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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

MÊS DA BÍBLIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
 “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir;
foste mais forte, tiveste mais poder...” (Jr 20,7ª).

O Vigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum, primeiro do Mês da Bíblia, reflete, contempla e agradece a vida do Povo Brasileiro, suas conquistas e seu clamor por justiça, igualdade, respeito e cidadania nesta Semana da Pátria! Vivemos uma realidade que clama por reconciliação e paz. Supliquemos à Virgem Conceição Aparecida que olhe para o Povo Brasileiro, do qual é protetora.
            Não é fácil renunciar a bens e privilégios, mas é fundamental abandonar maneiras velhas de pensar e agir, para poder seguir o evangelho. Convocados a esse seguimento, celebramos a páscoa de Jesus, a qual se manifesta em todos os que perdem a vida por amor ao reino.
            A palavra de Deus cativa e compromete as pessoas. Quem busca assumir o projeto de Jesus experimenta pessoalmente a verdade de que os sistemas do mundo não combinam com o evangelho de Jesus Cristo.
            A palavra de Deus nos seduz e nos compromete com seu projeto. O seguimento de Jesus exige renúncia e comprometimento. O verdadeiro culto que agrada a Deus é fazer sua vontade.
            Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o martírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do caminho de Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e esperanças; de lutas, mas também de vitórias; de cruz, mas também de ressurreição e vida; de não conformismo, mas também de compromisso com o projeto de Deus. Disso nos falam Jeremias, Jesus e Paulo. Pedro, no evangelho deste domingo, representa o medo que temos das consequências do cristianismo que enfrenta as forças contrárias à vida; Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da Palavra irresistível; Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos fala do verdadeiro culto agradável a Deus. A Palavra deste domingo, em síntese, nos encoraja no testemunho cristão, evitando que a mediocridade nos conduza a um beco sem saída.
            Todos nós, como Jeremias e como Pedro, passamos pela tentação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério pascal, negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A tentação do ser humano moderno é a realização humana através das próprias forças. Esquece-se de que a pessoa humana transcende-se a si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si mesmo pela doação da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se realiza de verdade.
            O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser diferente do destino do mestre. O evangelho deste domingo é claro: Para estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo é deixar de lado toda ambição pessoal. Em outros termos, temos aqui a repetição da primeira bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca o surgimento do Reino... É a última bem-aventurança, a dos perseguidos por causa da justiça (cf. Mt 5,11). Ser discípulo de Jesus, portanto, é reviver a síntese das bem-aventuranças.
            A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo, para ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o resultado da estratégia do Adversário... Pois o sucesso e a ganância produzem os porões de miséria. Devemos analisar o sistema de Deus e o sistema do Adversário hoje. O sistema de Deus proíbe ao homem dominar seu irmão, porque Deus é o único dono; os sistemas contrários são baseados na dominação do homem pelo homem. Quem quiser ser mensageiro do Reino de Deus experimentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste mundo. O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade como corpo alheio. Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de valores e critérios de decisão. A mania do sucesso, o prazer de dominar, de aparecer, de mandar... já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a cruz, até o fim.
            Embora muitas pessoas não gostem de pensar e muito menos de falar no assunto, procuro sempre imaginar-me, quando vou a algum velório, no lugar daquela pessoa confinada num pedaço de madeira: E se fosse eu que estivesse no lugar da pessoa falecida? Estaria preparado para encontrar-me diante de Deus? E como estaria? De mãos cheias ou vazias de boas obras e gestos de caridade? Renunciar a própria vida e consumir-se pelo anúncio do Reino de Deus é parecer como uma vela de cera, que quanto mais se derrete, maior e mais bela é a chama que ilumina e encanta o olhar de quem a contempla. Temos deixado o fogo abrasador de o Espírito Santo acender-nos como velas, luzes que iluminem e encantem a vida de nossos irmãos?
            A Palavra nos convida à docilidade daquilo que o Mestre espera de cada um: tanto dos ministros ordenados, como daqueles que não são ordenados, mas também Sacerdotes, por conta do Batismo que os adotou como herdeiros da Vocação ao Amor!
            Consigamos transformar em nossa vida pessoal e também pastoral: O Poder em Serviço; Os Bens (materiais e intelectuais) em Partilha; O Prestígio em Humildade, buscando viver nosso ministério, configurados com o Mestre, a partir da Conversão, Coerência e Bom Senso sempre mais conscientes! Superemos os “Pecados Paroquiais: Saudosismo, Milindrismo e Estrelismo”, abrindo-nos ao diferente, ao novo, como tanto nos sugere e pede nosso Papa Francisco!
            Ainda tem-se a sensação clara, de que tais apelos do Papa ainda não chegaram às bases de nossas Comunidades. Sua insistência numa Igreja mais simples, mais pobre, menos hipócrita e descomplicada, ao invés ainda demonstra muitas ostentações, arrogâncias, abusos de poder sejam eles eclesiais, políticos e comunitários. Não sei se o Papa ficaria feliz ao saber de nossas relações inter-eclesiais, entre pastores e rebanho. Ainda há muitos que surram suas ovelhas sem a tão insistente Igreja da Misericórdia sonhada pelo Papa. Outro fator muito evidente e feio é a desobediência reinante entre nós. Descuidar das orientações do Papa, reiteradas pelos Bispos e Superiores é mera hipocrisia. Quem sabe assumir nossa cruz, renunciar a nós mesmos, não seria uma conversão para valer, como lemos tão claramente no Documento nº 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia – A Conversão Pastoral da Paróquia?

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Jr 20,7-9; Sl 62(63); Rm 12,1-2 e Mt 16,21-27).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2017, pp. 20-22 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro/2017), pp. 6-10.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

DIA DOS CATEQUISTAS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei minha Igreja;
e os poderes das trevas
jamais poderão contra ela!” (Mt 16,18).

            O Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum é o Domingo da profissão de fé de Simão Pedro! Mais uma vez animados pela presença do Ressuscitado em nossa caminhada de discípulos, somos convidados a proclamar a fé e a recordar o sentido de nossa missão.
            No exercício da missão, os discípulos de Jesus se vêem envoltos em situações delicadas que requerem muita fé. O anúncio da Boa-Nova do Reino exige dos discípulos e missionários convicção profunda, mas, em certos momentos, eles fraquejam e sentem-se impotentes.
            Conscientes de nossa pobreza e fragilidade, disponhamo-nos à graça de Deus que nos faz proclamar a mesma fé de Simão Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
            Recordamos com carinho neste domingo, no espírito do Mês Vocacional, os vocacionados para os Ministérios e Serviços na Comunidade. Recordamos de modo ainda mais particular, os Catequistas em sua importante missão de educadores da fé.
            Os primeiros Catequistas e Educadores da Fé dos filhos, são os próprios pais. Ou deveriam ser. É o que prometem no dia do próprio Matrimônio e no dia em que levam os filhos ao Sacramento do Batismo. Porém, como a educação básica, também terceirizam a magnífica Educação da Fé dos Filhos aos sempre tão abnegados Catequistas! Como verdadeiras pérolas preciosas das Comunidades, merecem nossa mais profunda gratidão. Mesmo assim continuo pensando que, quem deveria ser evangelizado em nossos Planos de Catequese, são os Pais. Esses, por sua vez, deveriam ser capacitados para evangelizarem os filhos, em Família. Mas em nossa Cultura de Sobrevivência, isso ainda é um sonho longe de se tornar realidade.
            A palavra de Deus, deste domingo, é uma grande mina de grande valor. Podemos contemplá-la sob diferentes ângulos. Eliacim e Simão Pedro, por serem pessoas tementes a Deus, receberam uma missão, ou seja, as “chaves”’. Na perspectiva da fé, qual seria a missão dos discípulos e missionários do Senhor em nossos dias?
            É interessante imaginar a cena, em que Jesus pergunta: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem”. Queiramos ou não, nossos Políticos já estão preocupados com as Eleições do próximo ano. “Pisam em Ovos” para garantir um cargo a ser decidido nas Urnas em 2018. Mal comparado, poderíamos imaginar que Jesus tenha perguntado como andam as pesquisas a seu respeito, assim como fazem os marqueteiros e assessores ou cabos eleitorais dos candidatos a algum serviço pela Nação. A resposta dos discípulos é bastante “espírita”: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas” – reencarnação pura!
            Mas o que interessa mesmo a Jesus é saber se seus discípulos o estudaram o suficiente e faz a prova oral de sua Teologia: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Pedro se adianta não porque estudou mais do que os outros, mas porque o Pai lhe revelou, e faz a sua, a nossa, a da Igreja linda profissão de fé: “TU ÉS O MESSIAS, O FILHO DO DEUS VIVO”. A partir daí Jesus confia à Igreja, por meio dos discípulos, a missão da Unidade e reafirma o Sacramento da Reconciliação!
            Sem sombra de dúvida, o grande desafio da Igreja, dos discípulos e missionários é anunciar a verdade sobre Jesus Cristo; ter a coragem de proclamar ao povo, aos grupos humanos, às diferentes culturas e realidades quem é o Filho de Deus.
            A grande missão do discípulo e missionário é “proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis que, em virtude do seu batismo, são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo [...] Em um período da história, caracterizado pela desordem generalizada que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, principalmente a avassaladora ordem de corrupções e propinas deslavadas (Estejamos bem mais atentos nas próximas eleições), pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e pela emergência de variadas ofertas religiosas que tratam de responder à sua maneira, à sede de Deus que nossos povos manifestam(Documento de Aparecida, 10).
            Aos discípulos e missionários de Jesus, mais do que condenar e excluir, cabe acolher e perdoar, absolver e reconciliar em nome de Jesus Cristo. Na pessoa de Pedro, a Igreja é chamada a ser escola permanente de verdade e justiça, de perdão e reconciliação para construir uma paz autêntica.
            Todos nós, como pessoas de fé, na Igreja, somamos com Pedro como pequenas pedras. Por simples ou modestas que sejam estas pedras, todas devem estar densas do dom da fé. Aderindo a Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, somos parte do seu Corpo, a Igreja, contra a qual as forças do mal não triunfarão. Contudo, precisamos fortalecer a fé, para encarar os novos desafios, uma vez que estão em jogo o desenvolvimento harmônico da sociedade e a identidade católica dos povos.
            Não mutilemos, pois, este lindo Corpo que é a Igreja. Nós somos os membros e Jesus Cristo é a cabeça desse Corpo. Mesmo que me pense ser o dedinho do pé, escondido no sapato não tenho o direito de aleijar o Corpo, faltando com minha presença, compromisso, fidelidade e oração que une a Comunidade. Sejamos, finalmente, um Corpo bem sarado, malhado e atraente, a fim de que todos queiram unir-se a ele.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel.

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 22,19-23; Sl 137(138); Rm 11,33-36 e Mt 16,13-20).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2017, 83-91 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2017), pp. 67-71.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Felizes aqueles que ouvem a
Palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11,28).


            Celebramos no Vigésimo Domingo do Tempo Comum uma das festas mais populares e consoladoras dedicadas à Virgem Maria: Assunção de Nossa Senhora!
            Cantamos as maravilhas que Deus realizou em Maria, exaltada acima dos anjos na glória junto a seu Filho Jesus. A páscoa de Cristo se realiza nos corações e comunidades que, a exemplo de Maria, se abrem à palavra de Deus e formam família com o Ressuscitado.
            Elevada ao céu, Maria intercede por nós e nos espera para que desfrutemos de sua companhia. Celebramos em comunhão com os vocacionados à vida consagrada: religiosos e consagrados seculares, que a exemplo de Maria, dão seu sim generoso ao projeto de Jesus.
            Mulher revestida de honras e glórias, Maria reconhece, agradecida, as maravilhas que Deus nela realizou em favor do povo. Ela é o grande sinal da nova humanidade redimida pelo seu Filho.
            Maria assunta ao céu é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória. Em Maria, humilde serva do Senhor, Deus tem espaço para operar maravilhas. A vitória de Cristo sobre a morte é símbolo também de nossa vitória.
            Maria já participa do banquete do reino com seu Filho. Quanto a nós, na eucaristia nos é concedido antecipar a alegria que o Pai reserva a todos os que são fiéis a Jesus.
            É a partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte que nós contemplamos Maria toda gloriosa no céu. Vemos como o próprio Evangelho coloca na sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus que, na vitória de Jesus, realizou uma tríplice inversão das falsas situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra de Cristo:
            No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas, confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, erguem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.
            No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem discriminações...
            No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos.
            A festa de Nossa Senhora da Assunção representa uma injeção de ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos na fé e na caridade rumo à pátria definitiva. Nela celebramos a esperança de estarmos todos juntos, um dia, com Maria, participando da festa que no céu nunca se acaba, a festa da total e definitiva libertação.
            Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria também é Mãe da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.
            Para os tempos de hoje, no momento histórico em que vivemos, a contemplação da serva gloriosa pode nos trazer uma luz preciosa.  Que seria a humilde serva no século 21, século da publicidade e do sensacionalismo? Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é um sinal de esperança para os pobres. Sua história joga também uma luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, duplamente oprimida, Maria é a mãe libertadora.
            Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é figura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o Poderoso opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das comunidades que lutam contra os dragões que procuram roubar-lhe as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua maternidade e mais ainda pela prática da Palavra participa da vitória de Cristo, primícia da vida em plenitude. O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo irá se tornando realidade concreta se formos cidadãos conscientes e responsáveis.
            Reunimo-nos, neste domingo, com Maria para proclamar as maravilhas operadas em nós pela morte e ressurreição de Jesus. Desta forma, iniciamos mais uma semana que, com a graça de Deus e proteção de Maria, será uma semana de paz, abençoada.
            Nada mais justo que Jesus acolhesse de corpo e alma Sua Mãe, a Virgem Maria, na feliz eternidade, uma vez que, totalmente Imaculada emprestou seu útero, a fim de que se tornasse o porta-jóias do próprio Deus, feito pessoa. Penso que o grande convite desta festa, é que cada um de nós se sinta, igualmente, o porta-jóias, o sacrário, o tabernáculo de Jesus Sacramentado, bem como no semblante do irmão, preferencialmente no rosto triste, enrugado, sofrido, desolado e desesperançado. Enfim, celebrar, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, para nós é celebrar novo ânimo, nova esperança e novas perspectivas de um mundo mais humano e fraterno.
            Que todos sintam as carícias da bênção materna de Nossa Senhora Assunta ao Céu! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44(45); 1Cor 15,20-27 e Ler Lc 1,39-56).                                 

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2017, pp. 67-73 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2017), pp. 58-66.


quarta-feira, 9 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

MÊS VOCACIONAL – DIA DOS PAIS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“A verdade e o amor se encontrarão,
A justiça e a paz se abraçarão;
Da terra brotará a fidelidade,
E a justiça olhará dos altos céus” (Cf. Sl 84).
  
            O Décimo-Nono Domingo do Tempo Comum é também o segundo domingo do Mês Vocacional, em que saudamos os vocacionados à vida em família, com atenção especial aos pais, neste dia dedicado a eles.
            Jesus espera de Pedro e de nós uma resposta corajosa a seu convite: Venham e alimentem-se da palavra e do pão eucarístico. O Senhor é nossa segurança nas tempestades da vida.
            Deus se revela na brisa mansa, mas não deixa de se manifestar também quando os ventos são contrários e as águas agitadas. A Igreja é convidada a acreditar na presença confortadora de Jesus mesmo em meio às maiores dificuldades.
            Deus nos fala de muitas maneiras, também no silêncio do coração. É preciso atravessar as ondas da resistência para construir o reino de Deus. Não podemos medir esforços na defesa do projeto de Deus.
            Na eucaristia, não basta que nos seja dado o sinal da presença de Cristo, o pão e o vinho; é necessária a fé, para reconhecer o Senhor que vem.
            Gosto sempre de insistir no silêncio para poder ouvir o que Deus tem a nos dizer. É bem verdade que devemos estar sempre atentos para podermos ler a presença do louco amor de Deus para com a humanidade nas diversas situações de nossa vida. É preciso colocar Deus no meio, aliás, acima de tudo que vai acontecendo em nosso hodierno. Como os apóstolos em meio ao vento forte em alto mar, vendo Jesus caminhando sobre as águas, somos tentados a gritar: “É um fantasma”. O mundo parece-me tão doentio, que parece ver “fantasmas” a toda hora. Vemos com mais facilidade um Cristo espetaculoso, o que dá manchete, do que um Cristo espetacular, que implica em compromisso de fé. O maior de todos os espetáculos já aconteceu: estamos vivos! Porém, andar também sobre as águas, desconfiados da presença amorosa de Deus em nossa vida, revelado por Jesus andando sobre as águas, reforça nossa autossuficiência, arrogância e prepotência. Achamos que conseguiremos resolver nossas dificuldades do nosso jeito e, frequentemente dispensamos a mão salvadora do Senhor. Assim nos afogamos em nossa própria fragilidade, deixando-nos levar pelos ventos fortes, que costumam derrubar-nos facilmente. Tais tempestades podem ser a inveja, a ganância, a busca de poder e prestígio a qualquer custo, mesmo que isso machuque outros. O egoísmo e a insensibilidade com os mais fracos. O afogamento mais frequente em nosso tempo é a depressão, a perda do sentido da vida, a sensação de fracasso, a baixa autoestima e a decepção com as pessoas nas quais confiamos mais do que no próprio Senhor da Vida! Só Deus não decepciona. Então não nos resta, senão a humildade de Pedro: sem nenhum constrangimento e nenhuma vergonha, gritemos: “Senhor, salva-me!”
            Deus vem ao encontro do homem especialmente nos momentos de necessidade... O Deus dos profetas e de Jesus é aquele que toma a defesa dos pobres e dos fracos. Ele não está nos fenômenos naturais grandiosos e violentos, mas no sopro leve da brisa, como que significando a espiritualidade e intimidade das manifestações de Deus ao homem.
            A comunidade cristã vive uma existência atormentada pela hostilidade das forças adversas, que se manifestam nas perseguições e dificuldades internas e externas. Unicamente com suas forças, ela não chegaria ao fim do seu caminho. Mas Jesus ressuscitado está presente no meio dos seus; embora invisível, ele os assiste.
            Os discípulos fazem uma travessia. Eles a fazem de barco. É noite. Ventos contrários. Mar agitado. Estamos diante de uma imensa simbologia.
            O mar era visto na época como o lugar onde habitavam monstros terríveis e ameaçadores. Mar agitado e ventos contrários, à noite, eram sentidos como sinais da fúria dos pavorosos monstros, ávidos por engolir os navegantes.
            O barco é símbolo da própria Igreja nascente, as comunidades cristãs se expandindo em missão. Nesta travessia, para o outro lado, isto é, nesta expansão rumo à pátria definitiva, as comunidades sentem-se ameaçadas por ventos contrários e pelo mar agitado, isto é, pelas violentas resistências dos poderosos (=monstros) ao projeto de Deus.
            (É bom não esquecer que os poderosos são fortes diante dos fracos, mas se tornam fracos diante dos fortes em Cristo Senhor!).
            As dificuldades que a Igreja enfrenta hoje devem nos fazer enxergar melhor a presença de Cristo em novos setores da Igreja, sobretudo na população empobrecida e excluída da sociedade do bem-estar globalizado. De repente, Jesus se manifesta como calmaria no ambiente tempestuoso das “periferias existenciais” do mundo, como costuma afirmar o Papa Francisco. Na simplicidade das comunidades nascidas da fé do povo. Temos coragem para ir até ele ou duvidamos ainda, deixando-nos levar pela onda?
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 19,9.11-13; Sl 84(85); Rm 9,1-5 e Mt 14,22-33).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2017, pp. 48-51 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2017), pp. 54-57.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 


A visão apocalíptica de Daniel ilumina a passagem da Transfiguração de Jesus, seja no seu esplendor divino seja no sentido de que o Eterno Pai vai outorgar ao Filho do Homem todo o poderio universal. Nesta revelação encontramos os indícios da participação, da filiação divina de Jesus com o Pai, e o seu reinado eterno.

O argumento de Pedro em seu testemunho sobre Jesus não se baseia em fábulas, mas em experiências. A fé da Igreja deve ser alicerçada nesta perspectiva, embora existisse uma resistência no meio intelectual de que só a fé será suficiente para que o cristão se mantenha firme em suas convicções religiosas. Mas não é isto o que a história bíblica revela nem a experiência milenar da própria Igreja.

Pedro recorda que no monte Tabor a filiação divina de Jesus foi reafirmada pela voz do Pai. Uma filiação não de adoção como é o nosso caso, mas uma filiação eterna. Nesta filiação se derrama toda a graça e dela recebemos a herança de uma filiação focada na plenitude de Deus feito homem.

Foi assim que aconteceu com Maria. Toda formada nesta presença divina, mas não isenta dos labores da vida. Nossa Senhora soube garantir para si e para a Igreja, Esposa de seu Filho, esta presença contínua de Cristo e ser transmissora desta luz divina aos irmãos quando Isabel fica repleta do Espírito Santo, só com a saudação de Maria (Lc 1,41).
A Páscoa de Cristo se manifesta na comunidade que descobre no rosto desfigurado do pobre o rosto luminoso do Pai. É preciso sair do comodismo e deixar que a glória de Deus se manifeste em nós. Subindo à montanha, somos convidados a ouvir o que Jesus tem para nos dizer e contemplaremos sua face resplandecente.


.."Este é o meu filho muito amado,
no qual eu pus o meu amor: escutai-o!" (Mt 17,5).

A transfiguração de Cristo nos sugere que, se escutarmos a palavra do Filho amado do Pai, seremos fortalecidos na decisão de trabalhar por um mundo melhor.

Antes da missão, os apóstolos deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento da verdadeira identidade de Cristo e dos mistérios do Reino. Jesus é o servo sofredor e sua glória passa pela cruz. A exigência é: “escutem o que ele diz!” A glória revelada manifesta-se em estreita vinculação com a obediência à Palavra.

E o que Jesus nos diz, afinal? "Amai-vos uns aos outros..." Será que ainda sabemos amar? Contemplamos filhos matando pais; mães jogando filhos em latas de lixo e córregos; pessoas sendo traficados, de alguma maneira; babás decepando a mãozinha de criança com apenas três meses; jovens morrendo por dez reais; trânsito violento, irresponsável e desrespeitoso, enfim, pessoas parecendo bichos selvagens! Que amor é esse? Enquanto não soubermos como é bom amar gratuitamente, com sabor divino, ficaremos dependurados na cruz, sem chegarmos à Transfiguração de Jesus!

O dia do Padre, transferido do dia 4, memória litúrgica de São João Maria Vianney, muito tem a ver com a festa da Transfiguração do Senhor. A vida sacerdotal deve ser um contínuo transfigurar-se em Cristo e por Cristo, mas este slogan pode parecer deveras sentimental e sujeito a equívocos. Ora, cada sacerdote tem sua experiência própria e individual com Cristo sacerdote e é impossível ser cópias uns dos outros. São pessoas escolhidas pela misericórdia de Deus a serviço do povo (Hb 5,1) e jamais a serviço de si mesmos.

A Igreja se põe de joelhos frente ao Único e Eterno Sacerdote, para que a concelebração/serviço dos sacerdotes seja duradoura na autenticidade, no entusiasmo e na humildade vocacional.

O Papa Francisco tem insistido numa “Igreja em saída, às periferias existenciais”. É lamentável quando não escutamos tal apelo, mas preferimos ser uma igreja triunfalista, ufanista e que não ultrapassa os limites de celebrações solenes e suntuosidades exacerbadas desde vestimentas à decorações, que escondem nosso verdadeiro ministério presbiteral. Se não ouvimos o Papa, será que ouviremos o que o Filho amado nos tem a dizer? Ora, se não ouvirmos Jesus, muito menos viveremos o que nos pede: amá-lo no pobre, no mais surrado pela vida, no enfermo, no idoso e no migrante!

Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Dn 7,9-10; Sl 96(97); 2 Pd 1,16-19 e Mt 17,1-9).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2017, pp. 27-30 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2017), pp. 49-53.