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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Estamos vivenciando as festas natalinas, com a celebração da manifestação do Senhor em nossa vida e história. Nossa atenção se volta ao mistério da Mãe do Senhor sob o título de “Mãe de Deus”.
            Ao afirmar que o Menino, nascido de Maria, é Deus, em decorrência disso, a Igreja proclamou que Maria é Mãe de Deus. E isso não é de agora. Desde muito, nós cristãos honramos “... Maria sempre Virgem, solenemente proclamada Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem, segundo as Escrituras” (UR, n. 15: Decreto conciliar sobre a reintegração da Unidade dos cristãos).
            Neste Dia Mundial da Paz, iniciando um novo ano, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e da proteção permanente de Deus. É em nome de Jesus, a plenitude da bênção, que invocamos bênçãos de paz sobre nós e sobre os povos em conflito.
            A alegria deverá orientar nossa primeira celebração religiosa do novo ano civil.  As festas e os brindes da Passagem do Ano, geralmente, impedem as pessoas de participarem desta significante celebração. Muitos dormem sua ressaca, outros nem conhecem a profundidade de tão linda celebração, que deveria ter maior prioridade entre os cristãos. Acolhidos por Maria, Mãe de Deus e nossa, desperdiçamos a oportunidade de pedir a ela que nos acompanhe ao longo deste Ano Nacional do Laicato. Neste Dia Mundial da Paz, somos conclamados a fazer nossa a proposta do Papa Francisco: “Não mais escravos, mas irmãos!”, que é tema do 51º Dia Mundial da Paz. O Papa Francisco recorda-nos que esse flagelo social bem presente em nosso tempo manifesta-se de formas variadas, como no tráfico humano em geral, de imigrantes, na prostituição, na escravidão no trabalho e na exploração do homem pelo homem. Em comunhão com a CNBB, proclamamos Ano da Paz!
            O povo pode contar sempre com as bênçãos de Deus. A maior delas é a vinda do seu Filho, graças ao sim de Maria. A exemplo dos pastores, vamos abrir o coração e nos dispor para o encontro com Jesus.
            Deus quer nos abençoar ao longo de todo este ano. Os pastores, gente pobre e desprezada, são os primeiros a ir ao encontro de Jesus. Deus conta com a colaboração humana para realizar seus projetos. Os pastores cheiram mal, pois cuidavam de ovelhas e viviam ao relento. Poderíamos compará-los, em nossos dias, aos irmãos coletores de lixo. Imaginem que eles correm mais de trinta quilômetros por noite, em nossa metrópole rica e privilegiada, recolhendo nosso lixo depositado nas calçadas. Enquanto as autoridades eclesiásticas, políticas, civis e a nata da elite de uma sociedade economicamente privilegiada pensam anunciar o Salvador do mundo, este se revela, através da Corte Celestial dos Anjos, aos preteridos e “fedidos” entre todos: na época os Pastores; hoje, talvez, nossos Coletores de Lixo, ou aqueles que consideramos Lixo Humano entre nós: os idosos, os enfermos, os dependentes de alguma droga lícita ou não, e nem por último os mendigos mal-cheirosos que adentram nossas celebrações, pedindo uma esmola para suportarem a exclusão com mais um gole de cachaça ou uma cheirada de craque... Se não estivermos abertos ao diferente, ao simples, e não fizermos a experiência da humildade, deixando de lado nossa prepotência, arrogância, autossuficiência, corremos o risco de desencontrar-nos com o Senhor que só nasce mesmo em manjedouras simples, humildes, puras e livres para acolhê-lo.
                        A palavra de hoje ressalta a imposição do nome de Jesus, sua inserção na sociedade humana. Como o Filho de Deus, nós também recebemos um nome ligado à nossa existência e à nossa missão. A atitude dos pastores nos ensina a acolher e anunciar a Boa Notícia da presença do Salvador em nosso meio. Com Jesus, nos tornamos herdeiros da salvação e podemos clamar: Abba, Pai, vivendo fraternalmente como irmãos e irmãs.
            Maria, a mãe de Jesus, é imagem da comunidade fiel e comprometida com o plano da salvação.
            Com o exemplo de Maria no seu sim incondicional, assumimos “de boa vontade” a proposta de Jesus de sermos promotores da paz em nossos lares e na sociedade em que vivemos.
            Invoquemos com confiança a bênção do Senhor, o Deus de bondade, sobre todos os povos e nações, neste Dia Mundial da Paz. Que ele guarde, ilumine, mostre a sua face de Pai e dê a paz a todos. Com Jesus, o Filho de Maria, a maior bênção da salvação para toda a humanidade, nos comprometemos a trabalhar alegremente na construção da paz.
            Sejam todos muito abençoados neste Novo Ano que se inicia.  Sejamos protagonistas da paz, por onde passarmos, exalando o perfume da ternura em nossas relações.
Com a mesma ternura, o abraço amigo e fiel.

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7 e Lc 2,16-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus, Janeiro de 2018, pp. 17-19 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo do Natal (Janeiro de 2018), pp. 29-34.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Que a paz de Cristo reine em vossos corações
e ricamente habite em vós sua palavra!”(Cl 3,15s).



       
            Como é bom celebrarmos a Solenidade da Sagrada Família diante de uma das grandes preocupações do Santo Padre o Papa Francisco e de nosso amado Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, A Família!
            Neste dia da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias. Elas são convidadas a imitar e encarnar os valores propostos pela família de Jesus, Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de obediência à vontade de Deus.
            A liturgia da palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a palavra significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua proposta.
ORAÇÃO PELAS FAMÍLIAS
    Deus nosso Pai, vós quisestes habitar numa família humana.
Abençoai os pais, as mães e os filhos.
Afastai de nossas famílias todos os males.
Ajudai-nos a promover nas famílias,
em todos os lares de nosso país,
os sentimentos e os propósitos de união,
amor generoso, fidelidade permanente e
perseverança constante na vossa graça.
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

(cf. Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2017, p.100).


                                           
A Solenidade do Natal do Senhor se prolonga e se desdobra em várias comemorações que ajudam a aprofundar o mistério da encarnação. Todas essas, em íntima conexão com o nascimento do Filho de Deus, revelam aspectos importantes de um único acontecimento: Deus se fez um de nós. É dentro deste horizonte que se situa a Festa da Sagrada Família. No Evangelho, Maria e José se encaminham para Jerusalém a fim de cumprir os preceitos da lei: apresentar o primogênito, oferecer sacrifícios, purificar a mãe... O Filho de Deus nasceu sujeito à lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à lei (cf. Gl 4,4). Significa dizer: Deus vem ao encontro da vida humana por inteiro, não se isentando de participar de nada, somente do pecado, para, em contrapartida conceder a todos a participação na vida divina. Os antigos chamavam isso de sacrum comercium, isto é, sagrado comércio, ou divina troca: Deus entra em comunhão com a vida humana para possibilitar aos seres humanos entrar em comunhão com a vida divina. Lembremos-nos da gotinha de água (nossa mínima participação) misturada ao vinho no cálice (a máxima ação de Deus) na Preparação das Oferendas: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou assumir nossa humanidade”.
            Maria e José, os pais de Jesus, levam ao templo, lugar de encontro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres, a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa situação onde se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons a humanidade oferece aquilo que tem: fragilidade, pobreza, pequenez... Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família, é esse o lugar do encontro, profundamente humano e existencial, com a obra preferida de suas mãos. A nós ele oferece o seu Filho. A humanidade, figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus, que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado e da morte.
            Mas é no contexto litúrgico que se torna decisivo para a compreensão dos textos bíblicos: a Sagrada Família é a “lente hermenêutica” proposta pelos textos eucológicos desta festa. A ela acorrem os pastores. É ela modelo de amor e de virtude para nossas famílias, bem como intercessora em favor das famílias que celebram o sacrifício de reconciliação. Mas a virtude e a piedade conduzem ao mistério da Igreja. As famílias terrestres, valor inestimável para as nossas comunidades, são sinais de outras realidades: a comunhão entre os irmãos e a comunhão com Deus que nos foi alcançada por Jesus. Os laços de amor aqui vividos no ambiente familiar, conduzem os fiéis às alegrias da casa de Deus. As famílias são firmadas na graça divina, e por intercessão de José e da Virgem, conservadas na paz de Deus.
            A graça e a paz nos foram comunicadas no mistério de Cristo. Por sinal, esta é uma das saudações mais frequentes do início de nossas celebrações (cf. 1 Cor 1,3). As comunidades celebram periodicamente pedindo, como família cristã, pelas mesmas coisas que a liturgia desta festa suplica para as nossas famílias. A comunhão da Igreja encontra seu reflexo nos lares e vice-versa. Não é por acaso que, por longa tradição, os fiéis se nomeiam “irmãos e irmãs” uns dos outros, pois todos foram irmanados em Cristo, aquele que conviveu com os homens. A comunhão sacramental nos refaz para os embates da vida e nos associa à Sagrada Família.
            Enquanto a Cultura da Sobrevivência coloca a Família de bruços, engolindo-a com o tripé de contra valores: o consumismo, o hedonismo e o individualismo, a Solenidade da Sagrada Família nos conclama e incentiva a reerguê-la, devolvendo-lhe a necessária dignidade humana! Saibamos, a partir desta solenidade, reencontrar meios para ancorar nossa Família em valores essenciais, como o amor gratuito, a verdade, a justiça e a liberdade!
            Desejando-lhes abençoado Ano de 2018, nossa ternura, gratidão e abraço cheio de novas esperanças!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Col 3,12-21 e Lc 2,22-40).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2017, pp. 97-100 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Dezembro de 2017), pp. 24-28.


O NATAL E A SAGRADA FAMÍLIA!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Na oitava do Natal, celebramos, com sabor de Ano Nacional do Laicato, O Natal e a Sagrada Família! O Natal perdeu muito de seu verdadeiro sentido. Há 50 anos, antes de entrarmos para a era do pós-industrialismo e seu laicismo pragmático e materialista, pelo menos 80 em cada 100 lares tinham ao menos um Menino Jesus e uma Sagrada Família num cantinho da sala. O Natal era um momento significativo para o crescimento na fé. E o centro desta celebração era a pessoa frágil e indefesa do Menino Jesus. Era muito importante entender Seu nascimento.
Nos tempos atuais, pelo menos 98% das lojas tem um Papai Noel. Nas vitrines enfeitadas, Jesus não entra. A Festa do Natal deixou de ser do Menino de Belém para se tornar daquele que tem coisas para dar às crianças ou aos amigos. Ser não é importante. Ter ficou mais importante: coisa típica do industrialismo materialista. Perdeu o grupo, o coletivo e venceu o individualista, o opulento, o velho (Papai Noel) que tem e dá.
Para a Igreja, o Batismo é um desafio. É nascer em Jesus e assumir o seu projeto de vida e liberdade para todos. É andar, pensar, amar e orar com Jesus. É nascer de novo e ir renascendo a cada dia. E viver o compromisso de fé decorrente do Batismo. Eis a proposta central do Ano Nacional do Laicato!
O Natal insere-se nessa mística. Acontece que a morte tem sido institucionalizada no triste contexto da civilização das ogivas nucleares, do macro mercado, dos macro marginais, do crime internacional, da corrupção tão devastada entre os representantes legítimos do povo, dos juros extorsivos, da morte mais eficiente, da produção que se perde e do 1,2 bilhão de famintos e miseráveis.
Os meios de comunicação encarregam-se de difundir a cultura da morte com milhares de cenas violentas dos Robocops, Rambos, etc. A morte diverte e vende mais.
O nascimento de um bebê dá menos ibope do que um acidente que fere e mata. A vida está menos importante num mundo que destrói mares, florestas e nações sem o menor escrúpulo.
Festejar o Natal nesse tipo de mundo supõe uma profissão de fé na vida e no Autor dela. Devolver o Natal às famílias e lutar para que não fique circunscrito às Igrejas são tarefas desafiadoras. O Natal descristianizou-se e nós permitimos isso. Papai Noel ocupou o espaço social, econômico, político e até religioso que era de Jesus. Os cristãos perderam o marketing. No Natal, fala-se mais de Papai Noel do que de Jesus.
Nós e nossas Famílias podemos mudar isso! Se colocarmos os símbolos certos em nossas casas. Se crermos em Jesus. Ele tem de aparecer mais do que o Papai Noel. Mais ainda: deverá ser percebido em nossas relações humanas de amor e de ternura, como é O Natal e a Sagrada Família!


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Alegremo-nos todos no Senhor:
Hoje nasceu o Salvador do mundo,
Desceu do céu a verdadeira paz!”(Sl 2,7).

ANÚNCIO NATALINO    
“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo
e fez o homem à sua imagem,JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI,
querendo santificar o mundo com a sua vinda,
foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses nasceu da Virgem Maria em Belém de Judá.Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana.Venham, adoremos o Salvador.Ele é Emanuel, Deus Conosco.”
(Cf. Diretório da Liturgia da CNBB de 2017, p. 40).

Nosso Comentário da Palavra da Solenidade do Natal do Senhor, tentará, resumidamente abordar as Celebrações da Noite do dia 24 e do Dia 25 de Dezembro!,
 Procurar
Por isso, exultemos todos no Senhor: nasceu o salvador do mundo, do céu desceu a verdadeira paz e felicidade. Na fragilidade da criança, contemplamos a revelação de Deus na história da humanidade. Deus se encarna no humano para nos tornar mais divinos.
           
Todos somos convidados a formar coro com os anjos: glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra às pessoas de boa vontade. Jesus chegou até nós, trazendo-nos a salvação. Chegou a salvação dos pobres e oprimidos (Is 9,1-6). Por meio de Jesus, Deus entra na história da humanidade para dela fazer parte (Lc 2,1-14). A graça de Deus traz salvação a toda a humanidade  (Tt 2,11-14).
            Cristo, que nasce pobre em Belém, está entre nós na simplicidade do pão que compartilhamos, dando graças ao Pai. Com Maria e os pastores, reconheçamos e adoremos nosso Senhor.
            As promessas de Deus se cumprem: um menino nasceu para nós; ele é o príncipe da paz e a luz que brilha para o mundo, afastando toda treva. Na fragilidade da criança, Deus se torna presente em nosso meio. A palavra se fez pessoa e veio morar junto conosco.
            A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Acolhamos com alegria a palavra de Deus, força de vida e salvação. Deus vem trazer-nos paz e salvação. A palavra de Deus torna-se carne e habita entre nós. Ele nos fala diretamente por meio de seu Filho.
            Louvemos o Pai porque, com a encarnação de seu Filho, possibilita o encontro do divino com o humano. A palavra eterna do amor de Deus se fez homem, e nós vimos brilhar a sua luz.
            Gosto muito da frase que se pronuncia, geralmente em voz baixa, durante o canto da preparação das oferendas na Missa, enquanto se coloca uma gota de água no cálice de vinho: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Penso que esta afirmação deveria ser dita em voz alta, pois sintetiza o evento do Natal do Senhor! Nossa participação de toda a História da Salvação é apenas uma gotinha de água, o mínimo, unicamente o esforço por acolher A palavra de Deus que se faz Pessoa igualzinha a nós em tudo, menos no pecado, remetendo-nos ao mais profundo conhecimento de Deus, na meiguice de um recém-nascido. Todo o resto Deus mesmo realiza em nós, na medida em que o permitimos agir.
A Natividade de Jesus é uma festa antiga. Esta celebração deita suas raízes na veneração da gruta em que o Senhor nasceu. No rito romano, como liturgia orgânica e já instituída somente tem-se notícia a partir do século IV, quando aparece pela primeira vez a data de 25 de dezembro, segundo os testemunhos de um antigo documento chamado Cronógrafo Romano.
            O que se celebra nesta liturgia é bem mais do que o aniversário do nascimento histórico de Jesus. É, em suma, a celebração de sua Páscoa vista sob a perspectiva de sua entrada no horizonte da história humana de modo inaudito e admirável, como sugere a bucólica cena do nascimento narrado no Evangelho de Lucas. Embora se possa (e deva!) localizar os feitos maravilhosos do Senhor no âmbito da história humana, que o ocidente convencionou consignar em “passado – presente – futuro”, a ação divina sempre precede e supera os nossos limites temporais e espaciais. Por isso, a liturgia divina quando celebrada se torna uma espécie de parêntesis no tempo cronológico, como momento da história da salvação que nos alcança aqui e agora, um acontecimento que deve ser lembrado em todo tempo e lugar.
            A celebração da Natividade do Senhor é festa de sua manifestação na carne, isto é, Deus vindo ao encontro da humanidade como pessoa humana: “sob véus de humildade podemos ver” o Deus invisível e eternal grandeza (Adeste Fidelis – Cristãos, vinde todos).
            Para Agostinho, no século V, a celebração do Natal do Senhor não tinha sentido de sacramento, era a recordação da Natividade de Jesus. Para o bispo de Hipona, o único sacramento era a Páscoa, pela qual os seres humanos e a criação inteira tinham sido reintegrados à sua origem, que é o próprio Deus, sumo bem. Será Leão Magno, no mesmo século e alguns anos mais tarde quem encontrará o sentido mistérico e por isso, sacramental, do Natal do Senhor. Para ele, a Natividade, celebração da encarnação do Verbo, está intimamente ligada à Páscoa. É seu início, pois, quando a Igreja celebra esta solenidade, comemora o aspecto do novo nascimento dos fiéis para uma vida redimida: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um de nós, nós nos tornamos eternos”. Fica evidenciado o aspecto sacramental e pascal do Natal do Senhor.   
Gosto de pensar como Deus dribla a humanidade, nascendo numa manjedoura, entre animais. Como se não bastasse, se permite anunciado em primeiro lugar aos mais simples dos simples: os pastores, durante uma fria madrugada. Talvez os únicos acordados naquela noite. Certamente os mais sensíveis e talvez os mais disponíveis para ouvir o jubiloso anúncio dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”, isto é, aos homens e mulheres de coração aberto para acolher, como que uma “manjedoura”, um recém-nascido envolvo em panos, Emanuel, o DEUS CONOSCO, a meiguice e fragilidade de um bebê. Simplesmente uma criança. Isto me convence que Deus é muito mais simples do que O complicamos! Basta estar aberto, atento, ser hospitaleiro e acolhedor. Basta ler a face do Senhor no semblante do Outro!

Feliz e santo Natal a todos!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2017, pp. 79-87 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Dezembro de 2017), pp.21-23.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Céus, deixai cair o orvalho;
nuvens, chovei o justo;
abra-se a terra e brote o Salvador!”(Is 45,8).

            Já no Quarto Domingo do Advento e às portas da Solenidade do Natal do Senhor, a liturgia dirige o nosso olhar para o anúncio do Anjo feito a Maria e para sua própria pessoa enquanto imagem da Igreja que aguarda a chegada do Natal. Para sublinhar em que ponto a celebração nos situa, recordemos nosso trajeto realizado: nos dois primeiros domingos do Advento escatológico, nossa expectativa foi reacendida em vista das realidades futuras e dos últimos tempos que Jesus inaugurou a partir de sua vinda histórica e sua glorificação. A acolhida do anúncio da Palavra de Deus nos preparou na direção desse evento derradeiro, que o povo da Primeira Aliança viu realizar na Igreja, como já participante das realidades futuras.
No terceiro domingo do Advento, com o olhar mais voltado para a vinda histórica, a Igreja se alegrou, como que antecipando aquilo a que se prepara e no canto de Maria, proclamou as maravilhas que Deus realizou por seu povo e continua a realizar por meio de Jesus e de seu Espírito. Nesse mesmo período iniciamos a novena do Natal do Senhor, intensificando a nossa espera e vigilância, enchendo nossas lâmpadas com o azeite da oração, adentrando no festim do noivo que veio ao nosso encontro. Cada domingo, como luz a iluminar nossos passos, nos conduziu a este momento, onde contemplamos a Virgem como a um espelho, onde podemos ver a imagem daquilo que a Igreja é chamada a ser: casa preparada por Deus, arca da Aliança e receptáculo do Mistério outrora escondido e que Deus, por imensa bondade, revelou a todos.
Graças ao sim de Maria, Deus veio habitar entre nós na pessoa de Jesus. Todos devemos estar disponíveis para a ação do Espírito de Deus, acolhendo no coração o mistério da encarnação. A páscoa de Jesus se manifesta nas pessoas e grupos que se dispõem a receber a boa-nova trazida pelo anjo Gabriel.
De coração alegre e agradecido, acolhamos a Palavra de Deus. Ela nos mostra o plano divino de salvação e em Maria realiza a prometida encarnação do Salvador.
Deus quer caminhar com seu povo, e não ficar trancado no templo. Maria aceita a proposta de ser a mãe de Jesus. O mistério de Deus se revela à humanidade em Jesus encarnado.
Respondendo nosso amém à oração eucarística, aceitamos com gratidão o plano de Deus; acolhendo a palavra feita carne, deixamo-nos transformar, pelo Espírito, em novas criaturas.
A celebração do quarto domingo, como último Domingo do Advento histórico, na mesma dinâmica do terceiro domingo, antecipa a realidade festiva que se desabrocha no Natal. Nesta celebração a Igreja é a receptora do anúncio do Anjo, participando da encarnação do Verbo ao acolher a Palavra proclamada, exercendo seu discipulado na escuta e na obediência e deixando realizar em seu seio a salvação esperada. Contudo, a chave messiânica da compreensão dos textos nos convida a perceber que a salvação principiou neste mistério e se completa na páscoa do Senhor, para a qual rumamos. Nós, que também já desfrutamos da vida divina em Cristo pela participação em sua páscoa, não devemos fazer o seu caminho de encontro com as realidades carentes de vida nova? Prolongar o anúncio do Anjo ao mundo, descobrindo a semente do Verbo nas realidades mais sofridas, não seria nossa resposta obediente, discipular e atenta à vontade do Pai? O Natal do Senhor se orienta e se aprofunda também na páscoa do mundo que anseia por vida nova e por salvação.
O mistério da encarnação, iniciando hoje com a anunciação do Anjo à Virgem, é aprofundado pelo mistério da cruz que nos leva à ressurreição. Segundo uma mensagem de Natal, “Para quem consciência ainda tem, o Natal  é dura cruz na casa de alguém”, poderemos nos encaminhar mais ligeiramente para o acontecimento natalino, se estivermos mais atentos e solícitos aos sofrimentos e cruzes que carregam os outros!
Com a Igreja, portanto, somos convidados a sentirmo-nos também grávidos do Senhor! Mais ainda: somos conclamados a “dar à luz ao Cristo não mais Menino, mas Ressuscitado”.  Por isso o Natal do Senhor precisa ser motivado por nossa missionariedade e discipulado a exemplo de Maria. Sejamos o porta-jóias de Jesus, anunciando-O com a própria vida ao mundo que nem sempre O reconhece em nossas incoerências. Quantas aparências, falsidades, mentiras, fingimentos e invejas atrapalham um verdadeiro Natal que não aborte Jesus, por conta do consumismo, hedonismo e individualismo! Sejamos livres para celebrarmos um Natal diferente, como nunca antes em nossa vida pessoal, comunitária e social!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler: 2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88(89); Rm 16,25-27 e Lc 1,26-38).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2017, pp. 76-79 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Dezembro de 2017), pp. 17-20.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO

GAUDETE – DOMINGO DA ALEGRIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Alegrai-vos sempre no Senhor.
De novo eu vos digo: alegrai-vos!
o Senhor está perto” (Fl 4,4s).


            Celebramos com esperança, otimismo e muita fé o Terceiro Domingo do Advento – Gaudete DOMINGO DA ALEGRIA! A exemplo do Profeta Isaías, todos devemos nos alegrar, pois o Senhor está próximo. João Batista aparece neste domingo para preparar o caminho de Jesus até nós.
            A Palavra de Deus proclamada neste Domingo nos apresenta o tema da alegria, pois o Espírito do Senhor está sobre nós, nos leva a rezar sem cessar e nos faz reconhecer em João Batista o mensageiro da vinda de Jesus.
A celebração é momento de exultação, pois Deus está em nosso meio. A missão de João Batista é apontar a luz para a humanidade. O desejo de Deus é ver-nos felizes. Mas o que significa, para nós, ser feliz?
            Com nossa ação de graças, reconheçamos que se realizou para nós o anúncio da libertação. Nosso Deus nos associa à alegria da sua vida nova.
Por tradição, o Terceiro Domingo do Advento é denominado Domingo Gaudete, que significa Domingo da Alegria. Isso, porque a antífona de entrada começa com esta expressão: “Alegrai-vos sempre no Senhor” (em latim Gaudete in Domino semper). Esta, portanto, é a chave para a compreensão dos textos bíblico-litúrgicos e eucológicos, assim como dos ritos e símbolos do Terceiro Domingo do Advento.
            A alegria de que trata a Liturgia deste domingo liga-se à proximidade da festa da Natividade do Senhor. A percepção de que já atravessamos mais da metade do caminho rumo à Noite Santa do Natal ilumina a celebração da comunidade de fé. Com razão a Oração da Igreja assim se exprime: “Levantai vossa cabeça, pois a vossa redenção se aproxima”. Portanto, o júbilo não se dá somente por que já se aproxima uma data memorável, mas sobretudo, porque as consequências do Mistério que nela se celebra já podem ser sentidas pela Igreja peregrina.
            O Terceiro Domingo do Advento – Gaudete é momento de passagem ou transição para a comunidade que celebra como o fora para os contemporâneos do Batista. Nós, como eles, somos atraídos para a “beira do Jordão”, a fim de permanecer de prontidão, à espera da travessia pascal que se inaugura com a revelação de Deus e se plenifica com a encarnação do Verbo.
            Nesse sentido, nosso olhar recai sobre o que se augura com a celebração Eucarística: “que estes sacramentos nos purifiquem dos pecados e nos preparem para as festas que se aproximam”. A preparação para a celebração da natividade e manifestação do Senhor na carne exige transpor o Jordão, passando pelas águas que nos liberam da maldade, da corrupção, da morte. Dito de outro modo, ao celebrar o Terceiro Domingo do Advento, a Igreja se alegra por estar à “beira” do Jordão, em poder levantar a cabeça e vislumbrar seu destino, que é a comunhão de vida com o Messias, cujas vozes proféticas de todos os tempos e lugares apontam e prenunciam, segundo a inteligência da fé.
            Dar graças, fazer eucaristia, corresponde de fato ao “nosso dever e salvação”, porque é no ato de buscar e reconhecer a presença de Deus, que nos percebemos salvos, mergulhados em sua vida. Damo-nos conta o quanto o Espírito Santo está sobre nós empurrando-nos para que demos testemunho da visita do Messias no mundo, alegrando os tristes, devolvendo a dignidade aos empobrecidos. A ação de graças recomendada por Paulo nos faz reconhecer que tudo quanto fora dito por Deus em promessa, cumpriu-se em seu Filho e se desdobra naqueles e naquelas que o servem e lhe são fiéis. Em suma, nossa fidelidade torna evidente aquele que nos chamou e é fiel no cumprimento de sua Palavra.
AGRADECIMENTO PELA DOAÇÃO NA COLETA PARA A EVANGELIZAÇÃO
            [É o domingo em que deveremos partilhar nossa pobreza, doando generosamente os frutos saborosos de nossos exercícios penitenciais e de abstinência propostos para o rico tempo do Advento! Não devemos dar qualquer “migalha” ou aquilo que nos sobra da compra de presentes de Natal. Recebemos um envelope destinado à Coleta para a Evangelização, que deveremos devolver, contendo o resultado daquilo que deixamos de gastar em favor dos que têm menos do que nós, bem como, para que Jesus Cristo seja conhecido e nosso povo evangelizado de sul a norte de nosso imenso País. Quem não tiver ou esquecer o envelope, coloque na coleta da esmola numa das Celebrações deste Domingo da Alegria sua doação, porque todas as Paróquias e Comunidades endereçarão o que recolherem, à Cúria Metropolitana, que por sua vez dará o destino certo à generosidade de nosso coração. Sejamos, portanto, honestos e justos, porque a Igreja no Brasil sobrevive com nossa corresponsabilidade!]
            Desde o início, a obra de evangelização e o trabalho da Igreja contaram com o apoio espiritual e material de todos os batizados. Motivados pela fé recebida e pela gratidão a Deus, todos os membros da Igreja são chamados a colaborar, de várias formas, para que o dom do Evangelho também chegue a outras pessoas.
            Além de vivenciar concretamente sua corresponsabilidade de batizado pelas obras de evangelização e do sustento de irmãos e irmãs empenhados nestas atividades, a sua participação o tornará mais disponível ao Senhor.
            Esta será a destinação de sua coleta: 45% para a sua Diocese; 20% para as 18 Subsedes da CNBB; e 35% para a CNBB Nacional.
            Deus lhe pague pela contribuição nesta importante coleta!
            O grande convite deste Domingo da AlegriaGAUDETE – é transpirar a esperança de que o Natal do Senhor nos ajude a promovermos maior dignidade entre as pessoas, sendo Anjos uns para os outros. Acendendo a vela rosa de nossas Coroas do Advento, possamos renovar o propósito de testemunharmos uma fé cheia de alegria, com sabor divino.
            Não nos esqueçamos de nossos gestos concretos, oferecendo quem sabe, como presente de Natal uma Bíblia ao invés de presentes perecíveis. A Palavra de Deus semeada no coração dos que amamos e dos que ainda não a conhecem, não perecerá. Ao contrário será alimento de vida a quem a acolher com alegria! Não falar mal de ninguém até o Natal poderá tornar-se um magnífico hábito entre irmãos que amam, ao longo do novo ano que se aproxima. Se não tivermos nada de bom a dizer sobre o outro, é melhor calar!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 61,1-2.10-11; Sl Lc 1; 1 Ts 5,16-24 e Jo 1,6-8.19-28).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2017, pp. 57-60 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Dezembro de 2017), pp. 14-16.