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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


DIA DA BÍBLIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas,
procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão.
combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna” (cf. 1Tm 6,11-12).

            É o Senhor que nos reúne no Vigésimo-Sexto Domingo Comum do Tempo Litúrgico. Chamados a viver o amor, procuramos, na escuta da Palavra de Deus, entender e aperfeiçoar nossa vivência desse grande mistério. Na Celebração da Eucaristia, em que Cristo se entrega a nós, vamos ao encontro do Pão da Vida eterna, alimento para nossa caminhada. É o amor que nos reúne, para juntos elevarmos nossas preces e pedidos a Deus Pai.
            Chegamos ao final do mês de setembro, especialmente dedicado à escuta e à reflexão sobre a Palavra de Deus. Inspirada por ele, a Sagrada Escritura manifesta de modo primordial o imenso desejo do Pai de nos revelar o grande mistério da salvação.
            Neste domingo celebramos especialmente o Dia da Bíblia. A exemplo de São Jerônimo queremos aprofundar nossa compreensão da Palavra para vivenciarmos o chamado de Deus para vivermos na plenitude do amor.
            Veremos, através das leituras, que a perspectiva do futuro tem influência sobre o hoje e que a relação da pessoa com seus irmãos incide na vida definitiva na presença de Deus.
            Chamados a participar da eucaristia, o banquete da vida eterna, acolhamos o apelo que a liturgia deste domingo nos faz para passarmos da avareza para a partilha e do egoísmo para a solidariedade. Neste dia da Bíblia, a palavra de Deus abra os nossos olhos e ouvidos para vermos a realidade e escutarmos o clamor dos Lázaros sofredores de nossa sociedade.
            Não há maior insulto a Deus do que a indigência dos pobres ao lado do luxo dos ricos. Acolhamos com alegria a palavra da vida, que nos motiva a procurar os valores que constroem o reino e voltar nosso coração e atenção para aqueles cuja dignidade foi arruinada.
            O profeta Amós deixa um alerta à sociedade de consumo, que não se preocupa com a desgraça do povo. Na parábola do rico e Lázaro, Deus fez a opção pelos pobres. O cristão é convidado a estar sempre atento para não ser enganado por falsas seguranças ou falsas ideologias. Celebrar este dia da Bíblia é reconhecer a importância da palavra de Deus em nossa vida.
            Participar da Eucaristia é render graças ao Pai por nos ter ensinado como amar e agir para superar as injustiças.
            A liturgia da Palavra deste domingo nos chama a atenção para a forma como levamos nossa vida. A força com que são apresentados os acontecimentos, na parábola que ouvimos, nos convoca a avaliar a forma como vivemos e nos relacionamos com os irmãos. O critério para tal avaliação é o mandamento do amor.
            Escutamos ponderações semelhantes nas demais leituras de hoje. O profeta Amós chama a atenção para a prudência, a reflexão e o exame de consciência necessários à vida com Deus. O apóstolo Paulo reflete sobre a vivência em plenitude da Palavra de Deus e o cuidado com o objetivo a que fomos chamados: o amor.
            Como vivemos? Com que nos preocupamos? Mais ainda: com quem nos preocupamos?
            Através da figura do rico da parábola, Jesus nos ensina como a abundância dos bens materiais pode retirar a atenção de nosso verdadeiro plano de vida, aquele dito por Jesus no evangelho: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,30 ss.). Toda a vida de Jesus foi ocupada em demonstrar a necessidade do amor para viver, viver bem e viver para sempre.  A preocupação com os bens materiais, assim como o prazer em excesso, retiraram daquela pessoa sua humanidade.
            Ao nos atermos à figura do pobre chamado Lázaro, nos damos conta do grande amor de Deus, manifestado de especial forma pelo cuidado com os pobres e necessitados. Somos todos chamados a demonstrar diariamente nosso amor aos irmãos. O amor, essência de Deus em nossa vida, de fato, apenas pode ser vivido se nos ocupamos dele no trato com as pessoas. Na parábola, não tendo quem dele cuidasse, o pobre Lázaro recebe de Deus as bênçãos e a recompensa por sua vida de fé.
            Se, em sua vida, Lázaro, apenas e tão somente sofre as injúrias do mundo, ao ser chamado por Deus à vida eterna, é carregado pelos próprios anjos à Vida. Se era o sofrimento que o acompanhava anteriormente, muito maior será o cuidado de Deus para com ele na vida eterna.
            O pobre Lázaro caracteriza nossos irmãos flagelados pela Cultura do Consumo, esta que alimenta a arrogância, prepotência e autossuficiência dos ricos, cheios de si mesmos e que dispensam a graça de Deus. Ser rico não significa apenas ter posses, mas apoderar-se dos mais fracos, explorando-os, excluindo-os de suas relações tantas vezes ridículas, porque hipócritas. Ser o pobre Lázaro é estar sempre atento à vontade e à graça de Deus. É aquele que procura configurar-se com Jesus, perguntando-se sempre: O que Jesus diria? Como Jesus agiria diante desta ou daquela situação, especialmente onde nos falta a justiça e a promoção de maior dignidade humana em nossas relações familiares, religiosas, políticas e sociais?
            Saibamos responder com sinceridade e viver a coerência entre o que pensamos, rezamos, falamos e fazemos no dia-a-dia. Saibamos ser promotores de maior dignidade em relação aos que têm menos do que nós; aos que sofrem mais do que nós. Solidariedade e fraternidade são fundamentais para chamarmo-nos cristãos!
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Am 6,1.4-7; Sl 145(146); 1Tm 6,11-16 e Lc 16,19-31).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019, pp. 92-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019), pp. 32-36.

MINHA PRIMEIRA NOÇÃO DE CÉU!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Era domingo, Festa Litúrgica da Sagrada Família, Padroeira da Paróquia de Três Corôas (RS), onde fui batizado no dia 16 de junho de 1957 e crismado no dia 2 de novembro de 1959. Meu pai com 27 anos de idade, como Presidente do Conselho Administrativo Paroquial, passou o dia trabalhando na festa. O Pároco e meu pai cultivavam profunda amizade.
Minha mãe com 25 anos de idade também estava presente. Éramos quatro filhos: o mais velho com 6, eu com 4, o terceiro com 2 anos e minha irmãzinha, internada com uma enfermidade sem cura na época, com apenas 5 meses de idade. Ela faleceu no dia do enterro de meu pai.
Na manhã seguinte, dia 15 de janeiro de 1962, às 7 horas, meu pai cometeu suicídio. Disparou um único tiro no ouvido direito, que saiu no olho esquerdo. Minha mãe e nós três meninos estávamos na casa dos avós paternos. Meu pai deixou seu caminhão em frente ao atacado de cereais que possuía, subiu ao quarto do casal na residência sobre o mesmo atacado e disparou com seu revólver calibre 38. Seu sócio ao ouvir o tiro chamou meu avô paterno para entrarem juntos no recinto. Eu, sempre o mais curioso dos três corri atrás e assisti aquela cena em que socorriam meu pai todo ensanguentado. Levaram-no ao Hospital bem próximo de nossa casa.
Todo o povoado se concentrou em frente ao Hospital numa corrente de oração, sem naturalmente compreender por que meu pai cometera o suicídio, que na minha modesta opinião é o ápice do encontro da coragem com a covardia. Meu pai sobreviveu por 12 horas. Por volta de 16 horas recobrou a consciência e pediu para falar com minha mãe, meu irmão mais velho e o  padre. Segundo o próprio padre me contou anos mais tarde, meu pai balbuciou seu arrependimento e recebeu a então chamada “Extrema Unção”! Faleceu às 19 horas.
Quando minha mãe, minha avó paterna e minha tia (a irmã de meu pai) retornavam do Hospital, estávamos todos apreensivos por notícias. Quando meu irmão mais velho perguntou pelo pai, nossa tia apontou para um pôr de sol magnificamente indescritível de tão belo. O sol se despedia, debruçando-se sobre uma montanha rochosa que fica diante da casa de nossos avós. Ela nos disse: “Vejam como o céu se vestiu lindamente. Foi para receber o pai de vocês. Agora ele está lá, no colo de Deus, acariciado por Nossa Senhora”! Certamente gravado em meu subconsciente, ao alcançar a adolescência, ganhando minha primeira máquina fotográfica, passei a fotografar pôr de sol. De todas as minhas fotografias, as que mais me agradavam, eram as de pôr de sol. Com o passar do tempo descobri que naquele pôr de sol, me fora dado Minha Primeira Noção de Céu!
Durante o mês de setembro refletimos amplamente a prevenção ao suicídio. Quis minha história de vida, colocar-me em contato com a morte, que dói tanto, por meio do suicídio de meu amado pai. Ao longo de meu ministério presbiteral, acompanhei com profundo zelo e sensibilidade pastorais, as famílias que, como a minha, precisaram lidar com o suicídio. E não foram poucas. O suicídio não só mata quem se suicida. Mata também um porquinho de cada membro da família que se vê obrigada a entregar uma pessoa que ama com tamanha crueldade. Meu pai teve a graça do arrependimento e da Unção dos Enfermos. Continuo acreditando no dedo de minha tia apontando para aquele belíssimo pôr de sol, Minha Primeira Noção de Céu!



quarta-feira, 18 de setembro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


             Domingo é o dia do Senhor, o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou dos mortos e mudou para sempre o curso da história humana, oferecendo vida e esperança nova a quantos viviam nas trevas e na penumbra da morte. Esta é a razão pela qual os cristãos em todo o mundo se reúnem neste dia para louvar e agradecer a Deus as grandes maravilhas por Ele realizadas para nós.
            Nos reunidos no Vigésimo-Quinto Domingo do Tempo Comum para celebrar a Eucaristia, a mais completa de todas as ações de graças que se pode elevar a nosso Deus uno e trino.
            Em espírito de oração e ação de graças, nós nos reunimos para celebrar a eucaristia, sacramento da alegria e da salvação. Somos convidados a ser criativos e fiéis na administração dos bens que Deus nos confia. Seguir Jesus implica romper com a ganância e pôr os nossos recursos a serviço da construção da fraternidade entre todos.
            Diante da maldade e da injustiça, Deus sempre se põe ao lado do injustiçado. Sua palavra nos revela seu projeto salvífico de vida e dignidade para todas as pessoas e seu desejo de que todos se beneficiem dos bens da criação.
            Deus se põe ao lado do pobre e não aceita que este seja lesado. A opção por Cristo afasta a ganância e cria novas relações de justiça e fraternidade. Em nossas orações, devemos nos lembrar de todos e por todos rezar.
            A eucaristia é a reunião dos filhos e filhas na mesma mesa. Não podemos celebrá-la dignamente se dela excluímos alguém e não somos solidários com os que passam necessidades.
            A página do Livro da Profecia de Amós lança luz às palavras evangélicas. A ganância do mau administrador, a qual o levou a perder seu tesouro, não o constituído por dinheiro, mas o tesouro interior formado pelo bem praticado pelas qualidades advindas de uma vida reta, íntegra. Assim também, os comerciantes da época de Amós rompiam sua relação com Deus por não praticarem a justiça social, mas, ao invés, buscarem só vantagens pessoais.
            O Evangelho de São Lucas narrado neste domingo não é para ser compreendido com a razão puramente humana, mas com o coração cristão.
            A parábola mostra um mau administrador que não correspondendo à confiança de seu empregador, está ameaçado de perder o emprego, tendo que arcar com todas as penosas conseqüências desta situação. O que faz ele? Corrompe outros empregados, os levando a agir de modo tão desonesto quanto ele (Situação bem parecida com o mensalão, o petrolão, a Lava Jato e tantas verbas desviadas do bem comum, como escolas, hospitais, previdências em nosso País. Verbas que não chegam ao destino, mas seguem para bolsos corruptos. Prestações de Contas Públicas maquiadas que enriquecem alguns poucos, empobrecendo cada vez mais os menos favorecidos. Falcatruas em licitações desonestas e nem por último desvio de coletas e esmolas de nosso Povo bom e pobre, em nossas Comunidades Eclesiais. Sempre me pergunto: como pregar profeticamente contra as Injustiças Sociais, a Corrupção em nossos Governos, quando não fazemos diferente em relação às nossas Comunidades de Fé? Toda administração desonesta como desvio de verbas só acontece em grupo. Uma única pessoa necessita de uma multidão de coniventes, para que seja viável a corrupção. Assim, como no Evangelho, leva consigo, para a perdição um grupo de pessoas, muitas delas, não raras vezes, inocentes.). No entanto, porque o empregador elogiou o administrador desonesto? De fato, o que o empregador elogia não é a desonestidade, mas a prontidão com que o administrador buscou uma solução para seu problema, embora tenha sido a solução errada (É o caso dos numerosos Partidos Políticos, por exemplo. Uma vez partidário, deverá o indivíduo mesmo honesto, dançar a música que seu partido toca e nem sempre tal música é afinada com a ética e a justiça.). Ao final da narrativa, está a frase que conduz ao entendimento da parábola: “de fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Isso significa que, muitas vezes, aqueles que não assumem os valores evangélicos são mais ágeis, mais astutos em seu agir, do que nós que pretendemos ter assumido os valores cristãos e, no entanto, nos acomodamos, não procuramos mostrar ao mundo os caminhos de salvação.
            São Paulo, escrevendo a Timóteo, comenta sobre o não se fechar em si mesmo, abrir-se aos irmãos e rezar por eles. O pequeno trecho desta carta nos transmite todo o sentido e significado da oração cristã.
            Que a Palavra deste domingo nos lapide na relação com Deus, ajudando-nos a sairmos de nós mesmos, em relação aos outros, especialmente os que precisam mais do que nós. “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes”. A questão da fidelidade, principalmente nos bens perecíveis, na busca de poder, prestígio e cargos, será sempre um desafio para todos os cristãos, especialmente nas dimensões políticas, eclesiais e também sociais.  Não deixemos nossas carências afetivas atrapalharem nossa fidelidade em relação ao que o Senhor nos pede. Saibamos despir-nos de nossas pretensões egoístas e passageiras, deixando a graça de Deus agir em nós, cada vez mais de graça. Não compremos honras, títulos e elogios. Deixemos que as pessoas nos reconheçam bons, pela bondade que por elas vivemos. A bondade, quanto mais gasta pelos outros, mais abundantemente se nos é concedida!
Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Am 8,4-7; Sl 112(113); 1Tm 2,1-8 e Lc 16,1-13).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019, pp. 75-78 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019), pp. 27-31.

SOLICITAÇÃO URGENTE DE PROVIDÊNCIAS

O sinistro que incendiou parte da Sede da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas situada à Avenida Saudade, 222 nos Campos Elíseos desta cidade de Ribeirão Preto no dia 7 de setembro de 2019, imóvel tombado pelo CONPPAC desde 2009 juntamente com a Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, situada ao lado na mesma na Avenida Saudade, 202, igualmente tombada em conjunto com o imóvel em parte destruído, deixou a Igreja em situação de extrema vulnerabilidade. Se antes do incêndio a Sede da Academia aparentava abandono e deterioração, agora, passada mais de uma semana do incêndio, o local continua à mercê de vândalos que invadindo o local, levam objetos que não queimaram, provocando por inúmeras vezes os vizinhos a acionarem a Guarda Municipal.

Não bastassem janelas e portas abertas, há visivelmente paredes como o caso do oitão frontal da casa incendiada prestes a ruir e provocar acidentes contra transeuntes ou veículos que transitam pela Avenida Saudade.

Entendemos que os responsáveis pelo imóvel incendiado devam ser chamados à responsabilidade de isolá-lo e lacrá-lo urgentemente. Contamos com as Autoridades Competentes que tomem as devidas providências.

            Respeitosamente,
                                                                                                       Pe. Gilberto Kasper
                                                                                                             Reitor

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Alegrai-vos comigo,
Encontrei o que tinha perdido!” (Lc  15).

            Celebramos o Vigésimo-Quarto Domingo Comum do Tempo Litúrgico, ainda no Mês da Bíblia. Lembramos o trágico atentado das Torres Gêmeas de Nova Iorque, e os tantos outros que o seguiram até nossos dias!
            Apesar de nossas fraquezas e pecados, o Senhor não nos rejeita, mas, com amor e misericórdia, vem-nos ao encontro, como nosso Pai, quando dele nos afastamos. Alcançados e resgatados por seu Filho, somos convidados a abrir os lábios e o coração para o seu louvor.
            A Palavra de Deus nos assegura que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que o Pai se mostra sempre disposto a perdoar quando a pessoa decide retornar o bom caminho.
            Moisés intercede em favor do povo pecador e Deus continua se mantendo aliado na caminhada. Deus não se cansa de procurar o pecador e o que está perdido. Jesus veio ao mundo para reconciliar e salvar a humanidade e é ele que nos fortalece na missão.
            A página do Livro do Êxodo desenvolve em seu capítulo 32 a descrição da ruptura que o povo provocou em sua relação com Deus e a posterior renovação da aliança. O povo abandona Deus, mas Deus não abandona o povo. Moisés intercede junto a Deus pelo povo. Este texto prefigura, pois, a face do Deus misericordioso, desvelada por Jesus no Novo Testamento e tão belamente simbolizada nas parábolas da ovelha perdida e do filho pródigo. O amor misericordioso se sobrepõe e prevalece acima de todos os demais sentimentos.
            O evangelho deste domingo, pela narrativa de três parábolas, nos leva a refletir sobre a pessoa que se afasta de Deus. É fácil pensar que tais ensinamentos não dizem respeito diretamente a nós, que nos reunimos em comunidade de fé, oração e amor, elevando nossa ação de graças ao Pai.
            Afinal, se com este objetivo nos encontramos, formamos assembleia, não estamos afastados de Deus. Portanto, as três parábolas se referem a outras pessoas, talvez mais pecadoras do que nós... Contudo, se afastarmos esta idéia e voltarmos o pensamento para dentro de nós mesmos e fizermos uma breve retrospectiva de nossa vida de fé, o que descobrimos? Lá bem no fundo, nos vislumbramos como a moeda perdida, a ovelha desgarrada, o filho que sai da casa do pai.
            Na parábola da ovelha, ao encontrá-la, o pastor “alegre a põe nos ombros”. Fica bem especificada a liberdade do retorno. A ovelha não é agarrada à força, não está se debatendo. É apanhada com carinho e mansamente se deixa conduzir.
            A pequena história da moeda perdida trás duas ações marcantes da mulher, ao iniciar a busca: acender a luz e procurar cuidadosamente. Se estivermos perdidos, afastados do Pai, somos buscados com cuidado, não de modo brusco ou violento. Seremos reencontrados em Deus com a ajuda da luz que é sua própria Palavra.
            Da conhecida parábola do filho pródigo emerge inúmeros simbolismos. Esta parábola nos dá os sinais que compõem o rico Sacramento da Reconciliação. Os passos de uma boa confissão estão nela contidos. E então percebemos quão rica é a misericórdia de Deus para com quem lhe vira as costas, mas retorna, se converte, volta-se novamente para ele com humildade!
            São Paulo começa a carta a Timóteo com um agradecimento “àquele que me deu forças, Cristo Jesus”. A seguir, ele afirma ter encontrado o coração misericordioso de Deus.
            Finalmente somos convidados a refletir: a qual personagem, em se tratando da parábola de um Pai Misericordioso com dois filhos mais nos identificamos: ao pródigo, que deixou a casa do pai e voltou anos depois totalmente “rasgado” em sua dignidade, ou ao filho mais velho que não controlou sua inveja porque seu irmão mereceu a misericórdia, sendo acolhido de braços abertos?
            Não poucas vezes, em nossas Famílias, Comunidades de Fé, na Política e na Sociedade, encontramos “Irmãos mais Velhos”: aqueles que se acham “certinhos” e não admitem ou não compreendem a misericórdia de Deus, que permite a quem quer que seja, tenha feito o que o que for, uma nova oportunidade, a verdadeira reconciliação com o próprio Deus, consigo mesmo e com os irmãos!
            Aprendamos a ser mais misericordiosos do que duros juízes em nossas relações com os irmãos! Sintam-se muito abençoados no Senhor que é Vida, Perdão, Misericórdia e Reconciliação. Só quem faz a experiência de perdoar e acolher o perdão sabe o quanto é saborosa a bondade de Deus!
            Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex 32,7-11.13-14; Sl 50(51); 1 Tm 1,12-17 e Lc 15,1-32).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019, pp. 56-60 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019), pp. 22-26.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

FRASQUEIRA DE PARTEIRA!


Padre Gilberto Kasper Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Iluminado por uma colocação de Dom Angélico Sândalo Bernardino, gosto de comparar nossa existência a três partos. O primeiro parto é quando nascemos do útero materno. Nenhuma criança quer nascer. Mas ao nono mês não tem jeito, ela precisa nascer. Partir do útero da mãe, onde se sente segura, aconchegada e amada, especialmente quando planejada e desejada.
Eu nunca acreditei em cegonha. Mas acreditei em frasqueira de parteira. No bairro Liberdade na cidade de Novo Hamburgo (RS) onde cresci, havia uma parteira, a Dona Avelina. Ela levava consigo uma frasqueira. E de onde saída com sua frasqueira, nascia uma criança. Minha dedução: Dona Avelina levava as crianças às mães em sua frasqueira. Quando nasceu minha prima, lembro-me como se fosse ontem, a Dona Avelina deixou sua frasqueira sobre uma coluna na entrada da casa de minha avó e a chamou para o nascimento da criança. Até me aproximei, coloquei meu ouvido sobre a frasqueira para tentar ouvir algum balbuciar do bebê. Ainda não havia ultrassom e não se sabia o sexo da criança que estava por nascer. Num quarto escuro, junto à parturiente, somente as avós com a parteira participavam do parto. Os demais esperavam na sala da casa. A criança nem chorava. Mas a parteira lhe dava um tapinha na bunda, para constatar que nascera viva. Quando então a criança começava a chorar, todos na sala comemoravam a nova vida que acabara de nascer. E eu tinha convicção de que minha prima fora levada na frasqueira da parteira. Já hoje as crianças nascem chorando de susto da forte iluminação e dos obstetras e enfermeiras com máscaras nas sofisticadas maternidades.
Nosso segundo parto é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal. Neste primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, somos adotados como filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e nos tornamos seres divinizados, isto é, candidatos à santidade. Sim, porque santo é todo aquele que morrendo vê Deus como Ele é.
O terceiro e definitivo parto será quando nosso nome ecoar na eternidade e partirmos do útero da terra (vida terrena) à eternidade. É um parto dolorido aos que ficam e entregam a quem de direito, pessoas que amam, o próprio Criador. Este parto chamado de morte dói demais, mas é imprescindível para irmos diante de Deus que nos amou primeiro e nos quer em seu colo, acariciados por Nossa Senhora. Só o tempo ameniza a dor dos que devolvem a Deus seus entes queridos, que na gestação do útero da terra se lhes foram emprestados por algum tempo: para alguns mais e para outros menos! O importante é estarmos preparados para que o terceiro e definitivo parto seja o mais natural possível. E o que nos prepara para aquele derradeiro momento é amor que amamos!

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Quem não carrega sua cruz
e não caminha atrás de mim
não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).

            Como seria bom se retomássemos o Domingo como Dia do Senhor, promovendo, segundo sugestão do Santo Padre o Papa Francisco, uma verdadeira Cultura do Encontro. Encontro da Família, Igreja Doméstica, encontro com a Comunidade de Fé, Igreja dos Filhos de Deus reunidos em torno das Mesas da Palavra e da Eucaristia!
            Ao domingo aplica-se, com muito acerto, a exclamação do salmista: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: exultemos e alegremo-nos nele” – é o que nos dizia São João Paulo II, na carta apostólica “Dies Domini”.
            Repletos de alegria, portanto, nos reunimos neste Vigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum para louvar e bendizer nosso Deus e para pedir, “que a bondade do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos conduza”.
            Somos chamados a voltar nosso olhar para a cruz de Jesus, pois neste mês dia 14, celebraremos a festa da Exaltação da Santa Cruz. Ao iniciar a Santa Missa, lembramos que “nele, e por seu sangue, obtemos a redenção e recebemos o perdão de nossas faltas, segundo a riqueza da graça, que Deus derramou profusamente em nós, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência” (Ef 1,7-8).
            Jesus nos desafia a segui-lo, deixando de lado tudo o que não condiz com seu projeto. Decidir-se a caminhar com ele significa discernir e escolher, com sabedoria, os valores que fazem nascer a nova sociedade. Atentos à proposta do Senhor, somos chamados a estabelecer e assumir prioridades, colaborando para a construção do reino de Deus.
            Para penetrar os pensamentos de Deus, vamos abrir nosso coração à sua palavra, que nos dá a conhecer o que ele espera de cada cristão e o que nos é necessário para sermos fiéis seguidores de Jesus.
            A verdadeira sabedoria nos ajuda a discernir o valor de cada coisa. O seguimento de Jesus é exigente. O cristão é convidado a se empenhar em eliminar as desigualdades, discriminações e preconceitos.
            Com o pão e o vinho, ofertamos nossa vida e a vida de todos aqueles que deixam tudo para seguir Jesus na opção radical pelo evangelho.
            “Ser cristão é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, um caminhar juntamente com Jesus Cristo. Ir naquela direção que ele indicou e indica”. Assim ensinou o Papa Emérito Bento XVI, na homilia do Domingo de Ramos de 2010.
            O evangelho deste Vigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum nos chama a esse seguimento, a esse caminhar junto, participando da vida do Ressuscitado, como nos indica o Catecismo da Igreja Católica. O mesmo documento assim complementa seu ensinamento: os cristãos “seguindo a Cristo e em união com ele, podem procurar tornar-se imitadores de Deus como filhos amados e andar no amor, conformando seus pensamentos, palavras e ações aos sentimentos de Cristo Jesus e seguindo seus exemplos” (CIC, n. 618).
            Numa sociedade imersa em intensa crise de sentido, em que o vazio avança sobre o coração humano, é difícil entender e mais ainda assumir a proposta de vida mostrada por Jesus. No entanto, para aqueles que conseguem sair de dentro de si mesmos e vislumbrar a grandeza deste chamado, ele se torna entusiasmante.
            Podemos pensar que tal proposta diz respeito tão somente àqueles e àquelas que querem seguir o caminho cristão como presbíteros ou como membros de ordens religiosas. Eis uma idéia incompleta. Viver intensamente um ideal, no caso o ideal cristão, requer desapego, disponibilidade, doação de si. Contudo, tal forma de vida pode ser exercida, também, como leigo, como leiga. Como esposo e esposa. Como pai e mãe. Maria é exemplo disto. Ela assumiu uma família, foi esposa, mãe... Teremos algum ser humano de maior santidade do que ela em quem nos espelharmos?
            O desapego de que fala o evangelho de hoje está longe de representar um afastamento do mundo, um distanciamento do mundo tal qual ele é. Pelo contrário, para quem assume tal desapego, por estar assumindo a pessoa de Jesus, significa viver no mundo, inserir-se nele para transformá-lo, sem se deixar dominar “pelas coisas deste mundo”, pois “as coisas do alto” são mais valiosas (Cl 3,1).
            Acontece que hoje o ser humano está muito voltado para dentro de si mesmo. Por incrível que pareça, o primeiro “desapego” na opção pelo caminho de Jesus terá que ser o desapego de si mesmo. O soltar as amarras do egoísmo, do individualismo, para se abrir a Deus e consequentemente aos irmãos e às irmãs.
            Não poucas vezes nossa cruz a ser assumida para seguir coerentemente o projeto de vida de Jesus Cristo é uma pessoa, uma situação, uma perda ou até mesmo uma conquista. Lembro-me com emoção do Jovem de Londrina (PR), que durante a Vigília da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, na noite do dia 27 de Julho de 2013, testemunhou seu amor pela Igreja, pela vida e pela cadeira de rodas que ocupava, como sua CRUZ. Fora baleado na medula, quando tentaram roubar o dinheiro arrecadado para seu Grupo de Jovens participar daquela JMJ no Rio. Anunciou, também, diante do Papa Francisco e de quase três milhões de jovens sua outra CRUZ, dizendo-se Virgem e propondo-se como tal até o dia de seu casamento. Não houve um único ruído, sinal de deboche ou algo parecido: apenas lágrimas de emoção. Oxalá o Senhor também possa contar com nossa alegria, enquanto carregamos e anunciamos ao mundo o quanto é maravilhoso assumir nossa cruz e seguir com ela, Jesus!
            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 9,13-18; Sl 89(90); Fm 9-10.12-17 e Lc 14,25-33).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019, pp. 39-42 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019), pp. 18-21.