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terça-feira, 30 de outubro de 2012

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉS FALECIDOS


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

                Celebrar a Comemoração de todos os Fiéis falecidos é antes de luto e perda, celebrar a esperança e a entrega daqueles que amamos a quem de direito, o próprio Criador.

            Segundo o teólogo especialista em Escatologia (o estudo após a morte) Renold Blank, toda a nossa fé se baseia na ressurreição. Sem a ressurreição, nossa fé seria simplesmente mais uma entre muitas outras crenças.

            A ressurreição é a expressão e a confirmação do fato de o último destino de toda pessoa e da criação inteira ser o repousar no amor inimaginável daquele que criou a todos nós. É para isto que Deus ressuscita todo ser humano depois de uma única vida vivida: para que esse ser seja eternamente amparado no seu amor; para que Deus seja amparado no amor daqueles pelos quais ele se apaixonou, os seres humanos.

De acordo com os Roteiros Homiléticos da CNBB, n. 23, pp. 76-82, “Se contemplarmos a morte de Cristo, contemplamos também sua ressurreição. O mistério pascal não apenas ilumina e ajuda a reler nossa vida, mas também ensina poderosamente qual é a vida que Deus diz ser plena, perene e que não é destruída pela morte. Precisamos viver como vocacionados para a ressurreição. Somos criados pelo Autor da vida para viver e dar a vida. Quanto mais dermos a nossa vida, tanto mais vida receberemos”.

            Na Celebração de todos os Fiéis falecidos, celebramos nossa vocação de ressuscitados. No Batismo, fomos unidos a Cristo, começamos a participar da vida celeste de Cristo ressuscitado. Na Eucaristia, somos alimentados com o Corpo e o Sangue de Cristo, pois já pertencemos a seu Corpo.
            Insistindo que “o túmulo de Jesus estava vazio”, a Igreja primitiva expressou não somente o fato da ressurreição em si, mas também seu significado: a superação de toda dimensão de corruptibilidade, simbolizada pela putrefação que se verificaria dentro de um túmulo não vazio. Tudo isso é superado pelo agir de Deus. Por causa disso, Paulo pôde exclamar: “nem o olho viu nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

HOMILIA PARA O 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2012


DIA NACIONAL DA JUVENTUDE

Juventude e Vida

Que vida vale a pena ser vivida?

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

            “Estamos no último domingo do mês de outubro, Dia Nacional da Juventude, que tanto se prepara para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em julho de 2013, na cidade do Rio de Janeiro, com a presença do Papa. A Igreja propõe aos fiéis uma reflexão sobre sua tarefa missionária. Ela nos fala da missão evangelizadora ad intra e  ad extra, isto é, seus destinatários são aqueles que, junto a nós, deixaram de participar ou que se afastaram da Igreja, bem como a missão que acontece em regiões onde existem grandes desafios devido à pobreza, à perseguição ou mesmo indiferença aos valores do evangelho.

            Na próxima sexta-feira, estaremos celebrando o Dia de Finados, dia de visita aos cemitérios e oração pelos fiéis defuntos.

            A liturgia do domingo passado apresentou a passagem dos filhos de Zebedeu. Jesus alertou os discípulos sobre a tentação da ambição, dentro da comunidade, e sobre as dificuldades próprias da missão que ele veio cumprir.

            Continuamos hoje a leitura do Evangelho de Marcos, com a cura do cego Bartimeu, que nos apresenta um modelo de fé. Neste modelo, vemos uma ligação entre o cego e a libertação de todo o povo de Deus, a partir da vida de nossas Comunidades!

            Podemos verificar que o conhecimento da Palavra de Deus e das promessas que alimentam a vida do povo de Israel leva o cego a reconhecer Jesus. Este fato deve também nos mover a buscar não só conhecer a palavra de Deus, mas a fazer dela um alimento para a fé, para podermos reconhecer a presença e a ação de Jesus hoje, entre os homens e na comunidade dos fiéis.

            Podemos verificar que a situação adversa do cego não foi empecilho para seu crescimento na fé. A ‘desgraça’ na qual estava mergulhado é a condição para que alimente a esperança e cresça na fé. A fé, portanto, nos é mostrada como capaz de trazer respostas ou desprezada pelo mundo.

            A liturgia nos apresenta o conteúdo de fé em Jesus como Messias. Facilmente, chamamos Jesus, o Cristo (=messias), porém, cabe perguntar se, na prática, aceitamos o fato de que a fé em Jesus inclui esta restauração da vida do povo, como a cura do cego, a saúde ao doente, a liberdade ao oprimido...

            A cura do cego mostra a estreita relação entre a fé por ele professada e a história e as esperanças da comunidade, povo de Deus. Isto permite perguntar se nossa fé também está fundada na esperança e na vida do povo, se nossa fé compartilha as esperanças da comunidade, da Igreja.

            Deus nos chama e reúne para agradecermos o seu amor, manifestado na pessoa de Jesus, que cura nossas cegueiras. O Senhor vence as trevas que impedem nossa caminhada rumo à sociedade fraterna e solidária.

            O sonho de Deus deve ser o nosso também: uma sociedade sem cegos e coxos mendigando. Somos chamados a extirpar a cegueira do povo para que não se torne vítima de interesses escusos. Jesus, sacerdote por excelência, participa de nossa condição, santificando-a” (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2012 da Paulus, pp. 82-85).

            A partir de Jesus, que caminha para Jerusalém com a missão de restaurar o povo de Deus, somos desafiados a promover a ação restauradora e redentora de Deus e a vencer a acomodação da comunidade, preocupada em repetir ritos ou salvaguardar as leis.

            Bartimeu nos mostra que a fé cristã não combina com acomodação e individualismo. A fé cristã é essencialmente comunitária. Ela nasce da ação de Deus em favor da vida de seu povo. O lugar do cristão é o caminho da comunidade dos fiéis conduzida por Jesus, lugar onde a presença de Jesus continua a agir, transformando sinais de morte e descrença em sinais de vida e de fé e de esperança real.

            A Palavra de Deus, neste domingo, pelo relato da cura do cego, nos mostra a fé em Deus como abertura a um projeto, um plano, uma ação de Deus, presente na história. O fiel reconhece, em Jesus, Deus que o acolhe. Pela fé em Jesus, percebe-se alguém participante e testemunha da ação de Deus, agindo na comunidade em favor da vida do povo.

            A liturgia da Palavra indica renovação e vida nova não somente para as pessoas, mas também para as estruturas e a sociedade.

            Neste domingo, em alguns municípios como em nossa querida cidade de Ribeirão Preto, realiza-se o 2º turno das eleições. A política sempre é um desafio para a evangelização, pois esta deve se traduzir em valores que nascem da vivência de nossa fé em comunidade” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 23, pp. 70-75).

            Segundo desabafo de Rubem Alves, “Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham”. Outra é o voto consciente, pensado para o BEM COMUM!

            Costumamos ouvir frequentemente que “O povo tem o Governo que merece!”. E diante das urnas, neste segundo turno das eleições, somos todos questionados: “Que Governo queremos para nossas cidades? Qual Governo necessitamos? Temos consciência política e liberdade claras para elegermos bem nossos Governantes para os próximos quatro anos? Conhecemos as reais necessidades de todos os cidadãos de nossas cidades, ou apenas as nossas? Conseguimos abrir nossos olhos, como Bartimeu do Evangelho deste domingo, diante das propostas dos Candidatos que desfilaram diante de nós na Campanha que se encerra nesta semana, temperada de determinadas ironias, tentando subestimar nossa capacidade de discernimento?”

            O voto é livre e precisa ser consciente de que quem for eleito deverá estar a serviço do Bem Comum, sabendo de que cobraremos, conscientemente, cada promessa, mesmo que algumas delas não passam de sofismas viciados. O desencanto de mais de 80 mil abstenções no primeiro turno, precisa ser revertido em esperança, de que todos serão respeitados em sua dignidade, e juntos saberemos cobrar tudo o que ferir o exercício da cidadania em nossa cidade.

            Depois não adianta reclamar. A liberdade é o bem maior de cada eleitor. Ninguém tem o direito de obrigar, nem de seduzir com promessas particulares a eleitor nenhum. Mas todos terão a obrigação de reivindicar nossos direitos e tudo aquilo que nos foi proposto. Não aceitaremos nada imposto. Não sejamos promíscuos, individualistas, passivos e nem nos deixemos subestimar. Utilizemos as urnas para nos valorizar. Não nos coloquemos à venda. Saibamos confiar em quem realmente deseja servir. Pois “Quem não vive para servir, não serve para governar...”.

            Desejando-lhes muita luz e bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo, cheio de esperança de que o resultado das eleições seja pelo Bem Comum!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jr 31,7-9; Sl 125(126); Hb 5,1-6 e Mc 10,46-52)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Uma Fé Missionária


Outubro,   mês   das   missões.  No  Ano da Fé.  Se  a Fé é algo transcendente,  incompreensível  aos olhos humanos, maior do que podemos e do que produzimos, é ela que impulsiona os seguidores de Cristo a levar adiante a proposta de Deus de vida para todos, algo sem limites. Fé missionária!
 
Mas as coisas devem estar em seu lugar e definidas: é verdade que “ninguém vai ao  Cristo  se  não  for atraído pelo Pai”; é verdade, também, que o Pai nos atrai pela Palavra proclamada e acolhida - por alguém -, pelo testemunho experimentado, pela história de vida de cada um de nós,  por  circunstâncias às vezes inesperadas e não explicadas... A fé não é ingênua,    nem   conclusão  humana, é dom gratuito de Deus, mas entra para fazer parte da vida do crente; é vida nova, nova maneira de ver, apreciar, agir... E ela não é invasiva, manipuladora,  opressora; ela é proposta de vida para o amor, proposta de rumo novo em vista à esperança, impulso de vitalidade para se levar aos  outros aquilo que se vive.
 
Não me passou despercebida a indignação do senhor Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, em suas considerações na edição de 24 de agosto, do Jornal Folha de São Paulo, A3, sob o título “Oração da vitória”, sobre a atitude dos atletas brasileiros de vôlei, ouro na Olimpíada recém realizada, de se ajoelhar em “ostensiva prece de agradecimento” ao que ele chama de “hipotético sujeito poderoso suficiente para fraudar uma competição olímpica”.  Diz  ele  que “professar uma religião em público não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em volta”. Acrescenta que “crescente parcela dos cristãos não se contenta com a prática privada; para eles é importante a ostentação... ela tem valor de proselitismo.” “No caso das Olimpíadas, a publicidade é irregular por que... deixa  em  situação constrangedora todos os que não  partilham  a   mesma   crença...”  “A oração  fere a liberdade constitucional de consciência  e  crença  dos  jogadores”.   “O   que   os   atletas fizeram foi sequestrar aquele  privilegiado espaço publicitário para promover atividades sectárias  que  só beneficiam seus fins particulares, em detrimento de todos os demais cidadãos brasileiros”. Amplia o raciocínio o autor: “no que diz respeito aos poderes públicos, somos todos, sim, cristãos à força...” Quanto aos atletas, diz que  “a  seleção olímpica deixa de representar a mim e aos milhões de brasileiros não cristãos”. Para ele “aí está um dos aspectos mais corrosivos da religião: priorizando pretensos seres metafísicos em detrimento dos humanos de verdade, ela só causa sofrimento”.
 
São afirmações que fazem pensar, mesmo  parecendo  ter muito  de suposição,  exagero  e  racionalização da própria atitude. Tanto quanto me causou agradável surpresa e contentamento ver os atletas ajoelhar-se e agradecer Àquele que é a fonte da vida, o Pai do Senhor Jesus e de todos nós, um Deus pessoal, o que não os eximiu de terem se preparado ao máximo para a competição, percebo que se deve mais e mais estar atento para que fé não seja só reação emocional, ou apenas sentimentalismo, ou acomodação, ou fuga dos problemas. Nem seja algo como verniz exterior, só casca, só aparência. E que a decisão de viver a fé e levar vida a todos não  seja  proselitismo,  imposição ou desrespeito ao que os outros pensam ou deixam de pensar, mas oportunidade de favorecer vida a todos.
 
Que nossas autênticas atitudes de fé missionária favoreçam à vida, ao crescimento das pessoas, à dignidade de todos, ao reino que vai se estabelecendo contando com nossa generosa, embora frágil colaboração!
 
Sejamos   missionários    de    fé   profunda, feliz e provocadora. E com muita  alegria  e  convicção  de estar vivendo e fazendo o melhor!
 
Pe. Nasser Kehdy Netto,
administrador arquidiocesano
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

MUDANÇA DE HORÁRIOS DAS MISSAS DA SANTO ANTONINHO


            A partir do dia 15 de Outubro, graças aos nossos Benfeitores João Naves, Abranche Fuad Abdo, Dulce Neves e o Engº Hermínio Marchetti, iniciarão as obras de melhorias em nossa Igreja Santo Antoninho, a começar da construção dos banheiros. Por esta razão não teremos as Missas durante a Semana. Porém, passaremos a celebrar aos Sábados às 18h40. Antes, às 17h30 teremos a Hora Santa seguida da Bênção do Santíssimo. As Missas aos Domingos continuarão sendo celebradas as 8 e 10 horas. A partir de 2013, celebraremos uma vez por semana na casa de algum Enfermo ou Idoso. Continuaremos nosso projeto da IGREJA DO IR ao encontro de quem já não pode vir.

Padre Gilberto Kasper

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

HOMILIA PARA O 29º DOMINGODO TEMPO COMUM DE 2012

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES, DA OBRA PONTÍFICIA DA INFÂNCIA MISSIONÁRIA
 
“Brasil missionário, partilha tua fé”.
 
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
 
            “Estamos no penúltimo domingo de outubro, Dia Mundial das Missões, da Obra Pontifícia da Infância Missionária, quando fazemos a coleta para as missões. É importante relembrar a participação e o compromisso missionário de todos os membros da Igreja. ‘Na Igreja de Cristo, todo batizado é missionário’. Em conformidade com o lema de Aparecida, todo discípulo é necessariamente missionário: ‘Discípulos missionários em Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida’.
            Nossa coleta seja generosa, signifique sim, a partilha de nossa pobreza, porém doação consciente e não aquilo que nos sobra. Nossa oferta só agradará a Deus, se for parte de nós mesmos em favor dos que necessitam de nossa benevolência para a evangelização. Pensemos em nossos Padres Missionários Maciel (no Japão), Acássio e Marcus Vinícius (em Manaus), bem como de todos aqueles que usufruírem de nossa pequena parcela, mas que somada será um alívio na nobre Missão de todos que se despem do conforto para anunciar Jesus Cristo além-fronteiras. Abramos mão de algo em favor de nossos irmãos corajosos, o que será agradável aos olhos de Deus e recompensa provinda de Seu Coração misericordioso.
                        Na Liturgia deste 29º domingo, vemos novamente um anúncio da Paixão e celebramos o verdadeiro significado do poder e do reinado de Cristo, que se traduz em serviço. Jesus inverte a lógica humana e explicita a lógica de Deus, pela qual os últimos são os primeiros; os que se elevam são humilhados; quem se humilha é exaltado; os que querem ser grandes devem se tornar servidores de todos.
            O serviço generoso e gratuito é o norte do cristão, mas há sempre o risco de preferirmos o prestígio e escolhermos ser servidos. Esta liturgia nos convida ao compromisso com o projeto de Jesus, que nos dá lição de doação e nos revela sua missão. Neste domingo das missões, celebremos em comunhão com todo o Brasil missionário, chamado a partilhar o dom da fé.
            Jesus veio para servir a humanidade e por ela dar a vida. Apresentando o exemplo do servo sofredor, a palavra de Deus nos convida a permanecer firmes na fé e no serviço fraterno e humilde ao povo necessitado.
            O servo de Javé é pessoa justa que ofereceu a vida em expiação. Mesmo glorificado, Jesus continua nosso intercessor. Jesus nos propõe algo difícil: servir, e não buscar ser servidos.
            Com o pão e o vinho (deste domingo), apresentemos a Deus a vida e os desafios dos missionários (nossa oferta generosa, a Coleta das Missões), que atuam nas mais diversas realidades em nosso país e no mundo’ (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2012 da Paulus, pp. 65-68).
            A Palavra deste domingo questiona diretamente a lógica humana do poder e reprova, tenazmente, toda forma de soberba, opressão ou carreirismo discriminatório. Provoca as instâncias que exercem poder sobre o significado de sua existência: existem para o serviço a ser prestado ou para si mesmas?
            Para o cristão, ser grande significa colocar-se a serviço; trabalhar em prol dos outros. A autoridade provém da humildade.
            Diante de toda concepção mundana de poder, a Liturgia nos propõe pelo menos duas dimensões do exemplo de Jesus. A primeira: a do Servo de Javé, que carrega a culpa de outros para torná-los justos. Isso reporta ao evangelho, quando Jesus afirma que o ‘Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate para muitos(cf. v. 45). A segunda: o que motiva a atitude desse servo. Ela aparece na segunda leitura, na qual Cristo é o sumo sacerdote que se compadece das fraquezas dos seres humanos e se permite ser um de nós, provado como nós.
            Não são, portanto, o poder e o destaque que tornam alguém grande aos olhos de Deus, mas o quanto cada um é capaz de compadecer-se do outro e colocar-se a serviço dele (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 23, pp. 65-69).
            A Palavra de Deus deste domingo nos orienta claramente e destina-se a pessoas públicas, que se colocam a serviço por livre vontade, escolhidas, nomeadas ou eleitas. O certo é que tais pessoas aceitam servir, o que implica que saibam o que significa de verdade ser SERVO!
            O serviço a que se refere o Evangelho deste domingo é endereçado a grupos de pessoas no nível social, eclesial e político. Elegemos 22 Vereadores para nossa cidade de Ribeirão Preto que tem aproximadamente 620 mil habitantes. Oxalá saibamos estar atentos, exercendo nossa cidadania em relação à Câmara de Vereadores. A Casa de Leis, não é a Casa dos Vereadores, antes é a Casa do Povo. Uma vez eleitos, são obrigados a tratar o povo com respeito, dignidade, transparência, verdade e justiça. Nenhum Vereador tem o direito de virar as costas a quem quer que procure a Câmara. E os que já o fizeram, legislando apenas para os que consideram seus “eleitores”, tratem de mudar e converterem-se em SERVORES DO POVO TODO, abominando a ideia de que sua autoridade lhes dá o direito de sentirem-se os donos da verdade, da vontade e do próprio Povo. É urgente que o povo seja mais politizado, participativo, atento e usufrua de sua dignidade e cidadania não poucas vezes subestimada, surrada e ferida. Ninguém seja excluído da mesa començal dos direitos de um cidadão, filho de uma cidade que se diz a Capital da Cultura, do Agronegócio, mas que descuida da maioria de seus cidadãos em suas necessidades básicas. Nosso povo não precisa de honrarias, privilégios, nomes de ruas e praças: precisa urgentemente de cuidados básicos, que lhe devolvam a dignidade, o orgulho e a esperança de dias melhores.
            Teremos um Segundo Turno para eleger o Executivo de nossa cidade. Não continuemos “desencantados” como na Campanha do Primeiro Turno. Não nos deixemos iludir, muito menos subestimar em nossa capacidade de discernir. Estejamos atentos às propostas mais contundentes, reais, concretas e justas para os próximos anos de nossa cidade. Costumo pensar que a capacidade de alguém que se dispõe a servir não se mede pelos ataques ao adversário. Quem perde saliva e tempo falando mal do outro, é incapaz de propostas concretas e reais de governo. Isso serve também para nós, ministros ordenados: não existe atitude mais feia, do que assumir a liderança de uma comunidade e rasgar sua história que lá encontra. Falar mal do colega que sucede é mais feio ainda. Quem chega, deve ter a capacidade de amar e acolher quem e o que encontra já em andamento. Do contrário não passa de alguém em busca de poder, prestígio e honra. Isso não é nada humano, é antes feio. Daí meu exercício comigo mesmo e diário: transformar sempre:
 
 
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
 
Padre Gilberto Kasper
(Ler Is 53,10-11; Sl 32(33); Hb 4,14-16 e Mc 10,35-45)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

EDUCADORES E EDUCANDOS

Pe. Gilberto Kasper
 
            O mês de outubro é marcado pelo Dia da Criança (Educando) e do Professor (Educador). O que costumamos chamar de “Educação de Berço” já não existe mais. Se até mesmo o leite materno é terceirizado no quarto mês de vida da criança, imaginem a educação! Os Educadores acolhem que tipo de Educandos? Crianças repletas de estímulos que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridas na era digital. Pais de famílias oriundas da pobreza, que trabalham tanto, que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida. Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas.

            Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fosse escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os educandos de hoje repletos de estímulos. Estímulos de que? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

            O que tínhamos nós, os mais velhos, há anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria!

            Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para que o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir a piqueniques, subir em árvores?

            E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria. Cantávamos o Hino Nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos, ao contrário de hoje, ler, escrever e fazer contas com fluência, sem brincar com celulares durante as aulas. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª série – não havia aprovação progressiva. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Não nos prometiam recompensas para passarmos de ano. A recompensa era o sabor da conquista pessoal.
            Nossa Senhora Aparecida, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil proteja nossas crianças e Santa Teresa de Jesus, Doutora, incentive nossos Professores!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

HOMILIA PARA O 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2012

MÊS MISSIONÁRIO


“BRASIL MISSIONÁRIO, PARTILHA A TUA FÉ!”

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Estamos no segundo final de semana do mês de outubro, Mês dedicado às Missões e ao Rosário.

            A leitura do evangelho deste domingo traz presente a dimensão vocacional.

            Quem pode ser salvo? Perguntam, com espanto, os discípulos. Todos aqueles que aderem a Deus e a seu Reino, o considerando como sua verdadeira e maior riqueza. ‘Em comparação com ele (a sabedoria a que se refere a 1ª leitura), julguei sem valor a riqueza’ (cf. Sb 7,8), pois ‘uma riqueza incalculável está nas suas mãos’ (v. 11b).

            Na segunda leitura, continuamos a ouvir a Carta aos Hebreus, iniciada no domingo passado, a qual se estenderá até a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Neste domingo, refletimos sobre a profundidade da Palavra.

            ‘Assim como fez o homem rico, Jesus nos dirige sua palavra viva, que nos convida a abandonar tudo o que não condiz com o evangelho a fim de sermos seguidores dele. Nem a todos o Senhor pede o abandono de tudo para segui-lo, mas a todos mostra que o acúmulo e o enriquecimento ilícito não combinam com os valores do reino por ele pregado.

            Deixemo-nos tocar e julgar pela palavra de Deus, a qual não se reduz a leis e regras a serem cumpridas. Ela nos fornece sabedoria para discernirmos o que é importante e o que deve ser deixado de lado, no seguimento de Jesus.

            Precisamos da sabedoria divina para discernir os valores importantes. Os passos do discipulado cristão são: viver os mandamentos de Deus, partilhar os bens e seguir Jesus. A Carta aos Hebreus nos mostra a importância e o valor da palavra de Deus para as comunidades” (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2012 da Paulus, pp. 49-52).’

            Embora não se esgote nisso, três ideias podem nortear a reflexão deste domingo: 1º) o seguimento de Jesus (quer na vocação de todo batizado, quer na vocação específica) requer desapego e disponibilidade (isto é, colocá-lo em primeiro lugar); 2º) sábio é aquele que prefere a sabedoria de Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas; 3º) a consequência do desprendimento dos bens é a partilha.

            ‘Penso que há uma grande diferença entre ser sábio e ser sabido. O sabido é quem possui grande quantidade de informações, títulos, diplomas, bens perecíveis, prestígios, funções e cargos, sem saber administrá-los ou achando que é a pessoa mais feliz e reconhecida do mundo por isso. Pobre coitado!  Esvazia-se de Deus, para endeusar-se sobre os outros. Como isso é frequente em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. É vazio e oco do essencial. Julga os outros sem piedade, pensando ser o melhor, porque demonstra ser ‘certinho e cumpridor das regras, pelos menos aquelas que o determinam melhor sobre os demais. Coisa feia, quando percebemos tais atitudes, sobretudo em ministros ordenados, políticos, artistas e representantes do Povo.  Confinado num pedaço de madeira no dia em que seu nome ecoar na eternidade, deixará tudo para trás. E vazio de Deus não terá como transcender à eternidade feliz, o fim último de todas as criaturas humanas! Já o sábio, tendo ou não ‘muitas coisas’, pede sua participação na sabedoria divina. Sabe administrar todos os dons e qualidades que lhe são concedidos, gratuitamente, pelo Criador de tudo. Não se importa com elogios, não necessita de reconhecimentos e nem de títulos e prestígio. Há maior prestígio do que o elogio vindo do coração misericordioso do Senhor? Façamos a Leitura Orante da página do Livro da Sabedoria deste domingo, que nos orienta tão claramente sobre esta questão. Quem não mergulhar nas profundezas do apelo de Deus nesta página, ainda está longe do Reino. E tudo aquilo ou aquele que não é de Deus cai. Um dia cai.’

            ‘Que se deve fazer para receber a vida eterna?’. Eis uma pergunta que cada um de nós também faz, em seu coração, com estas ou outras palavras semelhantes.

            Jesus responde que, inicialmente, se deve viver conforme os mandamentos, porém, o simples cumprimento das obrigações não é suficiente, é exigida do coração uma opção que assuma o Reino de Deus e o seguimento como a maior riqueza da vida; exatamente como ilustra a parábola do tesouro encontrado no campo (cf. Mt 13,44-46). Cabe-nos o questionamento a respeito da importância que atribuímos ao Reino e ao seguimento. A ‘formula’ para calcularmos essa importância é através do desapego. O que seríamos capazes de renunciar, em função do Reino?

            O ensinamento de Jesus aqui não é tanto sobre o desprezo dos bens, como se eles não tivessem valor em si mesmos, mas o de que o Reino deve ser colocado em primeiro lugar por todo aquele que quiser ganhar a vida eterna.

            Quais as coisas que se antepõem ao Reino, na sociedade de hoje? Quais delas se fazem presentes em minha vida pessoal e se antepõem ao Reino?

            Na dimensão da partilha, destacada nos textos deste domingo, vê-se a certeza de que o desapego, em nome do seguimento de Jesus, não é em vão, mas produz ‘cem vezes mais’ (cf. v.30). A partilha garante ‘um tesouro no céu’ (cf. v.21).

            Diante dessa Palavra, nos confrontamos com o egoísmo e materialismo do mundo de hoje, misturados ao individualismo, ao acúmulo de bens e ao vazio da laicização (um mundo que nega o valor, como palavra digna de crédito, da religião institucionalizada).

            Cabe aos cristãos de hoje reassumirem, com coragem, a prioridade do Reino sobre todos os desvalores egoístas e apegados do mundo atual. Cabe-lhes testemunharem a Sabedoria da Palavra de Deus que é ‘viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes’ (cf. Hb 4,12). Seremos perseguidos (cf. Mc 10,30), mas receberemos a vida eterna e cem vezes mais felicidade do que a recebida na lógica do mundo do egoísmo e do apego” (cf. Roteiros Homiléticos n. 23 da CNBB, pp. 58-64).

            “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Existe uma diferença entre ser Pobre em espírito e Pobre de espírito. O pobre em espírito sempre tem espaço para o amor de Deus em seu coração, e faz a experiência de Sua Sabedoria e Misericórdia em suas relações. Já o pobre de espírito é aquele autossuficiente, arrogante, prepotente, que pensa bastar-se a si mesmo. Para muitos de nós sermos os ricos fadados à miséria eterna, porque vazios de Deus, só nos falta mesmo o dinheiro, pois até pose de ricos já temos. Quem não sonha em ser rico, tendo sempre mais coisas do que possui? Eis o convite à nossa conversão: “estarmos nus e descobertos aos olhos de Deus; sendo do jeito que somos de verdade” (cf. Hb 4,13b).

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13 e Mc 10,17-30)