Pesquisar neste blog

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

QUARTA-FEIRA DE CINZAS: INÍCIO DA QUARESMA! Pe. Gilberto Kasper Teólogo

 

A Quarta-Feira de Cinzas, celebrada nesta semana, inicia na Igreja um período de quarenta dias de preparação à principal Festa dos Cristãos: A Páscoa do Senhor!  Daí o nome: QUARESMA! É um tempo muito rico e que nos propõe alguns exercícios penitenciais, que visam melhorar nossa qualidade de vida, como cristãos, filhos de Deus e irmãos uns dos outros. A Quaresma vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, exclusive. A Igreja prescreve tanto para a Quarta-Feira de Cinzas, como para a Sexta-Feira Santa um Dia de Jejum e Abstinência o que não significa que ao longo deste tempo não se façam tais ou outros exercícios que nos levem a uma maior solidariedade e fraternidade para com os mais pobres.

              

Os exercícios quaresmais de penitência são: a oração, o jejum e a esmola! Os cristãos são chamados a aprimorar a qualidade de sua relação com Deus através de maior tempo de recolhimento e oração, na meditação da Palavra e na escuta da vontade de Deus para com a humanidade; a aprimorar a qualidade de sua relação consigo mesmos através do jejum e a aprimorar a qualidade de sua relação com os irmãos menos favorecidos, através da esmola, que melhor soaria como partilha!

               

Nossa oração, como diálogo, só é capaz de chegar ao coração de Deus, quando brota do nosso próprio coração. Do contrário seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Nosso jejum não pode reduzir-se a uma simples dieta que nos ajude a emagrecer, porque deixamos de consumir certas guloseimas que geralmente engordam. Não podemos esquecer que nossa região possui um dos lixos mais luxuosos do Brasil, ou seja, comida manufaturada jogada no lixo. Mais esbanjamos do que consumimos do necessário. É a comida que sobra nos pratos por conta de etiquetas já ultrapassadas ou que azeda nas panelas de nosso povo. Nossa esmola não pode reduzir-se a um simples desencargo de consciência ou ato de dó. Deve transcender ao esforço de que todos, principalmente os que têm menos do que nós, possam viver com igual dignidade humana.

               

A Campanha da Fraternidade sugere a Coleta da Solidariedade que acontece em todas as Comunidades do Brasil no Domingo de Ramos. O resultado dessa Coleta é investido em projetos de promoção humana, favorecendo os que tantas vezes nossa sociedade de consumo exclui, mas que sempre foram os preferidos de Deus. Gosto de sugerir que esta Coleta seja o resultado dos exercícios quaresmais de penitência: a oração, o jejum e a abstinência que remetemos aos mais pobres do que nós. De nada valerá contribuir com a Coleta da Solidariedade, colocando determinado valor que não nos faça falta. Mas se nossa contribuição for o resultado do nosso jejum e de nossa abstinência, durante os quarenta dias da Quaresma, o valor será agradável a Deus e produzirá frutos saborosos em benefício dos mais necessitados. Sugiro que façamos as contas de quantos refrigerantes, sorvetes, carnes ou outros prazeres deixaremos de consumir por conta de nosso jejum e de nossa abstinência. O resultado destes é que deveria ser oferecido no dia da Coleta e jamais uma quantia qualquer. Nosso jejum e nossa abstinência só agradarão ao coração de Deus, enquanto forem revertidos em benefício de quem tem menos do que nós.

 

Neste ano o tema da Campanha da Fraternidade nos convida a debruar nossa consciência, de modo ainda mais contundente sobre os irmãos e as irmãs, que não têm o que comer todos os dias: Fraternidade e Fome, com o lema: “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16).

 

Um jejum que costumo adotar, bem como sugerir aos meus interlocutores é o “jejum da língua”. Durante a Quaresma não falar nada mal de ninguém. Parece um exercício fácil, porém é uma difícil penitência, passar quarenta dias sem falar nadinha mal de quem quer que seja. Se não souber nada de bom das pessoas com quem convivo, devo calar-me. Este jejum talvez seja mais difícil em tempos de tantas Fake News, porém deverá agradar ao coração misericordioso de Deus. Qual pai quer ouvir seus filhos falando mal uns dos outros? Se Deus é nosso Pai, devemos nos comportar como irmãos que se respeitam, que se queiram e que se amam muito!

               

Sejamos, nesta Quaresma, melhores do que em todas as anteriores. Assim seremos mais autênticos diante de Deus, de nós mesmos e dos outros.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

CÁTEDRA DE SÃO PEDRO! Pe. Gilberto Kasper Teólogo

 

A Hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana encontra a origem de suas Estruturas na escolha que Jesus Cristo faz dos seus doze Apóstolos. Ele os prepara para constituir uma Igreja Ministerial, Missionária, Apostólica e Salvadora. Escolhe um entre os doze, para coordenar a Colegialidade Eclesial: Cefas, que passa a chamar-se Pedro, que significa pedra, sobre a qual Jesus mesmo edifica Sua Igreja. Um o trai: Judas Iscariotes, que depois é substituído por Matias, cujo nome significa "dom de Deus". Desde então a Igreja nunca ficou órfã de Papa. O Pedro de hoje é Francisco. Com facilidade criticamos a instituição, até mesmo porque é formada por pessoas, mas conduzida desde o começo pelo Espírito Santo. Assim como Pedro, Francisco abandona tudo, até o próprio nome, para "gastar-se em favor da Igreja de Jesus Cristo a quem serve. Gosto de pensar na grandiosidade de uma pessoa humana que abandona tudo, que nem volta mais para sua própria casa, a fim de se despedir ou escolher o que levar ao lugar de onde deverá governar absolutamente "esvaziado de si mesmo" a Igreja do Senhor. Foi por isso que o Papa São Paulo VI, chegando às margens do Lago de Genezaré, onde Pedro foi confirmado pelo próprio Cristo o primeiro Papa, disse: "Este é para mim o lugar mais importante da Terra Santa, pois mostra que meu serviço na Igreja não é em vão..."

 

         O Papa não governa a Igreja sozinho. Inspirado e conduzido pelo Espírito Santo, tem o Colégio Cardinalício, os inúmeros Dicastérios no Vaticano, onde é o Chefe de Estado, que o assessoram. Porém, o maior Colégio Apostólico é formado pelos Bispos do mundo inteiro, que são os sucessores dos Apóstolos e, a partir de suas Dioceses, em profunda comunhão com o Papa, que é o Bispo de Roma, continuam a missão evangelizadora e missionária da Igreja do Senhor.

 

          Também os Bispos não governam sozinhos suas Dioceses. Eles vivem seu ministério episcopal em comunhão com o Presbitério, que são os Padres, com o Clero, que são os Diáconos, os Ministros das diversas dimensões pastorais e sacramentais. A Diocese tem um Colégio de Consultores, um Conselho de Presbíteros, um Conselho de Pastoral e de Assuntos Econômicos que ajudam no governo da Igreja particular. As Dioceses são formadas pelas Paróquias, que por sua vez tem as diversas Comunidades, Religiosos e Religiosas, Movimentos, Serviços e que são divididas em Foranias, regiões pastorais no âmbito territorial da mesma Diocese. Cada país e cada continente tem suas Conferências Episcopais, que procuram traçar caminhos para a evangelização da Igreja. As Conferências são divididas em Regionais e os Regionais em Províncias Eclesiásticas ou Sub-Regionais, que tem seu Arcebispo, cuja missão é promover a colegialidade, a unidade e fraternidade entre as suas Dioceses sufragâneas. Dom Moacir Silva é o Arcebispo da Arquidiocese de Ribeirão Preto, que tem oito Dioceses sufragâneas: Barretos, Catanduva, Franca, Jaboticabal, Jales, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto e Votuporanga.

 

           Desde o século IV a Festa da Cátedra de São Pedro, celebrada no dia 22 de fevereiro, salienta a missão atribuída a Pedro, princípio e fundamento visível da unidade da Igreja. Lembra e celebra a missão, especialmente dos Bispos e demais ministros ordenados, de cuidar do povo com o mesmo coração generoso de Jesus, pastor por excelência.

 

           Neste ano “omite-se” a Festa da Cátedra de São Pedro por ser a Quarta-Feira de Cinzas, que marca o início da Quaresma e o lançamento da Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). Celebraremos às 7 horas a Missa com a imposição das Cinzas na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos e às 19 horas na Igreja Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio em Ribeirão Preto Preto.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

ABUSO DE AUTORIDADE! Pe. Gilberto Kasper Teólogo

 

Gosto de pensar que só tem autoridade aquele que fala, age, vive e convence pela coerência e por meio do bom senso. Geralmente as pessoas constituídas de autoridade, quando incoerentes entre o que pensam, falam e fazem, são fortes diante dos fracos, porém fracas diante dos fortes. Forte é quem age com sabedoria e transparência. Forte é quem cumpre com a palavra e convence pelo exemplo de vida. Forte é o amigo da verdade e que não consegue mentir, nem que o sistema no qual se encontra inserido, ou a sociedade hipócrita que se lhe impõe viver de aparências, tentem induzi-lo à mentira, não poucas vezes deslavada e vergonhosa.

O projeto que pune abuso de autoridade de juízes e procuradores e que ainda é criticado pelo Judiciário continua tramitando no Congresso Nacional. Há entre deputados e senadores eleitos e reeleitos muitos interessados em intimidar o Poder Judiciário. Principalmente os que há décadas se utilizem de seus cargos, sobrevivendo de falcatruas que enriqueceram ilicitamente, desviando valores volumosos de seus destinos, lesando desse modo milhões de brasileiros de seus direitos e acesso à saúde, educação, infraestrutura e necessidades básicas.

É no mínimo estranho que se busquem foros privilegiados aos que eleitos para servir a nação, simplesmente a roubam e ainda se sentem no direito de vergonhosa blindagem. A lei deve ser aplicada a todos igualmente: aos que roubam um pote de margarina num supermercado, e que geralmente são presos em flagrante, como aos que roubam milhões de reais para viverem escandalosamente enriquecidos com o suado dinheiro destinado ao bem-estar dos brasileiros, que tantas vezes são vítimas de vilões vestidos de terno e gravata, posando de “senhores da lei”. Os que legislam em proveito próprio e em detrimento dos trabalhadores honestos deste País campeão da disparidade entre pobres e falsos ricos. Penso nos falsos ricos, quando me refiro àqueles que só conseguem enriquecer materialmente “roubando, corrompendo e desviando” dinheiro alheio. Penso naqueles (não são todos) que igualmente incitam seus Colegas de Câmara Federal e Senado a “calarem Juízes e Procuradores da República” com a desculpa de hermenêutica equivocada em relação à corrupção e verbas desviadas de suas verdadeiras finalidades. Blindar homens públicos como esses, é institucionalizar o crime de maus políticos!

Como se faz necessário que o Poder Judiciário seja mais ágil no julgamento dos processos. Que as sentenças não se reduzam a prisões, delações (colaborações) premiadas, mas na repatriação dos valores roubados.

Se a Justiça fizer com que sejam devolvidos os rombos da corrupção, da propina e de tantos outros desvios de verbas, seguramente não faltariam recursos para a Saúde, Educação, Previdência Social, Necessidades Básicas de nosso Povo que é bom, pacífico e não merece continuar sendo enganado por uma dezena de maus políticos, que comprometem toda a classe e semeiam desesperança no coração de um povo tão cheio de vida e de esperança por dias melhores.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O REINO DE DEUS! Pe. Gilberto Kasper Teólogo

 

Todos os dias, em todos os cantos do mundo os cristãos pedem confiantemente que venha a nós o Reino prometido e inaugurado por Jesus. “Venha a nós o vosso Reino”, diariamente rezamos, diariamente pedimos e diariamente confiamos nesse Reino que já mostra os seus sinais entre nós, mas que na eternidade será total, eterno e sem fim.

 

           Ao enviar os apóstolos, Jesus lhes dá como uma das recomendações anunciar que “o Reino de Deus está próximo”! E, tanto ontem, no tempo de Jesus como hoje, em nossos dias, o Reino está presente entre nós, mas nem sempre conseguimos identifica-lo. São tantos contra testemunhos, tanta violência, mentira, desrespeito para com a vida e as pessoas que nós nos vemos pedindo o Reino e, por vezes nos desesperamos com a sua demora. Talvez a imagem de Reino que também confundiu os irmãos Tiago e João pode confundir alguns que imaginam o Reino de Deus como se fosse semelhante aos impérios de poder ditatoriais que surgem nesse milênio em que vivemos. Os inimigos do Reino, os que trabalham para a “besta” (cf. Ap 13) são experts em confundir e mentir, e assim lançam o desânimo entre os que buscam viver o mandamento do amor que o Divino Mestre ensinou. Dizem que o diabo joga cartas e que quando vê que está perdendo o jogo, tira da manga a carta do desânimo... Aí começam as pessoas pensar que nada vai melhorar.

 

           Mas o Reino de Deus vem! Os seus sinais os vemos indicados naquele sermão da Montanha em que Jesus fala dos que tomarão parte nesse Reino (Mt 5,6,7); para esse Reino nos dirigimos comprometendo-nos como o faz aparecer o reinado de Cristo entre nós. A João e Tiago que buscavam destaque, Jesus ensina o caminho do serviço, da doação da própria vida, do despojamento de si em favor dos outros. Para esse caminho não basta somente falar, é preciso a prática coerente da verdade; servir não é o mesmo que cobrar aos outros o que não fazem; tal cobrança é sim feita através de atitudes que nos mostram empenhados em paralisar as estruturas que geram maldade, as estruturas daquela violência da falta de educação e grosseria que demonstram o mal encalacrado no interior de quem não ama.

 

           O Reino de Deus se mostra naquelas pessoas que servem e cuidam dos pobres, dos prisioneiros, dos doentes sem fazer deles uma bandeira política; o Reino de Deus dá seus sinais quando nós nos unimos em favor daqueles que mais necessitam de cuidados e aos quais não pedimos nada em troca; o Reino de Deus acontece quando a nossa palavra, aquilo que falamos se comprova por meio da caridade que realizamos. O Reino se mostra quando trabalhamos contra a violência e contra a corrupção. “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas é paz, alegria e fraternidade”. O Reino de Deus não é teoria e não está à venda em nenhuma imobiliária, pois é gratuito como o coração de nosso Deus que nos ama sem medidas.

 

           Esse Reino que todos os dias pedimos que venha, está entre nós; nós colaboramos com ele quando nos fazemos irmãos, próximos, servidores dos que nos estendem as mãos em busca de algo. Tomemos as atitudes necessárias para entrar na Festa do Reino que nunca se acaba. A porta é estreita, então, para que ninguém fique entalado ao chegar, uma recomendação do Mestre para nos acostumarmos aqui com o Reino definitivo que virá. É só ler Mateus 25, 31-46.

 

           Depois de longas férias, voltam nesta semana os Deputados e Senadores eleitos em outubro do ano passado. O Congresso parcialmente eleito e reeleito é convocado a começar a trabalhar zelosamente por todo o Povo Brasileiro, mesmo sendo de oposição. Espera-se a superação das diferenças partidárias. Saibam os eleitos representar, de verdade, cada cidadão brasileiro, independentemente de ideologias. Ninguém deveria “apropriar-se” de poder, cargo ou prestigio, a não ser para servir incansavelmente a todos os brasileiros. Está na hora de respeitar o Povo Brasileiro, promovendo-o em sua dignidade. Cessem as divergências políticas, dê-se lugar à tão desejada e verdadeira democracia, que contempla cada um e todos os filhos desta “Pátria Amada”, sem excluir ninguém. Somos um País pacífico e lindo. Povo acolhedor e alegre. Não deixemos que nos roubem nossas virtudes, porque uma de nossas identidades marcantes é a bem-aventurança que, mesmo pobres, nos enriquece: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu” (Mt 5,3).

 


(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)