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quarta-feira, 29 de abril de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO PASCAL


DOMINGO DO BOM PASTOR 





Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"Eu sou o bom pastor, diz o Senhor.
Eu conheço as minhas ovelhas
e elas me conhecem a mim" (Jo 10,14).

O Quarto Domingo do Tempo Pascal é também o Domingo do Bom Pastor, Jornada Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas!

Somos convidados, neste domingo, a reunir-nos em torno de Jesus, nosso pastor por excelência. Ele doou sua vida por nós e nos conhece a cada um. Sua presença manifesta-se também nos pastores que conduzem a Igreja na paz e na unidade.

O discurso de Pedro provoca conversão nos ouvintes (pastores e ovelhas) que dão sua adesão a Jesus. Pastor é quem passa pela porta que é o próprio Jesus e faz também o povo passar por ela, conduzindo-o ao Pai.

Jesus Cristo é o modelo de verdadeiro pastor, pois foi capaz de dar a vida pelos seus. O discurso de Pedro provoca conversão e entrada na comunidade mediante o batismo. Trilhando os passos de Jesus Cristo pastor, superamos a vingança e a violência. O Domingo do Bom Pastor é um grande convite a darmos graças pela abundância de vida que vem a nós por meio do sacrifício de Jesus, nosso pastor. Em sua mesa saciamos nossa fome e sede de felicidade plena.

Jesus é o pastor verdadeiro. Ele estabelece um relacionamento pessoal e de verdadeira comunhão com suas ovelhas.

Neste itinerário pascal, fizemos com as discípulas e os discípulos do Senhor a experiência de ver o Ressuscitado e de professor a fé nele.

A partir deste domingo os seguidores e seguidoras de Jesus vão assumindo a proposta de Jesus, dando continuidade a sua missão. A comunidade é chamada a enfrentar a perseguição e o sofrimento, a dar a sua vida, como fez Jesus.

Hoje, na certeza de que o Senhor é o Pastor das nossas vidas e que cuida de nós, somos convidados a renovar a nossa vocação batismal, que nos faz participantes da vida e da missão de Jesus.

Cristo ressuscitado é o Bom Pastor que nos conhece pelo nome e nos guia no caminho para Deus. Ele nos abriu a porta da vida através de sua entrega total por amor, que culminou na cruz. É necessário passar por Cristo, pelo seu projeto de libertação, para encontrar a vida em plenitude que procuramos. Nossas opções em favor da vida nos conduzem a Deus por meio de Cristo.

Quem passa através de Jesus e faz o rebanho passar por ele exerce uma autêntica missão pastoral. Somos chamados a testemunhar Jesus Cristo, indo ao encontro das pessoas, conduzindo-as através dele às fontes da vida. Irmãos, o que devemos fazer? Eis a pergunta que todos nós ouvintes do Evangelho devemos nos fazer. O exemplo de Jesus, o Bom Pastor, nos impele a doar a nossa vida para cuidar e defender o rebanho.

Com o salmista, proclamaremos que o Senhor é o nosso pastor, que nada nos falta a seu lado, pois ele nos propicia a plenitude dos bens da salvação. A comunhão com Cristo Pastor, a escuta de sua voz, de sua palavra, deve levar-nos ao amor e à compaixão pelo povo. “Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).

O Senhor que nos conhece profundamente, nos chama pelo nome para fazermos parte do seu rebanho. O Pastor nos reúne em seu amor, em comunidade. Entramos pela Porta que é o próprio Senhor.

Escutamos a sua voz que nos fala ao coração. Diferentemente de ladrões e assaltantes, Ele nos indica o caminho da vida, nos encaminha para águas repousantes e restaura as nossas forças.

Participamos da mesa que Ele nos prepara, mesa farta, dando-se em alimento: “Isto é o meu corpo dado por vós...”. Partilhando dessa mesa, tomamos parte de seu grande mistério de morte, ressurreição, na certeza de sua vinda final.

Restaurados nas mesas, onde o Senhor se oferece como alimento, fortalecidos por Jesus Cristo, renovamos nossa vocação batismal de sermos testemunhas eloquentes do seu Reino no mundo. Capazes de conhecer as pessoas pelo nome, carregá-las no ombro, curar suas feridas, ajudá-las a trilharem caminhos seguros....

Muitos foram os pronunciamentos dos nossos Bispos durante a sua 57ª Assembleia Geral em 2019. Todos foram unânimes na esperança por uma Igreja Evangelizadora e Missionária, configurada com Jesus Cristo, o Bom Pastor! Preocupados com a santidade dos pastores a serviço de uma Igreja simples, humilde, servidora e conhecedora de seu Rebanho! Há muitos modos de ser pastor e de evangelizar. Cada um colocando seus dons a serviço do Reino de Deus, conforme lhes foram concedidos gratuitamente. Mas há algo em comum que nunca poderá faltar em nosso pastoreio: Sermos todos configurados com Cristo, o Bom Pastor, que conhece suas ovelhas pelo nome, as ama, as acolhe, as compreende, as aceita como são, as perdoa e as traz de suas periferias existenciais às comunidades eclesiais!

Participemos todos do DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES! Além de unirmo-nos a esta belíssima iniciativa da Pastoral de Animação Vocacional, rezemos por Vocações santas, simples, puras, configuradas a Cristo, o Bom Pastor! Não esqueçamos o pronunciamento dos Bispos reunidos em Puebla na III Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe: "As Vocações (santas e não mercenárias) são a resposta de um Deus providente a uma Comunidade orante...".

Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler At 2,14.36-41; Sl 22(23); 1Pd 2,20-25 e Jo 10,1-10).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2020, pp. 23-26 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Pascal (Maio de 2020), pp. 46-51.



quarta-feira, 22 de abril de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO PASCAL


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


Celebrando o Terceiro Domingo do Tempo Pascal, aprendemos que o
 Senhor ressuscitado caminha conosco e nos convida a formar comunhão com ele ao redor do pão da vida. A páscoa de Jesus se realiza nos corações e comunidades que promovem a partilha e criam laços de comunhão e solidariedade. Pedro apresenta o modelo da pregação apostólica e nos diz que Jesus é aquele que nos conduz a Deus. Os discípulos de Emaús reconhecem o Senhor no momento da partilha do pão. O primeiro anúncio da pregação de Pedro foi a ressurreição de Jesus, como predisseram as Escrituras. O Ressuscitado caminha com a comunidade e se revela na partilha da palavra e do pão. Somos migrantes neste mundo, resgatados pelo sangue de Cristo.

A liturgia deste domingo indica o caminho para um verdadeiro encontro com Jesus ressuscitado, presente de modo especial nas Escrituras e no partir o pão. Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem ser compreendidas uma sem a outra: a Palavra de Deus faz-Se carne, sacramentalmente, no evento eucarístico. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta, por sua vez, ilumina e explica o Mistério Eucarístico.

Os discípulos reconhecem Jesus ao partir o pão, sinal de sua entrega total por amor. As reuniões das comunidades primitivas, onde a escuta da Palavra tinha um papel importante, culminavam com a fração do pão, a Eucaristia (cf. At 2,42.46). Agradecemos ao Senhor pela possibilidade de reconhecê-lo na palavra, na eucaristua, na comunidade dos irmãos na fé. Com os discípulos de Emaús, insistimos: “Fica conosco, Senhor”, caminha ao nosso lado, para que possamos repartir o pão e acolher todas as pessoas sem discriminação.

Após a morte de Jesus, a comunidade dos discípulos se dispersou por causa das desilusões, das adversidades. A compreensão do mistério pascal de Jesus, na perspectiva do desígnio do Pai: a salvação da humanidade abriu nova esperança de libertação para os discípulos. Assim, o encontro com o Ressuscitado desperta nos discípulos a disposição para reencontrar a comunidade e continuar a missão. Que o Senhor ressuscitado nos conserve reunidos em seu nome, em torno de sua proposta libertadora.

De Jerusalém a Emaús há uma distância de onze quilômetros. É justamente neste caminho que tudo começa. Até aí as coisas estavam ainda obscuras. As notícias da ressurreição corriam de boca em boca, mas até a tardinha daquele domingo, ninguém ainda vira o Ressuscitado, a não ser Maria de Magdala, a quem parecia não ser conferida muita credibilidade. Nem mesmo Pedro e João conseguiam compreender claramente as coisas: constataram, é verdade, o sepulcro vazio, mas o Cristo Ressuscitado só sabiam dos lábios de Maria, que levara a Boa Notícia da Ressurreição! O anúncio poderia ser, quem sabe, resultado das emoções vividas naqueles dias todos. Já no Caminho para Emaús acontece a segunda Missa: Jesus põe-se entre os dois desanimados e dribla os demais. É no desânimo, na desesperança, no cansaço, na desilusão que o Senhor aparece. Celebra caminhando com eles, a Liturgia da Palavra, explicando-lhes novamente as Escrituras, como que uma segunda chamada daquilo que aprenderam no Seminário de Jesus. O coração dos discípulos ardia enquanto Jesus falava. O convite de Emaús é fundamental para a segunda parte da Missa: "Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!" Jesus aceita o convite dos dois discípulos. Jesus sempre aceita nosso convite, quando lhe pedimos: "Fica conosco, Senhor!" Reconhecem-no ao agradecer, abençoar e partilhar o pão: eis a Liturgia Eucarística!

Gosto de pensar que os discípulos, felizes por terem reconhecido e estado com o Senhor, poderiam dar-se por satisfeitos e descansarem do longo trecho entre Jerusalém e Emaús. Geralmente é o que fazemos. Uma vez cumprido o preceito, Jesus comungado em Palavra e Eucaristia voltamos para nossos lares e continuamos quietinhos vivendo nossa vida. Certinha, é bem verdade, mas com Jesus escondido no sacrário de nosso coração. Não foi a atitude dos dois discípulos. Mesmo exaustos, não ficaram de pernas para o ar, descansados em casa, mas voltaram, correndo à Comunidade reunida em Jerusalém, onde houve a exclamação mútua: "Vimos o Senhor. Está vivo. Ressuscitou!" Eis o anúncio que a Igreja espera de cada um de nós. Não guardemos o Senhor Ressuscitado só para nós: anunciemo-lo por onde passarmos, também da porta do Tempo para fora.

Desejando a todos o carinho de nossas orações, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler At 2,14.22-33; Sl 15(16); 1Pd 1,17-21 e Lc 24,13-35).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp. 106-110 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo Pascal (Abril de 2020), pp. 40-45.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



            O Segundo Domingo do Tempo Pascal nos introduz no Tempo em que celebramos a ressurreição do Senhor, como único e grande dia, que se estende desde o Domingo da Páscoa ao domingo de Pentecostes. “Os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais ao Ano Litúrgico e Calendário Romano Geral, n. 22).
            Celebramos o domingo da Divina Misericórdia, instituído por São João Paulo II, canonizado ao lado de São João XXIII, O Papa Bom. Damos graças ao Senhor por tão amados intercessores junto de Deus, bem como por seu eterno amor por nós, disposto a nos perdoar, sempre que nosso coração arrependido volta-se para ele.  Escolhi como lema de minha Ordenação Presbiteral, a quinta Bem-aventurança do Sermão da Montanha de Jesus: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7), justamente porque não obstante meus incontáveis limites, o Senhor me quis Sacerdote, tamanha Sua Misericórdia por mim! Como Tomé, exclamamos maravilhados: “Meu Senhor e meu Deus”.  Desde criança aprendi que a profissão da fé de Tomé seria a ideal, cada vez que fizesse a genuflexão diante do Cristo Sacramentado, seja na Hóstia Consagrada exposta, seja escondida no Sacrário. Por isso, quando coloco o joelho direito no chão, em sinal de adoração ao Senhor presente no mistério de nossa Fé, a Eucaristia, digo com a poesia de meu coração: “Meu Senhor e meu Deus”. Também quando ergo Jesus transubstanciado de um pedacinho de pão em Seu Corpo e de um pouquinho de vinho no Seu precioso Sangue, meu coração remete aos meus lábios a mesma expressão: “Meu Senhor e meu Deus!”.
O primeiro encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos é marcado pela saudação feita por Ele: “A paz esteja convosco’” Por duas vezes o Ressuscitado deseja a paz a seus amigos. Em seguida, os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Buscar e construir a paz é missão dos seguidores do Ressuscitado, pois o Reino de Deus, anunciado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz. Reino de Justiça, Paz e Alegria como frutos do Espírito Santo. O Apóstolo, amigo de Jesus, ressalta que a paz, para ser autêntica, deve ser trazida pelo Cristo. Uma paz diferente da paz construída pelos tratados políticos. Paz (é shalom) significa integridade da pessoa diante de Deus e dos irmãos. Significa também uma vida plena, feliz e abundante. Paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da Paz” (Rm 15,33). Paz significa muito mais do que ausência de guerra. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo o necessário para viver, convivendo felizes.
            A comunidade, que abre suas portas, acolhe o Senhor e o segue é enviada pelo Espírito do Ressuscitado a testemunhar o amor do Pai, isto é, a prolongar, no curso dos tempos, a oferta da vida que, em Jesus, Deus fez à humanidade. O reino da vida que Cristo veio trazer é incompatível com as situações desumanas em que vivem mergulhados milhões de seres humanos. “Como discípulos e missionários, somos chamados a intensificar nossa resposta de fé e a anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade” (Documento de Aparecida, n. 134).
            O cristão isolado (ausente da comunidade) é vítima do egoísmo e exige provas para crer. É na vida da comunidade que encontramos as provas de Jesus que está vivo. Ser cristão, hoje, requer e significa pertencer a uma comunidade concreta, na qual se pode viver uma experiência permanente de discipulado e de comunhão. Por esta razão, a marca registrada deste Segundo Domingo da Páscoa é a , vivida em comunidade. É em comunidade que se realiza o encontro com o Ressuscitado e a experiência de uma vida nova.
            No tempo da Páscoa, a comunidade cristã tem a oportunidade de aprofundar o evento da salvação, cuja memória desponta de modo pungente na liturgia desse tempo.
            Convém chamar a atenção para o fato de que a vida nova não está isenta de dificuldades. O cristão não é tirado do mundo pelos sacramentos que celebra, mas situado nele de uma maneira especial: como comunidade que aponta e evoca uma realidade nova, mostrando aos demais que a salvação alcançada em Cristo se realiza e se prolonga naqueles que aderem a Ele (). Pela comunhão com os irmãos, pela promoção da justiça e da libertação, pelo cultivo de utopias e esperanças de vida e de inclusão, a comunidade dos fiéis torna-se sinal da Páscoa, sinal da vida nova que Deus quer e preparou para todos. É possível enumerar vários acontecimentos que confirmam a convivência entre a realidade e a realização da Páscoa e os fatos e situações que indicam a direção contrária: violência, medo, fome, miséria, desastres, corrupção e maldade de todo tipo. Contudo, o fiel é chamado a ver além e através dessas realidades: a vitória de Cristo sobre a morte é também vitória sobre o pecado do mundo e seus efeitos. Os males que atravessam a nossa existência se tornam para os que veem, pela fé, sinais da realidade maior e melhor.
            Em tempos de ofertas religiosas de mercado, os espetáculos e as manifestações milagreiras tendem a desenraizar a experiência de Deus. Valem as “curas”, os choros, os arrepios, as emoções movidas por supostas adivinhações ou “revelações” misteriosas. Ninguém olha para as próprias feridas e para as feridas alheias para reconhecer a vida secreta que nelas habita. Os obstáculos e desafios não servem mais para fortalecer e serem abraçados como cruz do discipulado. São evitados. Se aceita a indiferença, sem qualquer perspectiva de solidariedade, de profetismo, de luta em vista de uma transformação. A Páscoa nos convida para algo mais: para a luz que brilha na noite, para a palavra que recria, para vida que emerge das águas, para o pão que cria vida ao ser partido. A fé está enraizada na vida; na existência faz seu húmus. A ressurreição eleva aquilo que a encarnação assumiu.
            Acolhamos o dom da paz e do Espírito que nos constitui em artífices de relações novas, reconciliadas e fundadas na justiça e na misericórdia.
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9 e Jo 20,19-31).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp. 89-92 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Pascal (Abril de 2020), pp. 34-39.

MISERICORDIOSOS COMO O PAI!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Tereza de Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com


 Ser misericordiosos como o Pai é um desafio e ao mesmo tempo é nossa vocação, pois fomos criados para ser “imagem e semelhança de Deus”. Celebraremos no Segundo Domingo da Páscoa, que encerra a Oitava da Páscoa, O Domingo da Divina Misericórdia!

                        A Misericórdia é um sentimento nobre, suscita compaixão e perdão; lembra a nossa miséria (miseri) e o coração (cordis) bondoso de Deus. Contudo, no pensamento hebraico, misericórdia também significa aquele sentimento que tem origem nas entranhas maternas (rahamin), semelhante àquele amor do pai que acolhe ao filho pecador e tem carinho com o filho mais velho que não perdoa o irmão. Ser misericordiosos como o Pai é também viver a fidelidade ao seu amor quando amamos e nos preocupamos com nossos irmãos.

                        Ser misericordiosos como o Pai num mundo violento e intolerante é um desafio que nos oferece a chance de apagar as chamas de violência e desrespeito que a vida e dignidade humanas têm sofrido ultimamente. Fanatismo, terrorismo, discriminação, intolerância são sintomas de uma sociedade sem inteligência que não sabe conviver com o diferente e com quem tem opiniões diferentes das que a mídia apresenta. Ser misericordiosos significa apresentar as condições para um diálogo franco e fraterno apontando soluções mediadas pela compreensão e por uma visão abrangente do mundo e da pessoa humana.

Misericórdia não gera resignação, apatia, desmotivação. Ao contrário, suscita esperança num modo de agir que não alimenta violência. A misericórdia alimenta o sentimento da bondade, da nova oportunidade ao passo que a violência mata as possíveis soluções para uma convivência pacífica. Misericórdia é o sentimento que cresce no coração dos que têm certeza que o outro é uma pessoa que merece outra chance, que precisa ser ajudada a se libertar das próprias escravidões e sentir-se novamente amparada por aquele sentimento amoroso que o pai dedicou ao filho mais novo que errou muito longe de casa. (Cf. Lc 15).

Ser misericordiosos não é o mesmo que ficar sentados de braços cruzados e esperar a banda passar, mas trabalhar em favor do bem, da verdade, da justiça e da fraternidade. Ser misericordiosos é também gritar em defesa da vida, é desmascarar as mentiras travestidas em propagandas enganosas que desrespeitam o direito do povo ser religioso e ter suas manifestações de fé; é também orientar para o bem os que andam iludidos pelo mal.

Ser misericordiosos é colaborar com a paz e torná-la realidade no meio onde vivemos; é praticar a caridade não por meio de discursos e sim pela atitude não discriminatória nem racista; é também entender Jesus Cristo quando diz “quero a misericórdia, não o sacrifício” (Cf. Mt 9,13).

Que Jesus Misericordioso nos ampare nesse tempo de Pandemia e que o novo Coronavírus-COVID 19 seja superada, tornando-nos pessoas melhores hoje do que fomos ontem. Saibamos aprender a amar um amor verdadeiro a partir deste susto que o mundo inteiro vem sofrendo, distanciando as pessoas fisicamente. Aprendamos a valorizar a vida a partir de pequenos gestos de solidariedade, que temperados pelo amor, nos tornarão ainda mais Anjos uns dos outros!






quarta-feira, 8 de abril de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação da festa, mas tem raízes na celebração da vigília dominical, presente na origem do culto cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é vigília à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.
            A celebração da Vigília Pascal consta de quatro momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.
            É verdade que, de modo bem semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-econômico... Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que estamos a procurar entre os mortos aquele que está vivo.
            Cristo Ressuscitou. Vida nova se inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre junto à nossa comunidade e a cada um de nós.
            Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: Jesus já não se encontra entre os mortos, mas está vivo e presente entre nós.
            Enquanto a humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o passo na busca dos objetivos. A presença do Ressuscitado provoca vida nova na comunidade.
            O texto de João que proclamamos, na celebração da Páscoa, conjuga o primeiro e o terceiro dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser humano. O Dia é uma imagem do ser humano. Portanto, dizer Dia do Senhor é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano redimido. O Dia é uma imagem do ser humano que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo. Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da carta de Paulo aos Colossenses.
            Esta experiência precisa encontrar lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade. Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã – o domingo era um dia para recordar a permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.
            Neste sentido, é fundamental reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como antífona no canto de comunhão: Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em nossos dias, quer dizer, em nossa vida e em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio de paz.
            A Páscoa nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro vazio que emana o conteúdo de nossa acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!
            Uma vez celebrados os cinquenta e sete anos do Concílio Ecumênico Vaticano II, o sétimo aniversário da renúncia do Papa Emérito Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós!

            Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de ternura, o abraço amigo e sempre fiel,

Padre Gilberto Kasper
(Ler At 10,34.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp. 68-72 e Roteiros Homiléticos da CNBB 

TRÍDUO PASCAL – OS TRÊS DIAS SANTOS!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Tereza de Ávila, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Os três dias, que vão da tarde da quinta feira à tarde do domingo (Calendário Romano 19) constituem o tríduo “da morte, da sepultura e da ressurreição” do Senhor. Na origem, a sexta e o sábado foram caracterizados pelo jejum, o domingo pela alegria, sem que houvesse qualquer celebração a não ser a vigília. Desse ponto de vista, não se pode dizer que o tríduo seja uma extensão da vigília. Ele constitui uma realidade essencial e pressuposta para que a noite pascal se revista plenamente de seu sentido: com efeito, ela é a passagem do jejum à festa, como foi, para o Cristo, a passagem da morte à vida.

A eucaristia da quinta feira santa, centrada na instituição do mistério e no lava-pés, tendo como fundo a tradição e a agonia é por si mesma bastante eloquente.
     
      A celebração não eucarística da sexta feira santa (Palavra, Oração Universal, Veneração da Cruz e Comunhão) tem por fim introduzir mais profundamente no mistério pascal e preparar a comunidade para a Vigília Pascal.
        
       No centro, acha-se a Vigília Pascal, que celebra toda a história da salvação, culminando na morte e ressurreição do Cristo. Ela comporta uma Celebração com o Rito da Bênção do Fogo Novo, a Preparação do Círio Pascal, a Proclamação da Páscoa, a Liturgia da Palavra e Batismal (com a renovação das Promessas Batismais) e a Liturgia Eucarística. É “a mãe de todas as Vigílias e Celebrações”!
    
        Na quinta feira santa, geralmente às 9 horas, na Catedral Metropolitana de São Sebastião, concelebrarmos a Missa da Unidade com a Bênção dos Santos Óleos, presidida por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva. É também nesta ocasião que os Presbíteros renovam diante do Arcebispo e do Povo de Deus reunido, suas promessas sacerdotais. Neste ano, por conta do Coronavírus Covid-19 esta importante celebração foi adiada por nosso Arcebispo até que voltemos à normalidade, com data ainda a ser definida!

 Já em nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor, celebraremos o Tríduo Pascal, neste ano sem a presença física do povo. Todos estarão próximos, porém cada um em sua casa! Iniciando na quinta feira santa à noite, celebraremos as Instituições dos Sacramentos da Eucaristia, da Ordem e da Humildade (omitindo o Lava-Pés). A celebração da Paixão e Morte do Senhor será na sexta feira santa (Dia de Jejum e Abstinência) na parte da tarde. A Vigília Pascal no sábado santo será à noite. No domingo da Ressurreição do Senhor, celebraremos as Missas Solenes pela manhã, bem como à noite, sempre de acordo com a disponibilidade de cada realidade: a Ribeirao Web News fará a transmissão direta da Missa Solene da Páscoa, a ser celebrada pelo povo na Igreja Santa Tereza de Ávila no Jardim Recreio em Ribeirão Preto, às 19 horas!

Sejamos próximos uns dos outros na oração, abraçando-nos espiritualmente, enquanto aguardamos passar esse período crítico de isolamento social. Aproveitemos essa pós-graduação do abraço fraternal!
           









quarta-feira, 1 de abril de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DOMINGO DE RAMOS


COLETA NACIONAL DA SOLIDARIEDADE 



 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"Jesus Cristo se tornou obediente,
obediente até a morte numa cruz.
Pelo que o Senhor Deus o exaltou e deu-lhe
um nome muito acima de outro nome" (Fl 2,8s).

O Domingo de Ramos introduz a Semana da Paixão do Senhor. A Liturgia nos oferece dois evangelhos de Mateus: um para a Bênção dos Ramos (Mt 21,1-11) e outro para a Liturgia da Palavra - narrativa da Paixão (Mt 26,14-27,66).

Há poucos dias, o povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro em Betânia. Estava maravilhado! Ele tinha certeza de que este era o Messias anunciado pelos profetas. Contudo, pensava que fosse um Messias político, libertador social, forte e poderoso, que arrancaria Israel das garras dos opressores e lhe devolveria os bons tempos de Salomão. Jesus, porém, apresenta-se completamente diferente do imaginário popular. Ao contrário dos poderosos que andavam em carros de guerra, em imponentes cavalos, ele entra em Jerusalém montado num jumentinho. Jesus é um rei manso, humilde e pacífico e, ao mesmo tempo, forte e firme. É interessante observar que foi um jumentinho que conduziu Jesus, ainda no útero de Maria, porta-jóias do Salvador, a Belém onde nasceu; ao Egito, para fugir da inveja incontrolável de Herodes que não admitiu alguém melhor e maior do que ele; de volta a Nazaré, onde passou sua infância na simplicidade de uma Família simples, comum e obediente à Palavra de Deus, e agora à Entrada triunfal em Jerusalém, ao encontro de sua paixão e morte de cruz!

Ele faz justiça, devolvendo vida aos excluídos, humildes e necessitados. As multidões o reconhecem, estendem mantos à sua passagem e, com ramos nas mãos, aclamam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito, aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” Em contrapartida, os poderosos preocupam-se e agitam-se.

O Filho de Deus entra em Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico. É o servo paciente que se encaminha para enfrentar voluntariamente, sem violência, a humilhação e o aparente fracasso, impostos pela maldade humana. Jesus chega à cidade, em direção à qual peregrinou por longos dias, para ser vitorioso: “vencerá pela força da não violência do amor”.  O caminho do Messias e de todos os seguidores é paradoxal: pelo fracasso ao triunfo, pela derrota à vitória, pela humilhação à glória, pela morte na cruz à ressurreição.

A liturgia do Domingo de Ramos revela a grande contradição entre a relação do povo e o Filho de Deus e sua missão redentora. Primeiro a multidão aclama: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!” Dias depois, grita por sua condenação: “Crucifica-o! Crucifica-o!” A cruz e a morte despontam no horizonte da recusa do projeto messiânico: “O caminho do amor que se entrega a Deus e aos humanos, em favor da justiça e da paz, de forma mansa e humilde”.

O Domingo de Ramos é marcado, de uma parte, pelo mistério, pelo despojamento e pela entrega total e, de outra, pelo senhorio e pela glória do Filho de Deus.

O relato da Paixão é um convite a entrarmos a Páscoa. Esta se constitui num chamado à vida nova, à vida no Espírito, que implica amor incondicional a Deus e ao próximo e cuidado fraterno da criação. Esta vida nova nos é dada e leva à plenitude a obra da criação. Na celebração pascal, recebemos o Espírito do Ressuscitado para vivermos a vida nova.

Para emoldurar a leitura da Paixão do Senhor, a liturgia deste domingo, proclama o terceiro canto do Servo Sofredor. O apóstolo Paulo, na perspectiva da Paixão do Senhor, exorta os filipenses a contemplarem o Filho de Deus que, inteiramente despojado, se fez servo e obediente à vontade do Pai, até a morte de cruz. Em sua total entrega, revelou o mistério de sua grandeza. Por isso, o Pai o ressuscitou e o glorificou.

O grande convite para todos nós cristãos é o despojamento total, o que naturalmente não é tão simples. Não é fácil optar pela humilhação quando se ocupam cargos e funções de confiança, na vida social, política, eclesial e comunitária. Fazemos de tudo para alcançar prestígio, e deste dificilmente abrimos mão, mesmo que isso prejudique a outros. Ainda é muito notória entre os cristãos, o carreirismo, a busca do poder e do prestígio a todo custo. Revestimo-nos mais do caráter invejoso de Herodes e dos que pediram a crucifixão do Salvador, do que da personalidade do próprio Cristo, não obstante nos pensemos cristãos, daqueles que se dizem "certinhos" enquanto conseguem esconder seus limites e pecados atrás dos que chegaram a público. Como é frequente, principalmente entre "autoridades ou pessoas públicas, e aqui não escapamos também nós eclesiásticos" esconder nossos pecados atrás daqueles que foram descobertos. Certa vez numa visita à Penitenciária, ouvindo as lamúrias e desabafos de alguns detentos, disse a eles: "Agradeçam a Deus a sorte que tiveram de serem presos. Assim terão oportunidade de mudarem de vida. Sinto dó daqueles que fazem coisas piores, mas sentem-se melhores, pelo simples fato de não terem sido descobertos em seus erros..." O outro problema é a discriminação que se institucionaliza em relação aos que um dia, sabe-se por que, erraram. Mesmo mudando de vida, dificilmente têm novas oportunidades. Os certinhos não deixam. Sentem-se superiores e falta-lhes a capacidade da cruz, ou seja, do perdão, da misericórdia e do amor de verdade!

Não nos esqueçamos de levar às Comunidades os justos resultados de nossos exercícios quaresmais de penitência, partilhando um pouco de nós com quem tem menos. É o Dia Nacional de Coleta da Solidariedade: FRATERNIDADE E VIDA: DOM E COMPROMISSO! “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

Que a Semana Santa nos faça melhores do que somos e que a cruz nos santifique!

Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Mt 21,1-11; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Mt 27,11-54).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Abril de 2020, pp. 26-32 e Roteiros Homiléticos da CNBB para a Quaresma (Abril de 2020), pp. 46-52.