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quarta-feira, 31 de março de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação da festa, mas tem raízes na celebração da vigília dominical, presente na origem do culto cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é vigília à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.

            A celebração da Vigília Pascal consta de quatro momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.

            É verdade que, de modo bem semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-financeiro... Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que estamos a procurar entre os mortos aquele que está vivo.

            Cristo Ressuscitou. Vida nova se inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre junto à nossa comunidade e a cada um de nós.

            Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: “Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram” (cf. Jo 20,2).

            Enquanto a humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o passo na busca dos objetivos. A presença do Ressuscitado provoca vida nova na comunidade.

            O texto de João que proclamamos, na celebração da Páscoa, conjuga o primeiro e o terceiro dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser humano. O Dia é uma imagem do ser humano. Portanto, dizer Dia do Senhor é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano redimido. O Dia é uma imagem do ser humano que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo. Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da carta de Paulo aos Colossenses.

            Esta experiência precisa encontrar lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade. Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã – o domingo era um dia para recordar a permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.

            Neste sentido, é fundamental reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como antífona no canto de comunhão: Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em nossos dias, quer dizer, em nossa vida e em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio de paz.

            A Páscoa nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro vazio que emana o conteúdo de nossa acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!

            Como discípulos missionários do Senhor, a exemplo de Maria Madalena e dos apóstolos Pedro e João diante do túmulo vazio, nos tornemos testemunhas da ressurreição e experimentemos sua presença de Ressuscitado na pessoa de cada irmão, na comunidade reunida na fé, na Palavra de Deus proclamada e no Pão e Vinho partilhados.

             Celebrando o oitavo aniversário da renúncia do Papa Emérito Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós!

            Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de ternura, o abraço amigo e sempre fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 10,34.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9 ou nas Missas Vespertinas: Lc 24,13-35. Na Missa do Dia pode-se também proclamar o Evangelho da Vigília Pascal: Lc 24,13-35.

 

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2021, pp. 46-52 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Páscoa - Abril de 2021, pp. 31-36.

TRÍDUO PASCAL – OS TRÊS DIAS SANTOS

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Tereza de Ávila, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Os três dias, que vão da tarde da quinta feira à tarde do domingo (Calendário Romano 19) constituem o tríduo “da morte, da sepultura e da ressurreição” do Senhor. Na origem, a sexta e o sábado foram caracterizados pelo jejum, o domingo pela alegria, sem que houvesse qualquer celebração a não ser a vigília. Desse ponto de vista, não se pode dizer que o tríduo seja uma extensão da vigília. Ele constitui uma realidade essencial e pressuposta para que a noite pascal se revista plenamente de seu sentido: com efeito, ela é a passagem do jejum à festa, como foi, para o Cristo, a passagem da morte à vida.

A celebração da quinta-feira santa encontra seu ápice na Instituição da Eucaristia. As celebrações vespertinas serão transmitidas ao vivo pelo Youtube da Paróquia Santa Tereza de Ávila do Jardim Recreio de Ribeirão Preto.

A celebração não eucarística da sexta feira santa (Palavra, Oração Universal, Veneração da Cruz e Comunhão) tem por fim introduzir mais profundamente no mistério pascal e preparar a comunidade para a Vigília Pascal.

            No centro, acha-se a Vigília Pascal, que celebra toda a história da salvação, culminando na morte e ressurreição do Cristo. Ela comporta uma Celebração com o Rito da Bênção do Fogo Novo, a Preparação do Círio Pascal (omitidos neste ano), a Proclamação da Páscoa, a Liturgia da Palavra e Batismal (com a renovação das Promessas Batismais) e a Liturgia Eucarística. É “a mãe de todas as Vigílias e Celebrações”!

            Na quinta feira santa, às 9 horas, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, costumamos concelebrar a Missa da Unidade com a Bênção dos Santos Óleos, presidida por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva. É também nesta ocasião que os Presbíteros renovam diante do Arcebispo e do Povo de Deus reunido, suas promessas sacerdotais. Neste ano, por conta do agravamento do Coronavírus da Covid-19 esta importante celebração foi cancelada e será celebrada quando houver melhores condições.

 Já em nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor, celebraremos o Tríduo Pascal, neste ano mais uma vez, segundo as recomendações das Autoridades da Saúde, evitando aglomerações, sem a presença de nossos amados fiéis. Seguiremos zelosamente as Orientações de nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, para as Celebrações da Semana Santa. As Celebrações do Tríduo Pascal serão celebradas na Igreja Matriz da Paróquia Santa Tereza de Ávila no Jardim Recreio de Ribeirão Preto. A Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, permanece fechada durante a Fase Emergencial decretada pelo Estado de São Paulo e o Governo Municipal, que “proíbe Atividades Religiosas com a presença de fiéis”.

Iniciando na quinta feira santa às 18 horas, devido ao “Toque de Recolher”. Celebraremos as Instituições dos Sacramentos da Eucaristia, da Ordem e da Humildade (o Lava-Pés) às 18 horas, sem o Rito do Lava Pés e a Vigília Eucarística. A celebração da Paixão e Morte do Senhor será na sexta feira santa (Dia de Jejum e Abstinência) na parte da tarde às 15 horas. A Vigília Pascal no sábado santo será à noite às 18 horas. No domingo da Ressurreição do Senhor, celebraremos a Missa Solene às 18 horas na Igreja Matriz da Paróquia Santa Tereza de Ávila no Jardim Recreio, sempre de acordo com a disponibilidade de cada realidade: Sejamos próximos uns dos outros na oração, abraçando-nos espiritualmente, enquanto aguardamos passar esse período crítico de isolamento social. Aproveitemos essa pós-graduação do abraço fraternal! Abençoada e Feliz Páscoa!

quarta-feira, 24 de março de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DOMINGO DE RAMOS - COLETA DA SOLIDARIEDADE DA CFE-2021

 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 


Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão, entramos na Semana Santa. O que é a Semana Santa? Por que ela é tão importante na dinâmica do ano litúrgico?

            Na Semana Santa celebramos a História da Salvação de um Deus que se humilhou e tornou-se homem para caminhar conosco, conhecer a nossa história e nos apontar caminhos de vida. Mas não é só isso. No Getsêmani, Jesus experimenta uma grande tristeza e sente a dor da angústia. Suspenso entre o céu e a terra numa cruz, ele vive o doloroso abandono por parte do Pai. Enfrenta a traição de Judas que, com um beijo, o entrega aos seus inimigos. Pedro não o reconhece na presença de uma empregada. Os discípulos, seus amigos prediletos, fogem e o deixam sozinho nas mãos dos soldados. A condenação forjada é tramada para eliminar sua pessoa e os desígnios de Deus nele manifestos. Jesus, o Servo Sofredor, despido de toda dignidade é reduzido a um farrapo humano. Ele assume e faz seus todos os sofrimentos. Em sua morte e ressurreição, estão presentes todos os sofrimentos humanos.

            Façamos um minutinho de silêncio, olhemos para dentro de nós, até as entranhas de nossa intimidade, de nossa consciência. Depois olhemos ao nosso redor. Existem situações parecidas com as de Jesus em nossas relações humanas: sociais, eclesiais, políticas, familiares? Por acaso não sou também eu responsável por determinadas traições, exclusões, condenações injustas, que gritam fortemente em algumas pessoas de minhas relações e, que me remetem a situações de nudez, constrangimento, flagelo, dor, solidão e farrapo humano, a exemplo do Mestre? Um bom exame de consciência, com toda a honestidade e transparência talvez nos surpreenda... Mas ainda há tempo de mudar!

            A Semana Santa, tempo de comunhão e solidariedade com e em Jesus, é um tempo santo e precioso para entrarmos na História da Salvação e da Libertação. Somos convidados a tomar parte nesta história como agentes, como discípulos missionários, não permitindo que o pecado, que levou Jesus à morte e ainda destrói tantas vidas, invada o nosso ser e o nosso agir.

            Nesta Semana, meditamos o Evangelho de Jesus, contemplamos sua prática, acolhemos sua proposta de doação e partilha, entramos em sua atitude de obediência ao Pai e de serviço à humanidade.

            A Palavra que ouvimos na celebração deste Domingo de Ramos e da Paixão é muito forte. Ela nos confronta com nossa própria fé, com o modo como a vivemos e testemunhamos. No Evangelho que segue a bênção dos ramos, vemos Jesus a caminho de Jerusalém. Em que ponto deste caminho nós estamos? Estamos à frente, atrás ou nos mantemos a beira da estrada? Exultamos convictos: “bendito o que vem em nome do Senhor” ou o fazemos superficialmente, levados pelo “embalo da multidão”?

            Não basta clamar “bendito o que vem em nome do Senhor”. Urge agir e ser para que efetivamente haja espaço para ele se tornar presente em nossa sociedade. Há várias formas de buscar que isto se realize, uma delas é nos fazermos portadores da paz, que é fruto da justiça. É assumir, apesar de todas as pedras no caminho, o chamado que nos é feito e, a exemplo do servo sofredor, poder dizer: “não lhe resisti nem voltei atrás... sei que não sairei humilhado”.

            Esta certeza nos é reforçada pelo próprio Cristo que se esvaziou, se humilhou e depois foi por Deus Pai exaltado. Participar da Eucaristia significa viver o mistério de Jesus Cristo em sua totalidade. Neste Domingo de Ramos, porém, somos chamados a viver mais intensamente sua paixão e morte e, com a Campanha da Fraternidade Ecumênica, reafirmar “Cristo é a nossa paz! Do que era dividido, fez uma Unidade” (Ef 2,14a).

            O evangelho da Paixão nos conduz à contemplação. O sofrimento intenso de Jesus nos faz ver o quanto o projeto de amor e paz que ele trouxe entra em choque com o contexto mundano. A grande lição da Paixão é a paciência em meio às provações. Dedução muito fácil de fazer, mas difícil de pôr em prática. Somos convidados à firmeza de Jesus em meio às contrariedades, na Fraternidade e Diálogo: compromisso de Amor!

            É preciso fazer o mesmo que fez Paulo, que não hesitou em recomendar a contemplação do próprio mistério da kénosis para animar a vida quotidiana dos cristãos. A humildade, à imagem do Cristo, contribui para a qualidade de vida entre os membros da comunidade. “Tende um mesmo amor, numa só alma, num só pensamento; nada façais por competição e vanglória, mas com humildade, julgando os outros como superiores a si mesmo, não visando ao próprio interesse, mas ao dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2,2-5).

            Unidos com toda a Igreja no Brasil, concluímos neste domingo a primeira etapa da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021, FRATERNIDADE E DIÁLOGO: Compromisso de Amor. “Cristo é a nossa paz! Do que era dividido, fez uma Unidade” (Ef 2,14a). Além da nossa conscientização sobre o problema, os desafios e as perspectivas de uma sociedade violenta, dividida, intolerante religiosamente, injusta e corrupta em nosso país, é o dia de realizarmos o gesto concreto, pois a CFE se expressa concretamente pela oferta de doações em dinheiro, na Coleta da Solidariedade. Trata-se de um gesto concreto de fraternidade, partilha e solidariedade, feito em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses. A Coleta da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade Ecumênica. O gesto fraterno da oferta tem um caráter de conversão quaresmal, condição para que advenha um novo tempo marcado pelo amor e pela valorização da vida.

            Possamos viver intensamente, a começar das celebrações do Domingo de Ramos e da Paixão as riquezas de toda a Semana Santa, especialmente do Tríduo Pascal! A Coleta da Solidariedade, os frutos saborosos de nossos exercícios quaresmais de penitência, como o jejum e a abstinência nos leva a pensar naqueles que têm menos do que nós. Sejamos generosos e honestos diante de nossa consciência, de Deus e da Comunidade! Aguardamos orientações de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto, por estarmos impedidos de celebrar, pelo segundo ano consecutivo, a Missa de Ramos com a presença de fiéis. A Pandemia se agravou e estamos em Estado de Emergência no Estado de São Paulo, que se nos impõem medidas ainda mais restritivas, para evitarmos aglomerações, respeitando o máximo possível o distanciamento social. Esperamos tanto que tudo isso passe logo, poupando tantas vidas preciosas para todos nós!

Desejando-lhes abençoada Semana Santa, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Mc 15,1-39).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2021, pp. 95-102 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Quaresma de 2021, pp. 66-75.

COLETA DA SOLIDARIEDADE!

 

A ABERTURA DA SEMANA SANTA acontecerá no próximo domingo, dia 28 de março, quando em nossas Comunidades teremos a Celebração Eucarística sem a tradicional Procissão dos Ramos. As Celebrações, na medida do possível continuarão sendo transmitidas pelas Redes Sociais, como Facebook, Youtube e outros. É o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor!

Com o DOMINGO DE RAMOS, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.

Os ramos abençoados lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida. Neste ano somos convidados a seguir rigorosamente as orientações de prevenção de uma vida dialogal, sem radicalismos e polarizações: Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor! “Cristo é nossa Paz: Do que era dividido, fez uma Unidade” (Ef 2,14ª). Cuidemos uns dos outros!

Se durante a Quaresma fizemos o propósito de “não falar mal de ninguém”, o DOMINGO DE RAMOS que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo é, frequentemente a língua ferina, que mente, calunia, difama, destrói a oportunidade de o outro crescer. Muitas vezes por pura inveja. Quantas vezes não suportamos que o outro seja melhor!

Será também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naqueles que não têm o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e devolvamos, no espírito da COLETA DA SOLIDARIEDADE os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma e quem sabe, neste tempo de pandemia. Ninguém terá o direito de reter qualquer centavo desta, que é a Coleta da Fraternidade. Não deixemos que nada desvie a coleta de sua verdadeira finalidade! Isso seria feio e grave pecado contra a justiça!

            Aguardamos orientações de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto a respeito de como será realizada a Coleta da Solidariedade neste segundo ano de Pandemia, período em que o Estado de São Paulo se encontra numa Fase Emergencial que impede as Celebrações com a presença de nossos fiéis em nossas Igrejas, para evitar aglomerações.

Pe. Gilberto Kasper

quinta-feira, 18 de março de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

            Estamos chegando ao final da Quaresma. No próximo domingo iniciaremos a Semana Santa com o Domingo de Ramos. Neste dia, também concluiremos a primeira etapa da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021: FRATERNIDADE E DIÁLOGO: Compromisso de Amor. “Cristo é a nossa paz! Do que era dividido, fez uma Unidade” (Ef 2,14a). Com o gesto concreto da coleta manifestamos nossa atitude de partilha e solidariedade.

            A Coleta da Solidariedade do próximo domingo será o resultado de nossos exercícios quaresmais de penitência, certamente frutos saborosos de nosso jejum e abstinência ao longo deste rico tempo de conversão. Partilharemos de nossa Pobreza com quem tem menos do que nós. Tudo aquilo que deixamos de consumir durante a Quaresma será oferta agradável ao coração de Deus, através de nossas Comunidades de Fé, que enviarão toda a coleta à Cúria Metropolitana, que a destinará aos projetos, sobretudo relacionados aos irmãos menos favorecidos. Do total desta coleta 40% serão enviados à CNBB e 60% serão administrados pela Arquidiocese, que sempre faz a devida prestação de contas divulgada no site da mesma: www.arquidioceserp.org.br ou no Boletim Mensal Igreja Hoje!

            Na celebração do Quinto Domingo da Quaresma somos convidados a ver Jesus em sua missão recebida do Pai. Seguimos os passos dos gregos que subiram a Jerusalém para adorar a Deus. Mas eles querem ver Jesus. O que significa ver Jesus? Por que ver Jesus? Ver Jesus é compreender sua atitude e desvendar seu projeto. Jesus mesmo o explica, fazendo uma meditação sobre a “hora”.

            “Hora” é o final de sua vida terrestre. Tudo caminha para essa hora. A “hora” é o momento no qual o amor gratuito de Deus, materializado em seu carinho pelos pobres, encontra-se com a força social e religiosa que o rejeita: o pecado. Esse conflito expressa-se na cruz. Por isso, a cruz é levantada como denúncia daquilo que leva Jesus à morte e como testemunho de sua entrega de amor.

            Na primeira leitura temos a profecia de Jeremias sobre a nova aliança a qual nós vivemos hoje. Em Cristo repousa a nova aliança. Para estar nessa aliança, precisamos da força pascal do Cristo. Essa força nós recebemos no Batismo e continuamos recebendo na celebração dos sacramentos e na oração da Igreja: é o Espírito de Cristo, a lei da nova aliança, escrita no coração de cada um de nós.

            Em Hebreus, colhemos uma lição preciosa: Jesus não é um senhor sentado nos palácios, desligado da situação real das pessoas. Jesus não permaneceu nos céus, contemplando as nossas angústias, mas tornou-se companheiro de viagem. Percorreu o caminho da humilhação e da morte. Por tudo isso, podemos confiar nele e aceitar o convite que nos faz para sermos discípulos missionários. Dessa forma, a segunda leitura nos convida a seguir o mesmo caminho de Cristo, um caminho semeado de dificuldades. Ele, porém, o percorreu antes de nós e por isso compreende nossas dificuldades e incertezas, nossos receios e fraquezas.

            E a nossa presença junto aos que sofrem, aos enfermos, idosos, como vai? Somos como Jesus, uma “Igreja do Ir” ao encontro das pessoas que já não podem ou querem mais vir, ou nossa Pastoral e Ministério se resumem em celebrar com os que vêm, quando não excluímos os que não preenchem nosso “legalismo”?

            O episódio do evangelho de hoje situa-se entre a ressurreição de Lázaro e a última Ceia, segundo o quarto Evangelho. A agressividade dos adversários de Jesus chegou ao auge. A Paixão já é tramada nos gabinetes. Os sumos sacerdotes haviam dado ordens: Se alguém soubesse onde Jesus estava, o indicasse, para que o prendessem (João 11,57). Prenderam-no por pura inveja!

            No evangelho, no entanto, Jesus convida seus discípulos a seguirem o gesto prudente do agricultor que semeia. Diz-lhes para não terem medo de perder a própria vida, porque quem morre por amor entra na glória de Deus. O evangelho interpreta a morte de Jesus como uma manifestação de seu amor. Para ele o homem cresce e se realiza somente quando ama, ou seja, quando doa sua vida pelos irmãos.

            Para Cristo, o homem atinge o ponto mais alto da realização de sua vida quando se entrega à morte por amor aos seus.

            Penso ser urgente revermos o verdadeiro sentido da morte em nossos dias. Não obstante vivamos e promovamos certa Cultura de Morte, insensibilizados com as milhares de mortes assistidas diariamente em nossos telejornais, ela, a morte, é ao mesmo tempo um tabu, na medida em que passa dentro de nossa casa ou por perto dela. Não acredito que alguém morra na véspera ou atrasado. Mas quantas pessoas têm direito a uma morte digna, quando nossa Sociedade se encontra falida, sem que nossos governantes consigam atender dignamente a todos que deles dependem? Se antigamente as pessoas morriam no aconchego do carinho da família, hoje é submetida a morrer sozinha na frieza de CTIs - Centros de Terapia Intensiva ou em corredores de hospitais superlotados, principalmente quando não há convênios ou quando tais moribundos dependem exclusivamente do SUS – Sistema Único de Saúde, que serve de modelo para países economicamente desenvolvidos, mas não serve os filhos da própria nação. Não é deste tipo de morte que o Evangelho deste domingo fala. Se Jesus veio para curar e fazer o bem, certamente não aprovaria o que se passa nos bastidores de nossa precária e corrompida Política Pública de uma Sociedade que alimenta seu capitalismo selvagem com a miséria de milhões de filhos de Deus, prometida, de eleição em eleição, tornar-se a melhor do mundo, mas que de governo em governo envergonha nossa nação. Há os tipos de mortes que nos santificam, como: gestos de ternura, delicadeza, gratidão, reconhecimento, abrir mão de privilégios em favor do próximo, etc. Se soubéssemos aproveitar tais oportunidades, seguramente seríamos bem mais humanos e configurados com Cristo, que nos convida a passarmos por tais experiências, promovendo-nos mutuamente em tudo.

            O homem quer frutificar sem morrer, mas é impossível. Jesus aceita ser grão que morre debaixo da terra para dar fruto abundante. Em Jesus se dão as mãos duas realidades fortemente antagônicas: a morte e a fecundidade. Na conjunção de perder o mundo para ganhar o mundo resume-se o mistério pascal de Jesus Cristo.

 

            Precisamos aprender a lidar melhor com a morte, a fim de estarmos prontos no dia em que nosso nome ecoar na eternidade. Cada morte que passa por nós, poderá ser um novo esforço a melhorarmos nossa qualidade de vida!

            Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler: Jr 31,31-34; Sl 50(51); Hb 5,7-9 e Jo 12,20-33)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2021, pp. 72-78 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Quaresma de 2021, pp. 58-65.

QUARESMA: TEMPO DE PERDÃO E MISERICÓRDIA!


        A Quaresma nos conclama ao perdão e à misericórdia em relação aos outros. Nem sempre conseguimos perdoar. Alguns dizem que: "Perdoar é esquecer!". Prefiro pensar que perdoar é lembrar sem rancor! Nem sempre é possível esquecer, mas o perdão e a misericórdia são essenciais, se quisermos que os exercícios quaresmais nos edifiquem e nos conduzam à verdadeira libertação que a Páscoa do Senhor nos propõe. Um coração cheio de rancor, bolor, mágoas, rusgas e incapacidade de perdoar, é um coração amargo e infeliz.
           

Na parábola do Pai Misericordioso, temos além do mais novo, o filho mais velho. O Evangelho de São Lucas no capítulo 15, versículos 25 a 32, descreve a dificuldade que o irmão mais velho tem, de perdoar o mais novo. Sempre fez tudo certinho, foi o filho obediente e o peralta agora é homenageado? Isso é inconcebível, quando não se conhece a capacidade de perdoar e nem a misericórdia que Deus tem para com o pecador arrependido.             

Em nossa sociedade temos muitos "irmãos mais velhos", incapazes de perdoar. Isso é muito comum nas famílias, nas instituições eclesiais e políticas, quando selamos a testa das pessoas, determinando-as "pecadoras". Esquecemos o que rezamos na oração que o próprio Cristo nos ensinou: "... perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...". Se Deus ouvisse este pedido, estaríamos perdidos. Há muitos entre nós, que se atribuem o direito de julgar, condenar e determinar a sentença, como se não tivessem nenhum pecado. Tenho dó de quem é assim! Quantos pecados mais "fedidos" tal pessoa não estará tentando esconder atrás de quem foi descoberto? Ninguém é melhor do que ninguém. Só Deus não decepciona, já que não existe criatura humana sem defeitos, erros, deslizes, enfim pecados a serem perdoados.             

O Evangelho de São João, capítulo 8, versículos 1 a 11 narra o episódio da mulher surpreendida em adultério. Os mesmos "prostitutos" que utilizaram de seus serviços pedem sua condenação. Quiseram colocar Jesus numa armadilha. Armadilhas semelhantes às que nós tramamos uns contra os outros, sobretudo quando a inveja nos aguça por dentro, para "tirar de campo" ou "puxar o tapete" de quem nos faz sombra e aparece mais do que nós.             

"Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra" (Jo 8, 7). Penso que o jeito é mesmo responder aos apelos da Quaresma, para celebrarmos uma Páscoa verdadeira: sejamos os protagonistas do perdão e da misericórdia de Deus! É preferível enganar-se por perdoar e exercer a misericórdia, do que acertar por uma justiça despida de amor! 

Com Santa Teresa de Calcutá podemos concluir: “Devemos amar a pessoa boa, porque merece e a pessoa má, porque precisa de nosso amor”! 

Pe. Gilberto Kasper

Orientações da Arquidiocese de Ribeirão Preto em relação ao novo Decreto Estadual

 


quinta-feira, 11 de março de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DA QUARESMA – LAETARE

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Alegra-te, Jerusalém!

Reuni-vos, vós todos que amais;

vós que estais tristes, exultai de alegria!

saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66,10s).

         

O Quarto Domingo da Quaresma – Laetare – Domingo da Alegria, antecipa os deleites da celebração que a Quaresma nos convida a preparar: A festa da Páscoa do Senhor! Este domingo nos lembra que o rico tempo da Quaresma é uma grande proposta de renovação a partir da conversão e de nossa profissão de fé no Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós! Eis a razão de nossa vida cristã, a motivação de nossa esperança num mundo mais alegre, fraterno, solidário e digno!

            É necessário, contudo, fazer uma opção clara e decidida por Jesus, iluminados por ele e sustentados por seu espírito, esta opção nos torna capazes de cativar os que andam nas trevas e de desmascarar os projetos que nos mantém nas sombras da noite da injustiça e da pobreza. Basta lermos os jornais e observarmos o Congresso Nacional, que legisla a favor de passagens aéreas aos seus cônjuges em detrimento de aumentos exacerbados de energia elétrica, impostos sem fim, sem pensar nos aumentos assombrosos do custo de vida de nosso povo. O mesmo povo sendo traído por aqueles em quem votou.

            Do Livro das Crônicas concluímos: a história de amor entre Deus e o homem nunca termina como uma condenação. O homem, ao negar-se a seguir o caminho de Deus, se condena e se destrói. Entretanto, nunca será o mal que prevalecerá, mas o amor de Deus.

            Do Evangelho de Marcos colhemos o ensinamento de que alcança a salvação quem tem a coragem de doar a sua vida, como fez Jesus. Quem não aceita doar a vida e escolhe o egoísmo, os prazeres e as satisfações, condena-se à morte e, portanto destrói a própria vida. Eis os apelos do Papa Francisco, de superarmos a Cultura do Consumo e do Descartável.

            Geralmente temos o hábito de mais justificar do que reconhecer nossos limites e, pior: procurar um culpado fora de nós, ao invés de reconhecê-lo nos porões de nossa própria consciência. Feio mesmo, é tentar esconder nossos pecados atrás dos defeitos dos outros. Os que se consideram prepotentemente mais espertos, ou os mais “certinhos”, geralmente são fortes diante dos fracos, mas na verdade se tornam fracos diante dos fortes (os Humildes e Servidores)! Sempre penso que misericórdia mais justiça são igual ao amor!

            Jesus que freqüenta os pecadores, dá uma nova oportunidade ao desonesto (Zaqueu), ao impuro (a Mulher Adúltera) ou mesmo ao bandido (Dimas, o Ladrão). Aqueles que não teriam tido nenhuma ocasião de conversão encontram Jesus. Eles crêem. Eles têm fé na ternura de Deus. Experimentaram toda a reprovação de seu meio social. Ouviram a palavra espontânea que condena sem apelação. E depois... Jesus veio. Já não esperavam nada da mediocridade humana. De repente, a fé em Jesus transformou a vida deles: Eis a grande notícia do Domingo da Alegria!

            Na Carta aos Efésios, aparece claramente que não é o homem a causa de sua salvação. O ser humano não se salva por seus méritos e obras. As boas obras são uma resposta ao amor e à ação de Deus. São sinais que indicam que a graça de Deus conseguiu penetrar e produzir frutos no coração do homem e da comunidade. Nós nada fazemos para merecer a salvação. As nossas ações maldosas nos trazem a condenação. Deus, porém, nos ama e salva gratuitamente.

            A Palavra de Deus deste Domingo Laetare, que nos aproxima das alegrias pascais, é um profundo convite de conversão, resgatando as principais características da criança, que geralmente perdemos quando nos tornamos adultos: de mentirosos voltarmos à sinceridade; de fingidos voltarmos à espontaneidade e de maliciosos voltarmos à pureza!

            Desejando-lhes abençoada Semana da Alegria, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel, 

Pe. Gilberto Kasper

(Ler: 2 Cr 36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10 e Jo 3,14-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2021, pp. 51-57 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo da Quaresma de 2021, pp. 50-57.