Pesquisar neste blog

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

AINDA É TEMPO DE NATAL!



 

Pe. Gilberto Kasper

pe.kasper@gmail.com

 

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

 

Deus fala à nossa alma por meio da leitura orante de Sua Palavra, de boas leituras, pregações, exemplos, testemunhos, boas inspirações. Sua voz  faz-se ouvir especialmente neste Tempo de Natal. Jesus Cristo nos convidou, por meio de João Batista, a aplainar as colinas do orgulho, do amor próprio, do egoísmo, da inveja, da avareza, a fim de preparar para a sua vinda, corações retos, onde Ele possa plantar e cultivar as virtudes, especialmente o amor: este amor tão mal compreendido e tão paganizado.

Deus é a fonte do amor puro, verdadeiro, sem fingimento. Amor que se dá, que busca satisfazer os desejos de bem, que compreende as fraquezas alheias, que dá até a própria vida sem temer sacrifícios.

Ainda é Tempo de Natal e a ternura é a marca registrada do Natal. Neste Novo Ano que já geme em dores de parto, somos convidados a repensar o Menino nascido na gruta e na manjedoura, cercado de animais, cheirando a feno, que facilmente é substituído por Helliger Klaus, São Nicolau, que traz um saco cheio de presentes manufaturados e pré-fabricados. Pelas chaminés das grandes casas, entrou a nova economia, e no ideário dos pais e filhos, o Natal virou a festa dos presentes, mais do que a Festa de Alguém que se fez presente.

A urbanização do mundo tirou o protagonista de cena. Isto é: o Menino que nasceu pobre, numa gruta de um país carente, cedeu lugar a um velho gordo e opulento, que tem dinheiro, é bonzinho e chega com um sacolão de presentes. É o símbolo da riqueza europeia, generosa com os pobres, ao menos naqueles dias do Natal.

Na década de 80, quando vivi no Sul da Alemanha, participei do Natal das Famílias da Baviera durante quatro anos. Os presentes eram dissociados da Festa do Natal. No dia 6 de dezembro, Memória de São Nicolau, é que se distribuíam os presentes em torno da árvore do Natal. Algumas famílias encomendavam também o Papai Noel. Já na noite e no dia de Natal, ninguém falava em presentes: as Famílias todas participavam das Celebrações do Natal de Jesus Cristo, nas ações litúrgicas e confraternizavam em torno da mesa da Ceia de Natal, sem mais nenhum presente. Celebrava-se de verdade a presença de Deus feito pessoa. Jesus, nascido em Belém e em cada lar, era o maior Presente!

Pouco a pouco, as famílias influenciadas pela mídia e a serviço do comércio e da indústria aceitam substituir os Presépios e a cena agropastoril pelo Papai Noel. Os pastores, o povo simples, os colonos, o casal pobre, o Menino, os Anjos que trazem uma boa nova são substituídos por vitrines cheias de novidades, comidas raras e por um homem idoso, tipo vovô. É o ter e o dar derrotando o ser e o dar-se. Mas ainda há tempo de mudar, porque Ainda é tempo de Natal!

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

NATAL ACOLHIDA, DIÁLOGO, CUIDADO E ENCONTRO!

 

O Natal é a celebração de Deus que, em Jesus Menino, assume a fragilidade humana. A pessoa humana, tão sensível e pequena, se torna roupagem da manifestação de Deus. Desce o divino que eleva o humano. 

O Natal manifesta a determinação de Deus em querer encontrar-se conosco, propondo uma forma de acolher e cuidar de cada pessoa em sua peculiar dignidade. Torna-se por isso visível e palpável! O Natal é a “Sinodalidade” pura, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão neste ano!

Natal é acolhida! Deus não desiste dos homens e por isso sempre encontra meios de bater a nossa porta. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap 3,21). Em tempos de insegurança temos medo de abrir as portas e isto pode impedir de acolher o Senhor que quer habitar em nossa casa, fazer refeição conosco e oferecer a salvação. São tantas as batidas em nossas portas: telefonemas, e-mails, mensagens de Whats App, carteiros trazendo cartões, vendedores… Abrir a porta requer atitudes de discernimento, acolhida e hospitalidade.

 

       Natal é diálogo! Deus, para realizar o seu projeto de amor, recebeu a acolhida de Maria. Inicia um diálogo com ela que termina com as palavras de Maria “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). O diálogo requer escuta, argumentação, proposição e respeito entre os dialogantes. O diálogo possibilita conhecer as pessoas e criar laços de solidariedade e amizade. O contrário do diálogo são os fundamentalismos. Que aprendamos a dialogar com Deus e as pessoas.

 

      Natal é cuidado! Todas as criaturas necessitam de cuidado. O ser humano com a sua criatividade e inteligência tem uma imensa capacidade de desenvolver meios de cuidado e de destruição. Ao mesmo tempo em que assistimos imensos avanços na medicina para cuidar da vida, assistimos o desenvolvimento de tecnologias que geram a morte. “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24). Deus restabelece a confiança de José em Maria e ele passa a cuidar de Maria e de Jesus. Cuidar uns dos outros é sinal de escuta da vontade de Deus.


     Natal é encontro! “Encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Os pastores, em sua simplicidade, acolheram a mensagem do anjo e foram ao encontro do Deus Menino, deitado na manjedoura. Só o encontraram por que abriram a porta da sua vida e assim estabeleceram um diálogo.

 

O Natal é a “Sinodalidade” concreta, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão em mais este aniversário de Jesus!

 

Feliz, santo e abençoado Natal repleto de toda minha ternura!




quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

ADVENTO É TEMPO DE MUITA LUZ!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

Aproxima-se o Natal e vimos muita luz. São luzes enfeitando Árvores de Natal, Presépios, Praças, Ruas e Shopping Centers. Milhares de luzinhas piscando para alegrar os corações humanos e aquecer a “Cultura do Consumo”. Há mais Papai Noel do que a Imagem do Aniversariante verdadeiro: o Menino Jesus. Esse sempre aparece ofuscado num presépio, quando montado. Fica escondido entre imagens de animais e arranjos, os mais diversificados.

            A luz veio ao mundo e os homens preferiram as trevas à luz. Porque suas obras eram más. De fato, quem faz o mal odeia a luz e dela não se aproxima, para que suas obras não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz para que transpareça que suas obras são feitas em Deus.

            O mentiroso é escravo da trama que tem de armar e manter para conservar a aparência de verdade em sua vida. O homem amigo da verdade nada tem a temer. Ela liberta o espírito, deixa-o livre em si mesmo e em relação a todos.

            Verdade e mentira significam no Evangelho de São João o modo de viver conforme ou desconforme a vontade de Deus. Realizar a verdade é agir sincera, fiel e honestamente diante de Deus, diante dos irmãos e diante da própria consciência.

            O amor à verdade facilita o desenvolvimento de todas as nossas capacidades, pois caminha sem obstáculos. O espírito fingido e enganador vive em sobressalto, armado, temeroso e desconfiado, preso a tudo o que o obriga a reter sua posição como verdadeira.

            Nenhum ser humano sobre a face da terra tem toda a verdade. Cada um de nós tem apenas uma pequena parte dela; mas se estivermos dispostos a compartilhar nossos fragmentos, nossos pedacinhos da verdade, teremos todos uma parte muito maior, muito mais completa da realidade total.

            A verdade é ter a luz de Deus em nossa mente e em nosso coração iluminando nossas vidas, e, indicando caminhos de entendimento para todos.

            A figura de Maria do Advento nos ajuda a encontrarmos a verdade, que é Jesus feito meigo Menino reclinado numa manjedoura. A gravidez de Maria nos convida a engravidarmo-nos também do Senhor, tornando-nos seu porta-jóias. Deixemo-nos iluminar porque o Advento é Tempo de Muita Luz!



quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

ADVENTO É TEMPO DE ALEGRIA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

A maior de todas as alegrias emana do nosso encontro com Deus. Esse é o grande tesouro que devemos procurar e ao mesmo tempo distribuir entre os outros. A Alegria do Gaudete, terceiro domingo do Advento, neste ano dia 12 de dezembro, nos remete à manjedoura onde reclina na meiguice de uma criança o Deus em pessoa!

            Mas essa alegria sobrenatural não se opõe às alegrias cotidianas, pelas quais também devemos agradecer a Deus. Essas podem ter causas diversas: uma promoção profissional, a possibilidade de realizar a viagem dos sonhos, o gesto carinhoso da pessoa amada, o sorriso de uma criança. A alegria é sempre um bálsamo que faz bem à alma. Quando a experimentamos, devemos nos aproximar ainda mais de Deus, que se faz humano como um de nós.

            Assim como as alegrias terrenas, as tristezas possuem diversas origens, desde uma simples contrariedade até uma grande decepção ou perda. Podemos nos entristecer quando sofremos uma desilusão amorosa, quando deparamos com a conduta inadequada de um amigo ou até mesmo quando ouvimos um comentário indesejado de algum familiar. Isso e muitos outros contratempos podem fazer a tristeza entrar em nossa alma.

            Embora nos faça sofrer, a tristeza tem uma característica ímpar de tornar nosso coração mais compassivo. Quando estamos tristes, mergulhados em nossos sentimentos, realizamos reflexões mais profundas. Por isso, podemos afirmar que a tristeza ensina, e muito. Ela desperta a voz do silêncio que vem e toca nosso espírito para que possamos aprender com a experiência e nos tornar melhores, crescendo em nossa fé.

            Ajustar nossa forma de lidar com os problemas equivale a encontrar a chave da alegria, aquela que abre a mente e a alma para a luz de Deus, fazendo com que encontremos as soluções mais interessantes para a nossa vida. Além disso, amplia nossa consciência para identificarmos o que realmente importa.

            A vida está cheia de possibilidades, e você pode descobrir novos sentidos, aprofundando-se no entendimento das suas inquietações, com a firme esperança de que dias melhores virão. Haja o que houver, não podemos esquecer: “Se de tarde sobrevém o pranto, de manhã vem a alegria” (Sl 30,6).

            Por isso, encha seu coração de amor e diga para si mesmo: “Eu quero ser feliz agora”. Não tenha dúvida, você é muito mais forte e poderá ser muito mais feliz do que é capaz de imaginar.

            A alegria verdadeira massageia a alma. Ela nasce dos valores de Deus e conforta nosso espírito. Esse é o estado que devemos buscar para nós e desejar para os outros. A alegria verdadeira fica impregnada em nossa alma para todo o sempre. Por isso, esteja aberto para que ela possa brotar em sua alma. Que a felicidade seja o pão nosso de cada dia. Eis o sentido do Domingo da Alegria, o Gaudete. O terceiro domingo deste rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, antecipa tudo que celebraremos, porque o Advento é Tempo de Alegria!



quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

ADVENTO, MEMORIAL DA ESPERANÇA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Reunindo desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transformações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em nossos dias, iniciamos o tempo do Advento, o memorial da esperança, que alarga nossa vida para acolher o grande mistério da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifestação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta espera, não seremos desiludidos.

A coroa do Advento, feita com ramos verdes, fita vermelha, com quatro velas que progressivamente se acendem, com um rito apropriado, nos quatro domingos do Advento, retoma o costume judaico de celebrar a vinda da luz à humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que vem e quer nos encontrar acordados e com nossas lâmpadas acesas.

A Novena de Natal, preparada carinhosamente pelo nosso Seminário Maria Imaculada, pela Comissão para a Liturgia da Arquidiocese de Ribeirão Preto, o Pilar do Pão, e alguns padres colaboradores, é um instrumento muito importante para ajudar-nos viver, em família e em comunidade, este tempo de piedosa e alegre expectativa, este tempo de preparação para o Natal do Senhor. Neste ano ela é novamente impressa. Basta encomendá-la pelo Site: www.arquidioceserp.org.br.

Advento é também tempo especial de escuta e atenção à Palavra de Deus. Tempo de nos engravidar da Palavra, gestando em nós e entre nós o Verbo, como Maria, figura que tem especial destaque neste tempo.

Esperança tem muito a ver com perseverança. Perseverar em Deus. Não se trata de esquecer o que vivemos e seguirmos como se nada tivesse acontecido. Podemos viver calejados, com cicatrizes na alma, algumas vezes com momentos de dor, mas nunca perder a Esperança de que dias melhores virão.

A Esperança não nos ilude, mas nos faz caminhar com serenidade, acreditando que novas possibilidades surgirão, como nos fazia ver o Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires: “Caminhar, de certo modo, já é entrar numa Esperança viva. Assim como a verdade, a Esperança é um dom que nos faz seguir adiante e nos convida a acreditar que cada novo dia trará consigo o pão necessário para a nossa subsistência”.

            Como alpinistas da graça divina, precisamos seguir em frente. Do meio das sombras nascerá a luz. Na hora da dor, brotará a verdadeira Esperança.

            Bem por isso, iniciamos o rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, a Luz que veio iluminar os corações aquecidos pelo Príncipe da paz, num Advento, O Memorial da Esperança!



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

MINHA PRIMEIRA NOÇÃO DE CÉU!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Era domingo, Festa Litúrgica da Sagrada Família, Padroeira da Paróquia de Três Corôas (RS), onde fui batizado no dia 16 de junho de 1957 e crismado no dia 2 de novembro de 1959. Meu pai com 27 anos de idade, como Presidente do Conselho Administrativo Paroquial, passou o dia trabalhando na festa. O Pároco e meu pai cultivavam profunda amizade.

Minha mãe com 25 anos de idade também estava presente. Éramos quatro filhos: o mais velho com 6, eu com 4, o terceiro com 2 anos e minha irmãzinha, internada com uma enfermidade sem cura na época, com apenas 5 meses de idade. Ela faleceu no dia do enterro de meu pai.

Na manhã seguinte, dia 15 de janeiro de 1962, às 7 horas, meu pai cometeu suicídio. Disparou um único tiro no ouvido direito, que saiu no olho esquerdo. Minha mãe e nós três meninos estávamos na casa dos avós paternos. Meu pai deixou seu caminhão em frente ao atacado de cereais que possuía, subiu ao quarto do casal na residência sobre o mesmo atacado e disparou com seu revólver calibre 38. Seu sócio ao ouvir o tiro chamou meu avô paterno para entrarem juntos no recinto. Eu, sempre o mais curioso dos três corri atrás e assisti aquela cena em que socorriam meu pai todo ensanguentado. Levaram-no ao Hospital bem próximo de nossa casa.

Todo o povoado se concentrou em frente ao Hospital numa corrente de oração, sem naturalmente compreender por que meu pai cometera o suicídio, que na minha modesta opinião é o ápice do encontro da coragem com a covardia. Meu pai sobreviveu por 12 horas. Por volta de 16 horas recobrou a consciência e pediu para falar com minha mãe, meu irmão mais velho e o padre. Segundo o próprio padre me contou anos mais tarde, meu pai balbuciou seu arrependimento e recebeu a então chamada “Extrema Unção”! Faleceu às 19 horas.

Quando minha mãe, minha avó paterna e minha tia (a irmã de meu pai) retornavam do Hospital, estávamos todos apreensivos por notícias. Quando meu irmão mais velho perguntou pelo pai, nossa tia apontou para um pôr de sol magnificamente indescritível de tão belo. O sol se despedia, debruçando-se sobre uma montanha rochosa que fica diante da casa de nossos avós. Ela nos disse: “Vejam como o céu se vestiu lindamente. Foi para receber o pai de vocês. Agora ele está lá, no colo de Deus, acariciado por Nossa Senhora”! Certamente gravado em meu subconsciente, ao alcançar a adolescência, ganhando minha primeira máquina fotográfica, passei a fotografar pôr de sol. De todas as minhas fotografias, as que mais me agradavam, eram as de pôr de sol. Com o passar do tempo descobri que naquele pôr de sol, me fora dado Minha Primeira Noção de Céu!

Durante o mês de setembro refletimos amplamente a prevenção ao suicídio. Quis minha história de vida, colocar-me em contato com a morte, que dói tanto, por meio do suicídio de meu amado pai. Ao longo de meu ministério presbiteral, acompanhei com profundo zelo e sensibilidade pastorais, as famílias que, como a minha, precisaram lidar com o suicídio. E não foram poucas. O suicídio não só mata quem se suicida. Mata também um porquinho de cada membro da família que se vê obrigada a entregar uma pessoa que ama com tamanha crueldade. Meu pai teve a graça do arrependimento e da Unção dos Enfermos. Continuo acreditando no dedo de minha tia apontando para aquele belíssimo pôr de sol, Minha Primeira Noção de Céu!



quarta-feira, 17 de novembro de 2021

QUEM DECOROU A TABUADA? TIREM UMA FOLHA!

 

Padre Gilberto kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Eu estava na quarta série do ensino fundamental, o então chamado quarto ano do primário. Minha professora, era a mais temida pelas turmas do Colégio inteiro. Exigente e com fama de reprovar os alunos, zelava especialmente pela matemática, disciplina que não era a minha preferida. Mas confesso, que por puro medo, me dedicava sobremaneira para aprender a matemática, pois com fama de “padreco” não seria bom decepcionar meus colegas e muito menos as Irmãs da Congregação de Santa Catarina de Alexandria, minhas grandes incentivadoras para meu ingresso no Seminário. O Colégio Sagrado Coração de Jesus, situado em frente à Igreja Matriz, cuja Paróquia tem o mesmo patrono, é de propriedade das Religiosas em Novo Hamburgo (RS).

Certa manhã a Professora Marlene Staub entrou na sala de aula, nos convidou a rezar e já sentados, disse em voz bem alta e severa: “Quem decorou a tabuada? Tirem uma folha, pois agora saberei... Na folha que vocês tiraram de seus cadernos, só escrevam o que eu disser e nada mais, por favor!”

E a Professora Marlene começou a dizer: “Duas vezes duas, é a igual a”, e assim por diante até dez combinações da tabuada. Eu, obedientemente só escrevi o que a Professora disse e nada mais. Ao receber de volta a prova de surpresa, havia um “Zero” enorme e em vermelho. Fui reclamar com a professora que me chamou de “burro” e incapaz de decorar a tabuada. Ao que eu respondi que sabia sim, a tabuada de cor, mas que escrevi exatamente o que ela mandara. Logo o burro nessa história não seria eu. Insinuei que a professora não fora nada didática e nem clara ao aplicar a prova de surpresa, diante de todos os colegas. Éramos trinta e dois alunos na classe. E isso me levou à Diretora, a saudosa Irmã Cláudia Ody.

Já na Direção a professora Marlene dramatizou minha conduta em sala de aula. Depois a Irmã Cláudia quis ouvir minha versão sobre o fato. Eu contei que fui obediente ao que a professora nos pedira e não merecia o zero. Deixei a diretora e a professora numa situação difícil. Por fim a diretora pediu que a professora tomasse oralmente a tabuada de mim diante dela. Acertei todas as combinações e provei à professora Marlene de que eu estudara e sabia a tabuada de cor sim. Por causa da confusão, que segundo a professora, eu causara, ela não quis me dar um dez. Mas a diretora em minha defesa, ordenou que nessa prova eu deveria receber um “dez com louvor”. Pediu que rezássemos uma Ave Maria e voltássemos à sala de aula. Ao sairmos da sala da diretora, todos os colegas estavam do lado de fora, espionando o desfecho dessa história, mais uma de tantas verídicas, que vivi e jamais esqueci: nem a tabuada, nem a defesa da diretora e também jamais esqueci minha querida professora, que a partir daquele dia passou a ser menos temida e mais querida!



quarta-feira, 10 de novembro de 2021

QUALIDADE DE VIDA COM RESPONSABILIDADE!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Quando leio algumas postagens tão radicais e polêmicas nas Redes Sociais, lembro-me de minha infância e da qualidade de vida com responsabilidade, que naquele rico tempo vivíamos. Não estaria na hora de pararmos de “brigar” e revermos nossa responsabilidade pessoal sobre tudo o que está acontecendo neste “mundo de Deus”?

Tive uma infância bastante difícil e pobre, porém nem por isso infeliz. Aliás, era feliz como talvez poucas crianças hoje o são. Órfão de pai aos quatro anos, minha mãe, meus avós paternos e minha tia Nelcy falecida recentemente, me transmitiram a mim e aos meus dois irmãos tão queridos, valores essenciais e educação de berço que nenhum maternal, jardim de infância ou primeiro ano do ensino fundamental conseguem transmitir.

Havia tempo para tudo: acordar cedo, ir a pé para a escola, andando cerca de quatro quilômetros, apresentar tarefas escolares caprichosamente feitas em casa, varrer as salas de aula de toda a escola, depois das aulas para garantir a bolsa de estudos, voltar os mesmos quatro quilômetros a pé para casa, almoçar, lavar a louça, arrumar a casa, fazer as tarefas de aula, que eram diárias, brincar em torno da casa ou jogar uma hora de futebol no campinho em frente à residência, tomar banho, rezar, jantar e deitar cedo para o merecido descanso. Estudávamos em escola particular de religiosas que complementavam a educação básica que um cidadão de bem precisa cultivar durante a vida inteira. Quando o avô arrendava algum terreno, íamos também plantar no mesmo: mandioca, abóbora, milho etc. O dia era tomado de tantas atividades, que quando chegava a noite, estávamos cansados e logo dormíamos um único sono, o “sono dos inocentes e justos”! A vida religiosa das famílias entre outras atividades e até imprevistos merecerão outro artigo.

Diferentemente de hoje, as residências, mesmo as mais simples de madeira, eram construídas bem no meio do terreno. Atrás da casa tínhamos uma horta e um pomar, cultivados por nós mesmos. Não conhecíamos as tais “feiras livres” que existem hoje. As famílias plantavam, cultivavam e colhiam o necessário para zelarem por uma vida saudável, sem nenhum agrotóxico. Aproveitávamos o lixo úmido como adubo. Nem caminhão de lixo passava, porque cada família condicionava o seu próprio lixo: não havia enchentes por causa de esgotos entupidos e sujos, e até a calçada e a beira da rua nós mesmos capinávamos. Já em frente à casa tínhamos um jardim de flores, as mais diversas (minha mãe cultivava as roseiras de sua predileção). Tínhamos, também, ao redor da casa uma grama bem plantada e cuidada, para não sujar os alicerces da casa e nem os pés dos “moleques” que tantas vezes se contentavam de brincar de “esconde-esconde” ou exerciam outros exercícios que evitavam a obesidade das crianças. Éramos todos fortes, robustos e bem sarados, sem nunca frequentar alguma academia (nem existiam as academias), mas esbeltos e crianças bonitas, excluída a “falsa modéstia”!

Os tempos mudaram e as novas tecnologias passaram a ocupar práticas saudáveis, forçando crianças, adolescentes, jovens e adultos a hábitos que engordam, deprimem, isolam as pessoas umas das outras e escondem umas tantas outras atrás de postagens tão selvagens, cruéis e mentirosas, que difamam, ofendem e violentam a dignidade de quem está do outro lado, de quem não pensa igual, ou de quem é até ameaçado de apanhar, caso emita opinião diversa. Ninguém é melhor do que ninguém. Todas as pessoas têm qualidades e defeitos. Se cada um começar a olhar do nariz para trás, ou seja, para dentro da própria consciência, talvez se assuste. Mergulhemos aos porões de nossa intimidade e de uma vez por todas, passemos a nos respeitar mais. Só assim promoveremos uma melhor qualidade de vida com responsabilidade!

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Coletivo Online: inscrições abertas!

São 150 vagas para o último Coletivo Online do ano, parceria FAC/Instituto Coca Cola do Rio de Janeiro.

Link para inscrição: https://bit.ly/domhelder20214Dúvidas whatsapp: (16) 99192-8499



POR QUE TANTO MEDO DA MORTE?

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Neste dia 2 de novembro celebramos o Dia de Finados, lembrando de todos os nossos fiéis falecidos, neste ano especialmente, as mais de 606 mil vidas ceifadas pelo Novo Coronavírus, a COVID-19.

Se há alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que tanto medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez tivessem de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.

Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...

Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!

Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas devem caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!

O ônibus, de vez em quando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um e-mail para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, o e-mail são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!

Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e fizemos, nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!"



quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

A CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, à luz da Vª Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha de Aparecida (2007) e do Sínodo sobre a Palavra de Deus de Roma (2008), continua empenhada em conclamar os cristãos brasileiros a retomarem a prioridade do Anúncio da Palavra de Deus, distribuindo pelo país afora milhões de Bíblias. A proposta de nossa Igreja não se resume a distribuir Bíblias, mas recebê-las com amor, a fim de que sejam bússolas orientadoras da vida de todos os cristãos.

"Jesus, ao iniciar o seu ministério na Galileia, em sua pregação, proclamava o Evangelho do Reino de Deus e conclamava à conversão, como mostra o evangelista Marcos: 'Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho' (Mc 1,15). Em função deste mesmo anúncio, Jesus constituiu os Doze e enviou-os a pregar (cf. Mc 3,13-14; cf. Mt 10,1-42). Ao enviar os setenta e dois discípulos, ele indicava a universalidade da missão e apontava o Reino de Deus como o conteúdo da pregação, 'dizei: 'O Reino de Deus está próximo de vós' '(Lc 10,9). Assim, se estabelece a missão, que é fundamental para a edificação e expansão da Igreja" (cf. Subsídios Doutrinais da CNBB nº 5§62).

Anunciar a Palavra de Deus requer conhecimento. Não é possível anunciar o que não se conhece: vira "fofoca". Muitas vezes ouvimos de lábios muito cristãos a expressão: "Religião não se discute!" Não discute religião quem não a conhece. Quando nos referimos à religião, em nosso caso, queremos pensar não apenas em nossa religião, seja ela qual for, mas na fundamentação de cada uma das religiões: O Anúncio da Palavra de Deus!

"Como anunciar a Palavra de Deus no mundo de hoje? Tal pergunta é ouvida frequentemente, sobretudo em momentos críticos da atividade pastoral no mundo. Por essa razão, urge recuperar a prioridade do Anúncio da Palavra de Deus, sem esquecer que o cristianismo não é a religião do livro, mas de uma Pessoa, Jesus Cristo. Desse encontro, brota uma relação de discipulado, expressa pela palavra seguimento; ou seja, alguém que por amor, escuta, acolhe, segue, vivencia e anuncia Jesus Cristo" (cf. Subsídios Doutrinais da CNBB nº 5§65).

Com a pandemia precisamos cancelar os encontros para estudar a Sagrada Escritura, nossos modestos Estudos Bíblicos. Um dos pilares da Ação Evangelizadora tanto do Brasil como de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto é o Pilar da Palavra. Então queremos, no dia 23 de outubro próximo, retomar esta belíssima iniciativa de nossa querida Amália Terezinha Balbo Di Sicco, que prepara, coordena e ministra nosso Estudo Bíblico mensalmente.

No quarto sábado de cada mês, na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, na Av. Saudade, 202, nos Campos Elíseos, em Ribeirão Preto, entre 09 e 11 horas voltaremos a nos reunir para aprofundar o estudo da Palavra de Deus. Todos são convidados a participar e conhecer mais a Palavra de Deus, para acolhê-la melhor e amá-la mais profundamente com a vida! Há, também, a oportunidade de participar do Estudo Bíblico-Litúrgico na última sexta-feira de cada mês, entre 15 e 17 horas, no CPC – Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto, na Rua Barão do Amazonas, 484, no Centro de nossa cidade. Nunca é tarde demais para iniciar. Quem desejar será sempre bem-vindo num dos momentos tão importantes de formação permanente, que nem sempre valorizamos suficientemente. Reclamamos que nossa Igreja não forma os fiéis, enquanto nem sempre aproveitamos de riquezas oferecidas, como é o Estudo Bíblico!

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

EDUCADORES E EDUCANDOS!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

O mês de outubro é marcado pelo Dia da Criança (Educando) e do Professor (Educador). O que costumamos chamar de “Educação de Berço” já não existe mais. Se até mesmo o leite materno é terceirizado no quarto mês de vida da criança, imaginem a educação! Os Educadores acolhem que tipo de Educandos? Crianças repletas de estímulos que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridas na era digital. Pais de famílias oriundas da pobreza, que trabalham tanto, que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida. Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas.

            Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os educandos de hoje repletos de estímulos. Estímulos de que? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, brincando no Orkut e Whats App ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

            O que tínhamos nós, os mais velhos, há anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria! E como afirma o Papa Francisco, éramos movidos pelas expressões e atitudes: com licença, por favor e  muito obrigado!

            Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para que o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir a piqueniques, subir em árvores?

            E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria. Cantávamos o Hino Nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos, ao contrário de hoje, ler, escrever e fazer contas com fluência, sem brincar com celulares durante as aulas. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª série – não havia aprovação progressiva. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Não nos prometiam recompensas para passarmos de ano. A recompensa era o sabor da conquista pessoal.

            Sintam-se convidados, especialmente os Professores, para a Celebração da Padroeira de nossa Paróquia Santa Teresa D’Ávila, a Protetora dos Professores, presidida por nosso Mestre Maior, Dom Moacir Silva, Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, no dia 15 de Outubro, sexta-feira, às 19 horas e 30 minutos, na Praça das Rosas no Jardim Recreio.

            Nossa Senhora Aparecida, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil proteja nossas crianças e Santa Teresa de Jesus, Doutora, incentive nossos Professores!




 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A FAMÍLIA QUE REZA UNIDA PERMANECE UNIDA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

O mês de outubro é por excelência, repleto de celebrações votivas e um convite aos cristãos, a profundas orações: é o mês missionário, convidando-nos a rever nossa vocação eclesial como essencialmente missionária e ministerial.  É o mês do rosário, já que dia 7 celebramos a memória de Nossa Senhora do Rosário. É o mês dedicado à Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, bem no dia 12, também dedicado à Criança. É o mês de Santa Teresa D’Ávila, Protetora dos Professores, cuja memória celebramos dia 15. É o mês dedicado à Juventude e neste ano, à abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, dia 10 em Roma pelo Papa Francisco, nas Dioceses do mundo inteiro, como em nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, na manhã do dia 17 e no mesmo dia nas celebrações vespertinas em todas as nossas Comunidades Paroquiais.

Uma das práticas religiosas que marcou minha infância foi a recitação diária do terço em família. Todas as noites em Novo Hamburgo (RS), em torno da mesa de jantar, meus irmãos, eu, nossa mãe e avó paterna, ligávamos o rádio sintonizando-o na Rádio Independência da cidade São Leopoldo (RS), para acompanharmos a recitação do terço dirigida pelo Padre Santini, um Padre Jesuíta, que de joelhos diante do túmulo do Padre João Batista Reus, no Santuário Sagrado Coração de Jesus, curado pelos Padres Jesuítas do Colégio Cristo Rei, transmitia ao vivo pela Rádio e era ouvido em todo o Vale do Rio dos Sinos. Padre Reus, embora não tenha sido canonizado, é venerado por milhares de graças alcançadas por seus devotos. Entre 20h e 20h30min tudo parava para juntos rezarmos. Em cada quarto da casa sobre as camas, havia dependurado um quadro com uma estampa emoldurada da Sagrada Família e em torno dessa, um grande rosário. Na estampa lia-se a frase: “A Família que reza unida permanece unida”!

Até meus 13 anos de idade não faltamos nenhuma noite, sentadinhos em torno da mesa de jantar, para atentos acompanharmos a recitação do terço com o Padre Santini. Depois disso, em agosto de 1970, chegou à nossa casa a primeira televisão. Aos poucos essa, a televisão, juntamente com a necessidade de estudarmos à noite, trabalhando de dia, perdeu-se essa linda prática de união. Cada membro de nossa família passou a recitar o terço, de acordo com suas possibilidades.

Os tempos mudaram e com raríssimas exceções, ainda conhecemos famílias que encontram, pelo menos, meia hora por dia, para rezarem juntas. Infelizmente as famílias foram colocadas de bruços por uma cruel cultura de sobrevivência. Uma corrida desenfreada para buscar os recursos necessários e colocar alimentos sobre a mesa, além do mergulho num consumismo e hedonismo, que afoga as pessoas em si mesmas.

Quando olhamos nossas assembleias orantes nas celebrações dominicais, vemos senhoras desacompanhadas de seus maridos, casais sem a presença dos filhos, isolamentos que demonstram famílias convivendo menos hoje do que ontem, ou sobrevivendo sob um mesmo teto, como se vive numa pensão melhorada. A Igreja que é mãe e mestra não tem medido esforços para novamente promover a unidade de seus filhos, as famílias por inteiro e não de indivíduos isolados. Porque ainda hoje acredita firmemente que a família que reza unida permanece unida.  



quarta-feira, 29 de setembro de 2021

AINDA É POSSÍVEL VIVER E CONVIVER EM PAZ?

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

A vida pode ser uma sucessão de coincidências felizes, de encontros prazerosos, de união entre as pessoas. Mas nem sempre é isso o que vemos ao nosso redor. Na correria diária, são muitos os “ruídos” que tiram o nosso sossego e atrapalham a nossa convivência.

            Por vezes nos tornamos porta-vozes da mentira, da difamação e da calúnia ao invés de instrumentos da Paz.

            Na era da Internet, toda e qualquer mensagem se propaga num piscar de olhos. Fatos que ocorrem num canto do planeta atravessam fronteiras, chegando a outras cidades, outros países e continentes com a rapidez de um clique. Alimentadas pela fofoca, histórias que envolvem a intimidade das pessoas tomam proporções inimagináveis e invadem nossos lares como se fossem verdades absolutas. E essas histórias fomentam antipatias, preconceitos e desprezo. Constroem muros ao invés de pontes. Dividem e não unem as pessoas no âmbito das famílias e nos círculos de amizades.

            Outro agente semeador de discórdia é a necessidade que alguns têm de impor suas ideias e sua maneira de ser. Parecem querer provar a si mesmos que são superiores aos outros. Muitas pessoas gostam de recitar a Oração de São Francisco, como um poema em homenagem à Paz. É fundamental que todos compreendam que a construção desta Paz, em nível mundial ou dentro de casa, depende de cada um de nós. Depende de uma mudança de conduta pessoal. Nas palavras de São João Paulo II num discurso que fez em Assis, a Paz é descrita como um canteiro de obras aberto a todos: “A paz é uma responsabilidade universal: passa através de milhares de pequenos atos da vida cotidiana. Por seu modo cotidiano de viver com os outros, as pessoas optam pela Paz ou a descartam”.

            Sempre que deparamos com a tentação da discórdia, é bom lembrar o exemplo da Família de Nazaré. Foram muitas as apreensões vividas por Maria, José e o Menino Jesus enquanto buscavam um lugar seguro para morar, mas em nenhum momento perderam o sentido da união. Mantiveram-se juntos para o que desse e viesse.

            Assim também deve ser a nossa vida. Não podemos nos perder uns dos outros. E, mais importante ainda, não podemos nos perder de Deus, que é a fonte de toda união. Não nos afastemos de sua Palavra, tão bem refletida neste mês da Bíblia que se encerra: em nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. A fé em Deus nos ensina a contribuir para a união entre os seres humanos.

            Esse discernimento nos leva a refletir antes de realizarmos toda e qualquer ação. A reflexão é o exercício dos sábios. Quando desenvolvemos o hábito de refletir, conseguimos criar um equilíbrio entre razão e emoção, atuando com mais cordialidade e gentileza. Nossas palavras serão mais adequadas, nossas conversas mais oportunas e positivas. Nossas decisões serão mais justas. É urgente que nos perguntemos desde os porões de nossa intimidade: Ainda é possível viver e conviver em Paz?



quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A ÉTICA E OS DIREITOS DA PESSOA HUMANA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

A Pessoa Humana tem direitos, que nem sempre são respeitados, o que gera violência, dissabores e até divisões nas famílias. A Ética no exercício da Cidadania visa resgatar o respeito a esses direitos.

A Pessoa Humana tem o direito de nascer, enquanto tantos promovem o aborto, o abandono, a concepção acidental, por acaso, num baile Funk. Quantas mães matam a possibilidade de seus filhos nascerem por medo de preconceitos de tornarem-se mães solteiras. É engraçado que nunca se fala em mãe casada. Mãe é mãe. Quantas crianças nascem em mundos desumanos, em condições de extrema miséria?

A Pessoa Humana tem o direito a um nome. Este nome implica em ter uma família, em pertencer a uma família. Família que tenha uma moradia digna. Quando olhamos para os conjuntos habitacionais de nosso país, ficamos indignados com as condições que são impostas ao povo, a viver dignamente em seu lar. Que lar é esse, que mais parece uma minúscula gaiola de passarinhos? E aqueles que constroem seus casebres sobre lixões e favelas, se abrigam debaixo das pontes, dos viadutos, às portas das lojas nas noites frias de nossas metrópoles? Além da Família que dê nome à pessoa, há o direito à saúde básica. Que saúde necessita uma pessoa para crescer dignamente? A saúde de nossos dias? Quanta preocupação em distribuir preservativos (é justo que haja prevenção) e quanta falta de remédios básicos em nossos postos de saúde! Quanta falta de vontade em determinados atendimentos... quando a pessoa aparece melhor vestida ou recomendada por alguém influente, a atenção acontece; quando chega cheirando à pobreza extrema, é tratada na maioria das vezes a gritos e pontapés, esperando horas intermináveis nas filas e nos corredores...

A Pessoa Humana tem o direito de crescer. O crescimento exige uma aperfeiçoada educação básica. De que educação podemos falar em nosso país? Professores mal pagos; famílias indiferentes à educação e ausentes das escolas; tráfico de drogas desde o ensino fundamental; meninos armados, matando por causa de apelidos. Escolas mal cuidadas, sujas e sem recursos suficientes para manterem-se pelo menos inteiras. A Pessoa tem direito a trabalho. Como crescerá uma pessoa sem perspectivas e de realização profissional? Quais são as oportunidades dadas à Pessoa Humana em nosso país? O crime organizado, o consumo, o tráfico e a avalanche de corrupção e suborno são perspectivas para nossos jovens? E os 14 milhões de desempregados? Os que já desistiram de procurar emprego, ao invés de oportunidades para sua realização pessoal neste mundo tão desigual e injusto.

A Pessoa Humana tem o direito de relacionar-se com outros. Que tipos de relações a mídia impõe à sociedade, senão o individualismo, ao lado do hedonismo que visa simplesmente o prazer pelo prazer, como é o caso das pulseiras do sexo, por exemplo. O mundo mágico da Internet individualizou as relações entre as pessoas, que perderam a criatividade de relação simples, afetiva, amorosa, desinteressada e que se preocupe com o bem-estar dos outros.

O que esperamos num próximo pós-pandemia, enquanto relacionamentos humanos? Será que ainda saberemos conversar olhando nos olhos uns dos outros? Como será nosso abraço? Temo, embora esperançoso de que sairemos melhores dessa crise, que robusteçamos uma irrecuperável “cultura de sobrevivência”.

Se de um lado a pandemia descortinou uma solidariedade magnífica de tantas pessoas de boa vontade, de outro lado desnudou a drástica desigualdade entre pessoas que se dizem irmãos, patriotas de uma Pátria Amada tão rica como é o Brasil. Há uma previsão de um aumento de R$ 69,00 para o salário mínimo no próximo ano. Os preços de alimentação estão “pela hora da morte”. Gás, combustível, alugueis, energia elétrica, mensalidades aqui e acolá e impostos, os mais caros do mundo não são pagos com salários de miséria. Costumo pensar que quando se encurta uma calça, o corte sempre é em baixo, jamais na cintura. Enfim, quem mais sofre e é castigado, são os que honestamente tentam cumprir com seus deveres, sem muitas vezes usufruírem justamente de seus direitos. Por isso é necessário que busquemos na ética uma via possível para resgatar os direitos e a dignidade verdadeiramente humana!



quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A ÉTICA A SERVIÇO DA DIGNIDADE HUMANA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

Quando falamos de Pessoa Humana, pensamos naquela pessoa criada à imagem e semelhança de Deus, e não na pessoa que criou Deus à sua imagem e semelhança. Deus é o criador e a pessoa humana a criatura! Para ter-se noção de Deus, basta contemplar, por exemplo, a face de uma criança, o rosto enrugado de um ancião, a carinha sapeca de um adolescente. Buscamos, geralmente, a imagem de Deus em pinturas de artistas famosos ou esculturas que deram nome aos seus escultores. Nem por último, ensinaram-nos de que Deus seria um velhinho de barbas brancas. A Teologia da Criação nos sugere um exercício diferente: buscar a noção de Deus no outro. Aliás, Cristo não cansou de nos ensinar isso: buscou resgatar a figura do Pai no rosto sofrido do pobre, do oprimido, do marginalizado e excluído de sua época histórica. Ele, Jesus Cristo, identificando-se com os pobres, com as crianças, com os enfermos, deu-nos uma antessala da identidade do próprio Deus Criador.

É interessante que este Deus gostou tanto de criar a pessoa humana à sua imagem e semelhança, que resolveu ser gente também. Fez-se pessoa humana igual em tudo a nós, menos no pecado. Uma das principais motivações de Deus querer ser Pessoa, foi para resgatar a dignidade que essa perdera, devido ao pecado da arrogância, da prepotência, da autossuficiência, deixando Deus falando sozinho, virando-lhe as costas. E mais ainda: achou lindo a pessoa humana ter mãe! Deus não tinha mãe e resolveu ter uma também. Parecia bom demais ter mãe! Conservou imaculado o útero de uma jovem e desse fez seu porta-joias, a fim de nascer, também, igualzinho ao nascimento da pessoa humana. Teve sua mãe e nasceu como todos nós nascemos!

Mas Deus driblou a pessoa diversas vezes. Quis mostrar à humanidade de que basta a dignidade humana, para ser semelhante a Ele, nosso Criador. Basta a dignidade humana, para ser realizado e plenamente feliz!

            Escolheu nascer numa estrebaria, com cheiro de feno, entre animais, até porque a sociedade nunca poderia imaginar que Deus fosse revestido de tamanho despojamento e humildade. Muitos esperavam que nascesse em algum condomínio fechado, em algum hotel de cinco estrelas ou maternidade famosa. Mas, segundo João diz em seu Prólogo, "Veio para a sua casa, mas os seus não o receberam" (cf. Jo 1,11). Gosto de rezar durante o Ângelus: E a Palavra (Verbo) se fez pessoa (homem) e habitou entre nós! (cf. Jo 1,14). Não possuía casa própria, andava de cidade em cidade e aceitava a hospedagem de quem o recebia. Mesmo sendo proclamado Rei por causa dos sinais que realizou, parou num trono reservado ao pior dos bandidos, a Cruz! Que rei é este, que é condenado à morte mais escandalosa, vergonhosa de sua época para os judeus e louca para os romanos? A grande acusação que o condenou brotou dos corações invejosos dos governantes políticos e religiosos de seu tempo. Já Herodes não aceitou a ideia de que alguém melhor do que ele sobrevivesse, motivo pelo qual mandou matar todas as crianças abaixo de dois anos de idade, nascidas em Belém. Os Sumos Sacerdotes e os Escribas que interpretavam a Lei de Deus decretam Sua própria sentença: a Cruz!

            Mas a morte não foi a última palavra. As mulheres encontraram o sepulcro (também emprestado) vazio no terceiro dia após a morte cruel do Filho de Deus, do próprio Deus feito pessoa! Ele ressuscitou e do túmulo vazio exalavam os aromas de sua ressurreição, envolvendo todos aqueles que creram. E quem crê, promove A Ética a serviço da Pessoa Humana!