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quarta-feira, 27 de junho de 2018

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, APÓSTOLOS


Dia do Papa


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

O Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum cede lugar à Solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos – as duas grandes Colunas da Igreja de Jesus Cristo: “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o evangelho da salvação” (Prefácio próprio da Festa).
            Celebramos a Páscoa do Cordeiro na vida e na ação evangelizadora de Pedro e Paulo. Apóstolos, fundadores da Igreja, amigos e testemunhas de Jesus. Agradecemos sua fé e empenho missionário. E celebramos o Senhor que os escolheu e os enviou para serem seus principais parceiros no grande mutirão em favor da vida, assumindo na Páscoa e dinamizado pelo dom do Espírito Santo.
            Esta é uma celebração antiquíssima. Existia antes da festa do Natal. Ela ajuda a nos achegarmos à fonte da vida cristã, ou seja, à Palavra de Deus e à Eucaristia que eles viveram intensamente e que nós estamos para celebrar no espírito de Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia! A Conversão Pastoral da Paróquia (Documentos da CNBB 100).
            Diferentes no temperamento e na formação religiosa, exercendo atividades diversas e em campos distintos, chegaram várias vezes, a desentender-se. Mas o amor a Cristo, a paixão pelo seu projeto, a força da fidelidade e a coragem do testemunho os uniram na vida e no martírio, acontecido em Roma sob o imperador Nero (54-68 D.C). Pedro foi crucificado e Paulo, decapitado.
            Ao celebrar a Páscoa dos dois grandes apóstolos, a Igreja lembra que em todas as comunidades estão presentes os fundamentos da missão evangelizadora: a vida eclesial, com sua dinâmica de comunhão e participação, e sua ação transformadora no mundo.
            No testemunho de Pedro e Paulo, temos duas dimensões diferentes e complementares da missão, como seguidores de Jesus. Apesar de divergirem em pontos de vista e na visão do mundo, o amor de Cristo e a força do testemunho os uniram na vida e no martírio. Neles, quer na vida, quer no martírio, prolongam-se a vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. Conheceram e experimentaram Jesus de formas diferentes, mas é único e idêntico o testemunho que, corajosos, deram dele.
            Por isso, são figuras típicas da vida cristã, com suas fraquezas e forças. As contínuas prisões de Pedro fazem-no prolongar a paixão de Jesus. Não só aceita um Messias que dá a vida, mas morre por Ele e com Ele. Convertido, Paulo se torna propagador do Evangelho de Cristo, sofrendo como Ele sofreu, encarando a morte como Jesus a encarou.
            A comunidade, alicerçada no testemunho de Pedro e Paulo, nasce do reconhecimento de quem é Jesus. Esse reconhecimento não é fruto de especulação ou de teorias, e sim de vivência do seu projeto que passa pela rejeição, crucifixão, morte e ressurreição.
            Quando o testemunho cristão é pleno, o próprio Jesus age na comunidade, permitindo-lhe “ligar e desligar”. O poder que Jesus tem, as chaves do Reino, é entregue a nós, seus seguidores. A comunidade não é dona, apenas administra esse poder pelo testemunho e pelo serviço em favor da vida. Organiza-se como continuadora do projeto de Deus, a partir da prática do mestre, promove a vida e rejeita tudo o que provoca a morte.
            Jesus de Nazaré é para nós o mártir supremo, a testemunha fiel... Os mártires da caminhada resistiram ao poder da morte e ao aparato repressor: “A memória subversiva de tantos mártires será o alimento forte da nossa espiritualidade, da vitalidade de nossas comunidades, da dinâmica do movimento popular”.
            “Vidas pela vida, vidas pelo Reino! Todas as nossas vidas, como as suas vidas, como a vida dele, o mártir Jesus!”.
            Animados pelo testemunho de Pedro e Paulo, vamos ao encontro do Senhor que dá razão e sentido à nossa vida. Acolhendo sua Palavra, renovamos nossa adesão a Cristo e ao seu projeto.
            Professamos com alegria nossa fé na Igreja una, santa, católica, apostólica, aberta à comunhão universal e visceralmente missionária e proclamada da vida digna para todos.
            Participando a Eucaristia, somos identificados com Cristo e confirmados no seu caminho, para sermos disponíveis aos nossos irmãos e irmãs, até a morte, como marcas da identidade cristã.
            Hoje rezamos especialmente pelo Papa Francisco, Bispo de Roma, cidade onde se deu o martírio de Pedro e Paulo. A missão do Papa é zelar para que a Igreja permaneça unida, fiel a Jesus Cristo e ao seu projeto, realize com humildade e coragem o anúncio do Evangelho, cada vez mais inculturado, profético e aberto a todos.
            Supliquemos para que o Papa e todos os pastores sejam pétrus nas mãos do Senhor, fiéis ao Evangelho na condução da Igreja como servidora da vida, como sinal e instrumento da comunhão entre os povos.
            Com facilidade emitimos opiniões errôneas, quando não medíocres em relação à autoridade e ao serviço do Santo Padre, o Papa! Talvez a celebração de hoje seja uma oportunidade de remissão, conversão e renovação de nossa fidelidade ao sucessor de Pedro, o Papa Francisco. Frequentemente me pergunto: quem sou eu para emitir qualquer crítica, desrespeitar ou até mesmo questionar a autoridade = serviço do Papa? Homem que se despe totalmente de si mesmo. Deixa para trás até o próprio nome e toda sua liberdade, para estar totalmente a serviço da Igreja de Jesus Cristo que lhe é confiada ao coração, colocada nos ombros, como a ovelha debruçada sobre o Bom Pastor. Só o fato do sim do Papa já basta para que mereça o carinho, a ternura, a fidelidade de todo cristão, que debruça sua fé sobre o evento da “confirmação de Pedro”, continuado em nossos dias na pessoa totalmente a serviço do Reino de Deus, o amado Santo Padre o Papa Francisco. Somos, também, convidados a rezar por nosso Papa Emérito Bento XVI, que se retirou e a exemplo de João Batista, deu lugar a alguém com maior vigor, mais saúde e menos idade, a fim de conduzir não a própria, mas a Igreja amada de Jesus Cristo, da qual todos somos filhos queridos. E seu Sucessor, o Papa Francisco, é eleito como o PAPA DA TERNURA!
            Nesta solenidade, a Igreja do mundo inteiro, realiza a Coleta do Óbolo de São Pedro. Com esta coleta o Papa socorre a humanidade em suas necessidades, especialmente em situações emergenciais, em nome dos Católicos do mundo. O resultado das Coletas realizadas em todas as Celebrações deste domingo deverá ser remetido à Cúria, que dará seu verdadeiro destino, fazendo-o chegar aos cuidados do Vaticano. Por vezes há resistência à Coleta do Óbolo de São Pedro por pura ignorância. Nem sempre as pessoas conhecem o bem que fazem, sendo generosas. Todos que se sentem dignos de serem cristãos, são conclamados a partilharem de sua pobreza em favor de quem tem menos. Pois é em nome da Igreja Católica Apostólica Romana, que o Santo Padre socorre nossos irmãos que são vitimadas pela fome, pela miséria, por catástrofes, como terremotos, enchentes e tantas outras ocasiões. Sejamos sensíveis e coerentes entre o que celebramos, pregamos e doamos.
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel.

Padre Gilberto Kasper
(Ler At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8,17-18 e Mt 16,13-19)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2018, pp. 19-22 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Julho de 2018), pp. 36-41.


quarta-feira, 20 de junho de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


             O Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum cede lugar à Solenidade da Natividade de São João Batista, tamanha sua importância na História da Salvação. Além de Jesus Cristo e Maria Santíssima, João Batista é o único santo que tem celebrado no Calendário Litúrgico, seu nascimento, enquanto os demais são lembrados no dia de sua páscoa natural ou na data de seu martírio! A Igreja celebra também sua Vigília, preparando-se para celebrar o precursor, a luz que haverá de preparar os caminhos e abrir as cortinas para a estreia do verdadeiro Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo, Jesus, o Messias! Com João, o que batiza um Batismo de Conversão, nos deparamos com o encontro do Antigo com Novo Testamento. Com João Batista, o último e principal dos Profetas acontece o enlace da Antiga com a Nova Aliança; a maior compreensão do pacto de Fidelidade de Deus para com a Humanidade! Ressalta a “teimosia” de Deus em amar, apaixonadamente, sua Criatura predileta: a Pessoa!
            São João Batista é importante para os cristãos. Santo muito querido e estimado pelo povo brasileiro. Em todas as regiões, principalmente do norte e nordeste, existem as festas tradicionais de São João, celebradas com alegria, muita comida e bebida, danças e trajes típicos, à luz da tradicional fogueira de São João. Estas festas ocupam lugar de destaque no calendário popular.
            A Igreja, já no século VI, reservou o dia 24 de junho para comemorar o nascimento de São João Batista. Santo Agostinho escreve: “A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente. Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma explicação... João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o Antigo e o Novo. O próprio Senhor diz: ‘A lei e os profetas até João Batista(Lc 16,16)... Antes mesmo de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele” (Ofício das Leituras, in Liturgia das Horas).
            Jesus o declara o maior de todos os profetas. Homem simples, austero, corajoso, apontou o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29-36). Deu testemunho da luz, aplainou os caminhos e preparou o povo para acolher o Salvador. Antes que Jesus chegasse, pregou um batismo de conversão.
            A celebração do seu nascimento nos associa à alegria de Isabel, de Zacarias e dos vizinhos, porque Deus se lembra de nós, indica os caminhos da salvação e aponta os horizontes da liberdade.
            A Palavra anunciada nos conduz para dentro da verdadeira Luz de todos os povos, o Salvador, do qual nem merecemos desamarrar as sandálias. Celebramos, acima de tudo, o mistério daquele que se fez o menor no reino de Deus, e, por isso, é o maior: Jesus.
            As leituras bíblicas apresentam a vida e a missão de João Batista à luz dos grandes profetas antigos e de Jesus Cristo, o Messias esperado. Como diz Santo Agostinho, João representa a passagem do Primeiro para o Segundo Testamento. Ele recebe a missão de profeta, assume a vida de asceta, e é chamado de batista. Pelo batismo, nós também recebemos a missão de profetizar e de denunciar, como João, a injustiça, a mentira e a opressão.
            Celebrar o nascimento de João é experimentar, como Isabel, Zacarias e os vizinhos, a manifestação da bondade de Deus, que transforma e fecunda a vida. É fazer a experiência da fé e da esperança no Deus misericordioso e compassivo, que ouve nosso clamor e nos socorre em meio aos sofrimentos e às aflições. É sentir que Deus continua soltando nossa língua para que tenhamos a coragem de vencer o medo e proclamar a justiça e a libertação. Como João Batista, possamos ser sinais proféticos de esperança, para anunciar o caminho da salvação e testemunhar Jesus Cristo, a luz que ilumina e liberta todos os povos.
            O jeito despojado de João Batista viver, entregue ao serviço de Deus, na gratuidade, é testemunho de vida, apelo à conversão. Jesus o elogia, dizendo que “entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (7,28). [...] Eis um dos maiores elogios aos cristãos comprometidos com o Reino de Deus, que é um Reino de Amor, Justiça, Verdade, Liberdade e Paz. Envolve-nos na esperança de sermos reconhecidos no Reino de Deus pelo esforço que empreendermos por promover desde já maior dignidade humana, começando ainda hoje o céu na terra... Como mostra também o Servo, na primeira leitura deste domingo, João é modelo de vida por causa de sua entrega total ao Reino. Que o Senhor nos dê a graça de viver conforme sua Palavra e testemunhar a Boa Notícia do Reino, o “Sol nascente que vem nos visitar” (1,78). Precisamos de testemunhos proféticos, como João Batista, capazes de denunciar a corrupção, as injustiças e de conduzir o povo para Deus para criar um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
            O grande convite da Solenidade da Natividade de João Batista a todos nós, é à humildade vivida por ele. Saber dar lugar, retirar-se e deixar Cristo aparecer. Nem sempre é fácil tal atitude. Costumamos, devido nossas carências e limites, plantar com entusiasmo, regar e cultivar com zelo, mas queremos também saborear os frutos. Não parece ser assim na Igreja de Jesus Cristo. Nela, uns plantam, outros regam, ainda outros deveriam cultivar e zelar o plantado pelos que passaram e somente outros que virão posteriormente, é que usufruirão dos frutos. Tal Igreja, discípula e missionária do Senhor, só é configurada com Cristo, se conseguir agir assim. Do contrário corremos o risco de desfigurá-la, apossar-nos dela e isso, geralmente, termina em desastre eclesiológico e pastoral.
            Sejamos a exemplo de São João Batista, Comunidades simples, descomplicadas, acolhedoras, amorosas e cheias de ternura, porém sem ter medo de corajosa e ousadamente perdemos nossa cabeça = a própria vida por conta da coerência do Evangelho anunciado e vivido no hodierno de nossas relações, sobretudo nos serviços que prestamos, sempre gratuitamente neste mundo tão vazio de Deus!

            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço,

Padre Gilberto Kasper

(Ler: Is 49,1-6; Sl 138(139); At 13,22-26 e Lc 1,57-66.80)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Junho de 2018, pp. 85-88 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Junho de 2018), pp. 31-35.
           


quarta-feira, 13 de junho de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


A Palavra do Senhor do Décimo Primeiro Domingo Comum nos fortalece. Ajuda-nos a descobrir as pequenas manifestações de sua presença entre nós. O crescimento do Reino ultrapassa nossas fragilidades e não se baseia na eficiência das organizações e dos inúmeros programas bem elaborados. Está intimamente ligado à escuta atenta da Palavra de Deus, à confiança em sua graça e ao confronto frequente com o Evangelho, na humildade e na oração.
            E, qual insignificante semente lançada pela iniciativa gratuita de Deus, o Reino aguarda nosso empenho laborioso, movido pela sua graça, para atingir seu crescimento em nós e na humanidade.
            Uma alegria nos acompanha e nos invade: a semente da Palavra, a força do crescimento do Reino mora em nós, cresce na comunidade e já produz tantos frutos. Continua o milagre da multiplicação dos pães e nos leva a bendizer a Deus e a nos alegrarmos com a realização do seu Reino.
            A Palavra nos incentiva à fé na ação de Deus na história. Ela torna a história prenhe de sentido, grávida do Reino, aberta a toda a humanidade. Chama-nos à esperança no processo lento do crescimento da semente e do broto do Reino, frágeis e pequenos, mas resistentes pela ação constante de Deus.
            O Reinado de Deus não crescerá pelo esforço humano nem se desenvolverá com força e violência; seu desenvolvimento é misterioso como o crescimento da semente plantada no silêncio da terra. Exige esperança e paciência, como acontece com quem prepara a terra e planta, pois a vitalidade, a capacidade de crescer se encerra na semente, embora cultivemos, plantemos e cuidemos do terreno. O poder escondido e misterioso da vida acontecerá a seu ritmo. Foi Deus quem inseriu a força vital e é Ele que continua agindo na semente. É Deus quem faz crescer o Reino (cf. Tg 5,7; 1 Cor 3,6-7).
            Ele foi plantado na terra pela encarnação, vida e ação de Jesus Cristo. Ele crescerá em direção ao projeto indestrutível de Deus. O acontecimento “Jesus” jamais será apagado da história. Essas são a fé e a esperança inquebrantáveis. Muitos homens, mulheres e seus projetos podem recusar a realidade trazida por Jesus de Nazaré, mas não serão capazes de destruí-la jamais! (O que não é de Deus cai, um dia cai...)
            Jesus de Nazaré e seu projeto são sementes de mostarda, pequenas, mas fecundas. Ele é o novo ramo de cedros; é a árvore frondosa, nascida de pequena semente verde, e onde todos podem se abrigar, principalmente os pobres e marginalizados.
            Nossa esperança não é risco, mas uma certeza. Jesus é o Senhor da história e de sua meta final, mesmo que os projetos dos grandes e opressores da terra teimem em desmentir essa verdade esperançosa. A luta da comunidade cristã para a transformação do mundo não é medida pelos êxitos e fracassos, mas pela confiança com que adere ao Senhor e caminha aos seus passos.
            A Palavra de Deus nos desliga da ideologia de um reino ostensivo, de uma religião triunfalista, que se anuncia com ufanismo, grandeza visível e numérica. Mas nos convida a nos dedicar à missão e ao serviço na comunidade que cresce organicamente, a partir do que é pequeno e, às vezes, até invisível ao mundo.
            Costumamos fazer comparações. Comparamos quem é melhor, mais eficiente e medimos a eficiência pelo tamanho e suntuosidade de nossos Templos (Espaços Celebrativos), Obras faraônicas; Resultados de Promoções como Quermesses; Quantidades de Diplomas de nossos Ministros Ordenados e até a quantidade de espectadores, que chamamos de fiéis assistindo a espetáculos que dizemos serem evangelizadores. Barulho espetaculoso e multidão não medem a configuração de um Pastor verdadeiramente eficiente, porque configurado com Cristo, que preferiu a discrição, “pois a semente germina no silêncio da terra e faz crescer o Reino na vida e na história das pessoas”.
            Gosto muito do discurso de Jesus, quando dá graças a Deus: “Eu te dou graças, ó Pai, Senhor do céu e da terra, pois escondeste estas coisas aos sábios e as revelaste aos humildes” (Mt 11,25). Não poucas vezes tentamos garantir a posse do prestígio, fazendo mais barulho do que plantando no coração das pessoas a semente da Palavra de Deus!  Tornamo-nos tão ocupados com grandes eventos, que deixamos de lado os preferidos do Reino de Deus: os humildes, os enfermos, os pobres, os que vivem em situações constrangedoras ou pessoas que chamamos de irregulares, enfim, os que não nos garantem fama!
            Geralmente sabemos o quanto arrecadamos em nossas promoções, quantas obras materiais realizamos e quantas placas inaugurais existem (com nossos nomes) em nossos espaços. Saberíamos quantas Missas, quantos batizados, quantas absolvições e unções dos enfermos celebramos bem? Muitos se tornam tão ocupados e até mesmo famosos, logo, tão inacessíveis como políticos e autoridades que ocupam altos postos, cargos e funções. Outros agendam atendimento de pessoas como são agendados exames de nossos Convênios Médicos, hoje tão demorados quanto demorado é o atendimento da Saúde Pública. Sem esquecer, que para alguns poucos falarem com os “configurados com Cristo” que insistiu na humildade e no serviço (quem quiser ser o maior entre vós, seja aquele que serve) distribuem senhas. Para ir à Casa do Pai, o Templo; ser acolhido pela Mãe, a Igreja, precisamos de senhas? Entregamos a chave do Sacrário a muita gente, enquanto que a do cofre só fica em nosso bolso. Quem nos elogia, torna-se Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão Eucarística, enquanto quem nos questiona é convidado a deixar o Conselho Administrativo, pois se torna uma ameaça aos nossos gastos nem sempre tão sóbrios e justos.
            Ética, Conversão, Coerência e Bom Senso são apelos fundamentais para nós Ministros Ordenados e nossas Comunidades, neste domingo! Do contrário fica até difícil cumprir nossa missão profética. Como denunciar o mau uso do bem comum, se em nossas Comunidades não é diferente? Não deixemos as sementes da bondade, humildade, verdade e justiça mofarem no silêncio de nosso subsolo: a consciência de simples e pequenos servos! Sejam nossos bustos e placas de honra, enfermos ungidos, penitentes absolvidos, enlutados consolados, povo acolhido e alimentado espiritual e materialmente! Não nos escondamos dos que buscam a sombra da árvore frondosa, pois a semente de nossa vocação ao serviço gratuito, sem esperar recompensa e nem reconhecimento de quem quer que seja já deve ter virado broto, crescido e ser bálsamo para quem busca em nosso Ministério e Comunidades, nova esperança e sentido de vida Cristã!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Ez 17,22-24; Sl 91(92); 2 Cor 5,6-10 e Mc 4,26-34)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Junho de 2018, pp. 61-64 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Junho de 2018), pp. 27-30.

FESTA DE SANTO ANTONINHO, PÃO DOS POBRES!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com


Há muitas versões, estórias e lendas sobre Santo Antônio, Presbítero e Doutor da Igreja, chamado por nossa Reitoria, carinhosamente de Santo Antoninho, Pão dos Pobres! Trata-se da mesma pessoa, venerada de modos diferentes nos diferentes lugares onde nasceu, passou e morreu. 

Santo Antônio recebe dois títulos reconhecidos mundialmente: Santo Antônio de Lisboa (porque nasceu em Lisboa) e Santo Antônio de Pádua (porque foi em Pádua que exerceu seu ministério de exímio pregador e lugar onde morreu). Há muitas lendas em torno da vida e do exercício ministerial de Santo Antônio, porém, o que é indiscutível, que foi um arauto do Evangelho, ousado e corajoso pregador, sobretudo contra as injustiças sociais. Pregava coerência entre palavra e vida! Enquanto as pessoas o deixavam falando sozinho, os peixes se aproximavam das margens do Oceano para ouvi-lo. Enormes cardumes o ouviam... É, também, invocado como o “Santo Casamenteiro e das Coisas Perdidas”.

 Nós o chamamos de Santo Antoninho, Pão dos Pobres. Enquanto Santo Antônio exercia os serviços humildes de cozinheiro nos Conventos dos Frades Franciscanos, por onde andou, distribuía pães aos pobres, escondido dos superiores. Os melhores pãezinhos ele reservava aos pobres da redondeza dos Conventos e os distribuía. Daí a Família Proença da Fonseca, vinda de Lisboa, dar-lhe o título de Santo Antoninho, Pão dos Pobres!

Após um Tríduo Preparatório, solenizamos neste dia 13 de Junho de 2018, em nosso Espaço Ecumênico Cultural de Espiritualidade, a Festa de nosso Padroeiro. São 115 anos evangelizando por uma fé madura! Celebramos a Missa com a Bênção dos Pães aos Pobres às 8 horas! O Tríduo neste ano consistiu na visita das Pastorais da Pessoa Idosa e dos Enfermos aos Doentes ou Idosos, que já não podem mais participar de nossas celebrações, para quem somos a Igreja do Ir!

Muitas são as razões de nossa gratidão, por tantas pessoas de boa vontade que nos ajudam a manter nossa Reitoria, cujos nomes colocamos sob a proteção de Santo Antoninho. Elencá-los, tomaria todo o espaço de nosso artigo, mas oferecemos todos no cálice precioso do Senhor, durante a Solene Missa! Sintam-se todos convidados a conhecer nossa modesta, mas acolhedora Igrejinha! Nossa ternura e profunda gratidão os aguardarão na Avenida Saudade, 202, nos Campos Elíseos de Ribeirão Preto, numa das Missas Dominicais: 8 e 10 horas. A presença de cada um enriquecerá nossa simplicidade, já que Partilhamos de nossa Pobreza!
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quarta-feira, 6 de junho de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos de Fé!

            A comunidade, a casa de Jesus, comprometida com o bem e a fraternidade, vive em tempos de ganância, violência, corrupção, impunidade, enfim, um rosário de coisas que fazem o povo sofrer. E, ainda, tantas vezes, é vítima de calúnias e suas lideranças são ameaçadas, perseguidas e até mortas violentamente.
            A Palavra de Deus do Décimo Domingo do Tempo Comum vem ao encontro das comunidades e as motiva a continuarem na luta e a melhorarem as condições de moradia, de emprego, de salários e de pão para todos. A Palavra ajuda a identificar os responsáveis por essa triste situação de fome, de injustiças, de violência e de agressão à vida. Deus mesmo não quer o mal e muito menos compactua com ele. Jesus veio para amarrar satanás e tirar do seu poder o povo explorado, injustiçado e sem dignidade e liberdade.
            Jesus constitui uma nova família com os que fazem a vontade de Deus e entram no seu projeto de vida, aceita viver a fraternidade, romper os padrões envelhecidos e carcomidos pelo tempo que não mais se colocam a serviço do bem comum da população: a nossa comunidade.
            Quem pratica o mal não se encontra mais no lugar que lhe foi designado e confiado na criação. Deus o procura e chama... E não o encontra. Onde estás? Está, portanto, fora do lugar, longe do projeto original e distante da bênção de Deus, que é vida e paz para todos. O local previsto e preparado por Deus não é o pecado, o orgulho e a dominação, que distanciam os homens uns dos outros. Os que pecam se sentem nus, como os escravos, despojados da liberdade e da dignidade humana.
            Ao se deixar conduzir pelo egoísmo, o homem destrói a si mesmo e abala a ordem da natureza, que se revolta, perde a fertilidade, chama catástrofes, produz cardos e espinhos...
            A verdade continua a mesma: quem julga poder proclamar sua independência diante de Deus, quem pretende construir seu próprio mundo, quem se isola em seu egoísmo não considera Deus como seu amigo, mas como um adversário a ser temido, evitado, mantido à distância. Ouvi o barulho dos teus passos no jardim e tive medo: ou seja, a presença de Deus incomoda, coloca ruídos na consciência e atrapalha o sossego do paraíso. Deus criou os homens para se ajudarem. O pecado, ao contrário, os desune, os afasta uns dos outros e os torna inimigos.
            Colocados, neste domingo, frente a frente ao Evangelho, concluímos como é importante cada um descobrir e assumir a sua missão, contribuindo com a sua parte na construção de uma nova sociedade, que é a família de Jesus, cujo espelho é a comunidade litúrgica, a verdadeira mãe e irmã do Senhor, onde se cultiva o bem, se vive a fraternidade, se partilha os bens e se luta para melhorar a qualidade de vida de todos e para todos. Essa convicção da missão ajudará a sair do comodismo, a vencer críticas e superar todo tipo de dificuldades.
            O grande convite da Palavra de Deus proclamada neste Décimo Domingo do Tempo Comum é a retomada de nossa identidade, como criaturas prediletas e amados de um Criador louco de amor por nós. Afogados no consumismo, no egoísmo, no individualismo e no hedonismo de nosso tempo, somos desafiados a testemunhar uma comunidade humana mais configurada com nosso Criador. Jesus é nossa referência: ele nos deixa a receita aparentemente simples, mas que no hodierno de nossas relações nos desafia: o amor gratuito! Com quanta facilidade dividimos, mentimos, enganamos a nós mesmos e aos outros. Gosto de dizer que não existem pessoas feias, mas têm as se tornam feias pelas atitudes de egoísmo e de indiferença para com os que mais precisam de nosso testemunho, de nossa solicitude, nem sempre à disposição de quem está próximo e muito menos de quem não conhecemos, mas sofrem.
            Celebramos no mês de Junho, inúmeras festas: as Festas Juninas, que ressaltam os três Santos mais comemorados: Santo Antônio, São João e São Pedro; o 110º Aniversário de Criação de nossa Diocese e sua Elevação à Arquidiocese; o Aniversário de nossa Cidade, as celebrações do Sagrado Coração de Jesus e Coração Imaculado de Maria. Incontáveis são as Quermesses e Comemorações com fins lucrativos. São, também, incontáveis as Celebrações que se utilizam da Liturgia, para explorar a dimensão psico-emocional das pessoas. Muito barulho, muito “desopilar de fígado” e pouco compromisso com a promoção da dignidade de nossos irmãos em dificuldade. A missionariedade e o discipulado de nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor esperam de cada um, compromisso concreto de conversão, coerência entre o que rezamos, cantamos, celebramos e vivemos! Enquanto não assumirmos uma Teologia da Ternura, pouco faremos para que nossa cultura de morte se transforme em verdadeira Cultura de Vida!
            Iniciamos, neste domingo, a preparação da Celebração do Padroeiro de nosso Espaço Cultural de Espiritualidade, Santo Antoninho. Nossa festa será a liturgia bem celebrada, a bênção e distribuição de pães aos nossos irmãos menos favorecidos e a visita sacerdotal às pérolas de nossa Reitoria: os enfermos e os idosos, que já não conseguem celebrar conosco em nossa Igrejinha, neste dia 13 de Junho. Assim seremos para eles A Igreja do Ir, levando-lhes o alimento sacramental: o Viático – Jesus em Viagem, o pão bento, nossa ternura, carinho e gratidão pela vida que dedicaram, enquanto puderam, à nossa amada Santo Antoninho!
Desejando-lhes abundantes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Gn 3,9-15; Sl 129 (130); 2 Cor 4,13-5,1 e Mc 3,20-35)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Junho de 2018, pp. 41-44 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Junho 2018), pp. 23-27.