrece a Igreja. Cada um deve saber o que faz melhor e enriquecer a Comunidade, consumindo-se por ela, gratuitamente” (Cf. Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2013, pp. 68-74).

 

            “A ação do Espírito manifesta no mundo a salvação de Deus, destinada a todo ser humano. O Espírito nos fortalece e anima a formar comunidades comprometidas em viver a unidade na diversidade. Ele nos conduz a permanecer em comunhão com o Senhor ressuscitado, deixando-nos envolver pela presença de amor e vida nova.

            O Espírito do Senhor nos liberta de todas as formas de opressões, de pecado, para vivermos fraternalmente como irmãos e irmãs. Como os discípulos, o Espírito nos plenifica da presença de Deus, capacitando-nos para sermos anunciadores da Boa Nova de Jesus. O Espírito age em nós e em toda a criação, que geme em dores de parto (Rm 8,22), aguardando a manifestação plena da salvação.

            As palavras do Papa Emérito Bento XVI nos ajudam a entender a ação perene do Espírito na Igreja e no mundo: ‘Pudemos assim constatar, com alegria e gratidão, que ela fala em muitas línguas; e isto não só no sentido externo de estarem representadas todas as línguas do mundo, mas também, e mais profundamente, no sentido de que nela estão presentes os mais variados modos de experiência de Deus e do mundo, a riqueza das culturas, e só assim se manifesta a vastidão da existência humana e, a partir dela, a vastidão da Palavra de Deus. Além disso, pudemos constatar também um Pentecostes ainda a caminho; vários povos aguardam ainda que seja anunciada a Palavra de Deus na sua própria língua e cultura’ (Exortação apostólica pós-sinodal, Verbum Domini, Brasília: Edições CNBB, 2010, p.12).

            Renascidos pela água e pelo Espírito, nos tornamos comunidade de fé, presença e prolongamento do Cristo ressuscitado na realidade bem concreta, sobretudo lá onde se faz mais necessário, pois assim como em Jesus, o Espírito é derramado sobre nós e nos envia para anunciar a Boa-nova aos pobres; para proclamar a liberdade aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor.

            Que nesta Solenidade de Pentecostes se cumpra em nós esta palavra de Escritura e nos faça missionários sem-fronteiras” (Cf. Roteiros Homiléticos da CNBB, N. 16).

            “A Festa de Pentecostes anima a Igreja a experimentar a presença e a ação do Espírito depois da ressurreição de Jesus até os dias presentes. É um (re)viver atual, pois aquilo que aconteceu com Jesus, no início de sua atividade messiânica, repete-se agora através da Igreja, na missão. O Pentecostes está para os Atos dos Apóstolos, como o batismo de Jesus está para os Evangelhos. O batismo de Jesus foi o Pentecostes de Jesus, o Pentecostes foi o batismo de Jesus.

            Com a força do Espírito Santo, buscamos descobrir as convergências necessárias para o anúncio e o testemunho do único Evangelho que é Cristo Senhor, como autênticos missionários e profetas, ungidos pelo Espírito.

            Com esta celebração, culmina a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, sentindo a verdadeira prática de um único Evangelho e um único Pastor(cf. Roteiros Homiléticos da Páscoa de 2013 da CNBB, pp. 72-79).

Que a Solenidade de Pentecostes nos anime a sermos verdadeiros discípulos e missionários de Jesus Cristo, Senhor de nossa vida! 

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo, 

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 2,1-11; Sl 103(104); 1Cor 12,3-7.12-13 e Jo 20,19-23)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

HOMILIA PARA A ASCENSÃO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Homens da Galileia, porque estais admirados,

Olhando para o céu?

Este Jesus há de voltar,

Do mesmo modo que o vistes subir, aleluia!” (At 1,11).

 

            “A celebração da Ascensão do Senhor não se restringe à recordação solene da volta de Cristo ao Pai, Ele que vai para o céu e senta à direita de Deus, mas é o momento em que se explicita o Filho como fonte do Espírito. Ele, junto de Deus, nos enviará aquele que manterá viva na Igreja a memória de sua Páscoa, configurando-a testemunha de seu amor por nós.

            Do mistério da Ascensão de Cristo participa toda a Igreja que, no mundo, continua sua missão guiada pelo Espírito do Senhor. Como peregrina do Evangelho, tem como horizonte aquele lugar que o próprio Filho ocupa na companhia de seu Pai. Deste modo, a liturgia de hoje dota de sentido a existência da comunidade dos fiéis.

            Em comunhão com todos os cristãos espalhados pelo mundo, celebramos a Ascensão do Senhor, como plenitude da Páscoa, cuja memória atualizamos na eucaristia. Assentado à direita do Pai, Jesus continua junto à humanidade.

            Despedindo-se fisicamente de seus seguidores, Jesus os convoca a dar continuidade à missão por ele iniciada e derrama sobre eles a bênção, sinal de sua presença contínua. Abramos o coração à luz da palavra de Deus.

            Ao se despedir, Jesus deixa aos discípulos a tarefa de continuar a missão que ele iniciou. Com a ascensão, Jesus conclui sua missão e inicia a missão da Igreja. Elevado ao céu, Cristo é a cabeça da Igreja e o Senhor da humanidade’ (cf. Liturgia Diária de Maio de 2013 da Paulus, pp. 43-46).

            O acontecimento da Páscoa é único e foi narrado de maneiras diversas. Ao morrer na cruz, Jesus, é, ao mesmo tempo, ressuscitado pelo Pai e entra numa vida glorificada que não conhece tempo nem espaço. No mesmo momento, Jesus dá o seu Espírito, o Espírito Santo (Jo 19,30b). Para mostrar a presença do Ressuscitado no meio dos seus seguidores, os evangelistas narram que Jesus se mostrou diversas vezes aos seus discípulos. Lucas quer frisar, especialmente, que Jesus está com Deus e manda a Força do Alto para a Igreja anunciar o Reino a todas as nações. Por que Lucas conta a volta ao Pai e a missão da Igreja numa narração em que Jesus foi levado ao Céu? Por estes relatos, os antigos quiseram manifestar a verdade sobre a Igreja: ela existe para que, movida pelo Espírito de Cristo, continue sua missão de mostrar a todos o Pai e seu Reino.

            A Ascensão nos recorda, portanto, que em Cristo o mundo foi assumido por Deus, abraçado por Ele. Recentemente, na remontagem do filme ‘Os miseráveis’, muitos puderam ouvir na boca do protagonista uma belíssima frase que resume tudo isso: ‘Quando amamos os outros, podemos ver a face de Deus’. E é isso que de fato ocorre quando os cristãos dedicam cuidado às pessoas. Permitem que o Senhor ‘apareça’, ‘se manifeste’ no mundo. Não é por qualquer motivo que, desde as origens, os cristãos se empenharam em socorrer os órfãos, as viúvas e os enfermos. Nestes era possível vislumbrar traços do mistério.

            Festejar a ‘volta’ de Jesus para o Pai, longe de entristecer-nos, nos alegra, pois se trata da festa da aprovação do Pai à experiência terrena de Jesus. É uma espécie de pronunciamento de Deus acerca do itinerário pascal de Jesus, reconhecendo-lhe finalmente como Filho com toda pompa e circunstâncias (isto literalmente, o que é óbvio pelas narrativas lucanas).

            Em toda celebração Eucarística, fazemos memória da ascensão do Senhor. Na maioria das orações Eucarísticas ela é recordada explícita ou implicitamente. A Ascensão junto com o Pentecostes são facetas de um só acontecimento que é a Páscoa de Jesus. Nós o desmembramos para melhor celebrar cada aspecto” (cf. Roteiros Homiléticos  da Páscoa de 2013 da CNBB, pp. 66-71).

            A Ascensão do Senhor nos remete ao compromisso de sermos a verdadeira Igreja do Senhor, que é essencialmente missionária e ministerial. Igreja que não é missionária não pode ser de Jesus Cristo.

            Gosto de pensar que “Homens da Galileia olhando para o alto”, nos dias atuais, são os bons cristãos, cumpridores de preceitos, os bons católicos que só ficam da metade da Igreja para trás, aqueles que não ultrapassam os Mandamentos da Igreja e o fiel cumprimento dos deveres. Ou somos uma IGREJA DO IR ao encontro das pessoas: aquelas que não vêm, ou porque não podem ou porque não querem, ou porque foram mal acolhidas, ou porque foram enxotadas, os pobres, os irmãos das periferias de nossas Paróquias, os enfermos ou que se desiludiram por conta dos nossos contra-testemunhos sejam eles eclesiais, comunitários, políticos ou sociais, enfim aqueles que tanto discriminamos, ou não somos a IGREJA MISSIONÁRIA DO SENHOR!

            Celebramos neste domingo da Ascensão do Senhor, o Dia Mundial das Comunicações. Nosso Papa Emérito Bento XVI pensou para este dia, em que agradecemos tantos meios de Comunicação que nos ajudam a anunciar a Boa Notícia do Evangelho de inúmeras maneiras, como tema: “Redes Sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”. Pessoalmente agradecemos a todos que divulgam nossa evangelização de modos tão diferentes: via Internet, Imprensa Escrita, Radiofônica e Televisiva.

            Comemoramos também o Dia das Mães. Em nossa Igreja Santo Antoninho, celebraremos a vocação à maternidade de todas as amadas mulheres que participam de nosso Espaço Cultural de Espiritualidade, bem como pelas mães enfermas, idosas, abandonadas pelos maridos, pelos filhos e pelas mãe que também desempenham o papel de pai, chamadas pela sociedade de “Mães Solteiras” e pelas mães presas e falecidas.

            Iniciamos, também, neste domingo a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, e a preparação para a Solenidade de Pentecostes. Sob o tema: “O que o Senhor exige de nós” (Mq 6,6-8) rezamos pela vinda de nosso já amado Pastor, Dom Moacir Silva, a fim de que cheio dos dons do Espírito Santo, venha ajudar-nos a sermos a Igreja do Ir, Missionária e Discípula do Senhor! Saibamos abrir-nos ao Espírito Santo, para que robusteça nossa fé, encoraje nossa missionariedade e atualize nosso discipulado!

            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, encontrando-nos na oração, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler At 1,1-11; Sl 46(47); Ef 1,17-23 e Lc 24,46-53).