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quarta-feira, 28 de julho de 2021

POR UM TRÂNSITO MAIS HUMANO!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Com a pandemia vimos um aumento considerável de motociclistas transitando em nossas cidades. Entregas a domicilio e as orientações de trabalhos “em casa” triplicaram o trânsito de motos, até porque foi a maneira que muitos brasileiros encontraram, de sobreviver aos “fechamentos e aberturas daqui e dali” do comércio e escritórios. São pessoas, nas maiorias jovens, que merecem nossa consideração e nosso apoio, porque obrigados a mudarem seus hábitos e suas maneiras de garantirem “o pão de cada dia” com tamanho sacrifício e destreza. Antes de tudo, registro meu respeito e minha admiração pelos motociclistas que tomaram conta das malhas viárias de nossa cidade.



No entanto não pudemos deixar de observar o grande risco que os mesmos motociclistas representam para si e para os demais transeuntes de nossas ruas, e principalmente nos cruzamentos com semáforos. Exige de nós um maior cuidado, porque as motos vêm de todos os lados, sem muitas vezes, observarem as regras que se lhes são impostas pelas leis de trânsito. Ultrapassam pela direita, vêm sem que sejam observados pelos retrovisores dos motoristas de automóveis e aparecem tantas vezes do nada, costurando o trânsito para que cheguem o mais rápido possível aos seus destinos. Muitos deles não observam os sinais dos semáforos, passando em sinal vermelho, cruzando as vias públicas, sem observarem os sinais de “Pare”, utilizando sem necessidade a buzina ou xingando motoristas que na visão deles os ameaçam, simplesmente por seguirem a risca os sinais de trânsito, por eles nem sempre observados. Transitar pelas ruas, geralmente, muito bem sinalizadas, tornou-se um risco iminente para motoristas, motociclistas e nem por último pedestres.

Por causa da pandemia não foi possível realizar a bênção dos motoristas no ano passado e nesse, diante da Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos, evento ocorrido ao longo de dez anos, sob a intercessão de São Cristóvão, o Protetor dos Motoristas. Essa bênção sempre foi um grande apelo por um trânsito mais humano, civilizado, educado, respeitando, além dos sinais e das leis de trânsito, a pessoa transeunte do modo como se move pelas vias públicas da cidade. Sempre lembrando que “o trânsito de uma cidade, demonstra o grau de educação dos habitantes da mesma”! Mais uma vez fica a pergunta: “Somos um povo educado, civilizado”, ou nos comportamos como pessoas egoístas, violentas, agressivas, impacientes e mal educadas enquanto dirigimos nossos veículos de transporte, sejam esses automóveis, ônibus ou motos?

Ouvimos diariamente, pelas Redes Sociais, os números de pessoas ceifadas pela COVID-19, porém deixamos de observar os incontáveis óbitos causados pela imensa irresponsabilidade no trânsito de nossa cidade. Também não somos informados, ou mal informados, sobre o número assustador de pessoas, nas maiorias jovens, internados em nossos hospitais, muitos deles em estado grave, provenientes dos acidentes de trânsito. Quantos desses que ainda tinham algum trabalho passam a conviver com graves sequelas causadas por um trânsito tão perigoso, passando a depender de indenizações nem sempre razoáveis, engordando assim, a fila de pessoas com deficiências e dependentes de salários ínfimos da Previdência Social do País, já tão enfraquecida pelas demandas que lhe são impostas neste tempo de crise não apenas nacional, mas também mundial?

São Cristóvão proteja todos os motoristas, motociclistas e transeuntes de nossa cidade, incentivando-nos a todos, por um trânsito mais humano!

quarta-feira, 21 de julho de 2021

“ESTOU COM FOME”!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Constatamos um aumento assustador de pessoas em esquinas com semáforos de nossa cidade, com papelões nas mãos e a inscrição “Estou com Fome”. A maioria mal vestida, com aparência de extrema pobreza. É uma das “cortinas” que a Pandemia abriu, sugerindo a gritante desigualdade social entre nós. Algumas dessas pessoas são extremamente educadas e se demonstram compreensivas quando não atendidos em seus apelos de uma moeda. Já outras se parecem mais irritadas e até mesmo agressivas quando não obtêm êxito em seus pedidos. Já assisti automóveis sendo riscados por alguns outros, que transitam num piscar de olhos entre carros aguardando o sinal abrir.

Fico imaginando o perigo a que se expõem essas pessoas, podendo ser atropeladas por algum condutor desavisado, impaciente, apressado seja de carro ou de moto. Não assisti a nenhuma notícia de atropelamento nesses locais, até agora, graças a Deus!

Quando me vem a tentação de pré-julgamento à cabeça, de que tais pessoas sejam dependentes químicos ou alcoólatras, meu coração me avisa, de que  na aparência deles, pode-se contemplar a presença do próprio Cristo. E como deve ser então meu comportamento diante de situação caótica como essa? Ajudar com algum valor? Ter sempre algum dinheiro à disposição para evitar mexer em carteira e atrasar o arranque do carro na hora em que o sinal abre? Dizer que não tenho dinheiro à mão naquele momento? Ou simplesmente ignorar a pessoa que se aproxima com o papelão na mão ou a mão estendida? Não há outro jeito a não ser perguntar a própria consciência.

A questão parece ser muito mais profunda do que simplesmente resolver o que a consciência pessoal indica. Até que ponto sou eu o responsável por tamanha “enfermidade social”? De quem seria a responsabilidade? Como agir?

Conhecemos incontáveis iniciativas que amenizam a fome, o frio, as necessidades básicas das pessoas em situação de rua em nossa cidade. Muitas de nossas Comunidades de Fé com seus abnegados agentes de pastoral, de religiões diversas, vão ao encontro desses nossos irmãos, levando-lhes alimentos, vestuários, cobertores e produtos de higiene. Outras tantas Comunidades oferecem cestas básicas e têm milhares de famílias em situação de extrema vulnerabilidade. Há, também, iniciativas muito criativas de empresas, agremiações, da iniciativa privada, enfim. Ninguém duvida das demonstrações de solidariedade descobertas, especialmente em tempo de pandemia. O povo é profundamente solidário e fraterno. Sensível e não hesita em partilhar da própria pobreza para amenizar necessidades básicas que causam dor e indignação. Mas tais auxílios pontuais não resolve o problema.

Sabemos que somos um país rico. Nossa cidade também é considerada ricamente privilegiada. Porém, sabemos também, que a menor fatia do bolo dos orçamentos públicos, que só existem porque pagamos impostos, os mais altos, é destinada à Secretaria da Assistência Social. Haja criatividade para atender às demandas que crescem a cada inverno. A criatura humana continua sendo relegada a segundos, terceiros e quartos planos de políticas públicas desumanas. É também verdade que a maioria das pessoas que pedem nos semáforos, não aceita acomodação nas casas de acolhimento, quando abordadas pelos Servidores da Assistência Social.

Ao invés de esmola já passou da hora de juntos, encontrarmos soluções mais criativas que devolvam a dignidade das pessoas em situação de vulnerabilidade. Não bastam respostas imediatas e rasas à nossa consciência ou o que muitos chamam de “desencargo de consciência”. É urgente remetermos nossas sugestões de soluções criativas às OSCs (Organização da Sociedade Civil), levando-as mais a sério e colaborando para que consigam desenvolver seus Projetos Sociais com mais tranquilidade. Porque são elas, as OSCs, como o FAC – Fraterno Auxílio Cristão, por exemplo, que promovendo as pessoas em sua dignidade humana, que evitam ou pelo menos diminuem pessoas nos semáforos com os papelões nas mãos, dizendo: “Estou com Fome”!



quarta-feira, 14 de julho de 2021

AMAR OS ENFERMOS COM AMOR DE MÃE!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

Neste dia 14 de Julho comemoramos a Memória de São Camilo de Lellis, Protetor dos Profissionais da Saúde.  Recomendamos nossos amados enfermos à proteção de Nossa Senhora de Lourdes e nossos Agentes da Pastoral da Saúde à proteção de São Camilo.

            A mente humana compreende duas faculdades exímias: o intelecto e a vontade. Convém, desde logo, lembrar que o intelecto não se restringe à razão, ou seja, não procede apenas por argumentos ou provas lógicas ou empíricas, mas tem também uma capacidade de intuir a verdade. A mente humana nos proporciona, pois, a capacidade de conhecer e amar. Ou, olhando por parte do objeto, coloca-nos em contato com a verdade e com a bondade por parte do objeto, coloca-se em contato com a verdade e com a bondade dos seres, respectivamente.

            Nosso tempo de pandemia nos adverte contra o perigo de cairmos no objetivismo. Nosso relacionamento com o objeto envolve também sentimentos. E logo discernimos entre os objetos de nível físico, vegetativo, sensitivo e racional. Nosso relacionamento, ou seja, nosso conhecimento com os minerais, as plantas, os animais não pode ser o mesmo que temos com os homens e com Deus. No caso dos homens e de Deus, nosso relacionamento, que envolve conhecimento, vontade e sentimentos, é intersubjetivo. E essa característica envolve todo o nosso relacionamento com o universo, na medida em que o acolhemos de Deus e ele nos revela as suas maravilhas, tornando-se habitação e ambiente de vida para nós e nossos semelhantes. É o que nos ensina Saint Exupéry, no Pequeno Príncipe: a raposa, por não comer pão, não teria nenhum relacionamento com o trigal. Mas se for cativada pelo Pequeno Príncipe, lembrará as ondulações de seus cabelos e adquirirá um profundo e novo significado.

            Viver humanamente é realizar-se. É tornar-se pessoa. Isso se faz pelo relacionamento, que tem, na intersubjetividade, sua matriz. Sua atitude básica será a acolhida de cada pessoa, para que ela se sinta amada e realizada. Não é, pois, possível curar uma pessoa – de qualquer doença – sem levá-la à vivência de sua subjetividade, que resulta da intersubjetividade das pessoas que cuidam dela. Curar, no fundo, é demonstrar carinho, ir em socorro, tirar do isolamento, mostrando que ela não está a sós no combate à doença. Não conseguindo reagir com as próprias forças, há quem lhe venha em socorro. E isso deve ser feito humanamente, o que equivale a dizer, intersubjetivamente. A doença humana não se reduz a um fenômeno biológico. Envolve e afeta profundamente sua mente (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha da Saúde – Um Apelo da Bioética. Presscom, Porto Alegre (RS), 2008 pp. 29-30).

            Especialmente a Igreja, através de seus Ministros Ordenados e da Pastoral da Saúde, deve priorizar nas Comunidades de Fé, Oração e Amor, os Enfermos, que fazem de seus limites físicos e leitos de dor, o verdadeiro Altar do Sacrifício do Senhor. “São Camilo de Lellis nasceu na Itália em 1550 e lá faleceu em 1614. Fundou a Ordem dos Ministros dos Enfermos – os Camilianos. Alcançou picos sublimes de caridade, movido pela convicção de que todo enfermo é o Cristo em pessoa. Foi declarado patrono dos enfermos e dos hospitais. Impulsionados por seu admirável exemplo, comprometamo-nos a dedicar tempo e atenção aos doentes de nossas famílias” (cf. Liturgia Diária de Julho de 2021, p. 66). São Camilo de Lellis interceda por todos os acometidos pela COVID-19 e abençoe tantos quantos se dedicam a salvar vidas, os Profissionais da Saúde!



quarta-feira, 7 de julho de 2021

SEMPRE O MELHOR!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

           Inspirado por inúmeras homilias do Papa Francisco nas Celebrações Matutinas na Casa Santa Marta em Roma, rabisco hoje uma breve reflexão que o Santo Padre retoma incansavelmente! Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do "melhor". Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor dieta, a melhor operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho. Bom não basta. O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros para trás e que nos distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o melhor".

           Isso até que outro "melhor" apareça e é uma questão de dias ou de horas até isso acontecer. Novas marcas surgem a todo instante. Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece superado, modesto, aquém do que podemos ter. O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego. Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que falta conquistar ou ter.

           Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos. Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...) estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores salários.

           Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o melhor tênis. Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos. Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente. Se não dirijo a 140 Km/h, preciso realmente de um carro com tanta potência?

           Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da empresa?

           E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço de minha sala? O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o "melhor chef"? Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora existe um melhor e dez vezes mais caro? O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor cabeleireiro" da cidade?

           Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixados ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos. A casa que é pequena, mas nos acolhe. O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria. A TV que está velha, mas nunca deu defeito.

           O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os homens "perfeitos". As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, ou a pandemia não deixou, mas vai me dar a chance de estar perto de quem amo. O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me constituem. O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.

            Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso? Ou será que isso já é o melhor e na busca do "sempre melhor" a gente nem percebeu? O que essa terrível pandemia que nos surpreendeu a todos tem a nos ensinar, a não ser de que podemos ser felizes com bem menos, do que continuar correndo atrás do que consideramos “sempre o melhor”? Segundo Shakespeare, “Sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos”. E continuamos obcecados cada vez mais pelo que achamos ser “sempre o melhor”.