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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

ACREDITAVA EM FRASQUEIRA DE PARTEIRA!

 

Iluminado por uma colocação de Dom Angélico Sândalo Bernardino, gosto de comparar nossa existência a três partos. O primeiro parto é quando nascemos do útero materno. Nenhuma criança quer nascer. Mas ao nono mês não tem jeito, ela precisa nascer. Partir do útero da mãe, onde se sente segura, aconchegada e amada, especialmente quando planejada e desejada.

Eu nunca acreditei em cegonha. Mas acreditava em frasqueira de parteira. No bairro Liberdade na cidade de Novo Hamburgo (RS) onde cresci, havia uma parteira, a Dona Avelina. Ela levava consigo uma frasqueira. E de onde saída com sua frasqueira, nascia uma criança. Minha dedução: Dona Avelina levava as crianças às mães em sua frasqueira. Quando nasceu minha prima, lembro-me como se fosse ontem, a Dona Avelina deixou sua frasqueira sobre uma coluna na entrada da casa de minha avó e a chamou para o nascimento da criança. Até me aproximei, coloquei meu ouvido sobre a frasqueira para tentar ouvir algum balbuciar do bebê. Ainda não havia ultrassom e não se sabia o sexo da criança que estava por nascer. Num quarto escuro, junto à parturiente, somente as avós com a parteira participavam do parto. Os demais esperavam na sala da casa. A criança nem chorava. Mas a parteira lhe dava um tapinha na bunda, para constatar que nascera viva. Quando então a criança começava a chorar, todos na sala comemoravam a nova vida que acabara de nascer. E eu tinha convicção de que minha prima fora levada na frasqueira da parteira. Já hoje as crianças nascem chorando de susto da forte iluminação e dos obstetras e enfermeiras com máscaras nas sofisticadas maternidades.

Nosso segundo parto é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal. Neste primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, somos adotados como filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e nos tornamos seres divinizados, isto é, candidatos à santidade. Sim, porque santo é todo aquele que morrendo vê Deus como Ele é.

O terceiro e definitivo parto será quando nosso nome ecoar na eternidade e partirmos do útero da terra (vida terrena) à eternidade. É um parto dolorido aos que ficam e entregam a quem de direito, pessoas que amam, o próprio Criador. Este parto chamado de morte dói demais, mas é imprescindível para irmos diante de Deus que nos amou primeiro e nos quer em seu colo, acariciados por Nossa Senhora. Só o tempo ameniza a dor dos que devolvem a Deus seus entes queridos, que na gestação do útero da terra se lhes foram emprestados por algum tempo: para alguns mais e para outros menos! O importante é estarmos preparados para que o terceiro e definitivo parto seja o mais natural possível. E o que nos prepara para aquele derradeiro momento é amor que amamos!

Retomo essa narração, para demonstrar minha indignação em relação aos que tentam trocar de lugar com o Criador, autodenominando-se “deuses” sobre a vida dos seres humanos, ainda indefesos, que nem mesmo um “ai” podem gritar ao serem abortados. Como é possível aceitar que uma pessoa humana, ainda em gestação, à décima-segunda semana, não é gente e não tem seu direito de nascer preservado?

Uma amiga, grande evangelizadora e testemunha fiel do amor de Deus na vida dos seres humanos, contou-me que certa vez uma moça, mãe de um adolescente de quinze anos de idade, apareceu diante dela reclamando estar grávida por acidente. Entregou-se a um rapaz para um ato sexual, sem amor. Aos gritos essa moça teria dito que abortaria a criança, porque o filho adolescente já lhe dava muito trabalho e lhe custava caro demais.

Minha amiga então ofereceu o revólver do marido à moça em prantos e lhe sugeriu que, ao invés de abortar a nova vida, ainda em seu útero, fosse para casa e desse um tiro certeiro no filho adolescente. A moça reagiu e chamou minha amiga de louca. “Louca é você”, respondeu. “Seu filho de quinze anos já aproveitou muito a vida com viagens e bem-estar que você lhe proporcionou. Já a vida que você leva em seu útero, poderá ser uma pessoa que salve a humanidade”! E a moça desistiu de abortar.

Nenhum cristão tem o direito de abreviar a vida de quem quer que seja. Muito menos uma mãe tem o direito de matar seu próprio filho, abortando-o. Quem é a favor do aborto, deve assumir sua excomunhão da Igreja de Jesus Cristo. Pare de se denominar cristão. Se a mulher é livre para decidir sobre seu corpo, jamais será livre para impedir a vida que traz em seu seio, cujos direitos de viver não são diferentes, como alguns pecaminosamente alardeiam.

Pe. Gilberto Kasper - Teólogo



quarta-feira, 20 de setembro de 2023

A DIOCESE DO DIACONADO PERMANENTE!

 

O primeiro bispo diocesano de Apucarana (PR), Dom Romeu Alberti, nomeado por São Paulo VI em 22 de fevereiro de 1965, ainda em sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II, com apenas 38 anos de idade, rabiscava seu plano diocesano de pastoral. Enquanto Padre Conciliar, não tinha como não pensar no Diaconado Permanente e na importante participação dos Leigos na evangelização da recém criada Diocese, que contava com um número de presbíteros muito aquém das necessidades pastorais. Havia comunidades que passavam de um a dois anos sem celebrar uma Santa Missa, por falta de padres. As distâncias e a falta de locomoção, a não ser carroças, bois e cavalos, da Diocese praticamente, toda ela rural, dificultava maior participação do povo. Mas o jovem e primeiro Bispo Diocesano queria uma “Igreja Conciliar”, mesmo que alguns diocesanos, no início, chamavam-na de “Igreja Circular”! Então Dom Romeu começou a formar homens, líderes de Comunidades, para o Diaconado Permanente, já que para a formação de um Sacerdote, demoraria em demasia para um Bispo tão afoito para evangelizar o povo que lhe fora confiado em meio ao Concílio, ou melhor dizendo, em seu último ano de trabalhos. O desafio da aplicabilidade de todas as riquezas de uma Igreja arejada e bem mais configurada às primeiras Comunidades descritas em Atos do Apóstolos, balançava o coração do generoso pastor, não poucas vezes chamado de “Bom Romeu”!

A prioridade do Diaconado Permanente não descartava a preocupação de Dom Romeu Alberti para com as Vocações Sacerdotais. Muito pelo contrário. Sempre zelou de modo ímpar sobre a Liturgia, tanto que foi o Presidente da Comissão para a Liturgia no CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano), que traduziu o Missal Romano para a língua espanhola, do qual Missal fui agraciado com um exemplar, enquanto estudava em Bogotá na Colômbia, onde Dom Romeu era muito respeitado e ainda mais amado.


Nas visitas pastorais, Dom Romeu percebia que o povo não fazia ideia do que significava uma Diocese. Ele costumava chama-la de “Família Diocesana”! Numa dessas visitas, depois de celebrar e jantar na casa de uma família da Comunidade (sem padre), o senhor da família insistia que Dom Romeu pernoitasse com eles, porque já era tarde e a estrada perigosa. Dom Romeu estava sozinho e ele mesmo dirigia seu automóvel. Dom Romeu dizia que precisava voltar à cidade porque a Diocese o aguardava. O pai de família com muita simplicidade disse: “Então senhor Bispo, da próxima vez que o senhor vier celebrar para nós, traga a Dona Diocese consigo, assim não viajará sozinho”!

Em outra visita a uma Comunidade também vacante de pároco, Dom Romeu aceitou pernoitar na casa de uma família. Casa muito simples de madeira e o banheiro ficava atrás da casa no quintal sobre uma fossa, em forma de uma casinha, até meio parecida com um confessionário. Ao se aproximar do banheiro, o jovem Bispo encontrou um corredor iluminado por seis castiçais, três de cada lado da casinha. Ao contar sobre o episódio, ria muito e dizia, que se apaixonava cada dia mais pelo povo tão puro e simples que Deus lhe confiara, a fim de buscar sua própria santidade a partir da humildade!

Numa das primeiras procissões de Corpus Christi, que sairia de uma Paróquia em direção à Catedral de Apucarana, Dom Romeu perguntou onde estava a Custódia. Referia-se ao Ostensório para levar o Santíssimo Sacramento em procissão. O motorista não teve dúvidas. Entrou no carro e foi em direção à Catedral buscar a Irmã Custódia, que ensaiava o povo na porta da Catedral dizendo: “Dom Romeu está lhe chamando. Disse que sem a senhora ele não sairia em procissão. Falou que precisa da Custódia”! Nem me perguntem o que disse Dom Romeu, ao ver a Irma Custódia ao invés do Ostensório, na já atrasada saída da procissão de Corpus Christi daquele ano!

Tantas outras histórias recheadas de pureza, santidade e beleza espiritual poderiam ser descritas, mas penso que já prestamos nossa homenagem ao Bispo, que ao longo dos 17 anos de pastoreio, tornou Apucarana, a Diocese do Diaconado Permanente do Brasil.

Pe. Gilberto Kasper

         Teólogo

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

O FRATERNO AUXÍLIO CRISTÃO CONFRATERNIZA!

 

O FAC – Fraterno Auxílio Cristão da cidade de Ribeirão Preto necessita da ajuda generosa de mais parceiros e amigos, que queiram ajudar-nos a cuidar dos pobres de nossa cidade. Você poderá ser um sócio mensal ou benfeitor ocasional! Partilhando de sua pobreza, enriquecerá nossa vontade de mantermos nossos projetos que precisam da ajuda de todos!

O FAC desenvolve suas atividades por intermédio de dois projetos: o Núcleo de Solidariedade Dom Helder Câmara, instalado na sede do mesmo, na Rua Barão do Amazonas, 881, Centro de Ribeirão Preto, classificado como Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, atendendo jovens, adultos e idosos, de ambos os sexos, em situação de vulnerabilidade social.

O Núcleo de Solidariedade Dom Bosco, instalado na Rua Imigrantes Japoneses, 1065, Parque Ribeirão Preto, está tipificado na Proteção Básica onde oferta o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, atendendo crianças e adolescentes dos 06 anos aos 15 anos, assegurando espaços de referência para o convívio grupal, familiar, comunitário e social, além do desenvolvimento de relações de afetividade, solidariedade e respeito mútuo, desenvolvendo sua convivência familiar e comunitária. Contribui para a ampliação do universo informacional, artístico e cultural de 80 crianças e adolescentes, diariamente, no contra-turno escolar. Mais de 60 famílias e aproximadamente 265 pessoas assistidas diariamente numa das regiões da periferia de nossa rica cidade, onde “nem tudo que brilha é ouro”!

O FAC procura responder, na medida do possível, aos anseios do Papa Francisco, que deseja “Uma Igreja pobre para os Pobres!”. Contamos com a generosidade de quem desejar unir-se a nós, para juntos cuidarmos de alguns pobres de nossa cidade, de acordo com nossas possibilidades! No dia 20 de setembro (na próxima quarta-feira), a partir das 14:00 horas, no Salão Paroquial da Igreja Nossa Senhora de Fátima, dos Padres Estigmatinos, na Rua Júlio Prestes, 533 no Jardim Sumaré, teremos uma Tarde Beneficente de Confraternização com muitos e excelentes prêmios!


A preparação e coordenação dessa tarde é de nossa Conselheira e Benfeitora Amália Terezinha Balbo Di Sicco e a animação contará com a presença sempre amiga do Amir Calil Dib, igualmente benfeitor do FAC há muitos anos. Participando, nos ajudará a manter o FAC funcionando e acolhendo os mais pobres de nossa cidade. Basta telefonar (16) 3237-0942/99191-6841(WhatsApp) ou enviar e-mail: facribeirao@facribeirao.com.br

Quem não puder participar da Tarde de Confraternização, mas deseja mesmo assim colaborar, poderá depositar qualquer quantia na Conta Corrente do FRATERNO AUXÍLIO CRISTÃO DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO - FAC no Banco do Brasil – Agência 4242-0 e C/C 20.029-8.

Nosso PIX: CNPJ: 56.019.813/0001-88

Nossas redes socais para acompanharem nossos projetos:

Site: http://facribeirao.com.br/

Facebook: FAC Ribeirão Preto

Instagram: facribeirao

Youtube: FAC Ribeirão Preto

Deus certamente recompensará a generosidade de nosso povo!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

“RIRAM DE MIM NO CONÍCILIO”!

 

O Cardeal Vasconcelos Motta, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, pedindo um Bispo Auxiliar, o recebeu na pessoa do Pe. Romeu Alberti, Diretor Espiritual do Seminário Central Nossa Senhora da Assunção, no Ipiranga, em São Paulo. Amado pelo Clero e muito querido pelos Seminaristas que dirigia espiritualmente, o Pe. Romeu Alberti chamava atenção por sua humildade, zelo e doçura. Se locomovia pela grande São Paulo de lambreta; levantando a batina branca ou cinza até os joelhos, atravessava a cidade.

Em 1964, o Cardeal Motta transferido para a Arquidiocese de Aparecida, foi sucedido pelo então Arcebispo de Ribeirão Preto, Dom Agnelo Rossi, que não precisou de Dom Romeu Alberti, como Bispo Auxiliar. Resolveram, então, enviar o jovem Bispo a Roma, para participar do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Durante uma das sessões do Concílio, um dos mais jovens Padres Sinodais, Dom Romeu Alberti, Bispo Auxiliar de São Paulo, sugeriu a ordenação de mulheres como diaconisas. Um de seus argumentos foi a Carta de São Paulo aos Romanos: “Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a santos, e a assistais em tudo o que ela de vós precisar, porque também ela ajudou a muitos, a mim inclusive” (Rm 16,1-2). Outro argumento teria sido, que a maioria dos fiéis da Igreja Católica Apostólica Romana, comprometida com a evangelização, é de mulheres. “O que seria de nossa Igreja sem a presença tão rica e fiel de mulheres em nossas atividades pastorais e comunidades?”, teria dito Dom Romeu.

Ao me contar pessoalmente esse episódio, começou a rir e às gargalhadas me disse: “Riram de mim no Concílio”! “Foi uma risada em coro, ecoando na Basílica de São Pedro. Eu não sabia se ria junto ou me escondia debaixo na mesa a minha frente!” No dia seguinte o Papa Paulo VI chamou Dom Romeu Alberti para almoçarem juntos. Durante o almoço o Santo Padre pediu que Dom Romeu desculpasse as risadas em tom de vaias dos Padres Conciliares. O Papa lhe disse que para a ordenação de mulheres, ainda não teria chagado o tempo, mas que a sugestão de Dom Romeu o inspirara para a reestruturação do Diaconado Permanente. Ambos discutiram a possibilidade, lembrando de experiências ainda embrionárias na Igreja do Rio Grande do Sul, sob o zelo pastoral de Dom Vicente Alfredo, Cardeal Scherer, muito respeitado e querido pela Cúria Romana.

No dia 9 de fevereiro de 1965, Dom Romeu recebeu um comunicado da Nunciatura Apostólica, cuja sede ficava no Rio de Janeiro, de que o Núncio precisava falar com ele. Dia 11 de fevereiro, Festa de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira da Igreja Matriz de Apucarana (PR), Dom Romeu recebeu a notícia de que o Papa Paulo VI o nomearia primeiro Bispo Diocesano de Apucarana (PR). A nomeação foi divulgada com a data de 22 de fevereiro do mesmo ano de 1965.

Ao chegar a Apucarana, Dom Romeu Alberti sentiu um “amor à primeira vista”. Uma nova Diocese nascia no Paraná, com aproximadamente 480 mil habitantes, praticamente rural, geograficamente parecia como ele mesmo dizia “uma linguiça”, mais comprida do que larga. Chegou com muita sede de aplicar tudo que ouvira e vivera durante sua participação no Concílio Ecumênico Vaticano II, sendo não poucas vezes incompreendido, principalmente pelo Clero que ainda precisava compreender melhor a abertura das janelas e portas de uma Igreja cheirando a mofo, como afirmara o próprio Papa João XXIII, ao conclamar o Concílio.

Outras curiosidades da nova Diocese com seu primeiro Bispo, escreveremos em breve. Hoje ficamos com a frase que meus ouvidos ouviram muitas vezes, e meu coração tentou assimilar cada vez que aos risos, Dom Romeu Alberti dizia: “Riram de mim no Concílio”!



Pe. Gilberto Kasper - Teólogo