Pesquisar neste blog

quarta-feira, 30 de março de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO PASCAL

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            O Segundo Domingo do Tempo Pascal nos introduz no Tempo em que celebramos a ressurreição do Senhor, como único e grande dia, que se estende desde o Domingo da Páscoa ao domingo de Pentecostes. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais ao Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, n. 22).

            Celebramos o domingo da Divina Misericórdia, instituído por São João Paulo II e damos graças ao Senhor por seu eterno amor por nós, disposto a nos perdoar, sempre que nosso coração arrependido volta-se para ele.  Escolhi como lema de minha Ordenação Presbiteral, a quinta Bem-aventurança do Sermão da Montanha de Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7), justamente porque não obstante meus incontáveis limites, o Senhor me quis Sacerdote, tamanha Sua Misericórdia por mim! Como Tomé, exclamamos maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus”.  Desde criança aprendi que a profissão da fé de Tomé seria a ideal, cada vez que fizesse a genuflexão diante do Cristo Sacramentado, seja na Hóstia Consagrada exposta, seja escondida no Sacrário. Por isso, quando coloco o joelho direito no chão, em sinal de adoração ao Senhor presente no mistério de nossa Fé, a Eucaristia, digo com a poesia de meu coração: “Meu Senhor e meu Deus”. Também quando ergo Jesus transubstanciado de um pedacinho de pão em Seu Corpo e de um pouquinho de vinho no Seu precioso Sangue, meu coração remete aos meus lábios a mesma expressão: “Meu Senhor e meu Deus!”.
O primeiro encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos é marcado pela saudação feita por Ele: “A paz esteja convosco”. Por duas vezes o Ressuscitado deseja a paz a seus amigos. Em seguida, os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Buscar e construir a paz é missão dos seguidores do Ressuscitado, pois o Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz. Reino de Justiça, Paz e Alegria como frutos do Espírito Santo. O Apóstolo, amigo de Jesus, ressalta que a paz, para ser autêntica, deve ser trazida pelo Cristo. Uma paz diferente da paz construída pelos tratados políticos. Paz (é shalom) significa integridade da pessoa diante de Deus e dos irmãos. Significa também uma vida plena, feliz e abundante. Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da Paz” (Rm 15,33). Paz significa muito mais do que ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo o necessário para viver, convivendo felizes.
            A comunidade, que abre suas portas, acolhe o Senhor e o segue é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta da vida que, em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível com as situações desumanas em que vivem mergulhados milhões de seres humanos. “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e a anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade” (Documento de Aparecida, n. 134).
            O cristão isolado (ausente da comunidade) é vítima do egoísmo e exige provas para crer. É na vida da comunidade que encontramos as provas de Jesus que está vivo. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer a uma comunidade concreta, na qual se pode viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão. Por esta razão, a marca registrada deste Segundo Domingo da Páscoa é a , vivida em comunidade, justamente no ANO SANTO. É em comunidade que se realiza o encontro com o Ressuscitado e a experiência de uma vida nova cheia da Misericórdia de Deus, revelada pelo próprio Vivo entre nós! No tempo da Páscoa, a comunidade cristã tem a oportunidade de aprofundar o evento da salvação, cuja memória desponta de modo pungente na liturgia desse tempo.
            Convém chamar a atenção para o fato de que a vida nova não está isenta de dificuldades. O cristão não é tirado do mundo pelos sacramentos que celebra, mas situado nele de uma maneira especial: como comunidade que aponta e evoca uma realidade nova, mostrando aos demais que a salvação alcançada em Cristo se realiza e se prolonga naqueles que aderem a Ele (). Pela comunhão com os irmãos, pela promoção da justiça e da libertação, pelo cultivo de utopias e esperanças de vida e de inclusão, a comunidade dos fiéis torna-se sinal da Páscoa, sinal da vida nova que Deus quer e preparou para todos. É possível enumerar vários acontecimentos que confirmam a convivência entre a realidade e a realização da Páscoa e os fatos e situações que indicam a direção contrária: violência, medo, fome, miséria, desastres, corrupção e maldade de todo tipo. Contudo, o fiel é chamado a ver além e através dessas realidades: a vitória de Cristo sobre a morte é também vitória sobre o pecado do mundo e seus efeitos. Os males que atravessam a nossa existência se tornam para os que veem, pela fé, sinais da realidade maior e melhor.
            Os sinais da ressurreição alcançam multidões e suscitam a fé. A palavra de Deus nos mostra que o Senhor é presença, permanente na comunidade cristã e ele nos deixa o dom da paz e da reconciliação.
            O movimento de Jesus vai crescendo graças a comunidades generosas e comprometidas. A comunidade fiel a Jesus vive e propaga a paz e a reconciliação. Jesus ressuscitado anima e sustenta a comunidade fiel a ele.
            Em tempos de ofertas religiosas de mercado, os espetáculos e as manifestações milagreiras tendem a desenraizar a experiência de Deus. Valem as “curas”, os choros, os arrepios, as emoções movidas por supostas adivinhações ou “revelações” misteriosas. Ninguém olha para as próprias feridas e para as feridas alheias para reconhecer a vida secreta que nelas habita. Os obstáculos e desafios não servem mais para fortalecer e serem abraçados como cruz do discipulado. São evitados. Aceita-se a indiferença, sem qualquer perspectiva de solidariedade, de profetismo, de luta em vista de uma transformação. A Páscoa nos convida para algo mais: para a luz que brilha na noite, para a palavra que recria, para vida que emerge das águas, para o pão que cria vida ao ser partido. A fé está enraizada na vida; na existência faz seu húmus. A ressurreição eleva aquilo que a encarnação assumiu.
            Acolhamos o dom da paz e do Espírito que nos constitui em artífices de relações novas, reconciliadas e fundadas na justiça e na misericórdia.
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
Ler At 5,12-16; Sl 117(118); Ap 1,9-13.17-19 e Jo 20,19-31.
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2016, pp. 20-23 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo Pascal (Abril de 2016, pp. 49-53.

MISERICORDIOSOS COMO O PAI!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

O Papa Francisco nos convocou a viver um “Ano Santo Extraordinário” no qual coloca em destaque a Misericórdia Divina. Ser misericordiosos como o Pai é um desafio e ao mesmo tempo é nossa vocação, pois fomos criados para ser “imagem e semelhança de Deus”. Celebraremos no Segundo Domingo da Páscoa, que encerra a Oitava da Páscoa, O Domingo da Divina Misericórdia!

                        A Misericórdia é um sentimento nobre, suscita compaixão e perdão; lembra a nossa miséria (miseri) e o coração (cordis) bondoso de Deus. Contudo, no pensamento hebraico, misericórdia também significa aquele sentimento que tem origem nas entranhas maternas (rahamin), semelhante àquele amor do pai que acolhe ao filho pecador e tem carinho com o filho mais velho que não perdoa o irmão. Ser misericordiosos como o Pai é também viver a fidelidade ao seu amor quando amamos e nos preocupamos com nossos irmãos.

                        Ser misericordiosos como o Pai num mundo violento e intolerante é um desafio que nos oferece a chance de apagar as chamas de violência e desrespeito que a vida e dignidade humanas têm sofrido ultimamente. Fanatismo, terrorismo, discriminação, intolerância são sintomas de uma sociedade sem inteligência que não sabe conviver com o diferente e com quem tem opiniões diferentes das que a mídia apresenta. Ser misericordiosos significa apresentar as condições para um diálogo franco e fraterno apontando soluções mediadas pela compreensão e por uma visão abrangente do mundo e da pessoa humana.

Misericórdia não gera resignação, apatia, desmotivação. Ao contrário, suscita esperança num modo de agir que não alimenta violência. A misericórdia alimenta o sentimento da bondade, da nova oportunidade ao passo que a violência mata as possíveis soluções para uma convivência pacífica. Misericórdia é o sentimento que cresce no coração dos que têm certeza que o outro é uma pessoa que merece outra chance, que precisa ser ajudada a se libertar das próprias escravidões e sentir-se novamente amparada por aquele sentimento amoroso que o pai dedicou ao filho mais novo que errou muito longe de casa. (Cf. Lc 15).

Ser misericordiosos não é o mesmo que ficar sentados de braços cruzados e esperar a banda passar, mas trabalhar em favor do bem, da verdade, da justiça e da fraternidade. Ser misericordiosos é também gritar em defesa da vida, é desmascarar as mentiras travestidas em propagandas enganosas que desrespeitam o direito do povo ser religioso e ter suas manifestações de fé; é também orientar para o bem os que andam iludidos pelo mal.

Ser misericordiosos é colaborar com a paz e torná-la realidade no meio onde vivemos; é praticar a caridade não por meio de discursos e sim pela atitude não discriminatória nem racista; é também entender Jesus Cristo quando diz “quero a misericórdia, não o sacrifício” (Cf. Mt 9,13).

(Em parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo de Mogi Guaçu – SP)

PÁSCOA COM SABOR DE MISERICÓRDIA

                O caminho em direção ao Calvário parece interminável.
                É num madeiro que Jesus carrega o peso de nossos pecados,
                principalmente os da arrogância, da prepotência, da inveja,
                da injustiça, do querer ser deus sobre os outros!

Aí vivemos o Ano Santo, o Jubileu da Misericórdia!

                O evento da loucura de Deus em oferecer seu próprio Filho
                em holocausto, por amar tanto a humanidade
                não termina na Cruz.
                Começa, na verdade, a partir do sepulcro vazio, rompido pelo
                mistério maravilhoso da Ressurreição do Senhor.
                O túmulo está vazio, e dele sentem-se os aromas da ressurreição!

                Nossa Páscoa deve ser um raio de luz, surgido do Ressuscitado,
                para iluminarmos a vida dos que confiam em nós,
                dos que nos amam, dos que amamos, com a loucura
                do próprio Deus por cada um de nós!

Com ternura, feliz e abençoada Páscoa!
Pe. Gilberto Kasper

quarta-feira, 23 de março de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação da festa, mas tem raízes na celebração da vigília dominical, presente na origem do culto cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é vigília à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.
            A celebração da Vigília Pascal consta de quatro momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.
            É verdade que, de modo bem semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-financeiro... Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que estamos a procurar entre os mortos Aquele que está vivo.
            Somente quando nos reconhecemos dentro da História da Salvação e percebermo-nos indissoluvelmente identificados com o Cristo morto-ressuscitado, ao recordarmos suas palavras, é que começamos a vislumbrar a Páscoa. É interessante verificar que o relato de Lucas, na bíblia, não termina com a admiração de Pedro voltando para sua casa. Na bíblia, segue-se com o episódio de Emaús – previsto para ser proclamado na celebração vespertina do Domingo da Páscoa – e na conclusão deste uma citação de que o Senhor havia se manifestado a Simão. Mas a Liturgia da Vigília, de maneira proposital, nos deixa com aquele mesmo suspense, com aquele mesmo ar de surpresa como se estivéssemos à espera da visita do Senhor, de maneira que ele se mostre para nós que, às vezes, só conseguimos perceber os indícios da morte, pois como Pedro vemos apenas os lençóis.
            Cristo Ressuscitou. Vida nova se inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre junto à nossa comunidade e a cada um de nós.
            Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: Jesus já não se encontra entre os mortos, mas está vivo e presente entre nós.
            Enquanto a humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o passo na busca dos objetivos. A presença do Ressuscitado provoca vida nova na comunidade.
            O texto de João que proclamamos, na celebração da Páscoa, conjuga o primeiro e o terceiro dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser humano. O Dia é uma imagem do ser humano. Portanto, dizer Dia do Senhor é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano redimido. O Dia é uma imagem do ser humano que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo. Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da carta de Paulo aos Coríntios.
            Esta experiência precisa encontrar lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade. Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã – o domingo era um dia para recordar a permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.
            Neste sentido, é fundamental reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como antífona no canto de comunhão: “Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade”. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em nossos dias, quer dizer, em nossa vida e em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio de paz.
            A Páscoa neste ano tem sabor de ANO SANTO – JUBILEU DA MISERICÓRDIA! A Porta Santa nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro vazio que emana o conteúdo de nossa acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!
 O Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós, sendo misericordioso como o Pai é misericordioso!
            Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de ternura, o abraço amigo e sempre fiel,

Padre Gilberto Kasper
Ler At 10,34.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9.

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2016, pp. 108-111 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tríduo Pascal e Tempo Pascal (Março de 2016), pp. 40-48.

TRIDUO PASCAL – OS TRÊS DIAS SANTOS

Pe. Gilberto Kasper*

Os três dias, que vão da tarde da quinta feira à tarde do domingo (Calendário Romano 19) constituem o tríduo “da morte, da sepultura e da ressurreição” do Senhor. Na origem, a sexta e o sábado foram caracterizados pelo jejum, o domingo pela alegria, sem que houvesse qualquer celebração a não ser a vigília. Desse ponto de vista, não se pode dizer que o triduo seja uma extensão da vigília. Ele constitui uma realidade essencial e pressuposta para que a noite pascal se revista plenamente de seu sentido: com efeito, ela é a passagem do jejum à festa, como foi, para o Cristo, a passagem da morte à vida.
A eucaristia da quinta feira santa, centrada na instituição do mistério e no lava-pés, tendo como fundo a tradição e a agonia é por si mesma bastante eloquente.
            A celebração não eucarística da sexta feira santa (Palavra, Oração Universal, Veneração da Cruz e Comunhão) tem por fim introduzir mais profundamente no mistério pascal e preparar a comunidade para a Vigília Pascal.
            No centro, acha-se a Vigília Pascal, que celebra toda a história da salvação, culminando na morte e ressurreição do Cristo. Ela comporta uma Celebração com o Rito da Bênção do Fogo Novo, a Preparação do Círio Pascal, a Proclamação da Páscoa, a Liturgia da Palavra e Batismal (com a renovação das Promessas Batismais) e a Liturgia Eucarística. É “a mãe de todas as Vigílias e Celebrações”!
            Nesta quinta feira santa, às 9 horas, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, concelebraremos a Missa da Unidade com a Bênção dos Santos Óleos, presidida por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva. É também nesta ocasião que os Presbíteros renovam diante do Arcebispo e do Povo de Deus reunido, suas promessas sacerdotais.
 Já em nossa Igreja Santo Antoninho, na Avenida Saudade, 202, nos Campos Elíseos, celebraremos o Triduo Pascal, iniciando na quinta feira santa às 19 horas as Instituições dos Sacramentos da Eucaristia, da Ordem e da Humildade (o Lava-Pés). A celebração da Paixão e Morte do Senhor será na sexta feira santa (Dia de Jejum e Abstinência e Coleta para a Conservação dos Lugares Santos) às 17 horas. A Vigília Pascal no sábado santo será às 19 horas. No domingo da Ressurreição do Senhor, celebraremos as Missas como de costume as 8 e 10 horas, seguindo a celebração dos Batizados às 11h30.
            Durante os dias da Semana Santa levaremos o Sacramento da Reconciliação aos nossos amados Enfermos e Idosos, que já não poderão participar das celebrações em nossa Reitoria. Assim, seremos para eles A Igreja do Ir! Desejamos a todos, com profunda ternura feliz e santa Páscoa!

            *pe.kasper@gmail.com

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

quarta-feira, 16 de março de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            É Domingo de Ramos. São os últimos passos da caminhada rumo à Páscoa. Com Jesus, caminhando rumo à Jerusalém, agora, com ele entramos na cidade, cenário onde se desenvolverão os grandes mistérios de nossa fé. Hoje, carregando ramos em nossas mãos, somos convidados a contemplar o Deus que, por amor, fez-se servo e se entregou para que o ódio e o pecado fossem vencidos e a vida nova triunfasse.

            Com o Domingo da Paixão do Senhor, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.

            Na celebração deste dia integram-se a entrada de Jesus em Jerusalém e a sua Paixão. A recordação solene da entrada de Jesus em Jerusalém começou no século V. Os cristãos de Jerusalém reuniam-se no monte das Oliveiras, às primeiras horas da tarde, para uma longa liturgia da Palavra. Em seguida, ao entardecer, dirigiam-se à cidade de Jerusalém, levando ramos de palmeiras ou de oliveiras nas mãos. Hoje, Domingo de Ramos, todos nós, exultantes, com ramos nas mãos, proclamamos que Jesus é o Messias, o Ungido. Ao recebê-lo com as palmas da vitória, damos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque compreendemos, na fé, o significado de seu último sinal quando ressuscitou Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida!”.

            Os ramos abençoados que levaremos para nossas casas, após a celebração, lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida. “Tais ramos devem ser conservados antes de tudo como testemunho da fé em Cristo, rei messiânico, e na sua vitória pascal”.

            Jesus vem a nós como rei humilde e servidor. A Palavra de Deus nos apresenta importantes aspectos da pessoa e da missão de Jesus: ele é o servo sofredor, aquele que se esvaziou a si mesmo, o justo, Filho de Deus.

            Jesus chega e entra em Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico. Como servo sofredor, caminha rumo à Paixão mediante um ato de total despojamento: “Embora de condição divina, Cristo não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo” (Fl 2,6). O Domingo de Ramos é marcado, de uma parte, pelo mistério, pelo despojamento e pela entrega total e, de outro, pelo senhorio e pela glória do Filho de Deus.

            O despojamento do Messias contrasta com a espontânea e entusiasta manifestação do povo. Alegre, a multidão louva a Deus por todos os milagres que tinha visto. O povo aclama a inauguração do novo tempo que privilegia os pobres. Novo tempo marcado pela humildade e ternura e não pela violência e pela força das armas.

            A manifestação popular causa medo aos que vigiam a ordem em nome da lei. Os fariseus estavam encarregados de vigiar o comportamento de Jesus. Diante de sua hipocrisia e falsidade, Jesus taxativamente rejeita seu pedido: “Eu vos digo: se eles se calarem, as pedras gritarão” (cf. Lc 19,40). Não há como silenciar certos acontecimentos, mesmo às vésperas do sacrifício da cruz. A manifestação festiva do povo anuncia o significado da palavra e da ação de Jesus. Ele alimentou a esperança de vitória, do bem, da vida na perspectiva dos planos de Deus.

            Os ramos abençoados para nós se transformam em sinais de compromisso com os crucificados de nossa sociedade. Em contrapartida, os poderosos preocupam-se e agitam-se.

            Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é deixar-se maravilhar na contemplação de um Deus a quem o amor oblativo tornou frágil. Por amor veio ao encontro e assumiu a condição humana, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu as investidas do tentador, temeu a morte, suou sangue antes de aceitar o projeto do Pai, mas mesmo incompreendido e abandonado, continuou amando. Desse amor brotou a vida em plenitude. Vida que Ele quis repartir com a humanidade até o fim dos tempos.

            Contemplar a cruz onde se revela o amor e a entrega do Filho de Deus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados nos dias atuais. Sobretudo os jovens que sofrem violência, que são explorados e excluídos; significa denunciar as causas geradoras do ódio, da injustiça e do medo. Significa empenhar-se em evitar que seres humanos continuem a crucificar seus semelhantes. Significa assumir a atitude de Jesus pela não violência, gerar novas relações de vida a partir da dinâmica do amor que conduz à ressurreição.

            Se durante a Quaresma fizemos o propósito de não falar mal de ninguém, o Domingo de Ramos que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo, é, frequentemente a língua felina, que mente, calunia, destrói a oportunidade de o outro crescer! Muitas vezes por pura inveja! É também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naquele que não tem o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e entreguemos, no espírito da Coleta da Solidariedade os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma. O resultado da Coleta será entregue integralmente na Cúria pelos Padres ou Colaboradores Paroquiais. Depois serão divulgados os mesmos em nosso Boletim IGREJA HOJE, para que todos saibam de nossa honesta generosidade. Numa das últimas coletas, fui procurado por um Agente de Pastoral de determinada Paróquia com a seguinte afirmação: Padre, eu entreguei na Coleta feita em minha Paróquia, três vezes o valor que foi divulgado. Como devo agir? Perguntar ao Padre onde ficou a Coleta? Ficar omisso? Se não puder fazer alguma coisa, fique sabendo, que não darei mais minha colaboração em nada de minha Paróquia. Eu mesmo farei minha caridade diretamente com quem precisa. Sei, que todo Padre honesto com Deus, consigo mesmo e com a Comunidade fica, como eu, profundamente envergonhado com tal situação! O que nos faz diferentes dos órgãos públicos que desviam verbas aqui e acolá? Não seríamos nós piores e muito mais desonestos? Sejamos desta vez, a exemplo de Jesus, despojados. Não utilizemos o arrecadado na Coleta da Solidariedade para benefício próprio, tornando-a Coleta da Desonestidade!

            Sejam todos muito abençoados e que a Semana Santa nos santifique em nossa fé. Com ternura, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Lc 19,28-40; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Lc 23,1-49)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2016, pp. 67-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Março de 2016), pp. 60-68.

COLETA ECUMÊNICA DA SOLIDARIEDADE!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

A ABERTURA DA SEMANA SANTA acontecerá no próximo domingo, dia 20 de março, quando na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, celebraremos no Átrio a Bênção dos Ramos às 8 horas. Logo a seguir caminharemos em procissão ao interior de nossa Igreja, para a Celebração Eucarística. Já na Missa das 10 horas teremos a Missa normal, com Bênção dos Ramos, sem, porém, a Procissão. Será na Santo Antoninho, na Avenida Saudade, 202, nos Campos Elíseos em Ribeirão Preto.

Com o DOMINGO DE RAMOS, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.

Os ramos abençoados que levamos para nossas casas, após a celebração, lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida.

Se durante a Quaresma fizemos o propósito de “não falar mal de ninguém”, o DOMINGO DE RAMOS que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo é, frequentemente a língua felina, que mente, calunia, difama, destrói a oportunidade de o outro crescer. Muitas vezes por pura inveja. Quantas vezes não suportamos que o outro seja melhor!


É também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naqueles que não têm o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e devolvamos, no espírito da COLETA ECUMÊNICA DA SOLIDARIEDADE os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma. O resultado da Coleta será entregue integralmente na Cúria pelos Padres ou Colaboradores Paroquiais. Ninguém terá o direito de reter qualquer centavo desta, que é a Coleta da Fraternidade. Não deixemos que nenhum “tráfico corrupto” desvie a coleta de sua verdadeira finalidade! Isso seria feio e grave pecado contra a justiça! CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE conta com nossa honestidade! “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Cf. Am 5,24).

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA SANTA DE 2016 - IGREJA SANTO ANTÕNIO, PÃO DOS POBRES

Domingo de Ramos – 20 de março – (Coleta da Solidariedade da CEF/2016).
08h00 – Bênção, Procissão e Missa dos Ramos no Átrio da Igreja.
10h00  – Missa com Bênção de Ramos, sem Procissão.

Segunda-Feira Santa – 21 de março
Atendimento domiciliar de Confissões aos Enfermos!

Terça-Feira Santa – 22 de março
19h00 – Via Sacra nas residências sob a responsabilidade das Pastorais dos Enfermos e Idosos. (Também durante o dia)

Quarta-Feira Santa – 23 de março
15h00 – Atendimento Espiritual aos Enfermos e Idosos pelo Padre.

Quinta-Feira Santa – 24 de março
09h00 – Missa da Unidade, Bênção dos Santos Óleos e Renovação dos Compromissos Sacerdotais, presidida por Dom Moacir Silva, Arcebispo Metropolitano na Catedral de São Sebastião.
19h00 – Instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e da Humildade (Lava-Pés).
20h00 – Vigília Eucarística.
Sexta-Feira Santa – 25 de março – Dia de Jejum e Abstinência.

                                    (Coleta para os Lugares Santos)
09h00 –   Manhã de Reflexão Silenciosa na Igreja Santo Antoninho.        
17h00 –   Celebração da Paixão e Morte do Senhor
                   Celebração da Palavra, Adoração da Cruz, Oração Universal e
                   Distribuição da Sagrada Comunhão.
                   “Dia de recolhimento e silêncio”

Sábado Santo – 26 de março – VIGÍLIA PASCAL – A Mãe das Vigílias!
19h00 – Bênção do Fogo Novo, Preparação do Círio Pascal, Proclamação da Páscoa, Liturgia da Palavra, Renovação das Promessas Batismais e Liturgia Eucarística!

Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – 27 de março.
8h00 – Missa Solene
10h00 – Missa Solene
11h30 – Batizados


Av. Saudade, 202 – Campos Elíseos – Tel.: (16) 3236-4410 - Ribeirão Preto – SP.

Pe. Gilberto Kasper - Reitor



“O nosso cordeiro pascal, Jesus Cristo, já foi imolado.
Celebremos, assim, esta festa na sinceridade e verdade” (1Cor 5,7s).

quarta-feira, 9 de março de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Neste Quinto Domingo da QUARESMA, somos convidados a reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos gestos e palavras de Jesus.
            A liturgia de hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.
            Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor de Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e “com as mãos repletas de pedras”.
            A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos ‘”justos”, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave que diz: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!
            Será decisivo repassar, durante este Ano Santo, a história da nossa fé que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade, com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao encontro de todos neste magnífico Jubileu da Misericórdia!.
            Com o encontro de Jesus com a mulher pecadora, somos convidados a acolher em nossa vida o amor e a misericórdia de Deus. Celebramos a eucaristia dispostos a transformar o orgulho em compaixão para com aqueles que atendem ao apelo à conversão. Se não for assim, nossas celebrações não passam de disfarce, hipocrisia e enganação. Isso deve irritar profundamente o coração misericordioso de Deus.
            As leituras nos revelam a ternura e a compaixão de Deus para conosco: realiza coisas novas para o povo e supera o legalismo frio e contraditório. A justiça de Deus, que nos vem por meio da fé em Cristo, é amor, misericórdia e perdão. Quantas vezes enxotamos pessoas que não consideramos dignas de celebrar conosco a Eucaristia? Ministros Ordenados repreendendo aqueles que ainda vêm às nossas celebrações... Agentes de Pastoral, os que se acham “certinhos” não raras vezes excluem pessoas que segundo seu juízo não correspondem às exigências legalistas de nossa Pastoral? Quem, a não ser o próprio Cristo é digno?
            Sempre é tempo de deixar o passado e lançar-se para frente com otimismo, em busca de vida nova. Quem não tiver pecado seja o primeiro a julgar e atirar uma pedra. Quando aceitamos Cristo Ressuscitado, tudo se transforma para melhor em nossa vida.
            Em cada Quaresma ressoa o apelo “corações ao alto”, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração. Tenho uma grande amiga que costuma dizer: “O passado já não me pertence mais. É preciso olhar para frente!” Não devemos relativizar as coisas, mas construir oportunidades novas, ajudando as pessoas a reerguerem-se depois da queda. Muitas vezes acontece o contrário: quando as pessoas ficam deprimidas por causa dos pecados, costumamos pisar nelas e afundá-las ainda mais na lama das consequências de seus pecados. Gosto sempre de pensar que: Perdoar não é esquecer, mas lembrar sem rancor! Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. Nem sempre encontramos o apoio para a construção de uma nova vida. Principalmente no mundo clerical e de nossas Comunidades, costumamos colar adesivos na testa das pessoas. Temos ainda muitas dificuldades de perdoar de verdade. Como fica difícil à pessoa que busca a sincera conversão, mudar de vida, quando há tantas pessoas que se rogam o direito de marcá-las negativamente, até mesmo espalhando mundo a fora os erros do passado de quem tanto deseja mudar seu presente e futuro. Um dos hábitos que abomino entre nós, os ministros do Perdão, é falar mal daqueles cujos pecados vieram à tona. Quase sempre, aqueles que jogam as pedras, têm pecados semelhantes ou até mais graves. Escondem-nos (seus pecados) atrás de quem foi descoberto e isso é terrível e diabólico.
            Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes. O que fazer para transformar a realidade em que estamos mergulhados?
            Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam “perfeitos e autossuficientes”. O que se considera justo não sabe perdoar. Quantas pessoas conhecemos, que são assim. Quantas experiências já se fizeram, especialmente entre quem busca cargos, funções, prestígios e poderes, pisando sobre a lama dos que algum dia erraram? “Devemos perdoar como pecadores, não como justos”. Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida do Homem Novo. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte do que o nosso pecado.
            A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Substituamos as pedras por gestos de partilha e de perdão. A Eucaristia é sacramento da misericórdia e do perdão divinos. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito.
            Que nossos exercícios espirituais de penitência quaresmal se transformem em frutos saborosos diante de Deus e de nossa Igreja. Não apenas o resultado dos mesmos, que será a Coleta da Solidariedade a ser entregue com senso de justiça no próximo domingo, mas nossa disposição e nosso esforço para perdoar àqueles que ainda esperam por nosso perdão. Nunca esqueçamos que o próprio Cristo nos adverte: “Não são sacrifícios, mas misericórdia que agradam o coração do meu Pai”!
            No próximo sábado, dia 19 de Março, celebraremos a Festa de São José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja! Interceda Ele por nossa Igreja!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14 e Jo 8,1-11)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2016, pp. 46-49 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Março de 2016), pp. 53-59.