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quarta-feira, 29 de março de 2023

COLETA DA SOLIDARIEDADE! Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

A Abertura da Semana Santa acontecerá no próximo domingo, dia 2 de abril, quando em nossas Comunidades teremos a Celebração Eucarística com a tradicional Bênção e Procissão dos Ramos. É o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor!

Com o Domingo de Ramos, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.



Os ramos abençoados lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida. Neste ano somos convidados a seguir as orientações da Campanha da Fraternidade, refletindo a situação da fome em nosso país, dialogando sem radicalismos e polarizações: Fraternidade e Fome “Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16). Cuidemos uns dos outros!

Se durante a Quaresma fizemos o propósito de “não falar mal de ninguém”, o Domingo de Ramos que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo é, frequentemente a língua ferina, que mente, calunia, difama, destrói a oportunidade de o outro crescer. Muitas vezes por pura inveja. Quantas vezes não suportamos que o outro seja melhor!

Será também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naqueles que não têm o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e devolvamos, no espírito da Coleta da Solidariedade os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma, neste tempo tão rico de conversão, perdão, misericórdia e reconciliação. Ninguém terá o direito de reter qualquer centavo desta, que é a Coleta da Fraternidade. Não deixemos que nada desvie a coleta de sua verdadeira finalidade! Isso seria feio e grave pecado contra a justiça!

           Aguardamos orientações de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto e da Equipe que coordena a Campanha da Fraternidade, como a partilha de nossa pobreza, através da Coleta da Solidariedade será revertida aos projetos, especialmente aos que enfrentam a Fome. No Brasil são mais de 33 milhões de irmãos e irmãs que em nossos tempos difíceis não têm o que comer todos os dias. Muitos deles buscam suas refeições em latões de nosso lixo perecível, o que para nós cristãos, deveria ser inpensável, porém é a mais cruel realidade!

quarta-feira, 22 de março de 2023

QUARESMA: TEMPO DE PERDÃO E MISERICÓRDIA! Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

               A Quaresma nos conclama ao perdão e à misericórdia em relação aos outros. Nem sempre conseguimos perdoar. Alguns dizem que: "Perdoar é esquecer!". Prefiro pensar que perdoar é lembrar sem rancor! Nem sempre é possível esquecer, mas o perdão e a misericórdia são essenciais, se quisermos que os exercícios quaresmais nos edifiquem e nos conduzam à verdadeira libertação que a Páscoa do Senhor nos propõe. Um coração cheio de rancor, bolor, mágoas, rusgas e incapacidade de perdoar, é um coração amargo e infeliz.              

Na parábola do Pai Misericordioso, temos além do mais novo, o filho mais velho. O Evangelho de São Lucas no capítulo 15, versículos 25 a 32, descreve a dificuldade que o irmão mais velho tem, de perdoar o mais novo. Sempre fez tudo certinho, foi o filho obediente e o peralta agora é homenageado? Isso é inconcebível, quando não se conhece a capacidade de perdoar e nem a misericórdia que Deus tem para com o pecador arrependido.              

Em nossa sociedade temos muitos "irmãos mais velhos", incapazes de perdoar. Isso é muito comum nas famílias, nas instituições eclesiais e políticas, quando selamos a testa das pessoas, determinando-as "pecadoras". Esquecemos o que rezamos na oração que o próprio Cristo nos ensinou: "... perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...". Se Deus ouvisse este pedido, estaríamos perdidos. Há muitos entre nós, que se atribuem o direito de julgar, condenar e determinar a sentença, como se não tivessem nenhum pecado. Tenho dó de quem é assim! Quantos pecados mais "fedidos" tal pessoa não estará tentando esconder atrás de quem foi descoberto? Ninguém é melhor do que ninguém. Só Deus não decepciona, já que não existe criatura humana sem defeitos, erros, deslizes, enfim pecados a serem perdoados.             

O Evangelho de São João, capítulo 8, versículos 1 a 11 narra o episódio da mulher surpreendida em adultério. Os mesmos "prostitutos" que utilizaram de seus serviços pedem sua condenação. Quiseram colocar Jesus numa armadilha. Armadilhas semelhantes às que nós tramamos uns contra os outros, sobretudo quando a inveja nos aguça por dentro, para "tirar de campo" ou "puxar o tapete" de quem nos faz sombra e aparece mais do que nós.         

"Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra" (Jo 8, 7). Penso que o jeito é mesmo responder aos apelos da Quaresma, para celebrarmos uma Páscoa verdadeira: sejamos os protagonistas do perdão e da misericórdia de Deus! É preferível enganar-se por perdoar e exercer a misericórdia, do que acertar por uma justiça despida de amor! 

Com Santa Teresa de Calcutá podemos concluir: “Devemos amar a pessoa boa, porque merece e a pessoa má, porque precisa de nosso amor”!



quarta-feira, 15 de março de 2023

QUARESMA: TEMPO DE RECONCILIAÇÃO! Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

O Quarto Domingo da Quaresma, chamado Laetare, porque de certa forma antecipa as alegrias preparadas neste forte Tempo de Reconciliação, remete-nos a um dos Sacramentos mais ricos da Igreja, embora subestimado, quando não banalizado: O Sacramento da Reconciliação! Depois da Eucaristia, é o Sacramento da Reconciliação que nos coloca de volta, diante do amor e do perdão de Deus. Para mim, o Sacramento da Reconciliação é como um antibiótico espiritual, que nos impermeabiliza espiritualmente, diante de todas as tentações que procuram afastar-nos do amor de Deus. Como é boa a sensação de termos sido perdoados ou de termos conseguido perdoar a alguém que nos machucou, ofendeu ou prejudicou!

                   

O Evangelho de São Lucas nos apresenta os passos do Sacramento da Reconciliação, na parábola do Pai Misericordioso, contada por Jesus no capítulo 15. O filho mais novo sai de casa, vira as costas para o pai, gasta numa vida desenfreada toda parte da herança que lhe coube e chega ao fundo do poço. Sob os escombros da rejeição, da exclusão e da discriminação da sociedade, faz a experiência da vida longe do pai. O pai sofre com a ausência do filho, mas não corre atrás. Fica esperando pacientemente. Deixa o filho fazer a experiência da miséria humana, da vida sem sentido e vazia de amor.

                   

No momento em que o filho se arrepende, ele mesmo dá o passo de volta: a conversão começa a acontecer, a fim de conduzi-lo à reconciliação! Não adianta procurarmos o Sacramento da Reconciliação por mero cumprimento de preceito, ou para agradar os pais, ou o marido a esposa. Deus espera que a iniciativa seja nossa, só nossa. Quando o pai avista a volta do filho, então sim, corre ao seu encontro; nem o deixa chegar. Abraça-o, sinal de acolhida; beija-o, sinal do ósculo da paz, devolvendo-lhe a paz que o pecado, o afastamento, lhe havia roubado; oferece-lhe uma túnica limpa, sinal de que não há mais o direito de culpar-se, pois obteve o perdão incondicional; sandálias nos pés, sinal de dignidade, pois só os filhos dos empregados andavam descalços; anel no dedo, sinal de herdeiro, mesmo que tenha esbanjado tudo o que havia herdado, volta a ser herdeiro do pai. E finalmente, o novilho gordo, a festa, a Eucaristia, que simboliza a ação de graças pela volta do filho, que estava morto e reviveu, perdido e foi reencontrado (cf. Lc 15,1-3.11-24).

 

                   Assim também nós somos convidados a celebrar a Reconciliação com Deus, conosco mesmos e com os outros, para que a Quaresma produza seus efeitos saborosos. oração de modo especial, pelo mundo afora. O Papa Francisco, quando trata da misericórdia de Deus, costuma afirmar que o Confessionário é o único Tribunal de onde o réu confesso sai absolvido!



quarta-feira, 8 de março de 2023

QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO! Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

A Quaresma é um dos mais ricos tempos de conversão. Converter-se espiritualmente, significa mudar o que não está bem interiormente. As pessoas perderam a noção de pecado. Já na década de 50 do século passado, o Papa Pio XII afirmava que um dos maiores males de nossa geração, seria a perda da noção de pecado. Parece que o pecado foi extinto, perdeu seu sentido de existir, só porque determinados comportamentos tornaram-se frequentes entre as pessoas e suas relações. Diz-se: "Isso já não é mais pecado, pois todo mundo faz...". Mas não é bem assim. O sentido de pecado não perdeu suas características, e existe tanto hoje como no tempo de Jesus. Talvez não se faça mais uma determinada listinha de pecados como antigamente. O importante é remetermo-nos à própria consciência, e esta sinalizará se cometemos ou não pecado.

               

Gosto de pensar que pecado é tudo aquilo que nos tira a paz interior, causa-nos medo, angústia ou vergonha por termos feito algo contra Deus, contra nós mesmos ou contra alguém. Pecado é o afastamento do amor de Deus. É deixar Deus falando sozinho, virando-lhe as costas. Assim como muitas vezes nossos adolescentes agem com os pais, pensando que seus princípios estejam ultrapassados. Logo a arrogância, a prepotência, a ganância e a autossuficiência gritam mais alto.

                

A conversão é voltar-se novamente para Deus, a quem damos as costas, deixando-O falar sozinho. É olhar nos olhos de Deus. É estar diante de Deus rosto a rosto e sentir-se envolvido pelo amor com o qual nos criou à sua imagem e semelhança. Isso nem sempre é fácil. Muitas vezes nosso orgulho é maior do que nossa humildade. Aqui está uma grande dificuldade de nossos tempos: o auto-perdão. Não é fácil admitir que erramos, que nos enganamos, o que se torna uma grande dificuldade de perdoar-nos a nós mesmos e, consequentemente aos outros.

                

Com facilidade nos atribuímos o direito de julgar os outros, até mesmo negando-lhes o perdão. Isso significa que temos a pretensão de sermos "deuses" sobre os outros. Outras vezes, escondemos nossos erros atrás dos erros dos outros, a fim de não sermos descobertos. Esse tipo de atitude é um desastre nas relações humanas, sobretudo em determinados grupos de pessoas, que desempenham algum serviço na sociedade, que os coloque em evidência, como nas esferas sociais, econômicas, políticas, familiares e nem por último, eclesiais. Esse esconderijo é o principal ingrediente do pecado da inveja, que antes parece um câncer que embora se manifeste, ninguém aceite.

 

A conversão implica uma "reconciliaterapia". Isto é: admitir as próprias fraquezas, aceitá-las e com a ajuda do perdão que vem de Deus convertê-las em virtudes. Só então produziremos frutos saborosos e contribuiremos por uma sociedade mais humana, justa e fraterna!



quarta-feira, 1 de março de 2023

DEUS PERDOA SEMPRE, O HOMEM DE VEZ EM QUANDO, A NATUREZA JAMAIS! Por Pe. Gilberto Kasper - Teólogo

 

Todos os dias temos assistido desastres climáticos. Uns mais assustadores do que outros. Terremotos na Turquia e Síria, as já sempre esperadas enchentes de verão em nosso amado Brasil, com desabamentos de morros derrubando casas e levando não somente os imóveis, mas ceifando vidas e mais vidas, rodovias se partindo ao meio, avenidas de grandes metrópoles e cidades menores mais parecendo rios com correntezas violentas arrastando tudo que encontram pela frente, como automóveis e nem por último pessoas.

 

Os geólogos têm dito que tudo isso já é previsto. Que desastres naturais acontecem mesmo, de tempos em tempos, que placas subterrâneas se movem e com isso há a erupção de vulcões adormecidos e que terras tremem, marés sobem vultuosamente com tais deslocamentos.

 

Os ambientalistas advertem há décadas, de que o desrespeito para com a natureza surpreenderá os habitantes do Planeta com catástrofes, como as que assistimos agora. Desmatamentos, explorações e grilagens ilegais, invasões irregulares de Biomas, que deveriam ser protegidos tanto pelo Estado como por seus cidadãos, as tímidas políticas públicas, que contemplem especialmente moradias dignas para 17 milhões de brasileiros que ainda vivem em barracos, comunidades (favelas), nas encostas de morros perigosos, criaturas humanas obrigadas a viverem como bichinhos engaiolados, por conta de uma Cultura de Sobrevivência.

 

A ganância de alguns que se endeusam sobre a maioria das pessoas, pode ser uma atitude que promova as catástrofes naturais, a cada ano mais frequentes. Porém, na hora em que a natureza reclama seu espaço de volta, não escolhe pobres ou economicamente privilegiados. É verdade de que os mais vulneráveis, aqueles que sobrevivem em casebres, barracos nas encostas dos morros que tantas vezes deslizam, são os que mais sofrem e até morrem nessas tragédias. Mas a natureza também engole automóveis importados, mansões, sítios e fazendas de alto nível.

 

Há poucos anos os desastres naturais atingiram a região serrana do estado do Rio de Janeiro. No ano passado foi novamente a vez de Petrópolis. Outras regiões do País, como Pernambuco, Bahia, Minas Gerais tampouco escapam de tragédias parecidas. Enquanto o verão deste ano castiga a região Sul, como o Rio Grande do Sul, com a falta de chuvas, exigindo o racionamento de água potável, causando a perda imensa de colheitas de alimentos, castiga o litoral paulista, causando estragos incalculáveis e ceifando dezenas de vidas. E assim foram interrompidos tantos sonhos de pessoas queridas e trabalhadoras, que ao longo de um ano inteiro economizaram seu dinheirinho para usufruir os feriados de Carnaval em praias que há mais de 70 anos não viam tamanha tragédia natural.

 

De quem seria a responsabilidade de tudo isso? Penso que é hora de olharmos para dentro de nós. Procurar culpados fora de nós, pode não nos responder à pergunta: De quem é culpa? De Deus? Do Homem? Da Natureza? Ora, Deus perdoa sempre, o homem de vez em quando, a natureza jamais.

 

Enquanto não tomarmos consciência da parcela de nossa responsabilidade pessoal diante do meio ambiente, da natureza tão perfeita que de graça recebemos para viver felizes e não simplesmente sobrevivermos, os desastres naturais continuarão ocorrendo, talvez não apenas nos próximos verões, mas em qualquer uma das estações. Penso que a urgente atitude nossa deve ser o respeito. O respeito talvez não resolverá o estrago já feito, mas ajudará a amenizar nossas condições de vida, como seres humanos.

 

Respeitemos com ternura e gratidão a Deus que perdoa sempre, ao homem que perdoa de vez em quando e a natureza que não perdoa jamais.