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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

COMENTADO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 



         A festa da Epifania celebra a manifestação de Jesus Cristo, luz e salvação de Deus, a todos os povos e nações. Jesus é o verdadeiro Messias, o rei justo, o libertador, esperado por todas as pessoas comprometidas em construir o Reino da justiça. Os sábios do Oriente representam os que se deixam guiar pela luz, pelo projeto de Deus a serviço da vida plena. Eles experimentaram uma grande alegria ao encontrarem Jesus, o rei dos judeus, e o adoram, oferecendo-lhe os seus presentes.
            As promessas das Escrituras acerca do Messias são compreendidas à luz da fé na ressurreição. Quem se deixa iluminar pela sabedoria de Deus, acolhe e reconhece Jesus como o Messias prometido, o portador da salvação a toda a humanidade. A ambição, o poder, como os de Herodes, leva a rejeitar a presença do Salvador desde o seu nascimento. A atitude dos reis, que chegam de longe para adorar o Menino, contrasta com a dos chefes de Jerusalém que tramam sua morte.
            Somos convidados a seguir o exemplo dos magos: guiados pela estrela, caminhar ao encontro do salvador da humanidade. A páscoa de Cristo se manifesta como luz na vida de todos nós que esperamos a revelação do Senhor e ansiamos por unidade, justiça e paz.
            Contemplemos nas leituras a glória do Senhor, luz que ilumina e reúne em torno de si toda a humanidade, e acolhamos com fé a manifestação do recém-nascido, nosso salvador.
            Abandonemos o desânimo e olhemos para frente com esperança, pois a glória de Deus já se manifestou sobre a humanidade. Precisamos descobrir a estrela que nos guie de forma segura ao longo do ano. Já não há povo excluído das promessas divinas, manifestadas em Jesus. Deus se manifesta a todos os povos na pessoa frágil do menino Jesus.
            O episódio dos reis magos acentua o acolhimento de Jesus e sua mensagem pelos gentios e prefigura a missão universal dos discípulos de evangelizar “todas as nações”. É um apelo bem atual para a nossa realidade.  Ao descobrir os sinais (a estrela), os Reis Magos se colocam no caminho, perguntam aos que conhecem as Escrituras, procuram até encontrá-lo e o adoram, aderindo a ele com a fé e a vida.
            O encontro com o Senhor transforma a nossa vida. Sua presença e palavra nos iluminam e nos convidam a levantar, comprometendo-nos a construir um caminho novo de libertação. Em Cristo nos tornamos discípulos e discípulas, participantes da mesma herança, do mesmo corpo, da mesma promessa de salvação. A “Epifania” do Senhor nos proporciona viver a comunhão e a fraternidade com todos os povos do universo.
            Lá na periferia, longe do palácio real, “os magos viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” que indicam, respectivamente, a sua realeza, divindade e incorruptibilidade.
            A estrela que leva os cristãos a Jesus nos dias atuais, é a fé recebida, como dom gratuito no dia em que mergulhados no útero da Igreja, a Pia Batismal. Adotados da sabedoria divina, nosso horizonte aponta a “estrela” que nos conduz a Jesus. Além disso, todo cristão é convidado a ser estrela a qualquer pessoa que esteja à procura de Jesus. É interessante que os Magos procuram saber o itinerário com Herodes, porque nem de longe poderiam imaginar que aquele rei não soubesse do acontecido em Belém. Enganados pelo rei invejoso, tomam caminho adverso, depois de encontrar-se com Jesus. Mesmo assim não conseguem evitar que a inveja incontrolável de Herodes mande matar todos os meninos com menos de dois anos de idade. Seria insuportável conceber um rei em seu lugar, ou então, alguém superior a ele.
            Quantas vezes, entre nós, vestimos a inveja de Herodes, degolando (com nossa língua maldosa) nossos irmãos por pura inveja?
            Há quem engane o itinerário até Jesus. São aqueles que se rogam o direito de julgar, condenar e despistar, para não dizer, enxotar as pessoas de nossas Comunidades: seja por ignorância, seja por pura inveja, esta que cheira a Herodes!
            Como seria bom e agradável ao Senhor, que a Epifania fosse mais real, sincera, sentida e comprometida em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. Ainda há tempo de conversão! Sejamos a Estrela que conduza nossos irmãos a Jesus o Salvador!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3.5-6 e Mt 2,1-12).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 29-33 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo do Natal (Janeiro de 2020), pp. 42-46.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS DIA MUNDIAL DA PAZ


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 



            Estamos vivenciando as festas natalinas, com a celebração da manifestação do Senhor em nossa vida e história. Nossa atenção se volta ao mistério da Mãe do Senhor sob o título de “Mãe de Deus”.
            Ao afirmar que o Menino, nascido de Maria, é Deus, em decorrência disso, a Igreja proclamou que Maria é Mãe de Deus. E isso não é de agora. Desde muito, nós cristãos honramos “... Maria sempre Virgem, solenemente proclamada Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem, segundo as Escrituras” (UR, n. 15: Decreto conciliar sobre a reintegração da Unidade dos cristãos).
            Neste Dia Mundial da Paz, iniciando um novo ano, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e da proteção permanente de Deus. É em nome de Jesus, a plenitude da bênção, que invocamos bênçãos de paz sobre nós e sobre os povos em conflito.
            A alegria deverá orientar nossa primeira celebração religiosa do novo ano civil.  As festas e os brindes da Passagem do Ano, geralmente, impedem as pessoas de participarem desta significante celebração. Muitos dormem sua ressaca, outros nem conhecem a profundidade de tão linda celebração, que deveria ter maior prioridade entre os cristãos. Acolhidos por Maria, Mãe de Deus e nossa, desperdiçamos a oportunidade de pedir a ela que nos acompanhe ao longo dos próximos 365 dias. Segundo o Papa Francisco, a fraternidade pode superar a “cultura do descartável” e promover a “cultura do encontro”. O Deus da bênção e da paz nos congregue numa só família.
            O povo pode contar sempre com as bênçãos de Deus. A maior delas é a vinda do seu Filho, graças ao sim de Maria. A exemplo dos pastores, vamos abrir o coração e nos dispor para o encontro com Jesus.
            Deus quer nos abençoar ao longo de todo este ano. Os pastores, gente pobre e desprezada, são os primeiros a ir ao encontro de Jesus. Deus conta com a colaboração humana para realizar seus projetos. Os pastores cheiram mal, pois cuidavam de ovelhas e viviam ao relento. Poderíamos compará-los, em nossos dias, aos irmãos coletores de lixo. Imaginem que eles correm mais de trinta quilômetros por noite, em nossa metrópole rica e privilegiada, recolhendo nosso lixo depositado nas calçadas. Enquanto as autoridades eclesiásticas, políticas, civis e a nata da elite de uma sociedade economicamente privilegiada pensam anunciar o Salvador do mundo, este se revela, através da Corte Celestial dos Anjos, aos preteridos e “fedidos” entre todos: na época os Pastores; hoje, talvez, nossos Coletores de Lixo, ou aqueles que consideramos Lixo Humano entre nós: os idosos, os enfermos, os dependentes de alguma droga lícita ou não, e nem por último os mendigos mal-cheirosos que adentram nossas celebrações, pedindo uma esmola para suportarem a exclusão com mais um gole de cachaça ou uma cheirada de craque... Se não estivermos abertos ao diferente, ao simples, e não fizermos a experiência da humildade, deixando de lado nossa prepotência, arrogância, autossuficiência, corremos o risco de desencontrar-nos com o Senhor que só nasce mesmo em manjedouras simples, humildes, puras e livres para acolhê-lo.
            A exemplo de Maria, humilde serva do Senhor e bendita entre as mulheres, cantemos um hino de ação de graças ao Pai, que nos cumulou de bens por meio de seu Filho.
            A palavra de hoje ressalta a imposição do nome de Jesus, sua inserção na sociedade humana. Como o Filho de Deus, nós também recebemos um nome ligado à nossa existência e à nossa missão. A atitude dos pastores nos ensina a acolher e anunciar a Boa Notícia da presença do Salvador em nosso meio. Com Jesus, nos tornamos herdeiros da salvação e podemos clamar: Abba, Pai, vivendo fraternalmente como irmãos e irmãs.
            Maria, a mãe de Jesus, é imagem da comunidade fiel e comprometida com o plano da salvação.
            Com o exemplo de Maria no seu sim incondicional, assumimos “de boa vontade” a proposta de Jesus de sermos promotores da paz em nossos lares e na sociedade em que vivemos.
            Invoquemos com confiança a bênção do Senhor, o Deus de bondade, sobre todos os povos e nações, neste Dia Mundial da Paz. Que ele guarde, ilumine, mostre a sua face de Pai e dê a paz a todos. Com Jesus, o Filho de Maria, a maior bênção da salvação para toda a humanidade, nos comprometemos a trabalhar alegremente na construção da paz.
            Saibamos rezar por nossos Governantes, para que promovam, além da paz, a maior dignidade de todos os Filhos de Deus. Estejamos atentos e tenhamos a coragem e ousadia proféticas de “cobrar” melhores condições de vida em todos os setores que garantam uma vida digna a cada cidadão, sem nenhuma acepção ou discriminização, deixando de lado as inúmeras “barganhas” divulgadas no ano que se declina. Formemos “consciência política crítica” neste novo Ano! Este será mais um ano eleitoral! Vamos eleger nossos Prefeitos e Vereadores! Não é a economia de um País que o determina civilizadamente desenvolvido. É a dignidade do Povo de um País que deverá discernir sempre nossa cidadania, direitos e deveres! A cultura do consumo e do lucro à custa da indigência do Povo precisa ser superada pela Cultura do Encontro, da Fraternidade, da Partilha e da Ternura!
Sejam todos muito abençoados neste Novo Ano que se inicia.  Sejamos protagonistas da paz por onde passarmos, exalando o perfume da ternura em nossas relações.
Com a mesma ternura, o abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7 e Lc 2,16-21).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 19-22, e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Janeiro de 2020), pp. 38-41.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ!



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Vieram apressados os pastores
E encontraram Maria com José,
E o menino deitado no presépio” (Lc 2,16).

            A Palavra de Deus nos convida à transformação das relações pessoais, familiares, comunitárias, sociais e cósmicas. A família está inserida no contexto sociopolítico-econômico-ecológico, assim os problemas sociais, políticos, econômicos, ambientais a atingem e recaem sobre ela.
            Injustiças, violências, desemprego, salário baixo, competição desmedida, falta de comunicação verdadeira entre as pessoas, exploração de gênero, desmatamento, poluição das águas e do ar atingem a família e, por isso, fazem parte do projeto de vida familiar.
            Entretanto, romanticamente, ainda existem pessoas que querem resolver problemas familiares, como se fossem problemas internos, desligados do mundo atual, caindo assim no reducionismo ingênuo, somente psicológico, sem questionamento das raízes mais profundas. Existem até pastorais que se dedicam apenas a encontros desligados da realidade global.
            A carta de Paulo aos colossenses pode ser para nós o sério apelo de Deus para uma mudança radical no modo de viver: revestir-se de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, sendo suporte uns para os outros, perdoando uns aos outros e pedindo perdão, quando for necessário. Acima de tudo “amem-se uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição.” Para vivermos o que a carta aos colossenses nos diz, é necessário cultivar o diálogo, o respeito, a compreensão e a ajuda mútua; aceitar as atribuições de cada membro da família; viver a obediência responsável; ter capacidade de confrontar a vida com o projeto de Deus.
            Para nós, a sagrada família de Nazaré é o modelo de família humana. Era uma família vivendo uma situação especial dentro da história da salvação, composta de pessoas muito amadas e escolhidas por Deus, cada qual vivendo a fidelidade ao chamado do Senhor. As famílias de hoje são convocadas a serem as sagradas famílias do século XXI.
            Diante da situação cada vez mais desafiadora, inquietante, cheia de tensões e riscos em que vivem nossas famílias, suplicamos ao Pai, que lhes conceda o critério supremo do amor, do exercício da compaixão e do diálogo, verdadeira fonte da união e da paz.
            A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (cf. Exortação apostólica do Papa Francisco A Alegria do Evangelho nº 1). O Papa Francisco conclama toda a Igreja e nela, a Família Cristã, a acolher, compreender e anunciar A Alegria do Evangelho, que é bússola orientadora de novo ânimo, novas perspectivas, novo sentido e grande esperança para o mundo, cuja célula é a Família!
            “A ALEGRIA DO AMOR que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o desejo de família permanece vivo nas jovens gerações. O anúncio cristão que diz respeito à família é deveras uma boa notícia” (cf. Exortação apostólica do Papa Francisco Amores Laetitia n. 1).
            Enquanto a Cultura da Sobrevivência coloca a Família de bruços, engolindo-a com o tripé de contra valores: o consumismo, o hedonismo e o individualismo, a Festa da Sagrada Família nos conclama e incentiva a reerguê-la, devolvendo-lhe a necessária dignidade humana! Saibamos, a partir desta festa solene, reencontrar meios para ancorar nossa Família em valores essenciais, como o amor gratuito, a verdade, a justiça e a liberdade!
            Desejando-lhes abençoado Ano de 2020, nossa ternura, gratidão, e abraço cheio de novas esperanças!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Cl 3,12-21 e Mt 2,13-15.19-23).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2019, pp. 95-98 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Dezembro de 2019), pp. 31-37.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Um menino nasceu para nós:
Um filho nos foi dado!
O poder repousa nos seus ombros.
Ele será chamado ‘mensageiro do conselho de Deus’!” (Is 9,6).

            Natal é o mistério, sacramento da humanização de Deus e da divinização humana. Festa da fidelidade e da ternura de Deus para conosco. O Verbo, a Palavra eterna, a Sabedoria, a mais fiel comunicação do Pai, o Filho amado se faz pequenina e frágil criança, filho de um casal de pobres, provindo de um recanto não importante do mundo, para “realizar o direito e a justiça”.
            Não simples comemoração do aniversário de Jesus, mas a realização da promessa de Deus de fazer uma aliança eterna de amor com toda a humanidade e de restabelecer o seu Reino no mundo. Com a encarnação, afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II, o Filho de Deus uniu-se, de certa maneira, a toda a humanidade (cf. GS, n.22) e mais ainda atingiu todo o universo (cf. GS, n.38). Iniciou-se, portanto, o misterioso processo de renovação e unificação de toda a humanidade e do cosmos com Cristo.
            Recordamos o nascimento de Jesus em Belém, pobre entre os pobres, junto com Maria e José, com os pastores de ontem e de hoje, acolhemos, com ternura e alegre júbilo, o anúncio dos anjos e a proclamação da paz a todos os “filhos amados de Deus”.
            Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que acontece em sua Encarnação, em seu nascimento em nossa carne, no seu ato solidário de assumir em tudo a nossa condição humana, nossa corporeidade com suas necessidades vitais; nossas alegrias e tristezas, audácias e fraquezas, conquistas e fracassos.
            Do meio das palhas de sua manjedoura, acolhemos do Menino-Deus um forte apelo para o cultivo de relações novas e duradouras, valorização de tudo o que é humano, simples e pequeno, gestos gratuitos de solidariedade e benevolência entre nós e com toda a natureza.
            Jesus nasce entre pobres, migrantes, refugiados, dependentes alcoólicos e químicos, moradores de rua, crianças e famílias em situação de vulnerabilidade, pastores; encarna-se na realidade dos que sofrem. Deus entra em nossa história através de uma mulher marginalizada.
            Deus fiel é solidário com a humanidade e a humanidade pode tomar novo rumo. A glória de Deus é que a humanidade toda viva, é ação concreta repercutindo na Terra, trazendo a paz para todos.
            A Noite do Natal nos conduz às fontes de nossa fé. Noite de luzes, cores, cheiros, sons, cantos e diálogos. Jesus nasceu em Belém, casa do pão, e foi rodeado por pobres, pastores, animais... Na marginalidade, o Filho de Deus tornou-se um de nós, fez-se criança, entrou na História da humanidade e no mundo criado... A Palavra de Deus fez-se gente pequena, em um lugar pequeno, entre pequenos, para ser o Emanuel, Deus conosco para sempre. Nasce Jesus, insignificante ante os olhos da força cínica de Herodes e força endeusada do imperador de Roma; reconhecido apenas pelos que não tinham poder na terra, mas que estavam atentos aos sinais de Deus.
            Jesus nasceu de Maria, no seio de um povo sofrido e dominado, em lugar e em época bem concretos. Se falarmos apenas de Jesus que nasce em nossos corações, em nossas famílias, a encarnação poderá tornar-se uma abstração, ou um sentimentalismo individualista e barato.
            O Natal manifesta a irrupção de Deus na história humana com a seriedade de sua fidelidade às promessas de restauração de suas criaturas desviadas do projeto fundamental do Pai. Natal da pequenez e do serviço, rompendo e exigindo rompimento com o poder de dominação e prepotência do homem sobre pessoas e povos marginalizados e sucumbidos pelas botas do opressor. O verdadeiro Natal exige rompimento com o cheiro dos palácios, muitas vezes mofados. Ele nos pede aliança, proximidade com o cheiro do presépio, das ovelhas, das favelas, das periferias, das matas, da terra, das águas... Compromisso de transformação de tudo isto em nova criação, sonhada por Deus.
            Não é possível separar o Natal e realidade atual; fé cristã e história humana; encarnação do Filho amado do Pai, mas filho de Maria, na pequenez. Nossa fé leva-nos à luta cotidiana para que o cheiro do presépio e das ovelhas chegue ao palácio dos imperadores de hoje, à casa de Herodes, traidor do povo e da história da salvação.
            Que Boa Notícia a Palavra de Deus nos diz neste momento? Qual é a esperança que se firma em nosso coração?
            Gosto muito da frase que se pronuncia, geralmente em voz baixa, durante a preparação das oferendas na Missa, enquanto se coloca uma gota de água no cálice com o vinho: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou assumir nossa humanidade”. Penso que esta afirmação deveria ser dita em voz alta, pois sintetiza o evento do Natal do Senhor!
            Gosto, também, de pensar como Deus dribla a humanidade, nascendo numa manjedoura, entre animais. Como se não bastasse, se permite anunciado em primeiro lugar aos mais simples dos simples: os pastores, durante uma fria madrugada. Talvez os únicos acordados naquela noite. Certamente os mais sensíveis e talvez os mais disponíveis para ouvir o jubiloso anúncio dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”, isto é, aos homens e mulheres de coração aberto para acolher numa manjedoura, um recém-nascido envolto em panos, Emanuel, o Deus Conosco, na meiguice e fragilidade de um bebê. Simplesmente uma criança. Isto me convence que Deus é muito mais simples do que O complicamos! Basta estar aberto, atento, ser hospitaleiro e acolhedor. Basta ler a face do Senhor no semblante do Outro!
Feliz e Santo Natal a todos!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler para a Missa da Noite: Is 9,1-6; Sl 95(96); Tt 2,11-14 e Lc 2,1-14).
(Ler para a Missa do Dia: Is 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2019, pp. 81-84 e 86-89 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Natal (Dezembro de 2019), pp. 22-30.

O NATAL E A SAGRADA FAMÍLIA!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com




Na oitava do Natal celebramos O Natal e a Sagrada Família! O Natal perdeu muito de seu verdadeiro sentido. Há 50 anos, antes de entrarmos para a era do pós-industrialismo e seu laicismo pragmático e materialista, pelo menos 80 em cada 100 lares tinham ao menos um Menino Jesus e uma Sagrada Família num cantinho da sala. O Natal era um momento significativo para o crescimento na fé. E o centro desta celebração era a pessoa frágil e indefesa do Menino Jesus. Era muito importante entender Seu nascimento.

os tempos atuais, pelo menos 98% das lojas tem um Papai Noel. Nas vitrines enfeitadas, Jesus não entra. A Festa do Natal deixou de ser do Menino de Belém para se tornar daquele que tem coisas para dar às crianças ou aos amigos. Ser não é importante. Ter ficou mais importante: coisa típica do industrialismo materialista. Perdeu o grupo, o coletivo e venceu o individualista, o opulento, o velho (Papai Noel) que tem e dá.

Para a Igreja, o Batismo é um desafio. É nascer em Jesus e assumir o seu projeto de vida e liberdade para todos. É andar, pensar, amar e orar com Jesus. É nascer de novo e ir renascendo a cada dia. E viver o compromisso de fé decorrente do Batismo. Eis a proposta para uma “Igreja em Saída”, missionária e toda ela ministerial, como tanto nos pede o Papa Francisco!

O Natal insere-se nessa mística. Acontece que a morte tem sido institucionalizada no triste contexto da civilização das ogivas nucleares, do macro mercado, dos macros marginais, do crime internacional, da corrupção tão devastada entre os representantes legítimos do povo, dos juros extorsivos, da morte mais eficiente, da produção que se perde e do 1,2 bilhão de famintos e miseráveis.

Os meios de comunicação encarregam-se de difundir a cultura da morte com milhares de cenas violentas dos Robocops, Rambos, etc. A morte diverte e vende mais. De tragédias anunciadas, então, nem se fala!

O nascimento de um bebê dá menos ibope do que um acidente que fere e mata. A vida está menos importante num mundo que destrói mares, florestas e nações sem o menor escrúpulo.

Festejar o Natal nesse tipo de mundo supõe uma profissão de fé na vida e no Autor dela. Devolver o Natal às famílias e lutar para que não fique circunscrito às Igrejas são tarefas desafiadoras. O Natal descristianizou-se e nós permitimos isso. Papai Noel ocupou o espaço social, econômico, político e até religioso que era de Jesus. Os cristãos perderam o marketing. No Natal, fala-se mais de Papai Noel do que de Jesus.

Nós e nossas Famílias podemos mudar isso! Se colocarmos os símbolos certos em nossas casas. Se crermos em Jesus. Ele tem de aparecer mais do que o Papai Noel. Mais ainda: deverá ser percebido em nossas relações humanas de amor e de ternura, como é O Natal e a Sagrada Família!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

NATAL ACOLHIDA, DIÁLOGO, CUIDADO E ENCONTRO!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com



O Natal é a celebração de Deus que, em Jesus Menino, assume a fragilidade humana. A pessoa humana, tão sensível e pequena, se torna roupagem da manifestação de Deus. Desce o divino que eleva o humano.

            O Natal manifesta a determinação de Deus em querer encontrar-se conosco, propondo uma forma de acolher e cuidar de cada pessoa em sua peculiar dignidade. Torna-se por isso visível e palpável!

            Natal é acolhida! Deus não desiste dos homens e por isso sempre encontra meios de bater a nossa porta. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap 3,21). Em tempos de insegurança temos medo de abrir as portas e isto pode impedir de acolher o Senhor que quer habitar em nossa casa, fazer refeição conosco e oferecer a salvação. São tantas as batidas em nossas portas: telefonemas, e-mails, mensagens de Whats App, carteiros trazendo cartões, vendedores… Abrir a porta requer atitudes de discernimento, acolhida e hospitalidade.

            Natal é diálogo! Deus, para realizar o seu projeto de amor, recebeu a acolhida de Maria. Inicia um diálogo com ela que termina com as palavras de Maria “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). O diálogo requer escuta, argumentação, proposição e respeito entre os dialogantes. O diálogo possibilita conhecer as pessoas e criar laços de solidariedade e amizade. O contrário do diálogo são os fundamentalismos. Que aprendamos a dialogar com Deus e as pessoas.

            Natal é cuidado! Todas as criaturas necessitam de cuidado. O ser humano com a sua criatividade e inteligência tem uma imensa capacidade de desenvolver meios de cuidado e de destruição. Ao mesmo tempo em que assistimos imensos avanços na medicina para cuidar da vida, assistimos o desenvolvimento de tecnologias que geram a morte. “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24). Deus restabelece a confiança de José em Maria e ele passa a cuidar de Maria e de Jesus. Cuidar uns dos outros é sinal de escuta da vontade de Deus.

            Natal é encontro! “Encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Os pastores, em sua simplicidade, acolheram a mensagem do anjo e foram ao encontro do Deus Menino, deitado na manjedoura. Só o encontraram por que abriram a porta da sua vida e assim estabeleceram um diálogo.

Feliz Natal e abençoado Ano Novo repleto de ternura!

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Céus, deixai cair o orvalho;
Nuvens, chovei o justo;
Abrase a terra e brote o Salvador!” (Is 45,8).

            No Quarto Domingo do Advento, o último, chegando ao ponto alto de nossa espera, despontam para nós os lampejos de um novo amanhecer, anunciando a chegada do Sol da justiça, o Emanuel, o Deus conosco. Ele é a manifestação do segredo escondido em Deus, há séculos: a salvação, a vida plena e feliz para toda a humanidade.
            A Palavra de Deus deste domingo nos remete ao vivo e evidente sinal do maravilhoso encontro do divino e do humano em Jesus de Nazaré.
            O acendimento das quatro velas que confirma a chegada plena da luz no seio de Maria, grávida pelo Espírito Santo e na fiel obediência de José, o homem justo. Ambos, modelos do Advento, vivem ardente espera do Salvador em meio à obscuridade da fé e às ambigüidades e provas da frágil condição humana.
            Mesmo na alucinação das compras natalinas, aturdidos pelos anúncios de um Natal esvaziado pelo consumismo e devotados ao ídolo mercantilista e tirano do dinheiro (como vem afirmando nosso amado Papa Francisco), a humanidade e todo o universo clamam esperançosos pelo Reino e se enternecem diante da simplicidade, da gratuidade, de relações verdadeiras, do serviço desinteressado do pequeno resto, da geração dos que buscam a Deus. Sinalizam a chegada do “Emanuel” e da força de seu Espírito, gerando, com autenticidade e sem muito barulho, um mundo novo.
            “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”. Este domingo é de fato, uma festa de Maria. A oração do dia de hoje tornou-se a conclusão da oração do “Angelus”.
            Deus tem um plano de bondade para a humanidade, toma a iniciativa e o cumpre de forma desconcertante. Envia seu próprio filho; repara na humildade e na fidelidade de uma jovem que aceita em si mesma a obra de Deus, que quer vir ser Deus conosco. José fica perplexo, mas se abre para compreender a ação de Deus. Deus vem habitar conosco; armou sua tenda entre nós.
            Deus age, mas com a colaboração de pessoas que assumem com simplicidade e, às vezes, com dificuldade sua responsabilidade, como aconteceu com José e Maria. Deus quer salvar a humanidade, através de nós, pessoas humanas. Uma gravidez é sempre uma ocasião para pais e familiares se colocarem dentro de um mistério. A pessoa que está sendo tecida no ventre materno não é apenas obra humana, mas revela a presença do Criador.
            A saudação – “Não temas!” – dita pelo mensageiro a José, no texto de Mateus, e a Maria, em Lucas, é dita hoje a nós, para nos animar na missão de colaborar com o projeto de Deus e para que “venham a nós” a paz e a justiça tão sonhadas.
            Neste tempo de Advento, somos convidados a viver em profunda contemplação e admiração, fé e confiança. É tempo de gestação de novas relações no silêncio do cotidiano da vida. Como José, somos encarregados de proteger as sementes de vida semeadas no ventre fecundo de nossas comunidades, nas organizações populares, entre os jovens, idosos e pequenos.
            Como comunidade eclesial, recebemos a Palavra, o Verbo encarnado da Vida que nos engravida pela ação amorosa do Espírito para continuarmos a ser sinais e instrumentos da salvação e da esperança no mundo em que vivemos. Jesus é o Deus-conosco e conosco permanecerá, até que a salvação se realize plenamente.
            Gosto de atualizar o evento narrado pelo Evangelho deste domingo. Em nossos dias, quando a filha da vizinha aparece grávida, fica “mal falada”. Mesmo com o hedonismo “em alta”, os que se sentem “certinhos” julgam e condenam a gravidez fora do casamento, principalmente quando ocorre com meninas jovens (menores de idade) ou por conta de alguma traição. Se é assim entre nós hoje, imaginemos a angústia e o dilema de José, de Maria, suas famílias e parentes... O que terá dito a sociedade de Nazaré? Foi preciso muita confiança, fé madura e gratuidade para acolher o que Deus pedia àquele jovem casal. Não poucas vezes colocamos em dúvida a presença amorosa de Deus em nossas circunstâncias. Nem poucas vezes questionamos ou culpamos Deus por dissabores e eventos incompreensíveis à nossa razão, e que só podem ser acolhidos pela ternura de nosso coração! Talvez este domingo nos sugira um pouco mais de silêncio, a fim de podermos ouvir o que Deus tem a nos pedir, a fim de participarmos do profundo mistério da salvação.
            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 7,10-14; Sl 23(24); Rm 1,1-7 e Mt 1,18-24).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2019, pp. 69-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Dezembro de 2019), pp. 18-21.