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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

RELACIONAMENTO HUMANO DIGNO!

 

O Relacionamento Humano Digno, sem dúvida, passa por uma profunda crise. Animalizou-se o “Humano”, remetendo a pessoa a um egoísmo ímpar.  Penso que deveríamos fazer algumas releituras: precisamos reler o Estatuto da Criança e do Adolescente, que na minha modesta opinião é aplicado erroneamente. Precisamos reler a educação precária oferecida às crianças, aos adolescentes e jovens de nosso País. Precisamos reler a possibilidade de pré-adolescentes poderem exercer algum trabalho antes dos 16 anos de idade, ao invés de tentar reduzir a “Maioridade Penal”, engaiolando adolescentes em penitenciárias indecentes e desumanas, que jamais re-socializam pessoas, antes alvoroçam ainda mais o instinto animal dos amontoados de detentos, ociosos, sem nada para fazer e sem as mínimas condições de repensarem suas vidas. E não por último, é urgente que o Estado assuma sua fragilidade, sua incapacidade, seu descaso e seu covarde modo de tratar os cidadãos, sem o mínimo de dignidade.

           Por que não utilizar os bilhões de reais desviados, e que ainda não foram devolvidos aos cofres públicos, para repensar o Sistema Penitenciário de nosso rico Brasil? Se nas Penitenciárias houvesse Fábricas, Oficinas e Escolas eficientes, os detentos trabalhariam e aprenderiam algum ofício, durante o cumprimento de suas penas. Ao invés de obrigar os brasileiros a contribuírem com o “Auxílio Penitenciário”, cada detento honradamente sustentaria sua família, pagaria suas despesas, enquanto presos, que não são pequenas, e ainda teriam uma poupança, quando de volta à sociedade, certamente melhores do que entraram. Isso é possível, porque conheço Penitenciárias européias que o fazem. Em Novo Hamburgo (RS) onde cresci havia uma Fábrica de Calçados na Penitenciária e todos aprendiam a fazer sapatos e saiam com emprego garantido. Hoje há tantas maneiras de profissionalizar ao invés de animalizar as pessoas. Saem discriminados e a única alternativa é voltar ao crime!

           Comecei a trabalhar aos 10 anos de idade. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Ao contrário do que afirmam alguns demagogos idealistas, não fiquei traumatizado por isso. Foi uma honra para mim, poder contribuir com a manutenção da sobrevivência de minha família, sempre muito pobre, mas feliz e agradecida a Deus pela saúde e pelas oportunidades que nos eram proporcionadas. Aliás, meus irmãos e eu tivemos o privilégio de estudar os primeiros cinco anos do Ensino Fundamental, na época chamado de Primário, numa Escola particular de Religiosas. As Irmãs não nos cobravam as mensalidades. Em troca da gratuidade, nós três limpávamos as salas de aula todos os dias e aos sábados fazíamos uma limpeza geral. Eu só tinha cinco anos de idade. Enquanto nossos colegas pagantes iam almoçar, nós ficávamos para a limpeza da Escola. Depois as Irmãs nos ofereciam um saboroso almoço. Tal “permuta” seria hoje um escândalo. Mas preciso admitir, que para mim e meus irmãos, a medida foi construtiva e nos ajuda até os dias de hoje a sermos agradecidos por tudo que de graça recebemos, até mesmo os desafios e as dificuldades econômicas pelas quais sempre passamos. Não somos melhores do que ninguém e somos portadores de muitas fragilidades e defeitos humanos, mas fomos educados a um exemplar Relacionamento Humano Digno com quem quer que convivamos!

Pe. Gilberto Kasper - Teólogo



quarta-feira, 18 de outubro de 2023

REFORMINHA ELEITORAL!

 

A Câmara dos Deputados aprovou apressadamente o Projeto de Lei (PL) 4438/23 e o enviou ao Senado Federal, suplicando que a lei seja sancionada até o dia 6 de outubro passado, a fim de valer já para as eleições para Prefeitos e Vereadores em 2024. Na verdade, trata-se de uma reforminha eleitoral, que só beneficia os partidos políticos, sem contemplar o povo, que em última análise é quem escolhe esses que tão frequentemente legislam em proveito próprio. O Senado, mais equilibrado, devolveu o Projeto de Lei da Reforminha Eleitoral à Câmara, e expirado o prazo, não valerá para as eleições de Prefeitos e Vereadores do próximo ano.

Sempre afirmo que o número de partidos em nosso País é excessivo. Quanto maior o número de partidos políticos, mais partida a Nação fica. Partido parte ao invés de unir. E essa reforminha política é um verdadeiro retrocesso no combate à corrupção eleitoral e sobretudo na própria lei complementar nº 135 de 2010, a chamada lei da Ficha Limpa.

Não vou pormenorizar as “falcatruas” desse Projeto de Lei, apenas gostaria de frisar o intuito da maioria dos nobres Deputados Federais e também de alguns Senadores da República, de obter a tal da anistia eleitoral. Isto é, sejam perdoadas as multas dos crimes eleitorais cometidos nas eleições passadas e até o presente ainda não pagas, pelos partidos políticos. Aliás, parece-me que uma cultura de não pagar multas e penas de sentenças transitadas e julgadas, se agasalha no nem sempre justo foro privilegiado de uma maioria de políticos corruptos, mentirosos, enganadores de seus eleitores, e que fazem da política um meio de enriquecimento ilícito, ao invés de servir à Nação da qual acham que podem se apropriar. Enquanto isso o Sistema Prisional lota as penitenciárias de números desumanos de pessoas praticamente anônimas. Parece que é preciso roubar muito para não ser preso. Os pequenos ladrões, por vezes até para levar comida para os filhos, ficam amontoados em prisões selvagens por anos, sem um julgamento justo e célere.

Todos se utilizam das malfadadas “narrativas”, de que respeitam e não saem das quatro linhas da Constituição. Todos afirmam ser a favor da Democracia, embora cada um tenha sua própria hermenêutica do que realmente é um País Democrático. Dizem que a lei vale para todos, mas quem possui algum cargo ou função, parece ser mais bonitinho, usando gel nos cabelos e vestindo ternos com gravatas, cometem infrações, as mais bizarras e até cometem crimes horrendos, e andam soltos, usufruindo e ostentando vida cheia de esbanjamentos de verbas públicas, provenientes dos altos impostos pagos pelos verdadeiros patriotas brasileiros, o povo trabalhador de sol a sol.

As CPMI (Comissões Parlamentares Mistas de Inquéritos) são outra “nojeira”, porque os parlamentares se servem delas para suas propagandas eleitorais, ensimesmados, contaminando as Redes Sociais com seus discursos totalmente vazios de sentido e pior, de mentiras tão contundentes, que só não vê quem não quer! Alguns não sabem nem mesmo ler o que seus assessores escrevem, como discursos baratos e sem fundamentos sérios, mais parecendo um picadeiro de circo, onde o partidarismo se agride com linguagem nem um pouco republicana.

Parece briga de moleques em campinho de futebol, a disputa entre os Poderes Constituídos, especialmente entre Legislativo e Judiciário. Mesmo assim afirmam que as Instituições estão sólidas e inabaláveis. Será mesmo?

A responsabilidade sobre os homens e as mulheres que escrevem as leis a serem cumpridas por todos os cidadãos da Nação é nossa. A cultura do “toma lá, dá cá”, infelizmente ainda nos acompanha na hora do voto, que deveria ser secreto, livre e consciente. Enquanto nos deixarmos enganar pelas Fake News (Notícias Falsas) que continuam dominando as Redes Sociais, e não nos dermos o trabalho de conhecer bem a fundo os candidatos a qualquer serviço público, precisaremos pagar o ônus dos que nos governam e se nos impõem leis que nem sempre beneficiam o povo, talvez antes os próprios homens públicos em suas ambições. Por isso é preciso que nos esforcemos para sermos de verdade pessoas mais politizadas e menos politiqueiros!

Pe. Gilberto Kasper - Teólogo



quarta-feira, 4 de outubro de 2023

ANIVERSÁRIO DE MINHA PRIMEIRA COMUNHÃO!

 

A preparação da minha primeira comunhão ocorreu durante a primeira série do Primário cursada no Colégio Sagrado Coração de Jesus em Novo Hamburgo (RS). A Irmã Neófita da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria, proprietárias da Escola, foi minha Catequista. Os pais inscreviam seus filhos na Catequese no ato da matrícula. Foram meses de intensa preparação até um dos dias mais felizes de minha vida, que coincidiu com a Memória de São Francisco de Assis, omitida naquele ano de 1964 por ser o dia 4 de outubro um domingo. Portanto, hoje é o 59º aniversário de minha Primeira Comunhão. E hoje em Roma também acontece a Abertura do XVIº Sínodo dos Bispos com o tema: “Por uma Igreja Sinodal de Comunhão, Participação e Missão”! Um forte apelo de nosso amado Papa Francisco para “caminhar juntos” como essa tão sonhada “Igreja em Saída”!

Em pleno Concílio Ecumênico Vaticano II a Irmã Neófita nos preparou com zelo e profunda dedicação. Muito séria e enérgica teve o cuidado de orientar-nos bem para nossa primeira confissão. Insistia de que o Sacramento da Reconciliação não poderia passar despercebido durante a semana de ensaios para a Missa da Primeira Comunhão, essa última, geralmente mais solene em relação à Primeira Confissão. Agendou a tomada do Ato de Contrição individualmente. Deixou-me de recuperação porque entre o mais longo e o mais breve, decorei o mais breve. Em três dias fui obrigado a decorar o Ato de Contrição mais longo. Graças a Deus fui então aprovado!

Outro problema carecia de solução. Os meninos se vestiam de terno azul marinho, camisa branca com gravatinha “borboleta”, sapatos pretos e meias brancas. As meninas mais pareciam pequenas “noivinhas” com véu e tudo. Meu irmão mais velho tinha suas vestes garantidas. Já eu não. Nunca vestira terno e nem sapatos pretos. Minha avó paterna jogava no Bicho. Rezamos e ela ganhou um prêmio na cabeça. Conseguiu comprar-me um terno, só que cinza. Tingindo-o com anil ficou aproximadamente azul marinho.

Os dias que antecederam o domingo da minha primeira comunhão pareciam demasiados longos. Contava as horas e nem dormia direito, tamanha era minha alegria. A continência sugerida pelo Pároco após a primeira confissão era tão séria, que não pensava em outra coisa, a não ser como seria receber pela primeira vez Jesus Sacramentado, fazendo de meu coração, o porta-joias do Senhor. Não obstante a imposição de uma disciplina muito rígida, por parte das Irmãs envolvidas na preparação da minha primeira comunhão, desde o modo de andar na fila indiana juntamente com 122 coleguinhas, até a afinação dos cantos da Sagrada Liturgia, que foi um primor, minha alegria era indescritível. Nem a pobreza material de minha família impediu que todos participassem de um dos dias mais felizes de minha vida.

Após a minha primeira comunhão a Irmã Neófita andando de um lado a outro no corredor central da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus no Bairro Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS) incentivava-nos a fechar os olhos e a vivermos aquele momento único e tão feliz. Ela sugeriu que sentíssemos Jesus Sacramento em nós com as seguintes palavras: “Queridas crianças, procurem sentir Jesus na Hóstia Consagrada agora na vida de vocês. Procurem sentir para onde Jesus foi? Ele foi para o coração ou para o estômago? Se a Hóstia foi direto ao coraçãozinho de vocês, é porque o receberam pela primeira vez em estado de graça. Mas se foi ao estômago, é porque depois da primeira confissão, vocês cometeram ainda algum pecadinho. Sintam, crianças, para onde Jesus foi!”


É bem verdade que procuro saber até hoje para onde Jesus na Hóstia Santa foi: para meu coração ou para meu estômago. Independentemente à pedagogia da época, fica a certeza indiscutível: o dia da minha primeira comunhão foi o primeiro mais feliz de minha vida!

Pe. Gilberto Kasper

         Teólogo