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terça-feira, 24 de outubro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Exulte o coração dos que buscam a Deus.
Sim, buscai o Senhor e sua força,
procurai sem cessar a sua face” (Sl 104,3s).

            Neste Trigésimo Domingo do Tempo Comum, nos reunimos para celebrar novamente, a páscoa de Jesus e buscar a face de Deus, que se revela no rosto sofrido dos pobres e oprimidos. Amando os irmãos sofredores, amamos o próprio Deus. A eucaristia é a expressão da ternura misericordiosa do Pai para com todos.

            As leituras nos convidam a amar a Deus acima de tudo e nos comprometem a amar os necessitados. O amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis.

            Deus nos convida a defender a vida dos pobres e esquecidos. Os dois amores da vida, Deus e o próximo: amando um, estaremos amando o outro. É importante que a comunidade saiba fazer memória da sua caminhada.

            Neste domingo, Dia Nacional da Juventude, celebramos especialmente em comunhão com os jovens.

            Na certa, temos uma situação que nos incomoda e mexe com o nosso modo de anunciar e celebrar com a comunidade o memorial da páscoa de Jesus. Como interpretar e viver nos dias de hoje a Palavra de Deus proclamada na liturgia?

            No Dia do Senhor, o Domingo, nos reunimos para nos encontrar com Deus. Mas para chegar a Ele é preciso ter feito uma opção e passar pela porta de entrada que é o povo com sua história, suas angústias, esperanças, lutas e privações, pois, Deus não quer um amor distante do povo e intimista.

            O nosso Deus que amamos e juramos fidelidade é o Deus defensor dos pobres. Somos seus aliados na defesa dos excluídos, desprotegidos e rejeitados da sociedade. A nossa religião se firma nesse Deus e cultiva o seu amor pelos últimos da terra.

            Somos reunidos por um Deus que está no meio dos deserdados e iletrados e que nos diz que a porta de entrada na sua amizade passa pelo amor ao povo que sofre e ama. E amar a Deus significa amar esse povo que vive e faz história conosco.

            E a Palavra de Deus nos faz lembrar que ser cristão significa ser missionário do bem, do amor, da justiça. Isso supõe o desmascaramento dos ídolos que mantém o povo à margem da vida e das celebrações que cultivam um deus falso e um culto vazio.

            O compromisso missionário é dos cristãos e das comunidades eclesiais. É dia de oração. Dia de ofertas generosas. Antes de tudo um dia de avaliação pessoal e comunitária. As missões não são apenas uma atividade da Igreja ou um dia do calendário pastoral. A fé que recebemos como dom e bênção não sobrevive nem se sustenta sem o mergulho no compromisso missionário e profético.

            A liturgia nos leva a olhar para o Senhor de braços abertos e olhar fixo no horizonte da missão e nos campos imensos que esperam operários e ceifadores. O que podemos e vamos fazer para contribuir no anúncio da Palavra do Senhor: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e todo o teu entendimento”. “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Esses dois mandamentos são a expressão maior da vontade de Deus. É o resumo de toda a Bíblia!

            Ao definir o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, o resumo da lei e de toda a mensagem bíblica, costumo pensar na qualidade desse amor. Vivemos um tempo, em que os contra valores engolem nossa sociedade, levando-a ao consumismo, egoísmo, hedonismo e individualismo. Será que nosso amor tem sabor divino? Enquanto criados à imagem e semelhança de Deus, somos capacitados a amar um amor com sabor de Deus mesmo. Porém, nunca antes houve tanta depressão e descontentamento com nossa imagem. Penso que ao criar-nos à Sua imagem e semelhança, nem régua Deus usou. Moldou-nos segundo Seu amor profundo por cada um de nós, Suas criaturas prediletas. Nem sempre nos damos conta disto. Por isso, penso que amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo, implica num terceiro mandamento: amar-me a mim mesmo como Deus me criou e moldou. Isso nem sempre é fácil. Quantas intervenções cirúrgicas plásticas vemos acontecer mundo afora, com a desculpa de melhorar a autoestima? Para mim, não existem pessoas feias, a não ser em suas atitudes, comportamentos e relações com os semelhantes. Logo gosto de dizer assim: amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo, do jeito que cada um é, e não como gostaríamos que fosse. Se eu não for capaz de aceitar-me como sou e amar-me do jeitinho como Deus me moldou, também não serei capaz de amar meu próximo e muito menos a Deus.

            Não nos esqueçamos de devolver o envelope da Coleta para as Missões. Mesmo que a Coleta tenha sido semana passada, ainda há tempo, para os que esqueceram. Seja esta coleta o fruto saboroso, a partilha de nossa pobreza em favor das Missões. A coleta não poderá ser uma simples esmola ou migalha, mas um valor considerável que demonstre nossa generosidade. Deixar de consumir algo em favor de quem precisa mais do que nós, agrada o coração de Deus. A indiferença e insensibilidade para com as Missões, desfigura nosso compromisso de sermos uma verdadeira Igreja de Jesus Cristo, totalmente missionária e ministerial.

                        Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex 22,20-26; Sl 17(18); 1 Ts 1,5-10 e Mt 22,34-40).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2017, 92-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2017), pp. 55-59.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES


            Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“A missão no coração da fé cristã”!

A Palavra de Deus do Vigésimo-Nono Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária nos desafia a não separar a liturgia da vivência cotidiana. Com a frase-resposta “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, Jesus vence o desafio lançado por seus opositores e nos ensina a dar glória a Deus por meio da vida dedicada ao seu povo.
            Como cidadãos do reino conduzidos pela mão do Senhor, vamos acolher a palavra da salvação. Ela vem a nós com a força do Espírito e nos ensina a dar a Deus o que lhe pertence.
            Ciro, rei pagão, torna-se instrumento de salvação nas mãos de Deus. A autoridade é responsável pelo bem-estar do povo, que tem a Deus como seu único Senhor. O tripé de uma comunidade cristã é a fé, a caridade e a esperança.
            Não podemos separar a vida cotidiana da vida de fé. Na assembleia que partilha o pão da vida, reconhecendo-nos todos filhos e filhas do mesmo Pai e cidadãos da mesma pátria.
            Há quem use a palavra do Evangelho de hoje para manter a religião longe da política. Essa maneira de pensar já é uma opção política que serve aos interesses dos que têm poder e exploram o povo.
            Em tempo de tanta corrupção, podemos reconhecer vários poderosos que se colocam como deuses. O poder político coloca-se como valor absoluto. Pessoas, regimes ou estruturas que impedem a humanidade de ser “imagem de Deus” na liberdade e na justiça. Roubam de Deus o que pertence unicamente a ele: o povo.
            A política e a economia devem ser instrumento para a realização da justiça, do direito da vida, conforme a vontade de Deus. Quando o dinheiro domina a pessoa, fica perdida a noção de dignidade, de direito, de justiça e de respeito. Muitas vezes, é uma questão mal resolvida dentro de cada um de nós, na sociedade e na política.
            Os cristãos que se engajam na política não são fiéis a Deus na medida em que se comprometem com o sistema que oprime. Quando forem capazes de renunciar à riqueza, serão fiéis a Deus, a quem devem devolver o povo que lhe roubaram.
            O imposto cobrado deve ser revertido em benefício do bem comum e não desviado para algum “caixa dois”. Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece dominadores e fortalece a dominação tanto interna como estrangeira.
            Jesus chama de hipócritas os grupos que o elogiam, mas sustentam a injustiça sobre o povo. Ele manda devolver para Deus o que é de Deus – o povo libertado. O nome do amor hoje é a política vivida como solidariedade.
            A Deus não temos como pagar, pois tudo a ele pertence. O tributo que podemos pagar a Deus é a entrega de nossa vida, compromisso com o projeto que Jesus nos ensinou, no amor fraterno e na justiça. Ligamos fé, política e economia, conseguindo romper com a dominação do dinheiro, do consumismo, da adoração à moeda estrangeira, do poder e do sucesso. Na Igreja, na comunidade, como nos organizamos para ficar livres da ganância, do poder e do dinheiro?
            A moeda deve ser restituída a César, porque nela está impressa a imagem do seu senhor: o imperador. Há uma criatura sobre a qual está impressa a imagem de Deus. Esta é sua e somente sua. Ninguém pode apropriar-se dela indevidamente.
            As palavras de Jesus nos alertam a ficarmos atentos e prontos a gritar quando as pessoas são injustiçadas, exploradas e massacradas em seus direitos.
            Somos tentados frequentemente a “comprar deus” com dinheiro ou falsas promessas e dar a César o que é de Deus. O que é de Deus? O que é de César? Não podemos cair na armadilha e trair os princípios e valores do Reino de Deus. Pedimos a graça de estar ao dispor de Deus e servi-lo de todo coração.
            A comunidade é o lugar, por excelência, para servir a Deus, cantar as suas maravilhas e professar a nossa fé nele. A fé nos leva a “devolver a César o que é de César”, recusando todo tipo de dominação ou privilégios, pois, o Deus em quem acreditamos quer vida e liberdade para todos.    
O desenvolvimento, crescimento e valor de um País, geralmente, é medido a partir da economia, enquanto deveria ser reconhecido desenvolvido, civilizado a partir dos valores de seu Povo: a riqueza de sua cultura, a sustentabilidade de seus bens naturais e a sabedoria dos que nascem naquela determinada Nação. Lamentavelmente o dinheiro apodera-se sempre da “última palavra”. Com dinheiro resolve-se a vida e os problemas de uma pequena porção de um povo em detrimento da grande maioria, que sobrevive com “migalhas”.
            Se nossos políticos e servidores públicos, que nem sempre servem o povo, mas apropriam-se indevidamente do que é de todos, trabalhassem por salários mais modestos, talvez a injustiça na política pudesse ser sanada. Não é o que acontece. Além de salários demasiados altos, têm assessorias que recebem vergonhosas ajudas de custo, além de barganhas, comissões e dinheiro sujo que compra a honra de quem quiser sobreviver ao sistema corrupto que contemplamos escancaradamente. Nossos impostos não são honestamente aplicados em favor do bem comum. Quanta sujeira varrida debaixo dos tapetes de nossos Governos! Subestimam nosso senso crítico e nós não exercitamos nossa cidadania e direitos. Não valorizamos nem mesmo um centavo de troco, permitindo que de centavo em centavo, alguns poucos enriqueçam com dinheiro ilícito. Somos apáticos e conformados com o que nos é imposto, tornando-nos o País que paga os mais altos impostos do mundo, sem que esses sejam aplicados em melhor qualidade de vida dos cidadãos.
            Os bancários fazem greve enquanto os banqueiros se dão conta de que muitos dos grevistas são inúteis, já que a vida do País continua. Sofre o povo simples. Basta inovar um pouco mais a tecnologia eletrônica da transação bancária e a mão de obra humana torna-se supérflua. Não seria mais inteligente que os bancários combinassem uma greve interna, sem prejuízo aos clientes de seus bancos? Durante um mês os funcionários dos bancos deixariam de vender os produtos de seu banco, atendendo tão somente os clientes, sem fechar as portas. Nosso dinheiro fica à mercê dos bancos que enriquecem ainda mais, durante a greve.
Seria injusto, não fosse diabólico! Enquanto grevistas gritam por justiça, políticos votam aumento dos próprios salários. Daí que afirmo acreditar na honestidade da maioria dos políticos, desde que trabalhem sem salário fixo; contentando-se apenas com o necessário para servir seus eleitores!
Corruptos e desonestos não nascem nas Câmaras, no Congresso Nacional, Senado e até mesmo na Suprema Corte. São (des) educados no seio da própria família desde tenra idade. Quando os pais pagam seus filhos para que obtenham bons resultados na escola; quando recompensam os filhos por serem educados, comportadinhos e coniventes com as falcatruas familiares formando assim homens e mulheres desonestos, corruptos e sem escrúpulos.
            Também em nossas Comunidades, precisamos estar atentos para destinar com justiça o dinheiro que nos chega, aplicando-o honestamente. Refiro-me ao dízimo, às coletas hodiernas e extraordinárias e taxas cobradas nas secretarias de nossas Paróquias e Celebrações. A Coleta para as Obras Missionários deste Dia Mundial das Missões deverá ser enviada toda ela à Cúria, sem subtrair nenhum centavo, como parece acontecer frequentemente. Não podemos utilizar o dinheiro das Coletas para decorar nossos Templos. Vivemos com simplicidade, utilizando os recursos para nossas despesas? Devemos sustentar nossas Comunidades com dignidade e partilhar de nossa pobreza com os que têm menos do que nós. O que Jesus diria a cada um de nós, vendo que algumas Comunidades sobrevivem com dificuldades agudas, enquanto outras ostentam luxo chamado de bom gosto? É admissível que numa Igreja que se diz ser de Jesus Cristo haja tamanha disparidade e desigualdade entre irmãos no Sacerdócio? A tão falada “fraternidade presbiteral” é concreta ou não passa de “balela”? Cada um de nós é chamado a responder desde os porões da própria intimidade: somos coerentes ou hipócritas entre o que pregamos e vivemos: na Família, na Sociedade, na Igreja e na Política?

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 45,1.4-6; Sl 95(96); 1Ts 1,1-5 e Mt 22,15-21).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2017, pp. 75-78 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2017), pp. 49-54.

UM SINAL NA CURVA DO RIO!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Acabamos de solenizar a grande Celebração dos trezentos anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida. Dizem que em curva de rio algumas coisas se encalham e por isso são encontradas mais facilmente; outros dizem que curva de rio guarda um mistério. Já ouvi muitas histórias de rios e de pescadores com suas particularidades, sagas incríveis e também muitos dramas e superações. Para quem tira o sustento da pesca, não encontrar nenhum peixe para contar a história pode ser sinônimo de fracasso, para não dizer tragédia.

            Nas águas do rio Paraíba do Sul, o que poderia se tornar um grande desastre se mostrou prodígio da intercessão materna quando, há trezentos anos os pescadores encontraram uma imagem da Senhora da Conceição e aquela situação dramática se tornava uma ocasião de concreta esperança, de fé perseverante e de comprovada solidariedade. A história que o Brasil e o mundo conhecem daquela milagrosa pesca mostra a todas as pessoas de boa vontade e que buscam a Deus de coração sincero, que o amor sempre vence o mal. Naquelas redes de trezentos anos atrás, um corpo de imagem e depois a sua cabeça revelam um grande e misterioso amor de mãe por todos os seus filhos, principalmente os mais sofredores.

            A imagem que “apareceu” ensina que a Virgem Maria é a mãe que “acode” os seus filhos que constantemente lhe pedem intercessão “agora e na hora da nossa morte”, que pedem o seu afeto e colo de mãe para enfrentar a dureza das estradas da vida nas quais sabemos por experiência que nossa mãe jamais nos abandona. Todos nós, todos os dias invocamos o auxílio da “nossa Senhora”, “nossa Mãe”, “nossa”! Quantas vezes repetimos ao longo do dia estas expressões que nos remetem à Virgem Mãe de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo; até os não católicos repetem essa frase e todas as pessoas, até mesmo inconscientemente chamam a “mãe” nas horas de dificuldades. Os pescadores do rio Paraíba do Sul invocaram a sua proteção e sentiram sua intercessão materna. Encerra-se a solene festa, continua a profunda devoção!

            A senhora que apareceu nas águas do Paraíba é Maria, a nossa mãe que nos ensina a confiança em Deus; é a mulher que encarna a solidariedade com os sofredores e se torna a padroeira, a protetora de nossa Nação indicando o temor a Deus como modo de enfrentar e vencer as adversidades de cada dia. É ela a mãe que nos educa na fé, é a mulher que não se aliena da realidade e nem foge da sua identidade criada com o homem à imagem e semelhança de Deus e a quem podemos recorrer em nossas dificuldades.

            Maria, mãe de nosso Deus, cuja imagem foi encontrada nas águas do rio Paraíba do Sul é figura da mulher que vive a sua vocação à maternidade e, sendo a Mãe do nosso Redentor nos estimula a viver uma fé ativa, geradora de esperança, capaz de unir as pessoas em torno do Evangelho para reconstruir a sociedade brasileira que está em ruínas por tanta corrupção e falta de modos por parte da classe política em geral e pela esperteza dos que desejam o poder a qualquer custo. Maria de Aparecida é nosso socorro, auxílio nesta vida e certeza da vida eterna; por isso muitíssimos brasileiros acorrem ao Santuário Nacional para celebrar a fé em Deus e o carinho de nossa Mãe. Quantos relatos de milagres acontecidos graças à intercessão de nossa Senhora, quanto carinho materno podemos comprovar.

 A imagem de nossa Senhora nos lembra do rosto amável de toda mãe que se preocupa, zela, cuida, ampara e intercede em favor de seus filhos, de todos eles, inclusive os mais distantes. E mãe sempre espera pelos filhos, não descansa enquanto não damos notícias. Já cantava Adoniran Barbosa:- “minha Mãe não dorme enquanto eu não chegar...” E o santuário como casa da mãe, é nossa casa onde a Mãe sempre nos espera.

 Alegremo-nos sempre com a celebração deste grande sinal na curva do rio Paraíba do Sul, da presença e do carinho de nossa Mãe que protege e guia o povo brasileiro para “fazer tudo o que Jesus nos diz”! (cf. Jo 2,1-11).

(Em parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu, SP)







quarta-feira, 11 de outubro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 MÊS MISSIONÁRIO


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Na casa do Senhor habitarei eternamente” (cf. Sl 22).

            No Vigésimo-Oitavo Domingo do Tempo Comum o Senhor, que põe um fim à desonra de seu povo, prepara-nos o banquete em sua casa, para celebrarmos sua salvação. A Igreja em saída compartilha as dificuldades do povo de Deus e anuncia a alegria do evangelho pelas ruas e encruzilhadas, convidando a todos os que encontra. Vestindo o traje de festa, tomemos parte na comunidade-esposa de Cristo em comunhão com a Igreja no Rio Grande do Norte, que neste domingo vê canonizados seus mártires.
            O grande rei é Deus que organiza a festa de núpcias do seu Filho. A esposa é a humanidade ou a Igreja, santa e pecadora, fiel e prostituta, livre e presa aos esquemas do poder. Entretanto, Cristo a ama de mesma forma como sua esposa. Ele sabe que o seu amor terá o poder para transformá-la, para deixá-la bonita e atraente.
            O banquete representa a felicidade dos tempos messiânicos. Quem acolhe a proposta do Evangelho começa a fazer do Reino de Deus e experimenta a alegria mais pura e profunda.
            Os convidados recolhidos ao longo dos caminhos e pelas praças, bons e maus, limpos ou sujos, são os homens do mundo inteiro. Isso nos leva a abrir o coração e as portas das nossas comunidades a qualquer tipo e pessoa, aos pobres, aos marginalizados, a quem é rejeitado por todos.
            Os primeiros convidados não entram na festa. Recusam porque não querem largar os próprios interesses. Não precisam de ninguém que lhes ofereça um banquete: têm tudo o que lhes pode garantir uma vida sem problemas. Estão satisfeitos. Os que não são pobres, os que não querem abandonar as próprias garantias materiais, os que não têm fome e sede de um mundo novo, não entrarão jamais no Reino de Deus.
            O Evangelho nos faz um convite forte a nos posicionarmos a favor da justiça do Reino, que é liberdade e vida para todos. A comunidade dos que seguem a Jesus só será esposa do Cordeiro quando vestir o traje da justiça. E o Evangelho é um convite a nos posicionar a favor da justiça do Reino que se chama de liberdade e vida para todos. Paulo na sua Carta nos ajuda a sermos gratuitos e solidários com os empobrecidos.
            Jesus no Evangelho nos faz refletir e entender a nossa atuação política na sociedade. Não podemos ser manipulados e enganados por falsas promessas. Acolhendo as palavras de Jesus e fazendo parte da festa de casamento que um grande rei fez para o seu filho, ficamos com a certeza de que o Reino é para os pequenos e marginalizados.
            Sintonizados e unidos a Jesus, o esposo da nova humanidade e da Igreja, somos chamados a crescer na aliança com ele e com todos os pobres e excluídos da terra. Assim, o Papa Francisco nos ensina: “A missão da Igreja encoraja a uma atitude de peregrinação contínua através dos vários desertos da vida, através das várias experiências de fome e sede de verdade e justiça”, “à experiência do êxodo contínuo” em direção das muitas periferias em que se encontram os excluídos de nossa sociedade.
            A missão da Igreja é por isso um constante sair de si mesma. Como nos lembra a Campanha Missionária desse ano, a Alegria do Evangelho se realiza quando somos de verdade “Igreja em saída”.
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão nosso abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 5,1-7; Sl 79(80); Fl 4,6-9 e Mt 21,33-43).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2017, pp. 36-39 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2017), pp. 32-36.


SOLENIDADE JUBILAR DE NOSSA SENHORA APARECIDA!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


Os católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que vamos celebrar amanhã, pois todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história, transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em luz, de miséria e pobreza em abundância.

            A imagem de Nossa Senhora que há 300 anos apareceu no rio Paraíba do Sul é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e esposa peregrina, é chamada a fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o Messias.

            O aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu, e a abundância foi readquirida.

            Neste dia, no Brasil, também se comemora o dia das crianças. Elas aguardam de todos nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz. Que a honestidade espane do cenário de nossa rica Nação a tão sistêmica corrupção.

            Gosto sempre de imaginar a cena daquele casamento em Caná da Galileia. Deve ter sido um casamento de pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos os chamados “ricos emergentes” ou ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos verdadeiramente ricos!

            Maria, que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando sua mãe de “Mulher”. Em outras palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto vai aos serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente pela fé de Maria em Jesus. Da Solenidade Jubilar de Nossa Senhora Aparecida, também nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou para nós!

           






quarta-feira, 4 de outubro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

MÊS MISSIONÁRIO

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Eu vos escolhi foi do meio do mundo,
a fim de que deis um fruto que dure” (Jo 15,16).

            No Vigésimo-Sétimo Domingo do Tempo Comum somos convidados a celebrar a páscoa de Jesus. Ela se realiza nas comunidades e grupos dispostos a colaborar para que o reino de Deus produza frutos para o bem de todo o povo, a vinha amada do Senhor.
            Somos a vinha do Senhor, cuidada com carinho pelo Pai e regada pelo sangue de Cristo para que produza os frutos de paz e de vida que Deus deseja e espera de nós.
            A comunidade é a vinha do Senhor, da qual ele cuida com carinho e espera frutos de amor e justiça. Todos somos trabalhadores do reino de Deus e também responsáveis pelo seu crescimento. A celebração é o momento privilegiado para aprendermos a ser ternos, apesar dos conflitos.
Neste mês das missões, com o tema “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, “juntos na missão permanente” somos convidados a rever nossa vida em família, eclesial, social e política. Somos missionários ousados e corajosos, ou meros espectadores dos abusos que acontecem ao nosso redor, decepcionando nosso povo amado, por não exercermos nossa vocação também profética em nossas Comunidades e na Sociedade?
            Jesus retoma o texto de Isaías, mas não coloca a culpa na vinha por sua falta de bons frutos, e sim nos meeiros que deviam cuidar dela. Além de impedir que os bons frutos cheguem ao dono da vinha, ainda são violentos com seus enviados. É uma crítica muito séria que faz aos que se consideram donos da religião e senhores da fé do povo. Apropriam-se da relação entre Deus e seu povo, desorientam aquilo que permite o povo ligar-se a seu Senhor.
            Muitas vezes, certas lideranças religiosas impedem que o povo seja Povo de Deus para ser povo dos anciãos, dos escribas, dos sacerdotes, de fulano, de tal movimento... O povo vira joguete nas mãos dos chefes religiosos que buscam seus interesses e não o Reino de Deus. É isso que Jesus critica, mesmo que sua denúncia profética lhe cause a morte.  Sempre costumo pensar que Jesus foi condenado à morte de cruz por pura inveja clerical. Não bastando puxar-lhe o tapete, mandaram matá-lo, a fim de que deixasse livre o caminho aos “maus pastores”: interesseiros, exploradores da ignorância dos mais simples... Pior de tudo isso, é que Jesus continua sendo crucificado ainda em nossos dias, geralmente pelos que se consideram os “pastores mais certinhos”, os engessados em suas próprias hipocrisias!
            Que frutos se esperam da vinha plantada e cuidada com tanto carinho? O Senhor espera dela o direito e a justiça. Estabelecer o direito e a justiça é uma exigência de Deus como expressão de fidelidade à Aliança entre Deus e seu povo. Nosso Deus, que é Deus da vida e do amor, quer que, em nosso meio, reine a justiça, respeite-se o direito de todos, em especial dos mais pobres.
            Na Palavra proclamada, a opressão contra os mais pobres é considerada um homicídio. Os vinhateiros são homicidas não só porque matam os enviados, inclusive o Filho, mas também porque despojam o pobre, violam o direito, não dão os frutos da justiça que pede o Senhor. Por ser assim, o Reino de Deus vai ser entregue a outras pessoas.
            O fato de sermos cristãos não nos garante o Reino. Somos escolhidos para sermos sinal do amor, da misericórdia e da salvação de Deus. É preciso provar essa escolha com frutos e ações concretas de justiça e direito. Ser cristão é dar a vida. Se colocarmos em prática o Evangelho, o Deus da paz vai estar conosco e dessa paz seremos testemunhas no mundo em que vivemos.
            Entrando no mês dedicado às missões, peçamos a Deus a fidelidade a seu serviço, para que sejamos dignos de sua eleição.
                        Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão nosso abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 5,1-7; Sl 79(80); Fl 4,6-9 e Mt 21,33-43).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2017, pp. 36-39 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro/2017), pp. 32-36.

MINHA PRIMEIRA EUCARISTIA!


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Um dos dias mais felizes de minha vida foi o de Minha Primeira Eucaristia! Foi no dia 4 de outubro de 1964, festa de São Francisco de Assis, um lindo domingo. Eu tinha apenas 7 anos de idade. Éramos três irmãos e muito pobres. Fomos acolhidos na Escola Paroquial do Sagrado Coração de Jesus no bairro Santo Afonso em Novo Hamburgo (RS). As Irmãs da Congregação de Santa Catarina de Alexandria nos alfabetizaram e também nos prepararam para a Primeira Eucaristia.
Nossa mãe não tinha como pagar as mensalidades. As Irmãs nos propuseram uma permuta: estudaríamos sem pagar as mensalidades em troca de limparmos, todos os dias, a Escola toda, varrendo-a, tirando o pó, deixando-a em ordem para o dia seguinte. Aos sábados, minha avó, minha mãe e eu com meus irmãos fazíamos uma limpeza geral: passávamos o dia inteiro limpando, enquanto durante os dias da semana, ficávamos depois das aulas para a limpeza. Fizemos isso até terminarmos os cinco anos do então chamado Primário. Para nós, era uma festa. Além de limpar a Escola, eu me ofereci para ajudar a limpar a Igreja também uma ou duas vezes por semana. Não existia o Estatuto da Criança e do Adolescente naquela época, se é que me entendem!
Deixei de brincar de Missa com meus vizinhos na Estrebaria da casa de meus avós, para passar as tardes na Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, que sempre brilhava de limpinha e arrumada. Provava as vestes litúrgicas do Pároco, mexia nas alfaias, comia hóstias não consagradas e bebericava do vinho canônico por pura curiosidade. Logo fui admitido ao serviço de Coroinha. A Irmã Neófita fez o exame para a Primeira Eucaristia, tomando, individualmente, o Ato de Contrição. Era enorme para mim, que ainda não falava corretamente o português. Em casa nos comunicávamos com um dialeto alemão. Fui reprovado no exame e somente três dias depois de uma “segunda época” fui, finalmente, admitido à Primeira Eucaristia.
Finalmente chegou o dia 4 de outubro, um dos primeiros mais felizes de minha vida. Depois de comungarmos, a Irmã Neófita passando pelo corredor da Matriz entre mais de 200 crianças, nos ajudou naquele momento após a comunhão: “Fiquem bem quietinhos. Percebam para onde Jesus na Hóstia Santa foi; foi para o coraçãozinho de vocês ou para o estômago? Só um coração puro pode receber Jesus na Hóstia Santa!”. Estou sem saber direito até hoje para onde foi a Hóstia Santa. O que sei, é que senti meu coração como um verdadeiro Sacrário, Tabernáculo e Porta-Jóias de Jesus.
Depois de Minha Primeira Eucaristia, até minha mãe, que nasceu em berço Luterano, passou a frequentar mais a Missa e foi zeladora do Apostolado da Oração. Assim, também foi meu primeiro amor pelo Sagrado Coração de Jesus e São Francisco de Assis, que sediaram um dos primeiros dias mais felizes de minha vida, o dia de Minha Primeira Eucaristia!