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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Somos peregrinos com Jesus rumo à Páscoa. Eis que chegamos ao terceiro domingo da Quaresma. Jesus intensifica o convite à conversão.
            Após termos celebrado os domingos das “tentações” e “da transfiguração” de Jesus, a liturgia da palavra ressalta a urgência da conversão pela renovação batismal. A conversão se traduz na resposta de fé à paciência de Deus.
            A Quaresma é o tempo da paciência de Deus, é o tempo que ele nos dá para que possamos produzir os frutos da justiça e da fraternidade.
            A fé se revela com a mudança de atitudes, com a mudança do coração por meio do árduo processo de conversão. Converter-se implica voltar para Deus e produzir os frutos do amor, da solidariedade e da paz. Que a caminhada quaresmal suscite “em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos” (cf. Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n. 13).
            As leituras revelam que Deus caminha conosco e não se conforma com a situação do seu povo sofrido. Nutridos pela sua palavra, seremos capazes de produzir frutos abundantes de fraternidade.
            Deus não suporta ver o povo sendo manipulado e mantido no sofrimento e convoca líderes para libertá-lo. Deus é paciente e nos dá sempre novas chances, mas exige também atitudes de nossa parte. É preciso saber ler os fatos históricos para melhorar o hoje da história.
            A Quaresma é um tempo para avaliarmos a qualidade de nossas respostas aos projetos da vontade de Deus. Será que elas correspondem à expectativa de quem confiou em nós? Pode ocorrer que os frutos não estejam à altura do esperado. Quem planta e cultiva determinada árvore frutífera, é natural que almeje colher bons frutos. “Foi lá procurar figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro”. Desilusão! A paciência parece estar se esgotando. O impulso humano é dar um basta: “corta-a!”.
            Apesar de nossas dificuldades, Deus não age assim. Mesmo que sua paciência esteja no limite, “o Senhor é piedade e compaixão, lento na cólera e cheio de amor” (Sl 145,8). Cristo, por sua vez, intercede constantemente por nós junto ao Pai, dilatando e ampliando sua paciência. O amor misericordioso torna possível o êxito dos projetos de Deus. Converter-se a Deus é voltar-se para Deus, é caminhar rumo a ele.
            A urgência da conversão quaresmal não se apresenta aqui como uma ameaça, mas como um convite libertador que suscita alegria, pois nos libertamos de algo que impede de crescermos como pessoas fiéis. O apelo à conversão requer mudança (metánoia) de nossa maneira de pensar, para assimilarmos os critérios de Jesus e seu estilo de vida. A conversão, como êxodo, é uma atitude do coração que exige manifestação externa no cotidiano pela dedicação às obras de caridade, à promoção da fraternidade e à defesa da vida.
            “A conversão e a fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho” (cf. Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n. 14).
            O chamado à conversão, que nos transforma em novas criaturas, começa pela fé e no batismo, exige esforço contínuo para que, renunciando a nós mesmos, assimilemos a vontade de Deus, estabelecendo novos relacionamentos com as pessoas e com o mundo que nos cerca. A conversão apoia-se no crescimento da fé e nas relações pautadas pela Boa Nova do Reino.
            No caminho da conversão, iluminados pela “sarça ardente”, percebemos sempre que algo poderia ser melhor, no que fazemos e somos, mesmo em nossas ações e atitudes dignas de aplausos, descobrimos resquícios de egoísmo e falta de amor. Mais do que nos penalizar, estas descobertas nos alegram. Pois pela confissão da nossa fraqueza e a humilhação pela consciência de nossas faltas, somos reconfortados pela misericórdia de Deus. Contudo, não abusemos da paciência de Deus, não tomemos como desculpa a sua misericórdia para retardar nossa conversão. A paciência de Deus não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Deus crê no homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para Aquele de quem se afastou.
            Conversão é convite à vida. Mais do que anúncio de ameaças, é proclamação de uma boa nova. Jesus apela “à conversão, anunciando a proximidade do Pai amoroso e misericordioso”.
            Esta terceira semana da Quaresma insistindo em nossa conversão, isto é, voltar nosso coração novamente para Deus, a quem deixamos falando sozinho ou lhe viramos as costas por conta de nossas infidelidades e pecados, nos convida a aproximar-nos do riquíssimo Sacramento da Reconciliação. Lamentavelmente ainda muitos bons católicos têm suas dificuldades com a confissão auricular (individual), por inúmeras razões, algumas delas, compreensíveis, outras não. Para mim, o mais rico sacramento depois da Eucaristia, de que dispomos sempre, é o da Reconciliação. Os Sacerdotes se reúnem em Mutirão de Confissões neste tempo rico, que a Igreja nos concede. Procuremos informar-nos com nossas Comunidades, onde estão acontecendo os Mutirões de Confissões ou onde poderemos adentrar nosso “sacrário pessoal”, os porões de nossa intimidade ou nossa consciência, celebrando o perdão, libertando-nos de tudo que nos aprisiona. Os Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia nos devolvem a verdadeira PAZ que o pecado nos rouba! Só então produziremos frutos saborosos em nossas relações pessoais, sociais, eclesiais e políticas, como pessoas de boa fé!
            Desejando-lhes muitas bênçãos e eficaz reconciliação com Deus, com o próximo e consigo mesmo, com ternura meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex 3,1-8.13-15; Sl 102(103); 1Cor 10,1-6.10-12 e Lc 13,1-9)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 91-94 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 38-44.

QUARESMA: TEMPO DE PERDÃO E MISERICÓRDIA

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


               A Quaresma nos conclama ao perdão e à misericórdia em relação aos outros. Nem sempre conseguimos perdoar. Alguns dizem que: "Perdoar é esquecer!". Prefiro pensar que perdoar é lembrar sem rancor! Nem sempre é possível esquecer, mas o perdão e a misericórdia são essenciais, se quisermos que os exercícios quaresmais nos edifiquem e nos conduzam à verdadeira libertação que a Páscoa do Senhor nos propõe. Um coração cheio de rancor, bolor, mágoas, rusgas e incapacidade de perdoar, é um coração amargo e infeliz.
              
Na parábola do Pai Misericordioso, temos além do mais novo, o filho mais velho. O Evangelho de São Lucas no capítulo 15, versículos 25 a 32, descreve a dificuldade que o irmão mais velho tem, de perdoar o mais novo. Sempre fez tudo certinho, foi o filho obediente e o peralta agora é homenageado? Isso é inconcebível, quando não se conhece a capacidade de perdoar e nem a misericórdia que Deus tem para com o pecador arrependido.
              
Em nossa sociedade temos muitos "irmãos mais velhos", incapazes de perdoar. Isso é muito comum nas famílias, nas instituições eclesiais e políticas, quando selamos a testa das pessoas, determinando-as "pecadoras". Esquecemos o que rezamos na oração que o próprio Cristo nos ensinou: "... perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...". Se Deus ouvisse este pedido, estaríamos perdidos. Há muitos entre nós, que se atribuem o direito de julgar, condenar e determinar a sentença, como se não tivessem nenhum pecado. Tenho dó de quem é assim! Quantos pecados mais "fedidos" tal pessoa não estará tentando esconder atrás de quem foi descoberto? Ninguém é melhor do que ninguém. Só Deus não decepciona, já que não existe criatura humana sem defeitos, erros, deslizes, enfim pecados a serem perdoados.
             
O Evangelho de São João, capítulo 8, versículos 1 a 11 narra o episódio da mulher surpreendida em adultério. Os mesmos "prostitutos" que utilizaram de seus serviços pedem sua condenação. Quiseram colocar Jesus numa armadilha. Armadilhas semelhantes às que nós tramamos uns contra os outros, sobretudo quando a inveja nos aguça por dentro, para "tirar de campo" ou "puxar o tapete" de quem nos faz sombra e aparece mais do que nós.
             
"Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra" (Jo 8, 7). Penso que o jeito é mesmo responder aos apelos da Quaresma, para celebrarmos uma Páscoa verdadeira: sejamos os protagonistas do perdão e da misericórdia de Deus! É preferível enganar-se por perdoar e exercer a misericórdia, do que acertar por uma justiça despida de amor!


Com a Beata Madre Teresa de Calcutá podemos concluir: “Devemos amar a pessoa boa, porque merece e a pessoa má, porque precisa de nosso amor”!

POR QUE MEDO DA MORTE?

 Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão da Cidade de Ribeirão Preto e Jornalista.


                    Se há alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez teriam de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.
                   Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...
                    Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!
                    Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas devem caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!
                   O ônibus, de vez enquando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um email para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, o email são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!

                    Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!"

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Neste Segundo Domingo da Quaresma, somos convidados a subir a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para contemplarmos o mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado que Jesus glorificado é o salvador esperado e que transformará nossa condição humana em realidade glorificada. Imagino que os discípulos deram uma espiadinha no céu.
            A visão da transfiguração de Cristo nos convida a “prestar ouvidos ao eleito Filho de Deus”, se quisermos ter forças no discernimento das ações que edificam o mundo segundo o projeto do Pai. A Palavra de Deus, neste dia, nos descreve a parábola ou nos desvela o grandioso plano salvador de Deus.
            A contemplação do Senhor transfigurado ressalta que “a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos” (Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n.7).
            Neste domingo da transfiguração, Jesus nos convida a escutar o que ele tem para nos dizer e a contemplar seu rosto luminoso. Firmes e cheios de fé no Senhor, celebremos a sua páscoa, que se realiza nos grupos e pessoas dispostas a transformar para melhor a realidade de cada um e a vida do povo sofrido.
            As leituras nos motivam a abrir o coração às promessas de Deus, que se preocupa e sempre quer fazer aliança conosco. Chamados a participar da glória do Senhor, escutemos o que hoje ele nos diz. E o que Jesus, o Filho amado do Pai nos diz ao coração, à luz do Ano Santo? Que nos amemos uns aos outros, e pronto. Isso parece simples, mas não é fácil. Amar o diferente, amar quem nos trai, amar quem nos difama e não nos perdoa, amar o inconveniente e o que nos faz sofrer... Mas é o que Jesus espera de cada um de nós. Deixar-nos enviar implica num prolongado compromisso com nossas Comunidades, que são convidadas a serem bússolas que orientem, através do testemunho, da coerência e do bom senso, todos ao Cristo transfigurado!
            Na aliança com Abrão, Deus promete descendência e terra. A transfiguração de Jesus é prenúncio da glória que a humanidade toda deseja. Estamos a caminho da transformação, mas para isso é necessário empenho e renúncia.
            Na caminhada da vida, por vezes, uma decisão importante, a realização de um acontecimento, é precedida por crises, trevas e expectativas. Jesus, como exímio Mestre, insistia que os discípulos deviam caprichar no seguimento e tomar a cruz de cada dia. Contudo, para eles, essa conversa da cruz e que ele tinha que sofrer para entrar na glória não fazia parte de seu imaginário e de sua compreensão. As palavras do Mestre sobre a cruz implodiram as esperanças messiânicas e a decepção foi geral.
            A transfiguração se traduz na revelação de que o caminho da glória passa pela cruz. A glória efêmera de um atleta, que no alto do podium recebe a medalha de ouro, é precedida por renúncias e sofrimentos alimentados pelo sonho de ser vitorioso.
            Envolvidos pela luz da glória, Jesus e os representantes da antiga aliança, Moisés e Elias conversam sobre o seu êxodo em Jerusalém. Enquanto isto, Pedro só tem olhos para a glória deslumbrante. Quer chegar à glória por um atalho que evite a cruz. Conosco isto acontece frequentemente. Não raras vezes pulamos etapas. Até pisamos sobre os outros para chegarmos, por atalhos à glória do prestígio, daquilo que chamamos de cargos, funções, honrarias e poder, seja no âmbito eclesial, político e social. Geralmente tais comportamentos, tais atalhos, são desastrosos e fazem muitas pessoas sofrerem por conta de nosso egoísmo e infidelidade na missão que nos foi conferida.
            Ao discípulo não compete inventar um caminho particular que evite a hora desagradável da cruz. Cabe-lhe assumir e andar junto com seu Mestre no mesmo itinerário. A transfiguração passa pela prova de um rosto desfigurado pela angústia para um rosto glorificado.
            Esta Segunda Semana da Quaresma nos propõe profunda conversão em nossa missão, sobretudo ministerial.  Discípulos do Senhor que querem chegar à transfiguração pessoal, deverão descer da montanha e assumir a realidade. Muitos gostariam de permanecer, como Pedro, lá na montanha, diante da glória. Jesus dá outra orientação: descer ao hodierno, não contar nada a ninguém, e assumir com amor e dedicação incondicional a missão que nos é confiada. Muitas vezes não compreendo como nós ministros ordenados deixamos pessoas morrer sem nossa absolvição, unção dos enfermos; deixamos de atender as pessoas que nos procuram para reencontrarem a paz interior, porque nos ocupamos com tarefas que nem mesmo condizem com nosso Sacerdócio ordenado. Com quanta frequência deixamos de presidir a Eucaristia para nossas Comunidades, porque precisamos passear. Com quanta facilidade gastamos mal o dinheiro com coisas desnecessárias, ou não enviamos o valor realmente arrecadado nas coletas, como no caso da que faremos nesta Quaresma: A Coleta da Solidariedade no Domingo de Ramos?
            Enquanto agirmos sem uma profunda conversão e o resgate da clara noção de justiça em relação ao dinheiro da Comunidade, teremos a coragem profética de pedir maior justiça e transparência por parte de nossos Governantes, tantas vezes muitos deles, corruptos e desonestos, desviando recursos a benefícios pessoais? Oxalá esta Quaresma lapide, moldando-nos ao Mestre que nos escolheu para seu discipulado e não se decepcione ainda mais com nossa prostituição por dinheiro, fama, prestígio e bem estar descabido. Quando utilizo o termo “prostituição” não me refiro à sexualidade, mas à negação da própria consciência, princípios e valores, como acontece com tanta frequência em nossa Política que ou se prostitui aos partidos em demasia, ou não sobrevive ao esquema desonesto.
Sejam todos abençoados e com ternura, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
                        (Ler Gn 15,5-12.17-18; Sl 26(27); Fl 3,17-4,1 e Lc 9,28-36).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 72-76 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 31-37.

QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO

Pe. Gilberto Kasper
           
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


               A Quaresma é um dos mais ricos tempos de conversão. Converter-se espiritualmente, significa mudar o que não está bem interiormente. As pessoas perderam a noção de pecado. Já na década de 50 do século passado, o Papa Pio XII afirmava que um dos maiores males de nossa geração, seria a perda da noção de pecado. Parece que o pecado foi extinto, perdeu seu sentido de existir, só porque determinados comportamentos tornaram-se frequentes entre as pessoas e suas relações. Diz-se: "Isso já não é mais pecado, pois todo mundo faz...". Mas não é bem assim. O sentido de pecado não perdeu suas características, e existe tanto hoje como no tempo de Jesus. Talvez não se faça mais uma determinada listinha de pecados como antigamente. O importante é remetermo-nos à própria consciência, e esta sinalizará se cometemos ou não pecado.
               
Gosto de pensar que pecado é tudo aquilo que nos tira a paz interior, causa-nos medo, angústia ou vergonha por termos feito algo contra Deus, contra nós mesmos ou contra alguém. Pecado é o afastamento do amor de Deus. É deixar Deus falando sozinho, virando-lhe as costas. Assim como muitas vezes nossos adolescentes agem com os pais, pensando que seus princípios estejam ultrapassados. Logo a arrogância, a prepotência, a ganância e a autossuficiência gritam mais alto.
                
A conversão é voltar-se novamente para Deus, a quem damos as costas, deixando-O falar sozinho. É olhar nos olhos de Deus. É estar diante de Deus rosto a rosto e sentir-se envolvido pelo amor com o qual nos criou à sua imagem e semelhança. Isso nem sempre é fácil. Muitas vezes nosso orgulho é maior do que nossa humildade. Aqui está uma grande dificuldade de nossos tempos: o auto-perdão. Não é fácil admitir que erramos, que nos enganamos, o que se torna uma grande dificuldade de perdoar-nos a nós mesmos e, consequentemente aos outros.
                
Com facilidade nos atribuímos o direito de julgar os outros, até mesmo negando-lhes o perdão. Isso significa que temos a pretensão de sermos "deuses" sobre os outros. Outras vezes, escondemos nossos erros atrás dos erros dos outros, a fim de não sermos descobertos. Esse tipo de atitude é um desastre nas relações humanas, sobretudo em determinados grupos de pessoas, que desempenham algum serviço na sociedade, que os coloque em evidência, como nas esferas sociais, econômicas, políticas, familiares e nem por último, eclesiais. Esse esconderijo é o principal ingrediente do pecado da inveja, que antes parece um câncer que embora se manifeste, ninguém aceite.


A conversão implica uma "reconciliaterapia". Isto é: admitir as próprias fraquezas, aceitá-las e com a ajuda do perdão que vem de Deus convertê-las em virtudes. Só então produziremos frutos saborosos e contribuiremos por uma sociedade mais humana, justa e fraterna!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.
            Para as comunidades cristãs, a caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus, por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
            A Quaresma deste ano insere-se nas celebrações do Ano Santo, O Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Na palavra do Papa Francisco, “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (cf. Misericordiae Vultus, n. 1).  Em sintonia com o Ano Santo, a Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5,31).
            A profissão de fé no Deus salvador é disposição constante do povo fiel ao longo da história da humanidade. O “credo do israelita” é reconhecer a ação libertadora de Deus na história, comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina como nos libertar das tentações do dia-a-dia. O “credo do cristão” é aceitar Jesus como o Senhor ressuscitado dos mortos. Ele é Porta Santa da Misericórdia!
            Frutos da terra e do trabalho humano, os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo pelo qual devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que têm menos do que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à eternidade no dia em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o que poderia enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam fome, diariamente, no mundo) tornam-se pela ação de graças a ele, sinais sacramentais de sua benevolência e promessa de bens maiores e eternos.
            Depois de ser batizado nas águas do rio Jordão e ser publicamente proclamado como o “Filho amado de Deus”, Jesus é “conduzido pelo Espírito ao deserto”. Mais do que lugar geográfico, o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do tentador, ratificando sua determinação de se entregar até as últimas consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o projeto que fora confiado.
            Gosto de pensar que o problema não é o pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na medida em que cedermos ao pecado e às tentações.
            A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.
            Por isso, a caminhada quaresmal pode se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o consumir.
            Naturalmente, a conversão quaresmal só é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos “ídolos” que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa nos alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo mais radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.
            Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos ao deserto para uma experiência viva de fé. Caminhando nas areias do deserto, o Espírito nos liberta do “homem velho” e nos amadurece para o compromisso com o “novo”. Que o grande retiro quaresmal alimente nossa fé.
            Finalmente a primeira semana da Quaresma, neste ano à luz do ANO SANTO, nos indica pequenos exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada, envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante de nós mesmos, de Deus tão cheio de Misericórdia e dos outros.

            Desejando-lhes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,13)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 54-58; Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 25-30 e Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia do Papa Francisco, n.1.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS: INÍCIO DA QUARESMA

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista

               A Quarta-Feira de Cinzas inicia na Igreja um período de quarenta dias de preparação à principal Festa dos Cristãos: A Páscoa do Senhor!  Daí o nome: QUARESMA! É um tempo muito rico e que nos propõe alguns exercícios penitenciais, que visam melhorar nossa qualidade de vida, como cristãos, filhos de Deus e irmãos uns dos outros. A Quaresma vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, exclusive. A Igreja prescreve tanto para a Quarta-Feira de Cinzas, como para a Sexta-Feira Santa um Dia de Jejum e Abstinência o que não significa que ao longo deste tempo não se façam tais ou outros exercícios que nos levem a uma maior solidariedade e fraternidade para com os mais pobres.
              
Os exercícios quaresmais de penitência são: a oração, o jejum e a esmola! Os cristãos são chamados a aprimorar a qualidade de sua relação com Deus através de maior tempo de recolhimento e oração, na meditação da Palavra e na escuta da vontade de Deus para com a humanidade; a aprimorar a qualidade de sua relação consigo mesmos através do jejum e a aprimorar a qualidade de sua relação com os irmãos menos favorecidos, através da esmola, que melhor soaria como partilha!
               
Nossa oração, como diálogo, só é capaz de chegar ao coração de Deus, quando brota do nosso próprio coração. Do contrário seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Nosso jejum não pode reduzir-se a uma simples dieta que nos ajude a emagrecer, porque deixamos de consumir certas guloseimas que geralmente engordam. Não podemos esquecer que nossa região possui um dos lixos mais luxuosos do Brasil, ou seja, comida manufaturada jogada no lixo. Mais esbanjamos do que consumimos do necessário. É a comida que sobra nos pratos por conta de etiquetas já ultrapassadas ou que azeda nas panelas de nosso povo. Nossa esmola não pode reduzir-se a um simples desencargo de consciência ou ato de dó. Deve transcender ao esforço de que todos, principalmente os que têm menos do que nós, possam viver com igual dignidade humana.
               
A Campanha da Fraternidade sugere a Coleta da Solidariedade que acontece em todas as Comunidades do Brasil no Domingo de Ramos. O resultado dessa Coleta é investido em projetos de promoção humana, favorecendo os que tantas vezes nossa sociedade de consumo exclui, mas que sempre foram os preferidos de Deus. Gosto de sugerir que esta Coleta seja o resultado dos exercícios quaresmais de penitência: a oração, o jejum e a abstinência que remetemos aos mais pobres do que nós. De nada valerá contribuir com a Coleta da Solidariedade, colocando determinado valor que não nos faça falta. Mas se nossa contribuição for o resultado do nosso jejum e de nossa abstinência, durante os quarenta dias da Quaresma, o valor será agradável a Deus e produzirá frutos saborosos em benefício dos mais necessitados. Sugiro que façamos as contas de quantos refrigerantes, sorvetes, carnes ou outros prazeres deixaremos de consumir por conta de nosso jejum e de nossa abstinência. O resultado destes é que deveria ser oferecido no dia da Coleta e jamais uma quantia qualquer. Nosso jejum e nossa abstinência só agradarão ao coração de Deus, enquanto forem revertidos em benefício de quem tem menos do que nós.
               

Sejamos, nesta Quaresma, melhores do que em todas as anteriores. Assim seremos mais autênticos diante de Deus, de nós mesmos e dos outros.


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!      

Iniciamos, nesta Quarta-Feira de Cinzas, dia de Jejum e Abstinência, o sagrado tempo da Quaresma para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal de Jesus. Desde os tempos mais antigos, a Quaresma foi considerada como período de renovação espiritual, de revigoramento interior, para o testemunho do Evangelho.

A celebração da bênção e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: "Convertei-vos e crede no Evangelho".

Na abertura da Quaresma, tempo favorável de conversão, as leituras fazem forte apelo de mudança de vida e nos convidam a intensificar as práticas de caridade, oração e jejum. Quaresma, quarenta dias que nos separam da grande festa da Páscoa da Ressurreição do Senhor! Neste tempo, procuremos trilhar o caminho da conversão proposto pelo Evangelho e pela Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, que nos leva a refletir sobre o tema: CASA COMUM, NOSSA RESPONSABILIDADE e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24.

Quaresma é tempo de voltar para o Senhor, ele é benigno e compassivo. Há três grandes práticas quaresmais: caridade, oração e jejum. Neste tempo favorável, reconciliemo-nos com Deus e com os irmãos com sabor de Ano Santo – Jubileu da Misericórdia, tentando encontrar O rosto da misericórdia, acolhendo o perdão de Deus e distribuindo o perdão a todos aqueles que nos machucaram...

Pela escuta da Palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da Quarta-Feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as obras da justiça - no relacionamento com o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo: o jejum.

Na caminhada quaresmal, somos convidados a fazermos a experiência de Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de sermos nós também misericordiosos.

“Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (Papa Francisco. Misericordiae Vultus = O rosto da Misericórdia n. 2).

Gosto sempre de propor um exercício aparentemente simples, mas que na verdade é bem difícil: Durante a Quaresma não falaremos mal de ninguém. Se não houver motivos para elogios, calaremos! Será um exercício proposto diariamente. Se conseguirmos passar um dos dias da Quaresma sem falar mal de ninguém não importa. O que importa é o esforço que renovaremos todos os dias.
           
Os frutos de nossos exercícios quaresmais, como jejum, abstinência e outros, deverão ser revertidos à Coleta da Solidariedade, realizada nas Comunidades de todo o Brasil no Domingo de Ramos! Seria bom que desde a Quarta-Feira de Cinzas já guardássemos aquilo de que abrimos mão em favor de quem tem menos do que nós. Assim não chegaremos ao dia da coleta com uma migalha apenas. Mas os saborosos frutos de nossa Penitência! É isso que converte e nos faz sermos melhores hoje do que ontem!

Desejando-lhes um Tempo muito rico de Bênçãos Quaresmais, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2 Cor 5,20-6,2 e Mt 6,1-6.16-18)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 43-47; Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Fevereiro de 2016), pp. 17-24 e Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia do Papa Francisco, n. 2.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            Neste domingo que escutaremos o evangelho da pesca milagrosa e do chamado dos discípulos, nós celebramos nossa vocação ao seguimento de Jesus como discípulos e discípulas.
            O profeta Isaías é chamado, os apóstolos são chamados, o apóstolo Paulo também é chamado. Diante do toque do Senhor, o profeta responde: “Aqui estou! Envia-me”. Os discípulos deixam tudo e seguem a Jesus. O apóstolo das gentes, o menor dos apóstolos, pregou com coragem o Evangelho a todos.
            Reunidos para celebrar a eucaristia e ouvir a palavra da vida, queremos, na liturgia deste domingo, fazer experiência da misericórdia e da santidade de Deus. Somos desafiados a lançar as redes em águas mais profundas, ir além da simples participação na celebração. Jesus nos convida a nos comprometer com a missão que ele nos deixou.
            Acolhamos a palavra de Deus, a qual nos motiva a dar a resposta da fé: Aqui estou, envia-me. Ela nos dá forças para viver na graça divina e avançar sem medo na missão de anunciar o evangelho.
            Deus prepara seus mensageiros antes de enviá-los em missão. Atento às necessidades do povo, Deus nos chama e nos envia em missão. A fé em Cristo ressuscitado é o fundamento de toda esperança cristã.
            Com o pão e o vinho, ofertamos todas as pessoas que se põem a serviço da comunidade e do reino de Deus, sem medo de lançar as redes em águas profundas.
            Jesus chama os primeiros discípulos ao seguimento e os transforma em pescadores de gente. Ele convida a seguir no contexto em que as pessoas estão inseridas, acompanha com a sua graça e pede adesão plena e generosidade na entrega. Todos são chamados a lançar as redes nas águas profundas e a pescar para alimentar as multidões e libertá-las das situações de morte.
            O Senhor entra na barca de Pedro, na vida do povo, na realidade em que vivem as comunidades para fortalecer a fé posta à prova continuamente. Ele convida a deixar tudo, a renunciar, para assumir a missão a serviço do Reino. Como Pedro, somos chamados a confiar em Jesus e a obedecer à sua palavra. Recebemos o chamamento à fé, ao discipulado, à missão de anunciar o Evangelho com ardor apostólico, como Paulo.
            Isaías faz a experiência do chamado de Deus para ser profeta, no tempo, durante a oração, a celebração. Diante do apelo do Senhor que pergunta: “Quem enviarei? Quem irá por nós?”, ele responde prontamente: “Aqui estou! Envia-me”. Muitos homens e muitas mulheres continuam dando a resposta no mais profundo do seu ser, confiando na graça e na misericórdia do Senhor.
            Vocação é dom de Deus. Ele chama. Que o Espírito nos ilumine na escuta do Senhor. Não obstante nossos medos e limites, que o Senhor nos faça discípulos e discípulas seus.
            Enquanto batizados, tornando-nos cristãos, filhos de Deus, somos antes de tudo vocacionados ao amor com sabor divino. Depois acontece, ao longo de nossa vida, a vocação específica. O que não podemos jamais esquecer, que todos independentes da vocação específica, devemos sentir-nos comprometidos com o anúncio do Reino de Deus, respondendo ao que o Ano Santo da Misericórdia nos pede e espera de nós: sermos misericordioso como o Pai é misericordioso, manifestando a recebida, como dom gratuito, que deve nortear nossas relações, sinalizando todo nosso convívio a Jesus Cristo! Falar nele, viver como Ele vive em nós e convencer as pessoas que olham para nós, através da coerência entre o que pensamos, falamos (rezamos) e fazemos!
            Isso, segundo o Concílio Ecumênico Vaticano II, o Catecismos da Igreja Católica, a Conferência de Aparecida, o Ano Santo e o apelo de nossas Comunidades Eclesiais, precisa ser vivido não individualmente, mas em espírito eclesial, político e social.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 6,1-8; Sl 137(138); 1 Cor 15,1-11 e Lc 5,1-11).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2016, pp. 33-36 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2016), pp. 84-90.