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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 


Queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Alegremo-nos todos no Senhor,

celebrando a festa de Todos os Santos.

Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus”.

 

            Celebrando a Solenidade de Todos os Santos de Deus, comungamos com aqueles que já se encontram na casa do Pai e vivem em plenitude as bem-aventuranças. Nós também somos proclamados felizes, porque formamos a grande família de Deus e procuramos seguir a multidão dos que nos deixaram exemplo de fidelidade e amor.

            A multidão dos fiéis seguidores de Jesus, filhos e filhas amados pelo Pai, reúne-se numa celebração celestial. Ainda em vida são proclamados felizes porque depositaram sua confiança em Deus.

            Todos os que se mantêm fiéis a Cristo serão vitoriosos. As bem-aventuranças são o caminho da santidade proposto por Jesus. Somos filhos e filhas de Deus, pois ele é nosso Pai, e seremos semelhantes a ele.

            A Eucaristia transforma-nos, lenta e progressivamente, em seres capazes de contemplar o Pai unidos a todos os que são salvos.

            A celebração de Todos os Santos é a festa da santidade anônima. Da santidade entendida, em primeiro lugar, como dom de Deus e resposta fiel da criatura humana. Torna-se impossível enumerar todos os santos, tido como sinais da manifestação maravilhosa da ação de Deus. A santidade pode ser comparada a um grande mosaico que reflete a grandeza da única santidade de Deus.

            Cada santo é um exemplar único e exclusivo. Não podemos pensar a santidade como um produto em série. A comemoração de todos os santos nos abre à imprevisibilidade do Espírito Santo.

            A multiplicidade de santos faz deles um modelo perfeito para a vivência dos carismas pessoais e para a diversidade de opções no seguimento de Jesus e no serviço à Igreja e à sociedade.

            Quando veneramos ou falamos de um santo de nossa devoção, somos tentados a contemplá-lo (a) pela ótica perfeccionista. “Ele foi perfeito”, “Um super-humano”. Não! Os santos, antes de tudo, foram pessoas comuns. Eles fizeram sua caminhada de vida seguindo os passos de Jesus. Participaram da realidade do povo santo e pecador. Contudo, eles se destacaram na vivência radical do ideal proposto pelas bem-aventuranças. Foram pessoas que, por seu modo de viver a Boa-Nova, marcaram significativamente a sociedade de seu tempo e se transformaram em referenciais atualizados para a história.

            O convite evangélico à santidade é proposto a todos. Não é uma realidade impossível de alcançar. Tudo depende do vigor com que se vive o ideal das bem-aventuranças na relação com Cristo e nos compromissos inerentes à vida. Eu e você podemos ser santos. Não importa se somos pessoas de muitas qualidades ou não. O que conta é que sejamos pessoas extraordinárias pela vivência do programa de Jesus resumido nas bem-aventuranças.

            Fica mais uma vez entre nós a pergunta crucial: como ser santo? O que significa ser santo? A liturgia vai nos conduzir para mais perto da santidade de Deus.    

Ouvem-se frequentemente de bons lábios cristãos algumas frases em relação à santidade, como: “Eu não nasci para ser santo...”. “Não sirvo para ser santo...”. “Não sou santo, logo não tenho culpa...” Gosto de pensar que tais cristãos não compreendem o próprio Batismo. O Batismo torna-nos seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade! Não creio que sejam as coisas boas que conseguimos realizar, nem as coisas más que praticamos, por vezes, involuntariamente, que nos conduzem à santidade, porém o esforço empreendido por fazer de tudo para ser bondoso, humilde, servo e anjo para os irmãos, vivendo uma relação de ternura constante. Quem sabe, fazendo uma listinha de esforços diários nos ajude a conquistar a santidade proposta a todos os filhos e filhas de Deus, nascidos do “útero da Igreja, a Pia Batismal!” Já paramos para pensar, com quantos santos convivemos ao longo de nossa vida, mesmo que não reconhecidos, oficialmente, por decretos de beatificações ou canonizações?

            Não deixemos para amanhã, nem mesmo para daqui há pouco: comecemos já nosso esforço por sermos santos, sendo anjos uns dos outros. Só quem é simples e bondoso, sabe o quanto é magnífica a antessala da santidade!

                        Desejando-lhes, por intercessão de Todos os Santos, muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1 Jo 3,1-3 e Mt 5,1-12).

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Exulte o coração dos que buscam a Deus.

Sim, buscai o Senhor e sua força,

procurai sem cessar a sua face” (Sl 104,3s).

 

            Neste Trigésimo Domingo do Tempo Comum, nos reunimos para celebrar novamente, a páscoa de Jesus e buscar a face de Deus, que se revela no rosto sofrido dos pobres e oprimidos. Amando os irmãos sofredores, amamos o próprio Deus. A eucaristia é a expressão da ternura misericordiosa do Pai para com todos.

            As leituras nos convidam a amar a Deus acima de tudo e nos comprometem a amar os necessitados. O amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis.

            Deus nos convida a defender a vida dos pobres e esquecidos. Os dois amores da vida, Deus e o próximo: amando um, estaremos amando o outro. É importante que a comunidade saiba fazer memória da sua caminhada.

            Neste domingo, Dia Nacional da Juventude, celebramos especialmente em comunhão com os jovens.

            Na certa, temos uma situação que nos incomoda e mexe com o nosso modo de anunciar e celebrar com a comunidade o memorial da páscoa de Jesus. Como interpretar e viver nos dias de hoje a Palavra de Deus proclamada na liturgia?

            No Dia do Senhor, o Domingo, nos reunimos para nos encontrar com Deus. Mas para chegar a Ele é preciso ter feito uma opção e passar pela porta de entrada que é o povo com sua história, suas angústias, esperanças, lutas e privações, pois, Deus não quer um amor distante do povo e intimista.

            O nosso Deus que amamos e juramos fidelidade é o Deus defensor dos pobres. Somos seus aliados na defesa dos excluídos, desprotegidos e rejeitados da sociedade. A nossa religião se firma nesse Deus e cultiva o seu amor pelos últimos da terra.

            Somos reunidos por um Deus que está no meio dos deserdados e iletrados e que nos diz que a porta de entrada na sua amizade passa pelo amor ao povo que sofre e ama. E amar a Deus significa amar esse povo que vive e faz história conosco.

            E a Palavra de Deus nos faz lembrar que ser cristão significa ser missionário do bem, do amor, da justiça. Isso supõe o desmascaramento dos ídolos que mantém o povo à margem da vida e das celebrações que cultivam um deus falso e um culto vazio.

            O compromisso missionário é dos cristãos e das comunidades eclesiais. É dia de oração. Dia de ofertas generosas. Antes de tudo um dia de avaliação pessoal e comunitária. As missões não são apenas uma atividade da Igreja ou um dia do calendário pastoral. A fé que recebemos como dom e bênção não sobrevive nem se sustenta sem o mergulho no compromisso missionário e profético.

            A liturgia nos leva a olhar para o Senhor de braços abertos e olhar fixo no horizonte da missão e nos campos imensos que esperam operários e ceifadores. O que podemos e vamos fazer para contribuir no anúncio da Palavra do Senhor: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e todo o teu entendimento”. “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Esses dois mandamentos são a expressão maior da vontade de Deus. É o resumo de toda a Bíblia!

            Ao definir o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, o resumo da lei e de toda a mensagem bíblica, costumo pensar na qualidade desse amor. Vivemos um tempo, em que os contra valores engolem nossa sociedade, levando-a ao consumismo, egoísmo, hedonismo e individualismo. Será que nosso amor tem sabor divino? Enquanto criados à imagem e semelhança de Deus, somos capacitados a amar um amor com sabor de Deus mesmo. Porém, nunca antes houve tanta depressão e descontentamento com nossa imagem. Penso que ao criar-nos à Sua imagem e semelhança, nem régua Deus usou. Moldou-nos segundo Seu amor profundo por cada um de nós, Suas criaturas prediletas. Nem sempre nos damos conta disto. Por isso, penso que amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo, implica num terceiro mandamento: amar-me a mim mesmo como Deus me criou e moldou. Isso nem sempre é fácil. Quantas intervenções cirúrgicas plásticas vemos acontecer mundo afora, com a desculpa de melhorar a autoestima? Para mim, não existem pessoas feias, a não ser em suas atitudes, comportamentos e relações com os semelhantes. Logo gosto de dizer assim: amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo, do jeito que cada um é, e não como gostaríamos que fosse. Se eu não for capaz de aceitar-me como sou e amar-me do jeitinho como Deus me moldou, também não serei capaz de amar meu próximo e muito menos a Deus.

            Não nos esqueçamos de devolver o envelope da Coleta para as Missões. Mesmo que a Coleta tenha sido semana passada, ainda há tempo, para os que esqueceram. Seja esta coleta o fruto saboroso, a partilha de nossa pobreza em favor das Missões. A coleta não poderá ser uma simples esmola ou migalha, mas um valor considerável que demonstre nossa generosidade. Deixar de consumir algo em favor de quem precisa mais do que nós, agrada o coração de Deus. A indiferença e insensibilidade para com as Missões, desfigura nosso compromisso de sermos uma verdadeira Igreja de Jesus Cristo, totalmente missionária e ministerial.

                        Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ex 22,20-26; Sl 17(18); 1 Ts 1,5-10 e Mt 22,34-40).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, 99-106 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2020) pp. 56-60.


MISSÃO EM TEMPO DE PANDEMIA!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Desde que fomos batizados recebemos a missão de continuar a obra iniciada por Jesus Cristo e os seus doze apóstolos enviados ao mundo todo para proclamar o Evangelho, a Boa notícia do amor de Deus para nós.  Desde então, muitos foram os que deixaram pátria e família e, mundo afora semearam o Evangelho, a notícia boa que restaura o ser humano e lembra a cada um de nós que somos feitos à imagem e semelhança de Deus, que somos seus filhos e somos irmãos e irmãs uns dos outros.

             Depois de vinte e um séculos, ainda há pessoas que não ouviram nada a respeito de Cristo; há os que não quiseram ouvir, há os que distorceram o Evangelho e os que deixaram de lado a Evangelização semeada em seu coração. Cada qual com seu motivo, mas todos revelam um sintoma do tempo presente em que o comportamento egoísta, fechado, por vezes intolerante acaba por intimidar quem pense diferente disso. E com a chegada da pandemia do Novo Coronavírus, a COVID-19, descobrimos que a humanidade está muito mais doente que imaginávamos.

             Muitos males que destroem silenciosamente a convivência humana têm origem no próprio coração das pessoas! Indiferença, inveja, inimizades, desrespeito - só para citar alguns - brotam como praga dentro das pessoas e fazem tragédias imensas... Depois aparece essa peste da COVID-19 e nos vemos como num beco sem saída! E agora?  O primeiro remédio é realimentar nossa esperança em Deus que jamais nos abandona; depois precisamos lembrar a todos que somos irmãos e irmãs; em seguida podemos falar, mesmo usando máscaras, que estamos todos no mesmo barco e que Jesus está conosco! É assim que respondemos na missa: “Ele está no meio de nós”! É aqui que está a razão de ajudar nossos irmãos e irmãs a redescobrirem que nossa missão é renovar no coração de todas as pessoas a “esperança que não decepciona”, a fé que vence nossas dúvidas e o amor que restaura nossos sentimentos e nos livra da cultura do descarte.

             Nossa missão nesta época será de resgatar nos corações aquela semente plantada desde que Deus chamou à vida cada um dos que Ele chamou para tomar conta da terra que para seus filhos e filhas Ele criou. Vencer o demônio do desespero e do pessimismo é nossa tarefa principal, além de vencer a rede mundial de mentiras, as chamadas Fake News que são diabólicas e, tendo aparência de coisa boa, é como mercadoria estragada que só faz mal e para esse “mal” não quer remédio.

             Missão em tempo de pandemia é usar meios que temos à nossa disposição para transformar o mal em bem, o desânimo em alegria e o mau humor em sorrisos percebidos pelo olhar que são os mais sinceros. Nossa missão não termina, nenhum missionário se aposenta e todos podemos nos tornar “Evangelho vivo” para o mundo, a começar pelo que nos rodeia.

 (Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Santa Teresa D´Avila - Protetora dos Professores e convite para a festa da padroeira.

 



COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 DIA MUNDIAL DAS MISSÕES

 


             Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A Palavra de Deus do Vigésimo-Nono Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária nos desafia a não separar a liturgia da vivência cotidiana. Com a frase-resposta “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, Jesus vence o desafio lançado por seus opositores e nos ensina a dar glória a Deus por meio da vida dedicada ao seu povo.

            Como cidadãos do reino conduzidos pela mão do Senhor, vamos acolher a palavra da salvação. Ela vem a nós com a força do Espírito e nos ensina a dar a Deus o que lhe pertence.

            Ciro, rei pagão, torna-se instrumento de salvação nas mãos de Deus. A autoridade é responsável pelo bem-estar do povo, que tem a Deus como seu único Senhor. O tripé de uma comunidade cristã é a fé, a caridade e a esperança.

            Não podemos separar a vida cotidiana da vida de fé. Na assembleia que partilha o pão da vida, reconhecendo-nos todos filhos e filhas do mesmo Pai e cidadãos da mesma pátria.

            Há quem use a palavra do Evangelho de hoje para manter a religião longe da política. Essa maneira de pensar já é uma opção política que serve aos interesses dos que têm poder e exploram o povo.

            Em tempo de tanta corrupção, podemos reconhecer vários poderosos que se colocam como deuses. O poder político coloca-se como valor absoluto. Pessoas, regimes ou estruturas que impedem a humanidade de ser “imagem de Deus” na liberdade e na justiça. Roubam de Deus o que pertence unicamente a ele: o povo.

            A política e a economia devem ser instrumento para a realização da justiça, do direito da vida, conforme a vontade de Deus. Quando o dinheiro domina a pessoa, fica perdida a noção de dignidade, de direito, de justiça e de respeito. Muitas vezes, é uma questão mal resolvida dentro de cada um de nós, na sociedade e na política.

            Os cristãos que se engajam na política não são fiéis a Deus na medida em que se comprometem com o sistema que oprime. Quando forem capazes de renunciar à riqueza, serão fiéis a Deus, a quem devem devolver o povo que lhe roubaram.

            O imposto cobrado deve ser revertido em benefício do bem comum e não desviado para algum “caixa dois”. Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece dominadores e fortalece a dominação tanto interna como estrangeira.

            Jesus chama de hipócritas os grupos que o elogiam, mas sustentam a injustiça sobre o povo. Ele manda devolver para Deus o que é de Deus – o povo libertado. O nome do amor hoje é a política vivida como solidariedade.

            A Deus não temos como pagar, pois tudo a ele pertence. O tributo que podemos pagar a Deus é a entrega de nossa vida, compromisso com o projeto que Jesus nos ensinou, no amor fraterno e na justiça. Ligamos fé, política e economia, conseguindo romper com a dominação do dinheiro, do consumismo, da adoração à moeda estrangeira, do poder e do sucesso. Na Igreja, na comunidade, como nos organizamos para ficar livres da ganância, do poder e do dinheiro?

            A moeda deve ser restituída a César, porque nela está impressa a imagem do seu senhor: o imperador. Há uma criatura sobre a qual está impressa a imagem de Deus. Esta é sua e somente sua. Ninguém pode apropriar-se dela indevidamente.

            As palavras de Jesus nos alertam a ficarmos atentos e prontos a gritar quando as pessoas são injustiçadas, exploradas e massacradas em seus direitos.

            Somos tentados frequentemente a “comprar deus” com dinheiro ou falsas promessas e dar a César o que é de Deus. O que é de Deus? O que é de César? Não podemos cair na armadilha e trair os princípios e valores do Reino de Deus. Pedimos a graça de estar ao dispor de Deus e servi-lo de todo coração.

            A comunidade é o lugar, por excelência, para servir a Deus, cantar as suas maravilhas e professar a nossa fé nele. A fé nos leva a “devolver a César o que é de César”, recusando todo tipo de dominação ou privilégios, pois, o Deus em quem acreditamos quer vida e liberdade para todos.    

O desenvolvimento, crescimento e valor de um País, geralmente, é medido a partir da economia, enquanto deveria ser reconhecido desenvolvido, civilizado a partir dos valores de seu Povo: a riqueza de sua cultura, a sustentabilidade de seus bens naturais e a sabedoria dos que nascem naquela determinada Nação. Lamentavelmente o dinheiro apodera-se sempre da “última palavra”. Com dinheiro resolve-se a vida e os problemas de uma pequena porção de um povo em detrimento da grande maioria, que sobrevive com “migalhas”.

            Se nossos políticos e servidores públicos, que nem sempre servem o povo, mas apropriam-se indevidamente do que é de todos, trabalhassem por salários mais modestos, talvez a injustiça na política pudesse ser sanada. Não é o que acontece. Além de salários demasiados altos, têm assessorias que recebem vergonhosas ajudas de custo, além de barganhas, comissões e dinheiro sujo que compra a honra de quem quiser sobreviver ao sistema corrupto que contemplamos escancaradamente. Nossos impostos não são honestamente aplicados em favor do bem comum. Quanta sujeira varrida debaixo dos tapetes de nossos Governos! Subestimam nosso senso crítico e nós não exercitamos nossa cidadania e direitos. Não valorizamos nem mesmo um centavo de troco, permitindo que de centavo em centavo, alguns poucos enriqueçam com dinheiro ilícito. Somos apáticos e conformados com o que nos é imposto, tornando-nos o País que paga os mais altos impostos do mundo, sem que esses sejam aplicados em melhor qualidade de vida dos cidadãos.

            Os bancários fazem greve enquanto os banqueiros se dão conta de que muitos dos grevistas são inúteis, já que a vida do País continua. Sofre o povo simples. Basta inovar um pouco mais a tecnologia eletrônica da transação bancária e a mão de obra humana torna-se supérflua. Não seria mais inteligente que os bancários combinassem uma greve interna, sem prejuízo aos clientes de seus bancos? Durante um mês os funcionários dos bancos deixariam de vender os produtos de seu banco, atendendo tão somente os clientes, sem fechar as portas. Nosso dinheiro fica à mercê dos bancos que enriquecem ainda mais, durante a greve.

Seria injusto, não fosse diabólico! Enquanto grevistas gritam por justiça, políticos votam aumento dos próprios salários. Daí que afirmo acreditar na honestidade da maioria dos políticos, desde que trabalhem sem salário fixo; contentando-se apenas com o necessário para servir seus eleitores!

Corruptos e desonestos não nascem nas Câmaras, no Congresso Nacional, Senado e até mesmo na Suprema Corte. São (des) educados no seio da própria família desde tenra idade. Quando os pais pagam seus filhos para que obtenham bons resultados na escola; quando recompensam os filhos por serem educados, comportadinhos e coniventes com as falcatruas familiares formando assim homens e mulheres desonestos, corruptos e sem escrúpulos.

            Também em nossas Comunidades, precisamos estar atentos para destinar com justiça o dinheiro que nos chega, aplicando-o honestamente. Refiro-me ao dízimo, às coletas hodiernas e extraordinárias e taxas cobradas nas secretarias de nossas Paróquias e Celebrações. A Coleta para as Obras Missionários deste Dia Mundial das Missões deverá ser enviada toda ela à Cúria, sem subtrair nenhum centavo, como parece acontecer frequentemente. Não podemos utilizar o dinheiro das Coletas para decorar nossos Templos. Vivemos com simplicidade, utilizando os recursos para nossas despesas? Devemos sustentar nossas Comunidades com dignidade e partilhar de nossa pobreza com os que têm menos do que nós. O que Jesus diria a cada um de nós, vendo que algumas Comunidades sobrevivem com dificuldades agudas, enquanto outras ostentam luxo chamado de bom gosto? É admissível que numa Igreja que se diz ser de Jesus Cristo haja tamanha disparidade e desigualdade entre irmãos no Sacerdócio? A tão falada “fraternidade presbiteral” é concreta ou não passa de “balela”? Cada um de nós é chamado a responder desde os porões da própria intimidade: somos coerentes ou hipócritas entre o que pregamos e vivemos: na Família, na Sociedade, na Igreja e na Política?

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 45,1.4-6; Sl 95(96); 1Ts 1,1-5 e Mt 22,15-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, pp. 75-82 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2020) pp. 51-55.

           

           

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM

  MÊS MISSIONÁRIO

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Na casa do Senhor habitarei eternamente” (cf. Sl 22).

 

            No Vigésimo-Oitavo Domingo do Tempo Comum o Senhor, que põe um fim à desonra de seu povo, prepara-nos o banquete em sua casa, para celebrarmos sua salvação. A Igreja em saída compartilha as dificuldades do povo de Deus e anuncia a alegria do evangelho pelas ruas e encruzilhadas, convidando a todos os que encontra. Vestindo o traje de festa, tomemos parte na comunidade-esposa de Cristo em comunhão com a Igreja toda.

            O grande rei é Deus que organiza a festa de núpcias do seu Filho. A esposa é a humanidade ou a Igreja, santa e pecadora, fiel e prostituta, livre e presa aos esquemas do poder. Entretanto, Cristo a ama da mesma forma como sua esposa. Ele sabe que o seu amor terá o poder para transformá-la, para deixá-la bonita e atraente.

            O banquete representa a felicidade dos tempos messiânicos. Quem acolhe a proposta do Evangelho começa a fazer do Reino de Deus e experimenta a alegria mais pura e profunda.

            Os convidados recolhidos ao longo dos caminhos e pelas praças, bons e maus, limpos ou sujos, são os homens do mundo inteiro. Isso nos leva a abrir o coração e as portas das nossas comunidades a qualquer tipo e pessoa, aos pobres, aos marginalizados, a quem é rejeitado por todos.

            Os primeiros convidados não entram na festa. Recusam porque não querem largar os próprios interesses. Não precisam de ninguém que lhes ofereça um banquete: têm tudo o que lhes pode garantir uma vida sem problemas. Estão satisfeitos. Os que não são pobres, os que não querem abandonar as próprias garantias materiais, os que não têm fome e sede de um mundo novo, não entrarão jamais no Reino de Deus.

            O Evangelho nos faz um convite forte a nos posicionarmos a favor da justiça do Reino, que é liberdade e vida para todos. A comunidade dos que seguem a Jesus só será esposa do Cordeiro quando vestir o traje da justiça. E o Evangelho é um convite a nos posicionar a favor da justiça do Reino que se chama de liberdade e vida para todos. Paulo na sua Carta nos ajuda a sermos gratuitos e solidários com os empobrecidos.

            Jesus no Evangelho nos faz refletir e entender a nossa atuação política na sociedade. Não podemos ser manipulados e enganados por falsas promessas. Acolhendo as palavras de Jesus e fazendo parte da festa de casamento que um grande rei fez para o seu filho, ficamos com a certeza de que o Reino é para os pequenos e marginalizados.

            Sintonizados e unidos a Jesus, o esposo da nova humanidade e da Igreja, somos chamados a crescer na aliança com ele e com todos os pobres e excluídos da terra. Assim, o Papa Francisco nos ensina: “A missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça”, “à experiência do êxodo contínuo” em direção das muitas periferias em que se encontram os excluídos de nossa sociedade.

            A missão da Igreja é por isso um constante sair de si mesma. Como nos lembra sempre a Campanha Missionária, a Alegria do Evangelho se realiza quando somos de verdade “Igreja em saída”.

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão nosso abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 25,6-10; Sl 22(23); Fl 4,12-14.19-20 e Mt 22,1-14 ou 1-10).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, pp. 48-55 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2020) pp. 39-43.

COMO É BOM SER CRIANÇA!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com


No dia 12 de Outubro, celebramos o Dia da Criança! Desde 1980, quando da primeira visita de São João Paulo II ao Brasil, este dia passou a ser feriado, pois Nossa Senhora Aparecida, decretada a Padroeira do Brasil, é solenizada neste mesmo dia. Há legisladores que desejam retirar o feriado do dia 12 de Outubro, por que dizem ser um feriado meramente religioso e quem não aceita Nossa Senhora como a Mãe de Deus, causando descontentamento em razoável número de eleitores, especialmente os católicos, argumenta o pluralismo religioso e a democracia política.

                    A Criança é comparada, por Jesus Cristo no Evangelho, ao Reino de Deus! E Como é bom ser Criança comparada ao Reino de Deus, a partir das três características que lhe são próprias e que os adultos jamais deveriam perder: a sinceridade, a espontaneidade e a pureza! A criança é sincera, diz o que pensa, suas palavras brotam do coração, sem a preocupação de incomodar ou não. A criança é espontânea, segue seus impulsos inofensivos, sem fingimento, sem a preocupação de agradar ou não e, brotam de sua inocência. A criança é pura; não tem malícia em nada do que diz e faz!

                    Quando crescemos e nos tornamos adultos, nossa sinceridade vira mentira, nossa espontaneidade vira fingimento e nossa pureza vira malícia. Daí consiste a comparação da criança com o Reino de Deus. "Quem não for como uma criança, não entrará no Reino dos Céus". Só conservando as características da criança, mesmo na vida adulta, saberemos Como é bom ser Criança!

                    Não basta comemorarmos um Dia da Criança, mobilizando a sociedade e as entidades com brinquedos ou presentinhos descartáveis. Precisamos criar consciência de que a criança é gente e não uma coisinha fofa, que precisa ser cuidada com dignidade e respeito. Mais do que oferecer brinquedos às nossas crianças, precisamos deixar de brincar com elas.  Em que condições vivem as crianças de nosso País? Há escolas eficientes para todas elas? Há condições básicas de saúde, moradia com higiene, alimentação adequada, lazer suficiente? Nós respeitamos suficientemente as crianças que representam o futuro de nossa nação? Como estão os porões de nossa linda cidade, os quintais e os cortiços de amontoados de crianças mal cuidadas? E aquelas que aprendem a deseducação nas ruas ou diante dos meios mediáticos alienantes e covardemente violentos, sejam do ponto de vista antropológico ou sociológico?

          A criança precisa sentir-se acolhida, bem-vinda e à vontade em nossos espaços celebrativos. Onde não temos condições de um espaço especial para elas, é fundamental que as deixemos à vontade. Muitos pais se perguntam: "Onde erramos? Nossos filhos não querem nem ouvir falar de Igreja!" Costumo responder que também eu não voltaria, a não ser obrigado, ao ambiente onde fui humilhado, exposto e mal acolhido; lugar onde me mandaram calar a boca. E pior: há mães que, para calar a boca dos filhos, culpam o padre, dizendo que este ficará bravo, caso ela não pare quieta.

                    Minha homenagem às crianças quer ser uma bênção muito especial, que invoco sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil, celebrada justamente, no Dia da Criança - 12 de Outubro. Peço confiante que todas as nossas crianças sejam protegidas da violência, do mundo das drogas, do consumismo, modismo e hedonismo que ditam as normas de nosso tempo, tantas vezes sem perspectivas de um futuro promissor à grande maioria das crianças de devemos amar muito!

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

 MÊS MISSIONÁRIO

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

“Eu vos escolhi foi do meio do mundo,

a fim de que deis um fruto que dure” (Jo 15,16).

 

            No Vigésimo-Sétimo Domingo do Tempo Comum somos convidados a celebrar a páscoa de Jesus. Ela se realiza nas comunidades e grupos dispostos a colaborar para que o reino de Deus produza frutos para o bem de todo o povo, a vinha amada do Senhor.

            Somos a vinha do Senhor, cuidada com carinho pelo Pai e regada pelo sangue de Cristo para que produza os frutos de paz e de vida que Deus deseja e espera de nós.

            A comunidade é a vinha do Senhor, da qual ele cuida com carinho e espera frutos de amor e justiça. Todos somos trabalhadores do reino de Deus e também responsáveis pelo seu crescimento. A celebração é o momento privilegiado para aprendermos a ser ternos, apesar dos conflitos.

Neste mês das missões, com o tema “A vida é missão”, “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8), somos convidados a rever nossa vida em família, eclesial, social e política. Somos missionários ousados e corajosos, ou meros espectadores dos abusos que acontecem ao nosso redor, decepcionando nosso povo amado, por não exercermos nossa vocação também profética em nossas Comunidades e na Sociedade?

            Jesus retoma o texto de Isaías, mas não coloca a culpa na vinha por sua falta de bons frutos, e sim nos meeiros que deviam cuidar dela. Além de impedir que os bons frutos cheguem ao dono da vinha, ainda são violentos com seus enviados. É uma crítica muito séria que faz aos que se consideram donos da religião e senhores da fé do povo. Apropriam-se da relação entre Deus e seu povo, desorientam aquilo que permite o povo ligar-se a seu Senhor.

            Muitas vezes, certas lideranças religiosas impedem que o povo seja Povo de Deus para ser povo dos anciãos, dos escribas, dos sacerdotes, de fulano, de tal movimento... O povo vira joguete nas mãos dos chefes religiosos que buscam seus interesses e não o Reino de Deus. É isso que Jesus critica, mesmo que sua denúncia profética lhe cause a morte.  Sempre costumo pensar que Jesus foi condenado à morte de cruz por pura inveja clerical. Não bastando puxar-lhe o tapete, mandaram matá-lo, a fim de que deixasse livre o caminho aos “maus pastores”: interesseiros, exploradores da ignorância dos mais simples... Pior de tudo isso, é que Jesus continua sendo crucificado ainda em nossos dias, geralmente pelos que se consideram os “pastores mais certinhos”, os engessados em suas próprias hipocrisias!

            Que frutos se esperam da vinha plantada e cuidada com tanto carinho? O Senhor espera dela o direito e a justiça. Estabelecer o direito e a justiça é uma exigência de Deus como expressão de fidelidade à Aliança entre Deus e seu povo. Nosso Deus, que é Deus da vida e do amor, quer que, em nosso meio, reine a justiça, respeite-se o direito de todos, em especial dos mais pobres.

            Na Palavra proclamada, a opressão contra os mais pobres é considerada um homicídio. Os vinhateiros são homicidas não só porque matam os enviados, inclusive o Filho, mas também porque despojam o pobre, violam o direito, não dão os frutos da justiça que pede o Senhor. Por ser assim, o Reino de Deus vai ser entregue a outras pessoas.

            O fato de sermos cristãos não nos garante o Reino. Somos escolhidos para sermos sinal do amor, da misericórdia e da salvação de Deus. É preciso provar essa escolha com frutos e ações concretas de justiça e direito. Ser cristão é dar a vida. Se colocarmos em prática o Evangelho, o Deus da paz vai estar conosco e dessa paz seremos testemunhas no mundo em que vivemos.

            Entrando no mês dedicado às missões, peçamos a Deus a fidelidade a seu serviço, para que sejamos dignos de sua eleição.

                        Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão nosso abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 5,1-7; Sl 79(80); Fl 4,6-9 e Mt 21,33-43).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, pp. 22-30 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2020) 33-38.