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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“O que vos digo, digo a todos; vigiai!” (Mc 13,37). 

            Com o Primeiro Domingo do Advento iniciamos o Novo Ano Litúrgico, e nossa preparação para o Natal do Senhor! A liturgia nos faz forte apelo à vigilância, para estarmos acordados e atentos, pois o Senhor vem vindo e nos visitará. Abramos mente e coração para acolher a graça e a paz que vêm da parte de Deus.

            Deus se revela nosso Pai e redentor e nos restitui a dignidade perdida. Também nos convida a estar atentos e vigilantes para que, ao visitar-nos, nos encontre preparados. A exemplo de Paulo, louvamos a Deus pela graça que nos concede em Jesus Cristo.

            O povo reconhece estar distante dos caminhos do Senhor e deseja a sua vinda. Fiquemos sempre atentos e preparados, pois Deus quer nos visitar. Todos somos chamados à comunhão plena com Cristo.

                        O início do ano litúrgico nos convoca a exercitar uma das grandes virtudes cristãs: a esperança. Mas embora estejamos no seu começo, a liturgia, qual uma bússula, nos faz olhar para as realidades do fim, como que nos ensinando a direção, apontando a meta e orientando a nossa existência para Deus. Os cristãos são o povo da esperança, a confiança e o otimismo em relação ao reinado de Deus e sua definitiva instauração com a segunda vinda de Jesus tem, para nós, sabor de realização, plenitude e salvação. Jesus, convocando à vigilância, nos alerta para que, por desatenção, não sejamos surpreendidos enquanto dormimos. O sono, imagem da morte e da noite do pecado, conota falta de comunhão com o Senhor, o Vigilante por excelência, que não foi tragado pelo sono da morte.

            Mas realizar coisas, boas ações ou orações, não diz tudo a respeito da vida cristã. Existem tantas pessoas que oram e realizam boas coisas e talvez sejam até melhores do que nós naquilo que fazem... Nossa experiência de fé é pautada na vida em Jesus Cristo. Mais do que esperar Jesus, nós esperamos nele! As boas ações e a oração que fazemos são frutos de uma comunhão com ele, índice de nosso vínculo batismal com o Senhor, antecipação da vida futura que ele nos garante e nos reserva. É por isso que somos povo da esperança, pois o fato de estarmos tão intimamente ligados a ele, não só prolonga a sua ação salvadora no mundo, mas antecipa aquilo que para nós está reservado na vinda do Filho de Deus. Na aurora de um novo dia, como porteiro, nos postamos no limiar desse novo tempo que Jesus inaugurou. Vigiar é esperar com alegria e confiança as realidades futuras que já vivemos, permitindo que chegue ao mundo pela porta do nosso agir e da nossa oração o Desejado das nações.

            Embora os tempos continuem difíceis e desafiadores, quiçá mais complexos, não estão nos faltando a atenção aos crucificados de hoje, às perseguições e injustiças, mas também à vida que insiste e resiste, bem como aos sinais que nos anunciam a chegada do Filho de Deus? O mandato do Senhor continua válido: “o que vos digo, digo a todos: Vigiai!. Entendemos isso a partir da nossa comunhão com ele, sempre perseverantes na oração e no bem que devemos fazer por causa dessa comunhão, sem perder a alegria e a confiança que marcam nossas vidas e a nossa missão.

            Mas como fazemos o exercício da espera? Como a esperança acontece em nós e por quê? A quem aguardamos? Todas essas questões nos ajudam a compreender a comunidade e a nossa própria vida, como existência pautada pela expectativa. A vigilância é a couraça da esperança. Vigia quem espera confiante e alegre, pela vinda do Senhor, quem trabalha pela construção de um mundo melhor, quem exercita o amor pelo próximo, sobretudo o mais desvalido, quem “sintoniza” sua vida na frequência do Evangelho e do Espírito de Deus, quem promove a paz e a justiça e quem não descura da vida de oração e de busca pelo Senhor. Desde a sua origem a Igreja repete a súplica pela vinda dele – Maranatha! – e pelo Reino, na oração do Pai Nosso. A Igreja nasceu suplicando e desejando o Reino porque experimentou e vive da Páscoa de Jesus, penhor das realidades definitivas.

            É preciso dispor-se a ser evangelizado. Quem está em processo de Evangelização se torna evangelizador. O encontro com o Verbo encarnado impulsiona a anunciar a outros a feliz experiência.

            Sendo o Advento uma especial preparação para a Solenidade do Natal do Senhor, o convite é de alegre vigilância e profunda esperança nele! Um dos exercícios muito proveitosos e práticos para o Advento parece simples, mas não é: Não falar mal de ninguém neste rico tempo! Pode parecer simples, mas trata-se de um exercício muito difícil, embora santificador. Mesmo sabendo ou constatando erros nos outros, guardar para si, no silêncio do coração, em segredo, sem espalhar a ninguém o erro cometido. Tentemos todos os dias, até o Natal, Não falar nadinha de mal sobre ninguém!

Finalmente, possamos pensar em ser mais presença do que dar presentes neste Natal. E, se quisermos dar algum presente, evitemos a “cultura do consumo”, pensando em quem precisa mais do que nós. Um belo gesto concreto seria tornar-nos, quem sabe, colaboradores do FAC – Fraterno Auxílio Cristão, destinando uma pequena parcela de nossos presentes natalinos aos mais surrados pela vida: nossas Famílias em situação vulnerável do Núcleo Dom Hélder Câmara, nossas crianças, adolescentes e jovens em situação de risco do Núcleo Dom Bosco. Ligue já para o FAC e seja um sócio colaborador, oferecendo seu presente de Natal ao verdadeiro aniversariante estampado no rosto de nossos pobrezinhos assistitos: (16) 3237-0942. Ou então faça-nos uma visita, de segunda a sexta-feira entre 8 e 17 horas: Rua Barão do Amazonas, 881 – Centro de Ribeirão Preto!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 63,16-17.19; 64,2-7; Sl 79(80); 1Cor 1,3-9 e Mc 13,33-37).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2020, pp. 111-117 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Novembro de 2020) pp. 7-11.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO!

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

“O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder,

a divindade, a sabedoria, a força e a honra.

a ele glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6).

 

            Celebramos o último domingo do Tempo Comum com a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. O reino de Jesus é reino de justiça, vida e liberdade. Depende de nós aceitar e antecipar a vinda desse reino, constituindo-o pelo nosso empenho pessoal, familiar, comunitário e profissional. Hoje celebramos também o dia do leigo e da leiga.

            Porque nos ama, Deus cuida de cada um com justiça. Pela ressurreição de Cristo, recebemos vida nova, que precisa ser preservada. Jesus nos deixa alguns critérios para saber se estamos ou não no caminho do reino. “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!” (Mt 25,34).

            O bom pastor não descansa enquanto há ovelhas a ser resgatadas. O que nos faz sentar ao lado de Cristo, rei do universo, é a caridade praticada em favor do necessitado. Cristo, ressuscitado e rei do universo, é o senhor da história e da humanidade.

            O Ano Litúrgico termina com a festa de Cristo-Rei. E fica a pergunta: quem é esse Cristo-Rei para a comunidade reunida para celebrar o memorial da páscoa? Interessante que a primeira leitura mostra em que consiste a realeza de Deus: ela é serviço à liberdade e à vida das pessoas, sobretudo das que são impedidas de viver. O Evangelho, por sua vez, nos compromete radicalmente com a prática da justiça, traduzida em solidariedade e partilha com todos os necessitados, vendo neles o próprio Cristo e sacramento da salvação. Jesus hoje continua nos desafiando colocando-nos diante dos irmãos menores e mais fracos.

            Paulo, por sua vez, com a ressurreição de Jesus comprova a vitória da justiça. Dentro de nós há uma semente de ressurreição, de justiça, de partilha e solidariedade.

            Jesus fala das obras de misericórdia ensinadas pelo judaísmo: dar de comer aos famintos, dar de beber aos que tem sede, acolher o estrangeiro, vestir os nus, visitar os doentes, acrescentando a visita aos prisioneiros; não menciona, porém, a educação dos órfãos e o sepultamento dos mortos, que também faziam parte das recomendações. Quem não praticou essas obras perdeu a oportunidade de fazer isso ao próprio Jesus presente nos necessitados. Se ele está nos irmãos, ele está no meio de nós em todos os lugares e momentos.          

            O Reino de que Jesus fala é um reino não de poder, mas sim de serviço: “O Filho do homem não veio para ser servido. Ele veio para servir” (Mt 20,28). Esse é o critério do julgamento. Entrar no reino supõe que os discípulos tenham seguido os passos do pastor, do mestre a serviço de todos, especialmente dos mais necessitados.

            Celebrando a realeza de Jesus, ressuscitado pela justiça e misericórdia de Deus, somos julgados pelos pobres mais pequeninos. É possível proclamar a realeza de Cristo enquanto seus irmãos prediletos são excluídos da liberdade e do direito à vida digna? Chamá-lo de Cristo Rei e deixá-lo com fome, com sede, sem casa, nu, doente, aprisionado, sem direito à educação em nosso meio? Entre nós está, e não o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos”.

            É tempo de parada e de avaliação, tendo diante dos olhos Jesus Cristo, Rei do Universo, o Ressuscitado e na nossa frente os irmãos pobres e abandonados, lembrados por Jesus no Evangelho.

            Rezando neste domingo, especialmente pelos Leigos e Leigas,  lembramos que somos chamados pela consagração batismal à missão profética, sacerdotal e régia para transformar o mundo no Reino de Deus.

            Quando nos referimos à festa de Cristo Rei do Universo, certamente como os próprios apóstolos, imaginamos majestade, magnitude, poder, prestígio, honras e tapetes aveludados... Gosto do modo como Deus dribla a humanidade do começo ao fim da História da Salvação, História Amorosa para com a Humanidade! Ele nos surpreende com Sua simplicidade, que até escandaliza alguns. Deus, em Jesus Cristo, Rei do Universo, é muito mais simples do que O complicamos. Espera de cada um de nós, igual humildade, sobretudo em relação aos mais fracos e menos favorecidos por nossa cruel e hipócrita sociedade!

Muitos de nós nos contentamos com as “ovelhas” que nos procuram e obedientemente participam e servem nossas Comunidades. Acomodados às nossas salas de atendimento, celebrações de sacramentos, temos dificuldades de exercer nossa missão profética, sacerdotal e real de sermos, de uma vez por todas uma IGREJA DO IR! Irmos em busca das “periferias existenciais”, como tanto o Papa Francisco insiste. Elas, geralmente, são nossos desafios, nos desinstalam e nos dão trabalho. Mas é lá que encontramos o verdadeiro Rei do Universo, estampado no rosto sofrido e nem poucas vezes no mau cheiro de nossos irmãos, os mais surrados pela nossa Cultura do Descartável.

Com freqüência fazemos acepção às ovelhas gordas, bem como às mais bonitinhas e bem tratadas, chutando as machucadas ou excluindo as que representam ameaça ao nosso próprio prestígio ministerial. Isso, lamentavelmente, acontece entre ministros ordenados e não. Que nossas Comunidades sejam, de verdade, mais acolhedoras e saibam viver a profunda ternura entre o rebanho, a Igreja!

Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ez 34,11-12.15-17; Sl 22(23); 1Cor 15,20-26.28 e Mt 25,31-46).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2020, pp. 90-96 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2020), pp. 82-86.

QUEM FOI QUE TE CONVIDOU?

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Eu estava com oito anos de idade. Estudava no Colégio Sagrado Coração de Jesus, na Vila Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS). Servia como coroinha na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, cuja Igreja Matriz fica situada em frente ao Colégio. Os Jesuítas, aos finais de semana, colaboravam com o Pároco nas celebrações e atividades pastorais. Iam de São Leopoldo, onde está o imenso Colégio Cristo Rei, na época Casa de Formação dos Padres Jesuítas, hoje Centro de Espiritualidade da Diocese de Novo Hamburgo.

O Padre Ivo Müller fizera seu estágio pastoral como Diácono transitório, em nossa Paróquia. Depois de ordenado Sacerdote foi celebrar uma de suas Primeiras Missas em nossa Igreja Matriz. Nós, os Coroinhas, preparamos tudo com grande zelo, para que a Primeira Missa do Néo-Sacerdote fosse solene!

As Senhoras do Apostolado da Oração prepararam um jantar muito chique no Salão Paroquial. A Irmã Neófita, hoje na feliz eternidade, era minha professora no Segundo Ano do então Primário, hoje Ensino Fundamental I. Ela conhecia uma de minhas habilidades em declamar poesias. Para homenagear o Padre Ivo Müller a irmã pediu-me que decorasse uma das poesias do Padre Paulo Aripe de Alegrete (RS). Foi um grande poeta e preservava a tradição gaúcha, como CTG – Centro de Tradições Gaúchas. Suas poesias, em sua maioria, eram voltadas à linguagem gauchesca. Uma delas chamava-se “Minha Primeira Missa”! Esta poesia contém quarenta longos versos. Foi a escolhida para que eu a declamasse antes de servirem o jantar ao Néo-Sacerdote no Salão Paroquial muito lindamente preparado.

Terminada a Solene Primeira Missa do Padre Ivo, fomos ao Salão Paroquial. Eu, de família muito humilde, jamais vira um Salão tão lindo e cheio de pessoas, prestes a jantarem, manifestando assim sua gratidão por um Padre tão querido da Comunidade. Padre Ivo Müller era acolhedor e tratava com especial dedicação crianças, jovens e idosos. Todos o admiravam, eu inclusive.

Tão logo Padre Ivo adentrou ao salão, depois de cumprimentado por todos, alguém pediu silêncio. Já sentados às mesas, puseram-me sobre uma delas, bem no meio do salão, diante da mesa do Néo-Sacerdote. Dona Generosa, a acordeonista de nosso CTG, brindou-nos um belíssimo fundo musical e eu comecei a declamar aquela longa poesia: “Minha Primeira Missa”, em homenagem ao Padre Ivo. Ficara muitas horas ensaiando diante do espelho até chegar aquele dia. Minha declamação foi perfeita. Principalmente as Senhoras do Apostolado, mas também o Padre Ivo, permitiam lágrimas de grande emoção escorrem rostos abaixo. Alguns se diziam arrepiados de tanto que gostaram da poesia, uma verdadeira prece de gratidão de um Padre recém-ordenado.

Terminada a homenagem, o Padre Ivo me segurou no colo e me cobriu de beijos e abraços. Eu ainda muito pequeno, mais parecia um botijão de gás, ouvia os aplausos e elogios de todos os lados, mas sentindo-me um tanto deslocado e envergonhado por não ser aquele meu ambiente: era chique demais para alguém tão pobre e simples como eu. Mesmo assim as Senhoras do Apostolado e o Padre Ivo insistiram que eu me assentasse à mesa para jantar com eles. Resisti, mas me convenceram e sentei-me próximo a um grupo de Senhoras ainda muito emocionadas.

Quando já me haviam servido a salada, senti uma mão firme e pesada sobre meus raquíticos ombros. Olhei para trás e vi a Irmã Neófita, vestida de hábito negro olhando com um olhar repreensivo para mim. Falou com voz firme, embora em som baixo: “Quem foi que te convidou para jantar? Teu serviço já acabou, some daqui. Este lugar não é para ti”. Sem nada dizer, levantei-me e saí correndo entre as mesas. Corri quatro quilômetros até chegar em casa, chorando, sem nada dizer a ninguém. Por muitos anos senti dificuldade de aceitar qualquer convite para jantar. Depois, com excelentes terapias superei o trauma, e escrevo hoje para pedir aos meus leitores: jamais traumatizemos alguma criança. Amemos as crianças e sua pureza sempre!

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 DIA MUNDIAL DOS POBRES

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Meus pensamentos são de paz e não de aflição,

diz o Senhor. Vós me invocareis,

e hei de escutar-vos, e vos trarei de vosso cativeiro,

de onde estiverdes” (Jr 29,11s.14).

 

            A Palavra de Deus do Trigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum, apresenta-nos a Parábola dos Talentos. Atraídos por Jesus, reunimo-nos para celebrar a sua páscoa, pedindo-lhe que nos torne comunidade vigilante e responsável na administração dos dons que Deus nos concede. Participando da alegria do Senhor, queremos ouvir dele:  “Empregado bom e fiel, eu lhe confiarei muito mais”.

            Deus concede às pessoas muitos dons. Sua Palavra nos convida a ser habilidosos e vigilantes para administrar esses dons e fazê-los frutificar para o bem de todos.

            A mulher virtuosa e temente a Deus é bênção para toda a família. A vigilância verdadeira consiste em trabalhar os talentos recebidos para construir o reino de Deus. A vigilância cristã deve ser contínua.

            Neste domingo da 4ª Jornada Mundial dos Pobres, o Papa Francisco nos encoraja a estender as mãos aos pobres e olhar com compromisso a realidade da pobreza que é fruto da injustiça.

            A primeira leitura deste domingo faz o elogio de uma mulher ideal, exemplo de pessoa sábia: sua administração e sabedoria são completas. É a sabedoria em ação; o homem depende dela; tem capacidade para os negócios; ela é o contrário da pessoa preguiçosa, insensata e sem responsabilidade de que o Evangelho nos fala.

            A mulher aqui descrita é a personificação da sabedoria. Sabedoria significa o sentido que damos à vida e a tudo que a partir dela realizamos. O sentido da vida passa a ser a nossa esposa-companheira-ideal, capaz de recriar, colocar sabor àquilo que faz parte do nosso dia-a-dia. Essa mulher é inspiração e fama do marido, na cidade e na comunidade, mãe zelosa dos filhos que somos nós nas labutas diárias. O marido e os filhos são discípulos da sabedoria, aceitam os ensinamentos da Lei, dos Profetas e dos Sapienciais.

            Não devemos dormir, mas permanecer vigilantes e sóbrios. Isso significa vigiar e vigiar é abandonar os ídolos que envolvem a sociedade na noite da injustiça e entrar no coração do Reino que comporta uma prática de serviço no culto ao Deus verdadeiro.

            É preciso estar atento à leitura e compreensão do Evangelho. Quem é o homem que vai fazer uma longa viagem? Quem são os servos? O que significa a entrega dos talentos? Em que consiste a prestação de contas?

            O patrão da parábola é o próprio Deus. Ele nos confiou seus bens, a cada um conforme sua capacidade. A um deu cinco, a outro dois e ao outro um talento.

            A parábola mostra a grandeza e a fragilidade de Deus. Sua grandeza está em nos entregar seus bens. Nada retém para si. Tudo é entregue. Sua fragilidade é confiar em nós, que podemos desperdiçar toda a sua riqueza. Deus arrisca perder confiando em nós. Sua fragilidade ressalta sua grandeza e bondade.

            A Palavra de Deus deste domingo nos convida a viver como filhos da sabedoria, da luz e do dia. Impele-nos a entrar na luta com coragem e responsabilidade para que o Reino de Deus cresça neste mundo. Não desperdicemos os talentos, que são de Deus, a nós entregues em confiança.

            O Senhor nos pergunta pelo sentido que damos para a nossa vida e o que dela fazemos na perspectiva da chegada do Reino de Deus. Essa avaliação acontece no encontro pessoal com ele. Não devemos ter medo dele nem considerá-lo um homem severo, mas que nos confia uma missão e não faz as coisas por nós nem assume as nossas tarefas.

            Somos convidados a rever o compromisso, a missionariedade e o discipulado de nossas Comunidades. Tanto os ministros ordenados, como os agentes de pastoral não tem direito de “enterrar” os talentos que o Senhor lhes confiou. A Religião Católica é uma das mais “liberais” do mundo. Não podemos mais aceitar, à luz do Concílio Ecumênico Vaticano II, da Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha de Aparecida, da Evangelii Gaudium e Documento 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia – A Conversão Pastoral da Paróquia, fiéis que tão somente sejam “cumpridores de preceitos”, sem profundo compromisso pastoral!  Com quanta facilidade nos descompromissamos com nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor! Elencamos inúmeras justificativas e responsabilizamos “outros” para nossa ausência na vida eclesial.

            Penso que há dois elementos a serem superados, a fim de fazermos render os talentos que nos são confiados para enriquecer a Igreja do Senhor: sermos menos acomodados e insensíveis, colocando-nos mais a serviço e valorizar os irmãos que receberam talentos, mas são ignorados por irmãos invejosos e carreiristas: aqueles medíocres, que têm medo de serem “ultrapassados” porque preguiçosos, enterram os próprios talentos e tentam desfazer dos talentos dos outros, por pura inveja!

            Não tenho como não repetir a conversão, a coerência e o bom senso de: poder em serviço; de talentos em partilha e de prestígio em humildade!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Pr 31,10-13.19-20.30-31; Sl 127(128); 1Ts 5,1-5 e Mt 25,14-30).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2020, pp. 68-74 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2020), pp. 77-81.

           

           

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO-SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM


 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

            O tempo nos remete ao entardecer do ano litúrgico de 2020. Isso tudo vai favorecendo a reflexão sobre a expectativa do final dos tempos. Como será e o que vai acontecer? Assim como quando se é convidado para a festa de um casamento, logo se pensa nos detalhes, os presentes, as vestes, os convivas, o cardápio do banquete etc. Mas o Evangelista não está preocupado em satisfazer a curiosidade do protocolo do final dos tempos, mas em como, hoje, viver em atitude de vigilância ativa para não ser surpreendido e ver as portas do banquete se fecharem. A parábola se constitui numa exortação à vigilância face à Segunda vinda do Senhor – o noivo.

            A sabedoria não é algo reservado a alguns iluminados, mas pode ser obtida por quem a ama e a busca com ardor e empenho. Ela não está apenas na escola, na Igreja ou nos livros, mas se deixa encontrar por aqueles que saem à sua procura. Nas ruas e avenidas, pessoas cultas e sem instrução se encontram, e é justamente nesses momentos que ela se revela. Na convivência aprendemos a ser sábios. Qualquer encontro pode tornar-se uma escola de sabedoria.

            O evangelho de São Mateus compara o reino de Deus à parábola das dez jovens – cinco prudentes e cinco insensatas – que aguardam o noivo. Como este acaba atrasando, todas caíram no sono e dormiram. Quando anunciam que o noivo está chegando, nem todas estão com as lamparinas abastecidas para ir-lhe ao encontro. A parábola alerta sobre a necessidade da vigilância. A vinda do noivo (Jesus) no fim dos tempos é imprevista. É preciso que todos os que querem entrar no seu reino e dele participar estejam preparados mediante a prática do amor e da justiça.

            São Paulo à Comunidade de Tessalônica, em sua primeira carta trata da vinda do Senhor, esclarecendo uma dúvida quando vier o Senhor, o que acontecerá com os que já morreram? Paulo tranquiliza a comunidade com os seguintes argumentos: o cristão é pessoa que carrega dentro de si a esperança; se cremos que Cristo ressuscitou, devemos crer que os mortos ressuscitarão e estarão com o Senhor; na vinda do Senhor, vamos nos encontrar todos juntos (tanto os que já morreram como os que ainda vivem).

            A imagem das bodas é muito feliz, à espera do noivo que chega noite adentro, as virgens previdentes (munidas de óleo para suas lamparinas) vigiam e na chegada, lhe fazem cortejo e ingressam na sala preparada para a festa. Enquanto isso, outras cinco se veem impedidas de participar da festa por suas lamparinas estarem desabastecidas de óleo. A questão aqui é a falta do óleo. Mas de que óleo o autor se refere?

            Na Sagrada Escritura, o óleo (azeite) sempre está associado à presença do Espírito Santo, unção, santificação, purificação e outros termos afins. Na falta, não se empresta experiência com o Espírito Santo de Deus (Zc 4; Is 61,1); ou a pessoa tem ou não tem. Para os Padres da Igreja, como Santo Agostinho, “o azeite é símbolo do amor”, que não se pode comprar, mas que se recebe como dom, se conserva no íntimo e se manifesta nas obras. Na vida presente, viver com sabedoria, consiste na prática das obras da justiça e da misericórdia do Reino.

            Como viveremos o alimento da Palavra de Deus proclamada neste Trigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum ao longo da semana?  Como praticamos a justiça e a misericórdia em nossas relações familiares, sociais, políticas e nem por último, eclesiais? Temos nossas lamparinas abastecidas ou vivemos na escuridão da mentira, da hipocrisia, da falsa fraternidade? Quantas vezes, nós nos sentimos juízes (pequenos deuses) sobre os outros? Julgamos, condenamos, excluímos tantas vezes aqueles que não pensam como nós; aqueles que nos parecem inconvenientes; aqueles que não nos elogiam ou bajulam? Penso que a Palavra de Deus nos convida a reabastecermos nossas lamparinas de amor, perdão, misericórdia e acolhida aos que tantas vezes deixamos de lado. Como é perigoso sermos contratestemunhas do verdadeiro amor de Deus entre nós, machucando com cicatrizes muitas vezes doloridas e incorrigíveis o rosto da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, adonando-nos dela, ao invés de sermos simplesmente seus servos, mais inúteis do que nossos cargos, funções e prestígios que nos revestem não poucas vezes de soberba, mania de grandeza, carreirismo, luxo com apelido de bom gosto, sem falar na estupidez da inveja!

            Se nossas lamparinas não servirem para iluminar o caminho de nossos irmãos, o azeite que as acendem não é bom. O verdadeiro azeite ou óleo que acende nossas lamparinas nos é concedido desde o nosso Batismo, dia em que nos tornamos responsáveis uns pelos outros, numa Igreja verdadeiramente missionária, ministerial, misericordiosa e amorosa. Isso nos convida mais uma vez a uma profunda e verdadeira conversão pessoal, eclesial, pastoral e social.

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler: Sb 6,12-16; Sl 62(63); 1Ts 4,13-18 e Mt 25,1-13)

Fontes: Liturgia Dária da Paulus de Novembro de 2020, pp. 47-53 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2020), pp. 71-76.

 

           

 

           

 

 

EU ME CONVERTI!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 O Núcleo de Solidariedade Dom Bosco do FAC – Fraterno Auxílio Cristão da Cidade de Ribeirão Preto, conseguiu atender Crianças, Adolescentes com suas Famílias durante esse tempo de tantos desafios com a doação de cestas básicas, quites de higiene e limpeza, bem como de tantos outros produtos alimentícios e escolares, doados por inúmeras pessoas de corações generosos.

Mas não basta oferecer alimentos e atividades que saciem a fome e ocupem nossas crianças, adolescentes com suas famílias em tempo de isolamento e distanciamento social. Há seis anos deixamos de ser uma espécie de “depósito de crianças e adolescentes”, chamando ao compromisso e corresponsabilidade as Famílias. Através de encontros de formação, de reuniões sistemáticas as famílias foram se envolvendo nas atividades de nossa Instituição. Os resultados foram muito positivos. Não houve mais nenhuma gravidez precoce, os adolescentes deixaram de ser “engolidos” pelo chamado “pequeno tráfico de drogas”, e vêm demostrando grandes êxitos tanto na escolaridade como na formação humana, ou educação de berço.

Depois de oito meses de atendimento ininterrupto na Sede do Núcleo Dom Bosco, chegou o momento da magnífica Equipe de Colaboradoras pedirem licença para entrarem na casa de cada Família assistida. A alegria da acolhida por parte das Famílias é encantador. Já o que nossa Equipe encontra a cada visita, é desolador. Foi iniciativa da Coordenadora Geral Ana Abe!

Falamos em protocolos a serem seguidos para evitarmos a contaminação do novo Coronavírus, a COVID-19: lavar as mãos sempre, utilizar álcool em gel, manter distância de pelo menos um metro e meio das outras pessoas, usar máscaras, cumprimentar sem abraços e apertos de mãos.

A cada visita um grito que nos questiona: como orientar nossos assistidos a seguirem os protocolos? Na maioria das casinhas, mais barracos do que casas, de apenas dois ou três cômodos repartidos por madeira de compensado ou cortinas rasgadas, vivem no mínimo de cinco a sete pessoas, amontoadas umas sobre as outras. Umas saem do barraco para outras entrarem. Inúmeras famílias não possuem água potável e não têm as mínimas condições de adotarem nenhum dos protocolos previstos para evitar a proliferação da COVID-19.

Algumas Famílias estendem seus problemas para além da preocupação com a contaminação do novo Coronavírus. São pais encarcerados, mães grávidas de outro companheiro, que não aquele com que convivem neste momento, crianças entre dois e três anos aos cuidados das avós, filhos que há meses não aparecem em casa, sem falar naqueles que jamais voltarão.

Sei que todas as nossas esforçadas Entidades, as que assumem o que seria responsabilidade de nossos governantes em todas as instâncias, mas não dão conta de fazê-lo, porque a Assistência Social em nosso País sempre ficou “para depois, caso sobre alguma migalha”, se envolvem integralmente junto às famílias das crianças, adolescentes e jovens que assistem.

Mas não poderia deixar de registrar a mais profunda gratidão a todos que acreditam no trabalho sério do FAC, e por meio das inúmeras parcerias nos ajudam a manter nossos projetos em favor do resgate da dignidade humana de cada criança, adolescente e família.

Assim sendo, não basta doar cestas básicas: seria muito enriquecedor ir conhecer quem recebe as mesmas cestas para não adoecer de fome. Quem desejar juntar-se a nós nessas visitas, fique à vontade e venha deparar-se à verdadeira disparidade entre os que doam e os que recebem! Eu me converti!