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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

  

A Palavra de Deus do Quarto Domingo do Tempo Comum apresenta-nos a missão do Profeta ao lado do início do ministério de Jesus, pautado em sua autoridade, porque coerente entre o que prega e vive, diante do compromisso de transformação da Comunidade de Fé!

            Segundo o Livro do Deuteronômio, a missão do profeta é anunciar a Boa Notícia da Aliança desejada por Deus para com a Humanidade, e denunciar tudo aquilo que possa impedir a fidelidade da mesma. O Profeta é o porta-voz de Deus ao coração acolhedor e atento da Pessoa. Tem o serviço de comunicar Deus ao mundo, que quando não ouve, torna-se oco, vazio, sem sentido e sem perspectivas de vida, como herdeiro e filho desse mesmo Deus, que ama louca e apaixonadamente Sua criatura predileta.

            O mundo barulhento em que vivemos, não deve ser muito diferente daquele em que os Profetas tentaram transmitir a vontade Deus, na promoção da dignidade de Suas criaturas amadas e queridas. É salutar o silêncio interior, a busca de uma mais profunda espiritualidade, a fim de um compromisso mais concreto de mudança das estruturas injustas em que nos encontramos. O Reino de Deus anunciado pelos Profetas é sempre um Reino de Justiça. Insisto em pensar que onde não há justiça, é também impossível a sobrevivência do Reino de Deus.

            A criatura humana é livre para escolher entre o bem e mal. O que se constata, é que o homem parece vazio da presença amorosa de Deus em sua vida, uma vez tendo endeusado o consumismo, o hedonismo e o individualismo. O Profeta quer ser o eco da voz de Deus no coração vazio e estéril da humanidade.

            Depois de formado seu grupo de Discípulos, Jesus inicia seu ministério com autoridade, segundo o Evangelho de São Marcos. A autoridade de Jesus é um convite aberto à coerência, à conversão e ao bom senso àqueles que desejam ser seus discípulos e missionários. Sem essas três dimensões, dificilmente é possível configurar-nos com o ministério do Senhor, que conta conosco na Comunidade, para devolvermos ao mundo a dignidade humana que a “Cultura de Morte” nos tira cada vez que somos coniventes com as injustiças institucionalizadas na Família, na (des) Educação, na Sociedade, na Política e também na Religião.

De que adiantam nossos diplomas, cargos, funções e posições de prestígio, se nossa palavra não tem credibilidade, porque incoerente com nossa vida, vivida no hodierno. Com facilidade emitimos juízos, repreendemos pessoas, deixamos de atendê-las com a caridade pastoral proposta em nossos lindos Projetos Missionários e Planos de Pastoral. Será que temos tal direito? Quantos de nossos erros escondemos atrás dos erros dos outros!... Enquanto nossas normas estiverem acima de nossa misericórdia, dificilmente seremos configurados com o Senhor, que nos confia Sua própria autoridade ministerial, desde que estejamos a serviço da vida plena das pessoas. Gosto sempre de concluir que não devemos “banalizar” nossos projetos, até mesmo porque justiça e misericórdia somadas, resultam no AMOR COM SABOR DIVINO! Isso só é capaz de viver, ministerial e missionariamente, quem acolher e viver a autoridade do Senhor, porque coerente entre o que prega e vive de verdade. Não importa se conseguimos ou não tal coerência. Importa, isso sim, o esforço empreendido todos os dias por sermos hoje um pouco mais coerentes do que ontem. Então experimentaremos a AUTORIDADE MESSIÂNICA!

            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Dt 18,15-20; Sl 94(95); 1Cor 7,32-35 e Mc 1,21-28).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2021, pp. 112-119 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I de Janeiro de 2021, pp. 64-67.

NINA, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO!

 Pe. Gilberto Kasper - pe.kasper@gmail.com


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Na tarde do dia 14 de janeiro de 2021 ecoou na eternidade o nome de Realina Rosa de Rezende, com 74 anos de idade, a carinhosamente conhecida por todos como Nina. Depois de dez meses de grave enfermidade pulmonar, dependendo o tempo todo de oxigênio, a Nina, um exemplo a ser seguido respondeu prontamente ao chamado e declinou sua vida terrena reclinando-se no colo de Deus e permitindo ser acariciada por Nossa Senhora.

Há mais de 10 anos a Nina conviveu e se dedicou diuturnamente à Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres nos Campos Elíseos: foi Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão, dedicou-se a dezenas de enfermos, levando-lhes o “Viático”, Jesus em Viagem todas as semanas, como Agente da Pastoral da Saúde, foi incansável junto à Pastoral dos Idosos, representou nossa pequena Reitoria junto à Forania Santo Antônio, participou de inúmeras formações pastorais, demonstrando seu amor, sua obediência e dedicação às iniciativas pastorais da Arquidiocese de Ribeirão Preto, integrou o Conselho Diretor do FAC – Fraterno Auxílio Cristão, sem deixar de dedicar o quanto possível seu tempo e sua sempre discreta presença em suas atividades filantrópicas, foi a Tesoureira e Curadora do Dízimo da Igreja Santo Antoninho que tanto amou e por qual espaço sempre incansavelmente se dedicou. Repetidas vezes dizia: “Padre, se quiser colocar outra pessoa no meu lugar, fique à vontade, mas saiba, que se não precisar mais de meus serviços morrerei”!

A Nina levava alegria, esperança e um sorriso bastante acanhado por onde passava, deixando enquanto pode, uma barrinha de chocolates, um bombom ou alguma lembrancinha que por pequeno que fosse, reafirmava sua marca registrada: preocupava-se com o bem estar de todos, dedicava-se aos mais pobres sem medidas, socorria os que se encontravam em situações constrangedoras e acendia uma luz em cada encontro, deixando para trás um aroma de serenidade, de paz e o testemunho de seu comprometimento com o Reino de Deus.

Devotíssima passava a maior parte de seu tempo em oração, por vezes preocupando os mais próximos que se perguntavam se ela não estaria rezando demais, talvez estivesse fugindo da realidade ou se aproximando da demência. Essa e outras incompreensões não afastaram a Nina de suas devoções ao Sagrado Coração de Jesus, ao Imaculado Coração de Maria e a tantos Santos que venerava com profunda fé e fé madura, sem jamais aproximar-se de qualquer desequilíbrio. Ligava para suas amigas, preocupava-se com todos que a vida lhe deu a conhecer, era um tanto sistemática, porém com a preocupação de não querer dar trabalho a ninguém. Não aceitou, mesmo durante os meses de grande fragilidade, pois faleceu com apenas 34 quilos, cuidadora, familiares e parentes que deixassem suas vidas para cuidar dela e nem quis ser internada em Hospitais, preferindo ser tratada no aconchego de seu lar: uma residência muito simples, sem luxo e com conforto o mais básico que se possa imaginar.

Enquanto pode, participou diariamente da Eucaristia. Quando já não mais pode sair de casa, a Igreja do ir foi até ela, levando-lhe a Sagrada Comunhão pelo menos três vezes por semana. Embarcou para a Viagem sem Volta muito bem preparada por todos os Sacramentos que lhe conferi. Em nosso último encontro ela desabafou: “Padre Gilberto, sinto-me muito cansada, acho que já estou no fim”! No dia seguinte liguei para ela e pareceu-me melhor, mas para mim, tratava-se já da chamada pelos antigos da “melhora da morte”. O céu a recebeu com festa, porque ela já estava muito familiarizada com tantos Santos e Santos. Exatamente neste dia 27 de janeiro, quando divulgo este artigo, faz 10 anos que também entregamos a quem e direito, o Criador, minha amada mãe, Alayde Juditha Kasper, que agora tem mais uma seleta companhia: a Nina, um exemplo a ser seguido!



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

 

 

 
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



 Um dos nossos limites humanos é o Tempo ao lado do espaço. A Palavra de Deus do Terceiro Domingo do Tempo Comum nos conclama a refletirmos sobre o tempo que nos é dado como dom gratuito de Deus!

            Geralmente tendemos deixar para depois, para amanhã, aquilo que deveríamos realizar hoje, agora. A profecia de Jonas mostra o Profeta a caminho de Nínive, a fim de convencê-la à conversão. Jonas, dócil à vontade do Senhor, não espera, faz logo o que o Senhor Deus lhe pede. O resultado da docilidade do Profeta tem consequências positivas. Os frutos da conversão de Nínive lhe são saborosos e ele sente-se realizado em sua missão profética.

            Também Jesus caminha. Segue para a Galileia anunciando o fulcro e sua missão: o tempo e o Reino de Deus que está próximo, como lemos no evangelho de São Marcos. Para que se perceba tal maravilha, é necessária a conversão, ou seja, a mudança de vida; mudando tudo aquilo que impede a pessoa de perceber que o tempo de Deus nem sempre é nosso tempo, que a vontade de Deus nem sempre é nossa vontade, mas que uma coisa é segura: o Reino de Deus já é uma realidade entre nós.

            Para cumprir com seu ministério, Jesus, após convidar os primeiros, continua formando seu colégio apostólico. A proposta é desafiadora: deixar tudo e seguir Jesus. Mas deixar tudo mesmo! Eis a proposta à vocação específica. Esvaziar-se de si mesmo, deixar projetos pessoais e uma vez discernido o Projeto Missionário de Jesus, deixar tudo para tornar-se um verdadeiro discípulo! Certamente isso não é tão simples como parece. Carece novamente de um tempo de discernimento. Carece, também, de coragem, coerência, transparência, ousadia e total despojamento. Muitos pensam que tem vocação, mas não conseguem desprender-se de seus projetos pessoais. Outros ainda, se utilizam ilicitamente, ou se apropriam do ministério ordenado, como trampolim para alcançar êxito, sucesso e prestígio social. Esses se tornam naturalmente um verdadeiro desastre e, muitas vezes, fazem grandes estragos na Igreja do Senhor, surrando e enxotando pessoas das Comunidades, especialmente as que não concordam com tudo que tentam lhes impor. Daí a necessidade de uma profunda espiritualidade presbiteral, pastoral, eclesial e nem por último, pessoal!

 Nem todos sobrevivem aos desafios de nossa sociedade hoje. Quem estiver desprovido de uma profunda espiritualidade, configurada com a do Mestre, não consegue ser um verdadeiro discípulo e missionário na Igreja de Jesus.

 

 
São Paulo também adverte a Comunidade de Corinto, em sua primeira Carta, que o tempo é breve. As coisas deste mundo, nós inclusive, passam. Mas a Palavra de Deus, seu Reino não passa. É, portanto, urgente, que sejamos melhores hoje do que ontem. Quando enchemos nossas Igrejas com multidões de pessoas, saindo porta afora chorando e emocionadas com nossas celebrações, devemos estar atentos se realmente nossos fiéis saem cheios de Deus ou de nós, ministros e agentes de pastoral? É necessário que haja compromisso com o Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, que é um reino de Justiça. Logo, onde não há justiça, não há Reino de Deus.  Saibamos ser sempre coerentes entre o que pensamos, falamos (rezamos) e fazemos. Só então, a autenticidade de nosso discipulado e missionariedade serão agradáveis ao Senhor.

Saibamos permitir que o Senhor nos ajude em nossa conversão, a fim de seguirmos com generosidade e alegria o projeto do Reino de Deus que já está entre nós!

            Há quem diga que tempo é questão de prioridade! Gosto de acrescentar a esta afirmação, de que precisamos estabelecer prioridades em nossas relações, e para a criatura humana, não é concebível que nosso tesouro prioritário não seja nosso Deus e Senhor!

            Saibamos administrar o dom precioso do tempo que o Senhor da Vida nos concede. Saibamos viver a ternura humana com sabor divino!

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Jn 3,1-5.10; Sl 24 (25); 1 Cor 7,29-31 e Mc 1,14-20)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2021, pp. 90-97 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I de Janeiro de 2021, pp. 59-63.

A TERNURA DE DEUS EM MEU SACERDÓCIO!

 Pe. Gilberto Kasper

pe.kasper@gmail.com 

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Tereza de Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Há 31 anos, na manhã de um sábado, dia 20 de Janeiro de 1990, Festa de São Sebastião, na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, ajoelhado sobre o túmulo do primeiro Bispo de nossa Arquidiocese, Dom Alberto José Gonçalves, por imposição das mãos de nosso amado Dom Arnaldo Ribeiro, fui ordenado Sacerdote para Sempre! Muitos erros e acertos, grande experiência de vida e profunda gratidão a cada dia, sem nenhum momento de arrependimento, pelo sim dado com minhas mãos entre as mãos do Arcebispo.

                Quantas pessoas passaram por minha vida nestes 31 anos? Pela vida de quantas pessoas passei eu? Penso ser um momento de avaliação, de balanço, de gratidão e de pedido de perdão, pelas vezes em que não consegui ser um bom padre! Escolhi como lema sacerdotal, a quinta bem-aventurança do Sermão da Montanha: "Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7), já que sempre me senti um servo inútil e indigno da graça do ministério sacerdotal! Mesmo assim Deus me quis Padre, tamanha é Sua Bondade, Seu Amor e Sua Misericórdia para comigo.

 

               Ao longo do amadurecimento no meu exercício ministerial, fui descobrindo que a melhor maneira de ser fiel ao Sacerdócio, é adotar a Teologia da Ternura! Mesmo que não tenha conseguido ser fiel, como quis ou deveria sempre me acompanhou o esforço pessoal por ser um sacerdote bom e misericordioso, a exemplo de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars, cuja vida conheci no primeiro Seminário que me acolheu na Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dedicado a ele. Como ele, o Sacramento que mais gosto de celebrar, é o da Reconciliação, depois, é claro, da Eucaristia. Como é bom ser dispensador do perdão de Deus àqueles que perderam sua paz interior para o pecado. Pois é no Sacramento do Perdão, que Jesus nos devolve a paz que o pecado nos rouba. Tenho sido muito feliz ao acolher tantas pessoas em nossa amada Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres nos Campos Elíseos, e desde o dia 1º de março do ano passado, da também já amada Paróquia Santa Tereza de Ávila no Jardim Recreio de Ribeirão Preto, que são para mim,  lugares ideais para a santificação de meu sacerdócio, colaborando na santificação de tão queridos irmãos e irmãs na fé!                                                                                                                                    

                Como coroinha na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Santo Afonso e Coordenador da Catequese, Regente do Coral e Animador de Comunidade na Capela Santo Antoninho, no Bairro Liberdade em Novo Hamburgo (RS) ou brincando de Missa com os vizinhos na estrebaria de casa, minha vocação ao sacerdócio foi se confirmando a cada dia que passava. Sentia sempre a necessidade de perdoar, desde tenra idade a quem me ofendesse ou machucasse. Nunca consegui bater em ninguém. Mas sempre fui muito peralta e, mais pedia perdão do que precisava perdoar. Daí meu lema sacerdotal ser a bem-aventurança da misericórdia.

                Que eu consiga viver meu sacerdócio pautado nos olhos de Deus, que promovem a justiça e amar as pessoas com o coração de Jesus, que dão sentido ao meu lema e à minha fidelidade sacerdotal: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”! E em cada Eucaristia que celebro, cabem todas as pessoas que me ajudaram a ser Padre, no precioso cálice do Senhor, como minha mais sublime e profunda gratidão! 

                 Para selar A Ternura de Deus em meu Sacerdócio, celebrarei minha ação de graças no recolhimento. Passarei em oração silenciosa. Sei que poderei contar com as orações dos amigos, o melhor presente que poderia receber. Estarei ausente das Redes Sociais, especialmente com telefones desligados! Conto com a compreensão dos que insistirem em ligar. Rezemos em silêncio, porque até mesmo nosso silêncio Deus escuta. 

Aqueles que desejarem me cumprimentar, por favor, façam-no na oração por mim e sintam o carinho de minha oração por cada um dos que meu Sacerdócio permitiu amar!



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 


            Com a celebração do Batismo do Senhor, encerramos o Ciclo do Tempo do Natal e iniciamos um breve Ciclo do Tempo Comum que nos remete à Quaresma.

            A Palavra de Deus proclamada neste Segundo Domingo do Tempo Comum tem sabor de Vocação, de Chamado, de Seguimento e de Encontro com o Senhor!

            A página do Primeiro Livro de Samuel supõe o discernimento vocacional. Nossa primeira vocação deve ser a Vocação ao Amor. Quem não ama um amor com sabor divino, dificilmente discernirá sua vocação específica no mundo! A Igreja tem a missão de acolher aqueles que se apresentam a alguma vocação específica e ajudar no discernimento cuidadoso da mesma, visando antes de tudo a felicidade plena da pessoa. Uma pessoa só será realizada e feliz, na medida em que descobrir sua verdadeira vocação, a começar pela Vocação ao Amor!

            Nossas Casas de Formação se empenham com zelo esmerado, para que os candidatos ao Presbiterado, por exemplo, sejam antes de tudo, pessoas felizes, realizadas, bem resolvidas, a fim de então dizerem um Sim definitivo, coerente e feliz de verdade! Nunca, a vocação específica na Igreja deve ser meio de vida, de autopromoção, busca de prestígio e reconhecimento ou poder. “Já que não sirvo para casar, serei padre!” Geralmente tal pessoa torna-se amarga, um tipo de “solteirão intratável” e infeliz, fazendo de sua “suposta” vocação, um trampolim carreirista ou machucando aqueles que lhe são confiados no ministério pastoral.

 

 
No Evangelho de São João, João Batista, reconhecendo Jesus, como o Messias, apresenta-o aos seus seguidores, aqueles que sentem desde as entranhas de sua intimidade uma vocação específica, como o Cordeiro de Deus a ser, doravante seguido. João Batista se retira e deixa o Messias convidar aos que lhe perguntam: “Mestre, onde moras?”, “Vinde ver”.

            Uma vez vendo onde Jesus mora, onde se encontra, encontrando-se sinceramente com Ele, já não há mais volta. É impossível não ficar com Jesus, que escolhe um a um, olha bem nos olhos e os cativa, adiantando até mesmo o coordenador entre eles: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer pedra).

            Deus escolhe quem Ele quer, desde o seio materno. A pessoa já nasce escolhida para sua vocação específica, porém nem sempre corresponde ao chamado. Por isso os Bispos reunidos em Puebla diziam que “A Vocação (específica) é a resposta de um Deus providente a uma Comunidade orante”. A resposta generosa à vocação específica na Igreja, geralmente é fruto saboroso da Oração pelas Vocações. Muitos rezam pelas vocações, desde que sejam os filhos dos vizinhos. É necessário que nossas Famílias incentivem os próprios filhos à vocação, também sacerdotal e religiosa. Mais do que falar mal de nossos Sacerdotes, somos conclamados a rezar por eles e ajudá-los em seu caminho de santificação. Como seria bom se cada Comunidade gerasse um Padre! Como seria ainda melhor se cada Padre formasse outro para sucedê-lo no futuro!...

São Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios, lembra-nos de que somos, como membros da comunidade, templos vivos do Espírito Santo. A responsabilidade das vocações específicas na comunidade é de TODOS! Ninguém deve sentir-se isento. Na medida em que faltarmos na Comunidade, mutilamos o Corpo de Cristo que ela representa. Somos os membros e Cristo é a cabeça. Mesmo sentindo-nos o dedo menor do pé, e faltarmos, estaremos mutilando este lindo corpo, malhado, sarado, que é a Igreja de Jesus Cristo!

            Meu primeiro incentivador à vocação sacerdotal foi meu amado pai. Costumávamos acolher as visitas com uma poesia, um canto ou algum teatrinho exibido pelas crianças. Faz 59 anos que meu pai faleceu. Eu tinha quatro anos naquele entardecer do dia 15 de Janeiro de 1962, quando o sol se debruçava sobre uma montanha rochosa diante da casa de meus avós, enquanto meu pai se reclinava eternamente no colo do Criador.  O crepúsculo revestia o céu de indescritível beleza. E era ele que me pedia para “rezar uma missa sobre a máquina de costura de minha mãe, para as visitas que chegavam...”. Imitava o Padre da cidade, sem nem mesmo saber exatamente o latim que balbuciava. Mas todos ficavam admirados com a “Missa do Beto”.

            Hoje, por amor e misericórdia de Deus minha Missa não é mais teatro e tenho o incomparável privilégio de oferecer a memória de meu amado pai no cálice precioso do Senhor! Sejamos dóceis ao convite do Senhor: “Vinde Ver” e teremos muitas e santas vocações para servir a Igreja da qual todos somos membros por conta de nosso batismo!

            Com ternura e gratidão, bênçãos e abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler 1Sm 3,3-10.19 / Sl 39(40) / 1Cor 6,13-15.17-20 e Jo 1,35-42)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2021, pp. 69-76 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I de Janeiro de 2021, pp. 54-58.

LIÇÕES DO NATAL!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Deus fala à nossa alma por meio da leitura orante de Sua Palavra, de boas leituras, pregações, exemplos, testemunhos, boas inspirações. Sua voz  fez-se ouvir especialmente neste Tempo de Natal. Jesus Cristo nos convidou, por meio de João Batista, a aplainar as colinas do orgulho, do amor próprio, do egoísmo, da inveja, da avareza, a fim de preparar para a sua vinda, corações retos, onde Ele pudesse plantar e cultivar as virtudes, especialmente o amor: este amor tão mal compreendido, porém redescoberto no difícil ano que passou e que tanto nos desafiou.

Deus é a fonte do amor puro, verdadeiro, sem fingimento. Amor que se dá, que busca satisfazer os desejos de bem, que compreende as fraquezas alheias, que dá até a própria vida sem temer sacrifícios.

 A ternura é a marca registrada do Natal. Neste Ano “Família Amoris Laetitia”, ano dedicado a São José, somos convidados a repensar o Menino nascido na gruta e na manjedoura, cercado de animais, cheirando a feno, que facilmente é substituído por um Velhinho bonzinho, o Papai Noel, que traz um saco cheio de presentes manufaturados e pré-fabricados. Pelas chaminés das grandes casas, entrou a nova economia, e no ideário dos pais e filhos, o Natal virou a festa dos presentes, mais do que a Festa de Alguém que se fez presente.

A urbanização do mundo tirou o protagonista de cena. Isto é: o Menino que nasceu pobre, numa gruta de um país carente, cedeu lugar a um velho gordo e opulento, que tem dinheiro, é bonzinho e chega com um sacolão de presentes. É o símbolo da riqueza europeia e norte-americana, generosas com os pobres, ao menos naqueles dias do Natal.

Na década de 80, quando vivi no Sul da Alemanha, participei do Natal das Famílias da Baviera durante quatro anos. Os presentes eram dissociados da Festa do Natal. No dia 6 de dezembro, Memória de São Nicolau, é que se distribuíam os presentes em torno da árvore do Natal. Algumas famílias encomendavam também o Papai Noel. Já na noite e no dia de Natal, ninguém falava em presentes: as Famílias todas participavam das Celebrações do Natal de Jesus Cristo, nas ações litúrgicas e confraternizavam em torno da mesa da Ceia de Natal, sem mais nenhum presente. Celebrava-se de verdade a presença de Deus feito pessoa. Jesus, nascido em Belém e em cada lar, era o maior Presente!

Pouco a pouco, as famílias influenciadas pela mídia e a serviço do comércio e da indústria aceitam substituir os Presépios e a cena agropastoril pelo Papai Noel. Os pastores, o povo simples, os colonos, o casal pobre, o Menino, os Anjos que trazem uma boa nova são substituídos por vitrines cheias de novidades, comidas raras e por um homem idoso, tipo vovô. É o ter e o dar derrotando o ser e o dar-se. Guardemos ao longo do Novo Ano as verdadeiras Lições do Natal!




quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DO BATISMO DO SENHOR

 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 


          Concluindo as celebrações natalinas, festejamos o Batismo de Jesus. Embora não precisasse ser batizado, o Senhor quis se solidarizar com todo o povo que buscava o batismo de João. Esta liturgia é momento favorável para relembrarmos e renovarmos nossos compromissos batismais.

            As leituras nos revelam o servo de Deus, fortalecido pelo Espírito e enviado para proclamar a boa-nova da paz. Pelo batismo também nós recebemos o Espírito que nos anima na missão e nos dá força para perseverar no bem.

            Somos servos do Senhor a serviço da comunidade e responsáveis por construir uma sociedade justa. Jesus é o servo fiel e o Filho amado e querido do Pai. A prática da caridade e da justiça deve ser nosso diferencial diante de Deus.

            Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé? Geralmente a reposta é “NÃO”. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia de nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. A Festa do Batismo de Jesus é um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “Útero da Igreja”, a Pia ou Bacia Batismal!

            A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade. Jesus se faz solidário, e mais ainda, Servo e Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele assume nossa condição humana, num ato solidário, que o leva até a Cruz. É uma caminhada que vai em direção à Páscoa.

            Podemos nos perguntar se, a partir do Batismo de Jesus, procuramos entender e concretizar o nosso batismo. Se estivermos dispostos a “mergulhar” no projeto de Jesus para construir relações humanas construtivas, a começar pela família, no aconchego do lar, na escola, no trabalho, na Igreja, no mundo, com atitudes solidárias, ecumênicas.

            A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo do Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscavam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.

            Jesus havia acolhido o movimento de João Batista, a voz profética que ressoa, após anos de silêncio. Sobre ele desce a plenitude do Espírito Santo, a força do amor do Pai, para realizar a sua vontade. Assim o Reino, que se manifesta através de seu ministério, expressa o desígnio salvífico de vida plena para toda a humanidade. Quem o segue no caminho do discipulado é impelido a trilhar o seu caminho de justiça e de solidariedade.

            Deus se revelou em Jesus, confiando-lhe a missão de Servo e Filho amado. Pelo batismo, mergulhamos no mistério da morte e da ressurreição de Jesus para vivermos a vida nova. Em Cristo, recebemos o Espírito para a missão e fomos adotados/as como filhos e filhas de Deus. Somos gerados a cada dia, pelo amor misericordioso e bondade infinita do Pai, para renovarmos a nossa adesão e o nosso compromisso com o seu Reino.

            Iluminados e “banhados em Cristo, somos uma nova criatura! As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”. Unidos a Cristo, o Ungido do Pai, nos tornamos continuadores de sua missão profética, sacerdotal e régia. Ele nos confirma no anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino, pois “passou a vida fazendo o bem e curando a todos os que estavam sob o poder do mal”.

            Vamos abrir o ouvido do coração para acolher a voz do Pai, que ressoa dentro de nós, e que declara nossa missão: Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado.

            O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como Deus é, e isso nos basta. Renovemos nossos compromissos batismais, buscando viver nosso Batismo na relação com Deus, que nos adota como seus de verdade, e com os outros, que se tornam nossos irmãos, para santificar-nos. Todo batizado torna-se um ser divinizado, isto é, candidato à santidade. Por isso não é nenhuma pretensão descabida, queremos ser santos. Devemos, isso sim, esforçar-nos todos os dias, para sermos santos.

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,

Pe. Gilberto kasper

(Ler Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29); At 10,34-38 e Mc 1,7-11).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2021, pp. 48-55 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal de Janeiro de 2021, pp. 49-53.

AINDA EM TEMPO DE NATAL!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Nesta semana vivemos, ainda em tempo de Natal! Entre as Solenidades da Epifania e do Batismo do Senhor, continuam ressoando em nosso interior a sensibilidade e o espírito de fraternidade, que, geralmente as festas natalinas produzem na criatura humana.

Epifania significa a manifestação do Salvador, em nossa realidade humana, atingindo a todos sem discriminação. Este é o grande mistério celebrado, sob diferentes aspectos, pelo Natal e pela Visita dos três Reis Magos ao Menino de Belém, vindos do Oriente, guiados por uma estrela. Esta festa nos convoca a uma comunhão universal com todos os povos, com os diferentes jeitos de adorar a Deus e a buscar a libertação, a dignidade e a paz, a partir dos pobres.

Herodes e as autoridades eclesiásticas daquele tempo não se conformavam com o nascimento do Salvador. Ele colocava em risco tudo aquilo que os mantinha no poder. Ameaçava o prestígio, os cargos, funções e privilégios que, à custa do povo simples, alimentava a inveja e o medo de perder a vida que os embriagava de luxo, soberba, prepotência e arrogância. É parecida a realidade atual, quando fica patente a inveja nas dimensões familiares, pastorais, políticas e sociais. Os “Herodes” de hoje não pensam duas vezes para degolar qualquer pessoa que lhes represente risco de mudança. Esses, naturalmente, não vivem o mistério do Natal, porque a manjedoura de seus corações continua cheia de “coisas”, menos Jesus Cristo!

Com a festa do Batismo do Senhor encerramos o tempo de Natal. Saímos dos evangelhos da infância de Jesus e nos colocamos na vigília de sua vida pública.

Jesus não se comporta como um filho privilegiado de Deus, mas se coloca na fila dos pecadores para receber o batismo de João Batista. É solidário com os menores, os pecadores, os últimos.

Como povo sacerdotal, assembleia de batizados, somos confirmados como filhos amados de Deus com a missão de ser luz (estrela) das nações e alegres anunciadores da boa-nova do Reino. Vivendo a fé recebida em nosso batismo, seremos capazes de apontar, como estrelas, somente para Jesus!

Mas para que isso seja possível é necessário repensarmos profundamente nosso Batismo, o primeiro dos Sacramentos da Iniciação Cristã, que nos adota como filhos, herdeiros, príncipes de Deus, partícipes de uma mesma e grande Família: a Família de Deus, a Igreja de Jesus Cristo. Deus nos adotando como seus filhos torna-nos irmãos uns dos outros e de Seu próprio “Menino”, cujo nascimento celebramos com tanto júbilo e ternura!

Gosto sempre de perguntar: Você sabe o dia em que foi batizado? Quem o batizou? Se souber, celebra seu batismo, como seu segundo parto, nascido dessa vez, do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal? Quem não sabe o dia de seu batismo, também não o celebra, pelo menos conscientemente. Procuremos celebrar melhor o nosso Batismo, participando da Festa do Batismo de Jesus.