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quarta-feira, 28 de agosto de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, sois bom e clemente,
cheio de misericórdia para
aqueles que vos invocam” (Sl 85,5).

            Iniciamos com o Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum o  Mês da Bíblia, celebrando em comunhão com os estudiosos das Sagradas Escrituras e com nossos queridos irmãos e irmãs que participam de Estudos Bíblicos em nossas Comunidades.
O Senhor nos reúne para tomarmos lugar na ceia eucarística e partilharmos de sua intimidade e amizade, ouvindo sua palavra e recebendo-o como alimento. Somos convidados ao banquete do reino, onde não há privilégios, mas sim privilegiados: os empobrecidos, para os quais Deus prepara a mesa com muito carinho. A Liturgia deste domingo abra o nosso coração ao espírito do evangelho.
            As leituras nos conclamam a viver a humildade e a gratuidade, que nos fazem encontrar graça diante do Senhor, nos aproximam dele e nos tornam felizes participantes do seu reino.
            A verdadeira modéstia nos conduz a Deus e nos dá a consciência da nossa fragilidade e da necessidade de aprender com os outros. Modéstia e gratuidade são as condições para sentar à mesa com Jesus em seu reino. Com Jesus, temos novo modo de experimentar Deus.
            Na eucaristia, renova-se o gesto de humildade de Jesus: tornou-se pequeno entre os pequenos. Ao tomarmos lugar à mesa eucarística, recebemos o vigor e a força que vêm do pão partilhado.
            No Evangelho de São Lucas deste domingo, Jesus, convidado pelo fariseu, encontra naquele ambiente de festa pessoas que se consideravam umas melhores do que as outras. Cada qual queria superar seu vizinho em importância. Jesus, ao ver tal situação, toma uma atitude para levá-los a refletir sobre o que é realmente importante, sob a ótica misericordiosa de Deus. A parábola contada por Jesus deve ter chocado a todos, pois ela se contrapõe àquilo que os fariseus consideravam socialmente certo. Jesus lhes diz que aqueles que se consideram “os tais” cairão do alto de seu orgulho e ficarão envergonhados ao perceberem que seu lugar é o menos importante. Mais ainda, Jesus diz que os melhores lugares estarão reservados aos que são autenticamente humildes. Por que isto? Porque os que se consideram grandes, os maiores e melhores são pessoas “cheias de si”, como se diz comumente. Elas estão com o espírito de tal modo repleto de orgulho e autossuficiência que, em seu interior, não sobra espaço para praticarem as virtudes evangélicas, especialmente a caridade. A festa a que Jesus se refere, com certeza, não é uma festa como as que realizamos em datas comemorativas. Jesus se refere à grande festa que acontecerá no céu ao final dos tempos. Nela, os convidados não serão nem os orgulhosos, nem os autossuficientes, nem os egocêntricos. Para ela, receberão convite os mais humildes, simples, que reconhecem sua fraqueza e se deixam guiar pela mão de Deus; os que se reconhecem simples e humildes e por isso são capazes de olhar seus irmãos.
            São Paulo nos fala desta festa celestial, reunião festiva de milhões de anjos, dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição. Obviamente, o caminho da perfeição não será o seguido pelos orgulhosos fariseus, mas o trilhado pelos humildes. Na própria resposta que damos à Palavra proclamada, dizemos isto a nosso Deus: “com carinho preparaste esta terra para o pobre”. No entanto, em muitas outras situações, ele próprio vivenciou aquilo que disse. Jesus é nosso modelo de humildade e doação. Qual humildade pode ser mais forte, mais autêntica do que a praticada por alguém que, embora sendo de condição divina, tornou-se humano como nós, tornou-se um conosco?
            Fica-nos ainda a lição do livro do Eclesiástico: encontraremos graça diante do Senhor, ao praticarmos autenticamente a humildade, pois o Pai escolheu os humildes para a eles revelar seus mistérios.
            Só quem é humilde sabe o quanto é bom ser humilde. Muitas vezes nos deparamos, em nossas Comunidades, com a arrogância, a prepotência, o abuso de poder, cargos e funções. Quantas vezes, dizemos não aos mais simples, mas fazemos a chamada Pastoral da Amizade, dizendo sim aos que nos são convenientes? Saibamos rever nosso zelo e nossa sensibilidade pastoral. Não nos roguemos o direito de julgar, mas saibamos acolher, ouvir e inserir na Comunidade todos que nos buscam!
            Quando o Papa Francisco falou do clericalismo, referia-se aos nossos esmerados e queridos Agentes de Pastoral. Embora trabalhem incansavelmente, nem sempre são suficientemente humildes e acolhedores. Daí surge a Pastoral da Exclusão! Quando o Santo Padre falou de carreirismo, referia-se aos Ministros Ordenados que gastam suas energias na busca de poder, cargos, funções e prestígio, mesmo que, para alcançarem isso, tenham que “subir às custas dos erros dos outros”. Coisa feia! Devemos ser porta-vozes da misericórdia de Deus e, antes de julgar os outros, entrar aos porões de nossa própria intimidade, onde certamente encontraremos muitas coisas a serem mudadas. Sejamos Anjos uns dos Outros e não meros juízes!



Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67(68); Hb 12,18-19.22-24 e Lc 14,1.7-14).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2019, pp. 19-22 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2019), pp. 14-17.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Os últimos serão os primeiros
e os primeiros serão os últimos” (cf. Lc 13,30).

            A Palavra de Deus deste Vigésimo Primeiro Domingo Comum do Tempo Litúrgico nos coloca diante de Jesus Cristo, que nos ensina a desinstalar-nos de nossas eventuais e possíveis autossuficiências para vivermos melhor a proposta do Reino de Deus e, assim, sermos felizes, fazendo felizes os outros.
            São poucos os que vão ser salvos? Muitos cristãos vivem com esta pergunta martelando em sua cabeça e afligindo seu coração, pergunta, às vezes, inculcada por pregadores insensatos.
            O Senhor nos reúne para a celebração da eucaristia, que nos educa no caminho de Jesus. Mas não basta comer e beber na sua presença; somos chamados a passar pela porta estreita que conduz ao banquete do reino.
            Acolhamos a palavra de Deus, o qual chama todas as pessoas para formarem um povo santo que caminhe na justiça, instruído por seus ensinamentos, e que participe do banquete festivo do reino.
            O profeta Isaías convida todas as nações a ver e proclamar a glória de Deus. Deus prepara o banquete para todos; para entrar, porém, não basta somar rezas, é necessária a prática da justiça. Todos precisamos passar pela escola de Deus e aprender a resistir e perseverar.
            Oferecendo o seu Corpo e Sangue em alimento, Cristo nos torna todos irmãos e irmãs na fé. Apresentemos a Deus a vida e a missão de todos os que assumem algum ministério ou serviço na comunidade, especialmente os incontáveis Catequistas e Agentes de Pastoral.
            Jesus hoje nos alerta que salvação é para todos, vindos de todos os lados, dos quatro ventos, de perto e de longe. Só não é para aqueles que se fecham na sua autossuficiência e nos presumidos privilégios. A página do Livro do Profeta Isaías lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo da Aliança a todas as nações. Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a autossuficiência.
            Isso leva, a nós, cristãos, a pensarmos! Existem muitos cristãos instalados, que se sentem seguros fazendo formalmente tudo o que lhes foi prescrito, mas não assumem com o coração aquilo que Jesus deseja que façam, sobretudo o incansável amor ao próximo. Eles ficarão de fora, se não se converterem, enquanto outros, considerados pagãos, vão encontrar lugar no Reino. Aqueles que só servem a Deus com os lábios e não com o coração e de verdade, o Senhor não os conhecerá!
            Numa palavra, o Reino exige desinstalação. Exige busca permanente daquilo que é realmente ser cristão: não apegar-se a fórmulas farisaicas, mas entregar-se a uma vida de doação e amor, que sempre nos desinstala. Então a questão não é se poucos ou muitos vão ser salvos. A questão é se estamos dispostos a entrar pela porta estreita de desinstalação e do compromisso com os que sempre foram relegados. A questão é se abrimos amplamente a porta de nosso coração, para que a porta estreita se torne ampla para nós também. Deus não fechou o número. A nós cabe nos incluirmos nele.
            Nosso amado Papa Francisco insiste numa Cultura do Encontro, capaz de superar  e de extirpar de nossas relações familiares, eclesiais, políticas e sociais, as Culturas do Consumismo, do Carreirismo, do Prestígio a todo custo, da Conveniência e da Conivência com as inúmeras injustiças sociais a que somos acostumados. Não basta ser um “Católico Certinho”, aparentemente apenas. É preciso algo mais: o compromisso com a promoção da Dignidade Humana. Despir-nos de nossa arrogância que nos leva, facilmente, a emitirmos juízos sobre o comportamento dos outros, e olhar mais para os porões de nossa intimidade, que não poucas vezes cheira mal. Tal conversão é um exercício contínuo e muitas vezes dolorido. Mas se não nos configurarmos com Jesus Cristo na relação com nossos irmãos, não passaremos pela porta estreita. Iniciemos hoje mesmo a dieta que nos emagreça de nossa prepotência, achando que somos melhores, porque damos o dízimo, comungamos sempre e até ocupamos algum cargo ou função nesta vida. Se não estivermos sempre dispostos a promover a Cultura da Vida, de nada terá adiantado o mero cumprimento de preceitos!
            Sejamos agradecidos aos tão queridos e esforçados catequistas e vocacionados para os vários ministérios e serviços na Comunidade. Lembremos hoje, especialmente, de que a Igreja de Jesus Cristo é toda ela, missionária e ministerial, ou não é Sua!

            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 66,18-21; Sl 116(117); Hb 12,5-7.11-13 e Lc 13,22-30).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2019, pp. 90-93 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Agosto de 2019) pp. 10-13.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA




Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Felizes aqueles que ouvem a
Palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11,28).


            Celebramos no Vigésimo Domingo do Tempo Comum uma das festas mais populares e consoladoras dedicadas à Virgem Maria: Assunção de Nossa Senhora!
            Cantamos as maravilhas que Deus realizou em Maria, exaltada acima dos anjos na glória junto a seu Filho Jesus. A páscoa de Cristo se realiza nos corações e comunidades que, a exemplo de Maria, se abrem à palavra de Deus e formam família com o Ressuscitado.
            Elevada ao céu, Maria intercede por nós e nos espera para que desfrutemos de sua companhia. Celebramos em comunhão com os vocacionados à vida consagrada: religiosos e consagrados seculares, que a exemplo de Maria, dão seu sim generoso ao projeto de Jesus.
            Mulher revestida de honras e glórias, Maria reconhece, agradecida, as maravilhas que Deus nela realizou em favor do povo. Ela é o grande sinal da nova humanidade redimida pelo seu Filho.
            Maria assunta ao céu é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória. Em Maria, humilde serva do Senhor, Deus tem espaço para operar maravilhas. A vitória de Cristo sobre a morte é símbolo também de nossa vitória.
            Maria já participa do banquete do reino com seu Filho. Quanto a nós, na eucaristia nos é concedido antecipar a alegria que o Pai reserva a todos os que são fiéis a Jesus.
            É a partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte que nós contemplamos Maria toda gloriosa no céu. Vemos como o próprio Evangelho coloca na sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus que, na vitória de Jesus, realizou uma tríplice inversão das falsas situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra de Cristo:
            No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas, confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, erguem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.
            No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem discriminações...
            No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos.
            A festa de Nossa Senhora da Assunção representa uma injeção de ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos na fé e na caridade rumo à pátria definitiva. Nela celebramos a esperança de estarmos todos juntos, um dia, com Maria, participando da festa que no céu nunca se acaba, a festa da total e definitiva libertação.
            Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria também é Mãe da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.
            Para os tempos de hoje, no momento histórico em que vivemos, a contemplação da serva gloriosa pode nos trazer uma luz preciosa.  Que seria a humilde serva no século 21, século da publicidade e do sensacionalismo? Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é um sinal de esperança para os pobres. Sua história joga também uma luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, duplamente oprimida, Maria é a mãe libertadora.
            Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é figura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o Poderoso opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das comunidades que lutam contra os dragões que procuram roubar-lhe as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua maternidade e mais ainda pela prática da Palavra participa da vitória de Cristo, primícia da vida em plenitude. O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo irá se tornando realidade concreta se formos cidadãos conscientes e responsáveis.
            Reunimo-nos, neste domingo, com Maria para proclamar as maravilhas operadas em nós pela morte e ressurreição de Jesus. Desta forma, iniciamos mais uma semana que, com a graça de Deus e proteção de Maria, será uma semana de paz, abençoada.
 Nossa Senhora Assunta ao Céu nos enche de esperança por um Município Melhor e um País mais Justo, menos corrupto e mais ético, que promova e zele por todos!
            Nada mais justo que Jesus acolhesse de corpo e alma Sua Mãe, a Virgem Maria, na feliz eternidade, uma vez que, totalmente Imaculada emprestou seu útero, a fim de que se tornasse o porta-jóias do próprio Deus, feito pessoa. Penso que o grande convite desta festa, é que cada um de nós se sinta, igualmente, o porta-jóias, o sacrário, o tabernáculo de Jesus Sacramentado, bem como no semblante do irmão, preferencialmente no rosto triste, enrugado, sofrido, desolado e desesperançado. Enfim, celebrar, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, para nós é celebrar novo ânimo, nova esperança e novas perspectivas de um mundo mais humano e fraterno.
            Que todos sintam as carícias da bênção materna de Nossa Senhora Assunta ao Céu! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44(45); 1Cor 15,20-27 e Lc 1,39-56).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2019, pp. 67-73 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Agosto de 2019), pp. 7-9.  

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A vida é uma caixinha de surpresas. A toda hora somos surpreendidos pelo inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente preparados, sobretudo para as situações desagradáveis ou, eventualmente, até dramáticas da vida. Por isso nos reunimos todos os domingos com nosso melhor mestre, o Senhor Jesus, para ouvir e assimilar dele a verdadeira sabedoria para viver a vida com perene sentido.
            O espírito da liturgia deste domingo quer suscitar em nós o espírito de constante vigilância e serviço, tendo o coração voltado para Deus. O reino que ele nos oferece por meio de seu Filho é o verdadeiro tesouro que os ladrões não roubam nem a traça corrói. Com confiança e fé celebramos em comunhão com os pais, no dia a eles especialmente dedicado.
            Com os olhos da fé, a palavra de Deus nos convida a avaliar nossa caminhada e a nos manter sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor, buscando em tudo a sua vontade.
            A vigilância de Israel na noite da libertação é modelo para todo cristão até a libertação final. A comunidade, pequeno rebanho, precisa estar sempre vigilante e pronta para o seu Senhor. A fé é a força dinâmica que projeta ao futuro a vida do cristão.
            A Eucaristia nos leva a partir o pão juntos. Neste dia oferecemos, com o pão e o vinho, a vida e a missão dos pais, responsáveis por manter a família unida e fraterna.
            É bom nos conscientizarmos de que o fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da libertação encontrou os israelitas preparados para saírem – como lemos na página do Livro da Sabedoria -, e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada de seu patrão – como lemos no Evangelho de Lucas.
            Devemos preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não tem filhos. Assim como os antigos judeus colocavam sua esperança de sobrevivência nos seus filhos, estas pessoas a colocaram na sociedade do futuro. É nobre. Mas será suficiente?
            Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Ali a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na terra.
            Para a cultura judaica, quanto maior o número de filhos, maior significava a graça de Deus. Em nossos dias, quanto maior o número de filhos, maior parece ser a desgraça. Tenta-se a todo custo controlar a natalidade, ao invés de planejá-la. Como não se investe o suficiente em educação, saúde, sanidade básica, oferecendo oportunidades aos cidadãos, jogam-se “migalhas” para que sobrevivam. Refiro-me às tais bolsas família, escola entre outras. Para o tal controle da natalidade, aprovam-se leis e medidas que castram a sociedade, ao invés de educá-la a ser gente!
            A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À utopia histórica, a visão cristã acrescenta a fé, prova de realidade que não se vêem. A fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última – razão do nosso existir.
            Lembro, que na minha infância, falar na morte era bem mais natural do que nos dias atuais. Hoje virou tabu falar em morte, como se as pessoas fossem imortais. Só nos damos conta de que morreremos, quando a morte passa perto de nós, levando-nos pessoas que amamos. Antigamente as pessoas morriam no aconchego familiar e hoje, na frieza e solidão de Hospitais, especialmente quando adormecem para a eternidade na geladeira de Unidades de Terapia Intensiva. Precisamos retomar a naturalidade da morte, que gosto de comparar ao nosso “terceiro e definitivo parto. Nós cristãos, partimos primeiro do útero materno; depois do útero da Igreja, a Pia Batismal e, finalmente, do útero da terra (vida terrena), em direção à vida definitiva, acostando-nos ao amoroso colo de Deus, nosso Pai! Devemos amadurecer nossa certeza de que morrendo, veremos Deus como Ele é. Nossa fé se debruça sobre a esperança, de que vendo como Deus é, seremos santos!
            Na busca que fazemos do verdadeiro tesouro como forma de vivermos em estado de serena vigilância para o que der e vier. Jesus vem ao nosso encontro com suas sábias palavras.
            Não deixemos para amar amanhã. Pode ser que hoje seremos chamados a prestar contas de nossa vida, passando pela temível morte, diante do Pai que nos amou primeiro, mas nos medirá pelo amor amado a cada dia de nossa vida!
            Sejam todos muito abençoados, especialmente nossos Pais vivos. Rezemos, também, pelos que já nos precedem no colo do Pai!

Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 18,6-9; Sl 32(33); Hb 11,1-19 e Lc 12,32-40).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2019, pp. 46-50 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2019) da, pp. 58-61.