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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Uma vez identificado como o Filho de Deus; apresentado seu Projeto Ministerial, que é Anunciar o Reino de Deus entre nós; tendo formado seu Discipulado, Jesus Cristo é apresentado pela Palavra de Deus proclamada no Quinto Domingo do Tempo Comum, curando os enfermos e acariciando os fracos da sociedade. Jesus é itinerante, não pára em lugar específico, não fica “colado” nem no barco de onde prega, nem na Sinagoga onde comunga da Palavra Revelada e muito menos nos círculos familiares onde cura. Segue de um lugar a outro, para confirmar sua Missionariedade, que deve ser também a da Igreja hoje. A Igreja que não é missionária não é a de Jesus!
            A Leitura do Livro de Jó descreve um mundo enfermo e despido de valores essenciais. Deus, o Criador que ama apaixonadamente a humanidade, quer revesti-la novamente de dignidade. Promete que o sofrimento e a enfermidade serão superados com o Ministério do Filho que envia para tal ministério. A saúde física é um valor transitório e não essencial à pessoa. Mesmo assim, Deus quer suas criaturas prediletas saudáveis, a fim de evitar a enfermidade interior. No dia em que nosso nome ecoar na eternidade, somente a saúde interior contará. Já não mais será necessária a saúde de um corpo perecível, mas a pureza interior. Com Santa Terezinha do Menino Jesus, Doutora, podemos dizer: “O sofrimento santifica!”, o que não quer significar que tenhamos de sofrer para tornarmo-nos “santos”, porém aproveitar de nossos limites físicos para a própria santificação e a do mundo. Gosto sempre de pensar que nossos Enfermos fazem de seu leito de dor, o altar do sofrimento de Jesus. Eles, os Enfermos, devem sempre merecer o carinho e a especial atenção, não só dos Agentes da Pastoral da Saúde, mas também dos Ministros Ordenados, que muitas vezes “não têm tempo ou não gostam muito de priorizar as visitas aos enfermos”. Recebo incontáveis chamados para visitar enfermos de todos os lados de nossa cidade, com a desculpa de que os padres de determinadas Comunidades não têm tempo, não se encontram e alguns enfermos chegam a esperar mais de um ano para receber a visita de um sacerdote, fato que me assusta e preocupa muito.
            O Evangelho de São Marcos narra a “Cura da Sogra de Simão... e de muitas pessoas de diversas doenças...”. Geralmente os primeiros votos desejados às pessoas, é a saúde. Dizemos que tendo saúde, tudo se ajeita. E seguramente Deus quer seus filhos bem de saúde. As devoções populares aos Santos também, na maioria das vezes, provem de pedidos de curas. Os milagres reconhecidos pela Congregação da Causa dos Santos, que oficializa a “santidade” de alguém, também giram na grande maioria em torno de “curas de enfermidades”, consideradas incuráveis pela medicina. Daí que os Santos invocados às Curas atraem multidões de fiéis, pedindo curas. Quantos fiéis se reuniram para celebrar a festa da Apresentação do Senhor, popularmente conhecida como a festa de Nossa Senhora das Candeias? E quantos fiéis buscaram a Bênção da Garganta na memória facultativa de São Brás? Uma de minhas preocupações no processo evangelizador é sermos mais pedintes do que agradecidos! E quantos entre nós só buscam auxílio divino no momento da tristeza, da dor, do desespero, do desemprego e da enfermidade? “Ai de Deus se não ouvir nossas súplicas... Que a vontade de Deus seja feita, desde que coincida com a nossa...” Não podemos relacionar-nos com Deus revelado no ministério de Jesus Cristo, que veio sim, para curar e para promover vida e vida em abundância para todos, como se Ele fosse um comerciante. “Pedimos, e se formos atendidos, cumpriremos promessas, muitas vezes descabidas, como se Deus necessitasse de coisas, como velas ou sacrifícios...” Segundo Jesus Cristo, é misericórdia que agrada o coração do Senhor e não sacrifícios.
            Precisamos respeitar a religiosidade e as devoções populares. Porém, como Comunidades de Fé, Oração e Amor, temos a missão de evangelizar, sempre orientados pelos ministros ordenados e agentes de pastoral bem formados.  São Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios é bem claro nisso e seu apelo, quase expresso como desabafo, é atual e se remete às nossas iniciativas, planos e atividades pastorais: “... pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade... Ai de mim se eu não pregar o evangelho!”.
            Paulo nos leva à reflexão da autenticidade da vocação específica na Igreja. Os ministros ordenados que procuram viver coerentemente sua vocação, empreendem seu tempo, dão prioridade àqueles Sacramentos que somente a eles foram conferidos presidir: a Eucaristia, a Reconciliação e a Unção dos Enfermos! Muitas vezes há quem prioriza outras atividades, que nossos irmãos não ordenados talvez fizessem melhor do que nós Presbíteros. Não me refiro aqui a praticar algum hobby de predileção para o merecido descanso. Mas priorizar nosso hobby em detrimento do desatendimento de nosso povo é uma cruel infidelidade à vocação à qual nos sentimos chamados. Assim, desfiguramos nosso Sacerdócio, que deveria ser configurado com Cristo, o Bom Pastor, descrito nas atividades do Apóstolo: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça... Com os fracos, eu me fiz fraco... Com todos, eu me fiz tudo... Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.
Todos, Ministros Ordenados e Comunidades Evangelizadas, somos conclamados a viver a maturidade de nossa fé na relação com o Senhor, Seu Evangelho e com Todos que nos são confiados! Não esqueçamos que nossa primeira vocação é a Vocação ao Amor!

            Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel.

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jó, 7,1-4.6-7; Sl 146 (147); 1Cor 9,16-19.22-23 e Mc 1,29-39).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2018, pp. 27-30 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2018), pp. 56-39.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


A Palavra de Deus do Quarto Domingo do Tempo Comum apresenta-nos a missão do Profeta ao lado do início do ministério de Jesus, pautado em sua autoridade, porque coerente entre o que prega e vive diante do compromisso de transformação da Comunidade de Fé!
            Segundo o Livro do Deuteronômio, a missão do profeta é anunciar a Boa Notícia da Aliança desejada por Deus para com a Humanidade, e denunciar tudo aquilo que possa impedir a fidelidade da mesma. O Profeta é o porta-voz de Deus ao coração acolhedor e atento da Pessoa. Tem o serviço de comunicar Deus ao mundo, que quando não ouve, torna-se oco, vazio, sem sentido e sem perspectivas de vida, como herdeiro e filho desse mesmo Deus, que ama louca e apaixonadamente Sua criatura predileta.
            O mundo barulhento em que vivemos, não deve ser muito diferente daquele em que os Profetas tentaram transmitir a vontade Deus, na promoção da dignidade de Suas criaturas amadas e queridas. É salutar o silêncio interior, a busca de uma mais profunda espiritualidade, a fim de um compromisso mais concreto de mudança das estruturas injustas em que nos encontramos. O Reino de Deus anunciado pelos Profetas é sempre um Reino de Justiça. Insisto em pensar que onde não há justiça, é também impossível a sobrevivência do Reino de Deus.
            A criatura humana é livre para escolher entre o bem e mal. O que se constata, é que o homem parece vazio da presença amorosa de Deus em sua vida, uma vez tendo endeusado o consumismo, o hedonismo e o individualismo. O Profeta quer ser o eco da voz de Deus no coração vazio e estéril da humanidade.
            Depois de formado seu grupo de Discípulos, Jesus inicia seu ministério com autoridade, segundo o Evangelho de São Marcos. A autoridade de Jesus é um convite aberto à coerência, à conversão e ao bom senso àqueles que desejam ser seus discípulos e missionários. Sem essas três dimensões, dificilmente é possível configurar-nos com o ministério do Senhor, que conta conosco na Comunidade, para devolvermos ao mundo a dignidade humana que a “Cultura de Morte” nos tira cada vez que somos coniventes com as injustiças institucionalizadas na Família, na (des) Educação, na Sociedade, na Política e também na Religião.
De que adiantam nossos diplomas, cargos, funções e posições de prestígio, se nossa palavra não tem credibilidade, porque incoerente com nossa vida, vivida no hodierno. Com facilidade emitimos juízos, repreendemos pessoas, deixamos de atendê-las com a caridade pastoral proposta em nossos lindos Projetos Missionários e Planos de Pastoral. Será que temos tal direito? Quantos de nossos erros escondemos atrás dos erros dos outros!... Enquanto nossas normas estiverem acima de nossa misericórdia, dificilmente seremos configurados com o Senhor, que nos confia Sua própria autoridade ministerial, desde que estejamos a serviço da vida plena das pessoas. Gosto sempre de concluir que não devemos “banalizar” nossos projetos, até mesmo porque justiça e misericórdia somadas, resultam no AMOR COM SABOR DIVINO! Isso só é capaz de viver, ministerial e missionariamente, quem acolher e viver a autoridade do Senhor, porque coerente entre o que prega e vive de verdade. Não importa se conseguimos ou não tal coerência. Importa, isso sim, o esforço empreendido todos os dias por sermos hoje um pouco mais coerentes do que ontem. Então experimentaremos a AUTORIDADE MESSIÂNICA!

            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt 18,15-20; Sl 94(95); 1Cor 7,32-35 e Mc 1,21-28).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2018, pp. 85-88 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Janeiro de 2018), pp. 51-55.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


Um dos nossos limites humanos é o Tempo ao lado do espaço. A Palavra de Deus do Terceiro Domingo do Tempo Comum nos conclama a refletirmos sobre o tempo que nos é dado como dom gratuito de Deus!
            Geralmente tendemos deixar para depois, para amanhã, aquilo que deveríamos realizar hoje, agora. A profecia de Jonas mostra o Profeta a caminho de Nínive, a fim de convencê-la à conversão. Jonas, dócil à vontade do Senhor, não espera, faz logo o que o Senhor Deus lhe pede. O resultado da docilidade do Profeta tem consequências positivas. Os frutos da conversão de Nínive lhe são saborosos e ele sente-se realizado em sua missão profética.
            Também Jesus caminha. Segue para a Galileia anunciando o fulcro e sua missão: o tempo e o Reino de Deus que está próximo, como lemos no evangelho de São Marcos. Para que se perceba tal maravilha, é necessária a conversão, ou seja, a mudança de vida; mudando tudo aquilo que impede a pessoa de perceber que o tempo de Deus nem sempre é nosso tempo, que a vontade de Deus nem sempre é nossa vontade, mas que uma coisa é segura: o Reino de Deus já é uma realidade entre nós.
            Para cumprir com seu ministério, Jesus, após convidar os primeiros, continua formando seu colégio apostólico. A proposta é desafiadora: deixar tudo e seguir Jesus. Mas deixar tudo mesmo! Eis a proposta à vocação específica. Esvaziar-se de si mesmo, deixar projetos pessoais e uma vez discernido o Projeto Missionário de Jesus, deixar tudo para tornar-se um verdadeiro discípulo! Certamente isso não é tão simples como parece. Carece novamente de um tempo de discernimento. Carece, também, de coragem, coerência, transparência, ousadia e total despojamento. Muitos pensam que tem vocação, mas não conseguem desprender-se de seus projetos pessoais. Outros ainda, se utilizam ilicitamente, ou se apropriam do ministério ordenado, como trampolim para alcançar êxito, sucesso e prestígio social. Esses se tornam naturalmente um verdadeiro desastre e, muitas vezes, fazem grandes estragos na Igreja do Senhor, surrando e enxotando pessoas das Comunidades, especialmente as que não concordam com tudo que tentam lhes impor. Daí a necessidade de uma profunda espiritualidade presbiteral, pastoral, eclesial e nem por último, pessoal!
 Nem todos sobrevivem aos desafios de nossa sociedade hoje. Quem estiver desprovido de uma profunda espiritualidade, configurada com a do Mestre, não consegue ser um verdadeiro discípulo e missionário na Igreja de Jesus.
São Paulo também adverte a Comunidade de Corinto, em sua primeira Carta, que o tempo é breve. As coisas deste mundo, nós inclusive, passam. Mas a Palavra de Deus, seu Reino não passa. É, portanto, urgente, que sejamos melhores hoje do que ontem. Quando enchemos nossas Igrejas com multidões de pessoas, saindo porta afora chorando e emocionadas com nossas celebrações, devemos estar atentos se realmente nossos fiéis saem cheios de Deus ou de nós, ministros e agentes de pastoral? É necessário que haja compromisso com o Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, que é um reino de Justiça. Logo, onde não há justiça, não há Reino de Deus.  Saibamos ser sempre coerentes entre o que pensamos, falamos (rezamos) e fazemos. Só então, a autenticidade de nosso discipulado e missionariedade serão agradáveis ao Senhor.
Saibamos permitir que o Senhor nos ajude em nossa conversão, a fim de seguirmos com generosidade e alegria o projeto do Reino de Deus que já está entre nós!
            Há quem diga que tempo é questão de prioridade! Gosto de acrescentar a esta afirmação, de que precisamos estabelecer prioridades em nossas relações, e para a criatura humana, não é concebível que nosso tesouro prioritário não seja nosso Deus e Senhor!
            Saibamos administrar o dom precioso do tempo que o Senhor da Vida nos concede. Saibamos viver a ternura humana com sabor divino!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jn 3,1-5.10; Sl 24 (25); 1 Cor 7,29-31 e Mc 1,14-20)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2018, pp. 67-70 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Janeiro de 2018), pp. 45-50.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Com a celebração do Batismo do Senhor, encerramos o Ciclo do Tempo do Natal e iniciamos um breve Ciclo do Tempo Comum que nos remete à Quaresma.
            A Palavra de Deus proclamada neste Segundo Domingo do Tempo Comum tem sabor de Vocação, de Chamado, de Seguimento e de Encontro com o Senhor!
            A página do Primeiro Livro de Samuel supõe o discernimento vocacional. Nossa primeira vocação deve ser a Vocação ao Amor. Quem não ama um amor com sabor divino, dificilmente discernirá sua vocação específica no mundo! A Igreja tem a missão de acolher aqueles que se apresentam a alguma vocação específica e ajudar no discernimento cuidadoso da mesma, visando antes de tudo a felicidade plena da pessoa. Uma pessoa só será realizada e feliz, na medida em que descobrir sua verdadeira vocação, a começar pela Vocação ao Amor!
            Nossas Casas de Formação se empenham com zelo esmerado, para que os candidatos ao Presbiterado, por exemplo, sejam antes de tudo, pessoas felizes, realizadas, bem resolvidas, a fim de então dizerem um Sim definitivo, coerente e feliz de verdade! Nunca, a vocação específica na Igreja deve ser meio de vida, de autopromoção, busca de prestígio e reconhecimento ou poder. “Já que não sirvo para casar, serei padre!” Geralmente tal pessoa torna-se amarga, um tipo de “solteirão intratável” e infeliz, fazendo de sua “suposta” vocação, um trampolim carreirista ou machucando aqueles que lhe são confiados no ministério pastoral.
            No Evangelho de São João, João Batista, reconhecendo Jesus, como o Messias, apresenta-o aos seus seguidores, aqueles que sentem desde as entranhas de sua intimidade uma vocação específica, como o Cordeiro de Deus a ser, doravante seguido. João Batista se retira e deixa o Messias convidar aos que lhe perguntam: “Mestre, onde moras?”, “Vinde ver”.
            Uma vez vendo onde Jesus mora, onde se encontra, encontrando-se sinceramente com Ele, já não há mais volta. É impossível não ficar com Jesus, que escolhe um a um, olha bem nos olhos e os cativa, adiantando até mesmo o coordenador entre eles: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer pedra).
            Deus escolhe quem Ele quer, desde o seio materno. A pessoa já nasce escolhida para sua vocação específica, porém nem sempre corresponde ao chamado. Por isso os Bispos reunidos em Puebla diziam que “A Vocação (específica) é a resposta de um Deus providente a uma Comunidade orante”. A resposta generosa à vocação específica na Igreja, geralmente é fruto saboroso da Oração pelas Vocações. Muitos rezam pelas vocações, desde que sejam os filhos dos vizinhos. É necessário que nossas Famílias incentivem os próprios filhos à vocação, também sacerdotal e religiosa. Mais do que falar mal de nossos Sacerdotes, somos conclamados a rezar por eles e ajudá-los em seu caminho de santificação. Como seria bom se cada Comunidade gerasse um Padre! Como seria ainda melhor se cada Padre formasse outro para sucedê-lo no futuro!...

São Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios, lembra-nos de que somos, como membros da comunidade, templos vivos do Espírito Santo. A responsabilidade das vocações específicas na comunidade é de TODOS! Ninguém deve sentir-se isento. Na medida em que faltarmos na Comunidade, mutilamos o Corpo de Cristo que ela representa. Somos os membros e Cristo é a cabeça. Mesmo sentindo-nos o dedo menor do pé, e faltarmos, estaremos mutilando este lindo corpo, malhado, sarado, que é a Igreja de Jesus Cristo!
            Meu primeiro incentivador à vocação sacerdotal foi meu amado pai. Costumávamos acolher as visitas com uma poesia, um canto ou algum teatrinho exibido pelas crianças. Faz 56 anos que meu pai faleceu. Eu tinha quatro anos naquele entardecer do dia 15 de Janeiro de 1962, quando o sol se debruçava sobre uma montanha rochosa diante da casa de meus avós, enquanto meu pai se reclinava eternamente no colo do Criador.  O crepúsculo revestia o céu de indescritível beleza. E era ele que me pedia para “rezar uma missa sobre a máquina de costura de minha mãe, para as visitas que chegavam...”. Imitava o Padre da cidade, sem nem mesmo saber exatamente o latim que balbuciava. Mas todos ficavam admirados com a “Missa do Beto”.
            Hoje, por amor e misericórdia de Deus minha Missa não é mais teatro e tenho o incomparável privilégio de oferecer a memória de meu amado pai no cálice precioso do Senhor! Sejamos dóceis ao convite do Senhor: “Vinde Ver” e teremos muitas e santas vocações para servir a Igreja da qual todos somos membros por conta de nosso batismo!
            Com ternura e gratidão, bênçãos e abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Sm 3,3-10.19; Sl 39(40); 1Cor 6,13-15.17-20 e Jo 1,35-42)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2018, pp. 49-53 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Janeiro de 2018), pp. 41-44.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

         A festa da Epifania celebra a manifestação de Jesus Cristo, luz e salvação de Deus, a todos os povos e nações. Jesus é o verdadeiro Messias, o rei justo, o libertador, esperado por todas as pessoas comprometidas em construir o Reino da justiça. Os sábios do Oriente representam os que se deixam guiar pela luz, pelo projeto de Deus a serviço da vida plena. Eles experimentaram uma grande alegria ao encontrarem Jesus, o rei dos judeus, e o adoram, oferecendo-lhe os seus presentes.
            As promessas das Escrituras acerca do Messias são compreendidas à luz da fé na ressurreição. Quem se deixa iluminar pela sabedoria de Deus, acolhe e reconhece Jesus como o Messias prometido, o portador da salvação a toda a humanidade. A ambição, o poder, como os de Herodes, leva a rejeitar a presença do Salvador desde o seu nascimento. A atitude dos reis, que chegam de longe para adorar o Menino, contrasta com a dos chefes de Jerusalém que tramam sua morte.
            Somos convidados a seguir o exemplo dos magos: guiados pela estrela, caminhar ao encontro do salvador da humanidade. A páscoa de Cristo se manifesta como luz na vida de todos nós que esperamos a revelação do Senhor e ansiamos por unidade, justiça e paz.
            Contemplemos nas leituras a glória do Senhor, luz que ilumina e reúne em torno de si toda a humanidade, e acolhamos com fé a manifestação do recém-nascido, nosso salvador.
            Abandonemos o desânimo e olhemos para frente com esperança, pois a glória de Deus já se manifestou sobre a humanidade. Precisamos descobrir a estrela que nos guie de forma segura ao longo do ano. Já não há povo excluído das promessas divinas, manifestadas em Jesus. Deus se manifesta a todos os povos na pessoa frágil do menino Jesus.
            O episódio dos reis magos acentua o acolhimento de Jesus e sua mensagem pelos gentios e prefigura a missão universal dos discípulos de evangelizar “todas as nações”. É um apelo bem atual para a nossa realidade. “Que todos os povos, representados pelos três magos, adorem o criador do universo; Deus seja conhecido não apenas na Judéia, mas no mundo inteiro, a fim de que por toda a parte o seu nome seja grande em Israel” (São Leão Magno).  O itinerário percorrido pelos magos propõe o caminho para encontrar Jesus. Ao descobrir os sinais (a estrela), eles se colocam no caminho, perguntam aos que conhecem as Escrituras, procuram até encontrá-lo e o adoram, aderindo a ele com a fé e a vida.
            O encontro com o Senhor transforma a nossa vida. Sua presença e palavra nos iluminam e nos convidam a levantar, comprometendo-nos a construir um caminho novo de libertação. Em Cristo nos tornamos discípulos e discípulas, participantes da mesma herança, do mesmo corpo, da mesma promessa de salvação. A “Epifania” do Senhor nos proporciona viver a comunhão e a fraternidade com todos os povos do universo.
            Lá na periferia, longe do palácio real, “os magos viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” que indicam, respectivamente, a sua realeza, divindade e incorruptibilidade.
            A estrela que leva os cristãos a Jesus nos dias atuais, é a fé recebida, como dom gratuito no dia em que mergulhados no útero da Igreja, a Pia Batismal. Adotados da sabedoria divina, nosso horizonte aponta a “estrela” que nos conduz a Jesus. Além disso, todo cristão é convidado a ser estrela a qualquer pessoa que esteja à procura de Jesus. É interessante que os Magos procuram saber o itinerário com Herodes, porque nem de longe poderiam imaginar que aquele rei não soubesse do acontecido em Belém. Enganados pelo rei invejoso, tomam caminho adverso, depois de encontrar-se com Jesus. Mesmo assim não conseguem evitar que a inveja incontrolável de Herodes mande matar todos os meninos com menos de dois anos de idade. Seria insuportável conceber um rei em seu lugar, ou então, alguém superior a ele.
            Quantas vezes, entre nós, vestimos a inveja de Herodes, degolando (com nossa língua maldosa) nossos irmãos por pura inveja?
            Há quem engane o itinerário até Jesus. São aqueles que se rogam o direito de julgar, condenar e despistar, para não dizer, enxotar as pessoas de nossas Comunidades: seja por ignorância, seja por pura inveja, esta que cheira a Herodes!
            Como seria bom e agradável ao Senhor, que a Epifania fosse mais real, sincera, sentida e comprometida em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. Ainda há tempo de conversão! Sejamos a Estrela que conduza nossos irmãos a Jesus o Salvador!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3.5-6 e Mt 2,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2018, pp. 31-34 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal (Janeiro de 2018), pp. 35-40.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DO BATISMO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

         Concluindo as celebrações natalinas, festejamos o Batismo de Jesus. Embora não precisasse ser batizado, o Senhor quis se solidarizar com todo o povo que buscava o batismo de João. Esta liturgia é momento favorável para relembrarmos e renovarmos nossos compromissos batismais.
            As leituras nos revelam o servo de Deus, fortalecido pelo Espírito e enviado para proclamar a boa-nova da paz. Pelo batismo também nós recebemos o Espírito que nos anima na missão e nos dá força para perseverar no bem.
            Somos servos do Senhor a serviço da comunidade e responsáveis por construir uma sociedade justa. Jesus é o servo fiel e o Filho amado e querido do Pai. A prática da caridade e da justiça deve ser nosso diferencial diante de Deus.
            Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé? Geralmente a reposta é “NÃO”. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia de nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano Nacional do Laicato é um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “Útero da Igreja”, a Pia ou Bacia Batismal!
            A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade. Jesus se faz solidário, e mais ainda, Servo e Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele assume nossa condição humana, num ato solidário, que o leva até a Cruz. É uma caminhada que vai em direção à Páscoa.
            Podemos nos perguntar se, a partir do Batismo de Jesus, procuramos entender e concretizar o nosso batismo. Se estivermos dispostos a “mergulhar” no projeto de Jesus para construir relações humanas construtivas, a começar pela família, no aconchego do lar, na escola, no trabalho, na Igreja, no mundo, com atitudes solidárias, ecumênicas.
            A liturgia desta festa, que encerra o Tempo do Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscavam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.
            Jesus havia acolhido o movimento de João Batista, a voz profética que ressoa, após anos de silêncio. Sobre ele desce a plenitude do Espírito Santo, a força do amor do Pai, para realizar a sua vontade. Assim o Reino, que se manifesta através de seu ministério, expressa o desígnio salvífico de vida plena para toda a humanidade. Quem o segue no caminho do discipulado é impelido a trilhar o seu caminho de justiça e de solidariedade.
            Deus se revelou em Jesus, confiando-lhe a missão de Servo e Filho amado. Pelo batismo, mergulhamos no mistério da morte e da ressurreição de Jesus para vivermos a vida nova. Em Cristo, recebemos o Espírito para a missão e fomos adotados/as como filhos e filhas de Deus. Somos gerados a cada dia, pelo amor misericordioso e bondade infinita do Pai, para renovarmos a nossa adesão e o nosso compromisso com o seu Reino.
            Iluminados e “banhados em Cristo, somos uma nova criatura! As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”. Unidos a Cristo, o Ungido do Pai, nos tornamos continuadores de sua missão profética, sacerdotal e régia. Ele nos confirma no anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino, pois “passou a vida fazendo o bem e curando a todos os que estavam sob o poder do mal”.
            Vamos abrir o ouvido do coração para acolher a voz do Pai, que ressoa dentro de nós, e que declara nossa missão: Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado.
            O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como Deus é, e isso nos basta. Renovemos nossos compromissos batismais, buscando viver nosso Batismo na relação com Deus, que nos adota como seus de verdade, e com os outros, que se tornam nossos irmãos, para santificar-nos. Todo batizado torna-se um ser divinizado, isto é, candidato à santidade. Por isso não é nenhuma pretensão descabida, queremos ser santos. Devemos, isso sim, esforçar-nos todos os dias, para sermos santos.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto kasper

(Ler Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29) e Mc 1,7-11).

AINDA É TEMPO DE NATAL!

AINDA É TEMPO DE NATAL!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Deus fala à nossa alma por meio da leitura orante de Sua Palavra, de boas leituras, pregações, exemplos, testemunhos, boas inspirações. Sua voz  faz-se ouvir especialmente neste Tempo de Natal. Jesus Cristo nos convidou, por meio de João Batista, a aplainar as colinas do orgulho, do amor próprio, do egoísmo, da inveja, da avareza, a fim de preparar para a sua vinda, corações retos, onde Ele possa plantar e cultivar as virtudes, especialmente o amor: este amor tão mal compreendido e tão paganizado.
Deus é a fonte do amor puro, verdadeiro, sem fingimento. Amor que se dá, que busca satisfazer os desejos de bem, que compreende as fraquezas alheias, que dá até a própria vida sem temer sacrifícios.
Ainda é Tempo de Natal e a ternura é a marca registrada do Natal. Neste Ano Nacional do Laicato, somos convidados a repensar o Menino nascido na gruta e na manjedoura, cercado de animais, cheirando a feno, que facilmente é substituído por Helliger Klaus, São Nicolau, que traz um saco cheio de presentes manufaturados e pré-fabricados. Pelas chaminés das grandes casas, entrou a nova economia, e no ideário dos pais e filhos, o Natal virou a festa dos presentes, mais do que a Festa de Alguém que se fez presente.
A urbanização do mundo tirou o protagonista de cena. Isto é: o Menino que nasceu pobre, numa gruta de um país carente, cedeu lugar a um velho gordo e opulento, que tem dinheiro, é bonzinho e chega com um sacolão de presentes. É o símbolo da riqueza europeia, generosa com os pobres, ao menos naqueles dias do Natal.
Na década de 80, quando vivi no Sul da Alemanha, participei do Natal das Famílias da Baviera durante quatro anos. Os presentes eram dissociados da Festa do Natal. No dia 6 de dezembro, Memória de São Nicolau, é que se distribuíam os presentes em torno da árvore do Natal. Algumas famílias encomendavam também o Papai Noel. Já na noite e no dia de Natal, ninguém falava em presentes: as Famílias todas participavam das Celebrações do Natal de Jesus Cristo, nas ações litúrgicas e confraternizavam em torno da mesa da Ceia de Natal, sem mais nenhum presente. Celebrava-se de verdade a presença de Deus feito pessoa. Jesus, nascido em Belém e em cada lar, era o maior Presente!

Pouco a pouco, as famílias influenciadas pela mídia e a serviço do comércio e da indústria aceitam substituir os Presépios e a cena agropastoril pelo Papai Noel. Os pastores, o povo simples, os colonos, o casal pobre, o Menino, os Anjos que trazem uma boa nova são substituídos por vitrines cheias de novidades, comidas raras e por um homem idoso, tipo vovô. É o ter e o dar derrotando o ser e o dar-se.