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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS DIA MUNDIAL DA PAZ

 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


             Estamos vivenciando as festas natalinas, com a celebração da manifestação do Senhor em nossa vida e história. Nossa atenção se volta ao mistério da Mãe do Senhor sob o título de “Mãe de Deus”.

            Ao afirmar que o Menino, nascido de Maria, é Deus, em decorrência disso, a Igreja proclamou que Maria é Mãe de Deus. E isso não é de agora. Desde muito, nós cristãos honramos “... Maria sempre Virgem, solenemente proclamada Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem, segundo as Escrituras” (UR, n. 15: Decreto conciliar sobre a reintegração da Unidade dos cristãos).

            Neste Dia Mundial da Paz, iniciando um novo ano, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e da proteção permanente de Deus. É em nome de Jesus, a plenitude da bênção, que invocamos bênçãos de paz sobre nós e sobre os povos em conflito.

            A alegria deverá orientar nossa primeira celebração religiosa do novo ano civil.  As festas e os brindes da Passagem do Ano, geralmente, impedem as pessoas de participarem desta significante celebração. Muitos dormem sua ressaca, outros nem conhecem a profundidade de tão linda celebração, que deveria ter maior prioridade entre os cristãos. Acolhidos por Maria, Mãe de Deus e nossa, desperdiçamos a oportunidade de pedir a ela que nos acompanhe ao longo dos próximos 365 dias. Segundo o Papa Francisco, a fraternidade pode superar a “cultura do descartável” e promover a “cultura do encontro”. O Deus da bênção e da paz nos congregue numa só família.

            O povo pode contar sempre com as bênçãos de Deus. A maior delas é a vinda do seu Filho, graças ao sim de Maria. A exemplo dos pastores, vamos abrir o coração e nos dispor para o encontro com Jesus.

            Deus quer nos abençoar ao longo de todo este ano. Os pastores, gente pobre e desprezada, são os primeiros a ir ao encontro de Jesus. Deus conta com a colaboração humana para realizar seus projetos. Os pastores cheiram mal, pois cuidavam de ovelhas e viviam ao relento. Poderíamos compará-los, em nossos dias, aos irmãos coletores de lixo. Imaginem que eles correm mais de trinta quilômetros por noite, em nossa metrópole rica e privilegiada, recolhendo nosso lixo depositado nas calçadas. Enquanto as autoridades eclesiásticas, políticas, civis e a nata da elite de uma sociedade economicamente privilegiada pensam anunciar o Salvador do mundo, este se revela, através da Corte Celestial dos Anjos, aos preteridos e “fedidos” entre todos: na época os Pastores; hoje, talvez, nossos Coletores de Lixo, ou aqueles que consideramos Lixo Humano entre nós: os idosos, os enfermos, os dependentes de alguma droga lícita ou não, e nem por último os mendigos mal-cheirosos que adentram nossas celebrações, pedindo uma esmola para suportarem a exclusão com mais um gole de cachaça ou uma cheirada de craque... Se não estivermos abertos ao diferente, ao simples, e não fizermos a experiência da humildade, deixando de lado nossa prepotência, arrogância, autossuficiência, corremos o risco de desencontrar-nos com o Senhor que só nasce mesmo em manjedouras simples, humildes, puras e livres para acolhê-lo.

            A exemplo de Maria, humilde serva do Senhor e bendita entre as mulheres, cantemos um hino de ação de graças ao Pai, que nos cumulou de bens por meio de seu Filho.

            A palavra de hoje ressalta a imposição do nome de Jesus, sua inserção na sociedade humana. Como o Filho de Deus, nós também recebemos um nome ligado à nossa existência e à nossa missão. A atitude dos pastores nos ensina a acolher e anunciar a Boa Notícia da presença do Salvador em nosso meio. Com Jesus, nos tornamos herdeiros da salvação e podemos clamar: Abba, Pai, vivendo fraternalmente como irmãos e irmãs.

            Maria, a mãe de Jesus, é imagem da comunidade fiel e comprometida com o plano da salvação.

            Com o exemplo de Maria no seu sim incondicional, assumimos “de boa vontade” a proposta de Jesus de sermos promotores da paz em nossos lares e na sociedade em que vivemos.

            Invoquemos com confiança a bênção do Senhor, o Deus de bondade, sobre todos os povos e nações, neste Dia Mundial da Paz. Que ele guarde, ilumine, mostre a sua face de Pai e dê a paz a todos. Com Jesus, o Filho de Maria, a maior bênção da salvação para toda a humanidade, nos comprometemos a trabalhar alegremente na construção da paz.

            Saibamos rezar por nossos Governantes, para que promovam, além da paz, a maior dignidade de todos os Filhos de Deus. Estejamos atentos e tenhamos a coragem e ousadia proféticas de “cobrar” melhores condições de vida em todos os setores que garantam uma vida digna a cada cidadão, sem nenhuma acepção ou discriminização, deixando de lado as inúmeras “barganhas” divulgadas no ano que se declina. Formemos “consciência política crítica” neste novo Ano! Este será mais um ano eleitoral! Vamos eleger nossos Prefeitos e Vereadores! Não é a economia de um País que o determina civilizadamente desenvolvido. É a dignidade do Povo de um País que deverá discernir sempre nossa cidadania, direitos e deveres! A cultura do consumo e do lucro à custa da indigência do Povo precisa ser superada pela Cultura do Encontro, da Fraternidade, da Partilha e da Ternura!

Sejam todos muito abençoados neste Novo Ano que se inicia.  Sejamos protagonistas da paz por onde passarmos, exalando o perfume da ternura em nossas relações.

Com a mesma ternura, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7 e Lc 2,16-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 19-22, e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Janeiro de 2020), pp. 38-41.

COMENTADO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DA EPIFANIA DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


          A festa da Epifania celebra a manifestação de Jesus Cristo, luz e salvação de Deus, a todos os povos e nações. Jesus é o verdadeiro Messias, o rei justo, o libertador, esperado por todas as pessoas comprometidas em construir o Reino da justiça. Os sábios do Oriente representam os que se deixam guiar pela luz, pelo projeto de Deus a serviço da vida plena. Eles experimentaram uma grande alegria ao encontrarem Jesus, o rei dos judeus, e o adoram, oferecendo-lhe os seus presentes.

            As promessas das Escrituras acerca do Messias são compreendidas à luz da fé na ressurreição. Quem se deixa iluminar pela sabedoria de Deus, acolhe e reconhece Jesus como o Messias prometido, o portador da salvação a toda a humanidade. A ambição, o poder, como os de Herodes, leva a rejeitar a presença do Salvador desde o seu nascimento. A atitude dos reis, que chegam de longe para adorar o Menino, contrasta com a dos chefes de Jerusalém que tramam sua morte.

            Somos convidados a seguir o exemplo dos magos: guiados pela estrela, caminhar ao encontro do salvador da humanidade. A páscoa de Cristo se manifesta como luz na vida de todos nós que esperamos a revelação do Senhor e ansiamos por unidade, justiça e paz.

            Contemplemos nas leituras a glória do Senhor, luz que ilumina e reúne em torno de si toda a humanidade, e acolhamos com fé a manifestação do recém-nascido, nosso salvador.

            Abandonemos o desânimo e olhemos para frente com esperança, pois a glória de Deus já se manifestou sobre a humanidade. Precisamos descobrir a estrela que nos guie de forma segura ao longo do ano. Já não há povo excluído das promessas divinas, manifestadas em Jesus. Deus se manifesta a todos os povos na pessoa frágil do menino Jesus.

            O episódio dos reis magos acentua o acolhimento de Jesus e sua mensagem pelos gentios e prefigura a missão universal dos discípulos de evangelizar “todas as nações”. É um apelo bem atual para a nossa realidade.  Ao descobrir os sinais (a estrela), os Reis Magos se colocam no caminho, perguntam aos que conhecem as Escrituras, procuram até encontrá-lo e o adoram, aderindo a ele com a fé e a vida.

            O encontro com o Senhor transforma a nossa vida. Sua presença e palavra nos iluminam e nos convidam a levantar, comprometendo-nos a construir um caminho novo de libertação. Em Cristo nos tornamos discípulos e discípulas, participantes da mesma herança, do mesmo corpo, da mesma promessa de salvação. A “Epifania” do Senhor nos proporciona viver a comunhão e a fraternidade com todos os povos do universo.

            Lá na periferia, longe do palácio real, “os magos viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” que indicam, respectivamente, a sua realeza, divindade e incorruptibilidade.

            A estrela que leva os cristãos a Jesus nos dias atuais, é a fé recebida, como dom gratuito no dia em que mergulhados no útero da Igreja, a Pia Batismal. Adotados da sabedoria divina, nosso horizonte aponta a “estrela” que nos conduz a Jesus. Além disso, todo cristão é convidado a ser estrela a qualquer pessoa que esteja à procura de Jesus. É interessante que os Magos procuram saber o itinerário com Herodes, porque nem de longe poderiam imaginar que aquele rei não soubesse do acontecido em Belém. Enganados pelo rei invejoso, tomam caminho adverso, depois de encontrar-se com Jesus. Mesmo assim não conseguem evitar que a inveja incontrolável de Herodes mande matar todos os meninos com menos de dois anos de idade. Seria insuportável conceber um rei em seu lugar, ou então, alguém superior a ele.

            Quantas vezes, entre nós, vestimos a inveja de Herodes, degolando (com nossa língua maldosa) nossos irmãos por pura inveja?

            Há quem engane o itinerário até Jesus. São aqueles que se rogam o direito de julgar, condenar e despistar, para não dizer, enxotar as pessoas de nossas Comunidades: seja por ignorância, seja por pura inveja, esta que cheira a Herodes!

            Como seria bom e agradável ao Senhor, que a Epifania fosse mais real, sincera, sentida e comprometida em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. Ainda há tempo de conversão! Sejamos a Estrela que conduza nossos irmãos a Jesus o Salvador!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3.5-6 e Mt 2,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 29-33 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo do Natal (Janeiro de 2020), pp. 42-46.

O NATAL E A SAGRADA FAMÍLIA!

 Padre Gilberto é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com 

Na oitava do Natal celebramos O Natal e a Sagrada Família! O Natal perdeu muito de seu verdadeiro sentido. Há 50 anos, antes de entrarmos para a era do pós-industrialismo e seu laicismo pragmático e materialista, pelo menos 80 em cada 100 lares tinham ao menos um Menino Jesus e uma Sagrada Família num cantinho da sala. O Natal era um momento significativo para o crescimento na fé. E o centro desta celebração era a pessoa frágil e indefesa do Menino Jesus. Era muito importante entender Seu nascimento.

Nos tempos atuais, pelo menos 98% das lojas tem um Papai Noel. Nas vitrines enfeitadas, Jesus não entra. A Festa do Natal deixou de ser do Menino de Belém para se tornar daquele que tem coisas para dar às crianças ou aos amigos. Ser não é importante. Ter ficou mais importante: coisa típica do industrialismo materialista. Perdeu o grupo, o coletivo e venceu o individualista, o opulento, o velho (Papai Noel) que tem e dá.

Para a Igreja, o Batismo é um desafio. É nascer em Jesus e assumir o seu projeto de vida e liberdade para todos. É andar, pensar, amar e orar com Jesus. É nascer de novo e ir renascendo a cada dia. E viver o compromisso de fé decorrente do Batismo. Eis a proposta para uma “Igreja em Saída”, missionária e toda ela ministerial, como tanto nos pede o Papa Francisco!

O Natal insere-se nessa mística. Acontece que a morte tem sido institucionalizada no triste contexto da civilização das ogivas nucleares, do macro mercado, dos macros marginais, do crime internacional, da corrupção tão devastada entre os representantes legítimos do povo, dos juros extorsivos, da morte mais eficiente, da produção que se perde e do 1,2 bilhão de famintos e miseráveis.

Os meios de comunicação encarregam-se de difundir a cultura da morte com milhares de cenas violentas dos Robocops, Rambos, etc. A morte diverte e vende mais. De tragédias anunciadas, então, nem se fala!

O nascimento de um bebê dá menos ibope do que um acidente que fere e mata. A vida está menos importante num mundo que destrói mares, florestas e nações sem o menor escrúpulo.

Festejar o Natal nesse tipo de mundo supõe uma profissão de fé na vida e no Autor dela. Devolver o Natal às famílias e lutar para que não fique circunscrito às Igrejas são tarefas desafiadoras. O Natal descristianizou-se e nós permitimos isso. Papai Noel ocupou o espaço social, econômico, político e até religioso que era de Jesus. Os cristãos perderam o marketing. No Natal, fala-se mais de Papai Noel do que de Jesus.

Nós e nossas Famílias podemos mudar isso! Se colocarmos os símbolos certos em nossas casas. Se crermos em Jesus. Ele tem de aparecer mais do que o Papai Noel. Mais ainda: deverá ser percebido em nossas relações humanas de amor e de ternura, como é O Natal e a Sagrada Família!





quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Que a paz de Cristo reine em vossos corações

e ricamente habite em vós sua palavra!”(Cl 3,15s).

       

            Como é bom celebrarmos a Solenidade da Sagrada Família diante de uma das grandes preocupações do Santo Padre o Papa Francisco e de nosso amado Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, A Família!

            Neste dia da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias. Elas são convidadas a imitar e encarnar os valores propostos pela família de Jesus, Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de obediência à vontade de Deus.

            A liturgia da palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a palavra significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua proposta.

ORAÇÃO PELAS FAMÍLIAS

    Deus nosso Pai, vós quisestes habitar numa família humana.

Abençoai os pais, as mães e os filhos.

Afastai de nossas famílias todos os males.

Ajudai-nos a promover nas famílias,

em todos os lares de nosso país,

os sentimentos e os propósitos de união,

amor generoso, fidelidade permanente e

perseverança constante na vossa graça.

Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

 

(cf. Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2020, p.106).

 

A Solenidade do Natal do Senhor se prolonga e se desdobra em várias comemorações que ajudam a aprofundar o mistério da encarnação. Todas essas, em íntima conexão com o nascimento do Filho de Deus, revelam aspectos importantes de um único acontecimento: Deus se fez um de nós. É dentro deste horizonte que se situa a Festa da Sagrada Família. No Evangelho, Maria e José se encaminham para Jerusalém a fim de cumprir os preceitos da lei: apresentar o primogênito, oferecer sacrifícios, purificar a mãe... O Filho de Deus nasceu sujeito à lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à lei (cf. Gl 4,4). Significa dizer: Deus vem ao encontro da vida humana por inteiro, não se isentando de participar de nada, somente do pecado, para, em contrapartida conceder a todos a participação na vida divina. Os antigos chamavam isso de sacrum comercium, isto é, sagrado comércio, ou divina troca: Deus entra em comunhão com a vida humana para possibilitar aos seres humanos entrar em comunhão com a vida divina. Lembremo-nos da gotinha de água (nossa mínima participação) misturada ao vinho no cálice (a máxima ação de Deus) na Preparação das Oferendas: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade de vosso Filho, que se dignou assumir nossa humanidade”.

            Maria e José, os pais de Jesus, levam ao templo, lugar de encontro religioso com Deus, duas pombinhas. É a oferenda dos pobres, a expressão religiosa de sua condição e pequenez. É no meio dessa situação onde se situa o Filho de Deus. Na comunicação de dons a humanidade oferece aquilo que tem: fragilidade, pobreza, pequenez... Já Deus escolheu se encontrar com a humanidade no seio da família, é esse o lugar do encontro, profundamente humano e existencial, com a obra preferida de suas mãos. A nós ele oferece o seu Filho. A humanidade, figurada por Maria e José, Simeão e Ana, acolhe Jesus, que na economia da Nova Aliança vai salvar a humanidade do pecado e da morte.

            Mas é no contexto litúrgico que se torna decisivo para a compreensão dos textos bíblicos: a Sagrada Família é a “lente hermenêutica” proposta pelos textos eucológicos desta festa. A ela acorrem os pastores. É ela modelo de amor e de virtude para nossas famílias, bem como intercessora em favor das famílias que celebram o sacrifício de reconciliação. Mas a virtude e a piedade conduzem ao mistério da Igreja. As famílias terrestres, valor inestimável para as nossas comunidades, são sinais de outras realidades: a comunhão entre os irmãos e a comunhão com Deus que nos foi alcançada por Jesus. Os laços de amor aqui vividos no ambiente familiar, conduzem os fiéis às alegrias da casa de Deus. As famílias são firmadas na graça divina, e por intercessão de José e da Virgem, conservadas na paz de Deus.

            A graça e a paz nos foram comunicadas no mistério de Cristo. Por sinal, esta é uma das saudações mais frequentes do início de nossas celebrações (cf. 1 Cor 1,3). As comunidades celebram periodicamente pedindo, como família cristã, pelas mesmas coisas que a liturgia desta festa suplica para as nossas famílias. A comunhão da Igreja encontra seu reflexo nos lares e vice-versa. Não é por acaso que, por longa tradição, os fiéis se nomeiam “irmãos e irmãs” uns dos outros, pois todos foram irmanados em Cristo, aquele que conviveu com os homens. A comunhão sacramental nos refaz para os embates da vida e nos associa à Sagrada Família.

            Enquanto a Cultura da Sobrevivência coloca a Família de bruços, engolindo-a com o tripé de contra valores: o consumismo, o hedonismo e o individualismo, a Solenidade da Sagrada Família nos conclama e incentiva a reerguê-la, devolvendo-lhe a necessária dignidade humana! Saibamos, a partir desta solenidade, reencontrar meios para ancorar nossa Família em valores essenciais, como o amor gratuito, a verdade, a justiça e a liberdade!

            Desejando-lhes abençoado Ano de 2021, nossa ternura, gratidão e abraço cheio de novas esperanças!

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Col 3,12-21 e Lc 2,22-40).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2020, pp. 102-109 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Dezembro de 2020), pp. 34-39.

 

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Alegremo-nos todos no Senhor:

Hoje nasceu o Salvador do mundo,

Desceu do céu a verdadeira paz!”(Sl 2,7).

 

Nosso Comentário da Palavra da Solenidade do Natal do Senhor, tentará, resumidamente abordar as Celebrações da Noite do dia 24 e do Dia 25 de Dezembro!,

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Por isso, exultemos todos no Senhor: nasceu o salvador do mundo, do céu desceu a verdadeira paz e felicidade. Na fragilidade da criança, contemplamos a revelação de Deus na história da humanidade. Deus se encarna no humano para nos tornar mais divinos.

           

Todos somos convidados a formar coro com os anjos: glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra às pessoas de boa vontade. Jesus chegou até nós, trazendo-nos a salvação. Chegou a salvação dos pobres e oprimidos (Is 9,1-6). Por meio de Jesus, Deus entra na história da humanidade para dela fazer parte (Lc 2,1-14). A graça de Deus traz salvação a toda a humanidade (Tt 2,11-14).

            Cristo, que nasce pobre em Belém, está entre nós na simplicidade do pão que compartilhamos, dando graças ao Pai. Com Maria e os pastores, reconheçamos e adoremos nosso Senhor.

            As promessas de Deus se cumprem: um menino nasceu para nós; ele é o príncipe da paz e a luz que brilha para o mundo, afastando toda treva. Na fragilidade da criança, Deus se torna presente em nosso meio. A palavra se fez pessoa e veio morar junto conosco.

            A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Acolhamos com alegria a palavra de Deus, força de vida e salvação. Deus vem trazer-nos paz e salvação. A palavra de Deus torna-se carne e habita entre nós. Ele nos fala diretamente por meio de seu Filho.

            Louvemos o Pai porque, com a encarnação de seu Filho, possibilita o encontro do divino com o humano. A palavra eterna do amor de Deus se fez homem, e nós vimos brilhar a sua luz.

            Gosto muito da frase que se pronuncia, geralmente em voz baixa, durante o canto da preparação das oferendas na Missa, enquanto se coloca uma gota de água no cálice de vinho: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Penso que esta afirmação deveria ser dita em voz alta, pois sintetiza o evento do Natal do Senhor! Nossa participação de toda a História da Salvação é apenas uma gotinha de água, o mínimo, unicamente o esforço por acolher A palavra de Deus que se faz Pessoa igualzinha a nós em tudo, menos no pecado, remetendo-nos ao mais profundo conhecimento de Deus, na meiguice de um recém-nascido. Todo o resto Deus mesmo realiza em nós, na medida em que o permitimos agir.

A Natividade de Jesus é uma festa antiga. Esta celebração deita suas raízes na veneração da gruta em que o Senhor nasceu. No rito romano, como liturgia orgânica e já instituída somente tem-se notícia a partir do século IV, quando aparece pela primeira vez a data de 25 de dezembro, segundo os testemunhos de um antigo documento chamado Cronógrafo Romano.

            O que se celebra nesta liturgia é bem mais do que o aniversário do nascimento histórico de Jesus. É, em suma, a celebração de sua Páscoa vista sob a perspectiva de sua entrada no horizonte da história humana de modo inaudito e admirável, como sugere a bucólica cena do nascimento narrado no Evangelho de Lucas. Embora se possa (e deva!) localizar os feitos maravilhosos do Senhor no âmbito da história humana, que o ocidente convencionou consignar em “passado – presente – futuro”, a ação divina sempre precede e supera os nossos limites temporais e espaciais. Por isso, a liturgia divina quando celebrada se torna uma espécie de parêntesis no tempo cronológico, como momento da história da salvação que nos alcança aqui e agora, um acontecimento que deve ser lembrado em todo tempo e lugar.

            A celebração da Natividade do Senhor é festa de sua manifestação na carne, isto é, Deus vindo ao encontro da humanidade como pessoa humana: “sob véus de humildade podemos ver” o Deus invisível e eternal grandeza (Adeste Fidelis – Cristãos, vinde todos).

            Para Agostinho, no século V, a celebração do Natal do Senhor não tinha sentido de sacramento, era a recordação da Natividade de Jesus. Para o bispo de Hipona, o único sacramento era a Páscoa, pela qual os seres humanos e a criação inteira tinham sido reintegrados à sua origem, que é o próprio Deus, sumo bem. Será Leão Magno, no mesmo século e alguns anos mais tarde quem encontrará o sentido mistérico e por isso, sacramental, do Natal do Senhor. Para ele, a Natividade, celebração da encarnação do Verbo, está intimamente ligada à Páscoa. É seu início, pois, quando a Igreja celebra esta solenidade, comemora o aspecto do novo nascimento dos fiéis para uma vida redimida: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se um de nós, nós nos tornamos eternos”. Fica evidenciado o aspecto sacramental e pascal do Natal do Senhor.   

Gosto de pensar como Deus dribla a humanidade, nascendo numa manjedoura, entre animais. Como se não bastasse, se permite anunciado em primeiro lugar aos mais simples dos simples: os pastores, durante uma fria madrugada. Talvez os únicos acordados naquela noite. Certamente os mais sensíveis e talvez os mais disponíveis para ouvir o jubiloso anúncio dos Anjos: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade”, isto é, aos homens e mulheres de coração aberto para acolher, como que uma “manjedoura”, um recém-nascido envolvo em panos, Emanuel, o DEUS CONOSCO, a meiguice e fragilidade de um bebê. Simplesmente uma criança. Isto me convence que Deus é muito mais simples do que O complicamos! Basta estar aberto, atento, ser hospitaleiro e acolhedor. Basta ler a face do Senhor no semblante do Outro!

Feliz e santo Natal a todos!

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2020, pp. 93-99 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Natal (Dezembro de 2020), pp.27-33.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Céus, deixai cair o orvalho;

nuvens, chovei o justo;

abra-se a terra e brote o Salvador!”(Is 45,8).

 

            Já no Quarto Domingo do Advento e às portas da Solenidade do Natal do Senhor, a liturgia dirige o nosso olhar para o anúncio do Anjo feito a Maria e para sua própria pessoa enquanto imagem da Igreja que aguarda a chegada do Natal. Para sublinhar em que ponto a celebração nos situa, recordemos nosso trajeto realizado: nos dois primeiros domingos do Advento escatológico, nossa expectativa foi reacendida em vista das realidades futuras e dos últimos tempos que Jesus inaugurou a partir de sua vinda histórica e sua glorificação. A acolhida do anúncio da Palavra de Deus nos preparou na direção desse evento derradeiro, que o povo da Primeira Aliança viu realizar na Igreja, como já participante das realidades futuras.

No terceiro domingo do Advento, com o olhar mais voltado para a vinda histórica, a Igreja se alegrou, como que antecipando aquilo a que se prepara e no canto de Maria, proclamou as maravilhas que Deus realizou por seu povo e continua a realizar por meio de Jesus e de seu Espírito. Nesse mesmo período iniciamos a novena do Natal do Senhor, intensificando a nossa espera e vigilância, enchendo nossas lâmpadas com o azeite da oração, adentrando no festim do noivo que veio ao nosso encontro. Cada domingo, como luz a iluminar nossos passos, nos conduziu a este momento, onde contemplamos a Virgem como a um espelho, onde podemos ver a imagem daquilo que a Igreja é chamada a ser: casa preparada por Deus, arca da Aliança e receptáculo do Mistério outrora escondido e que Deus, por imensa bondade, revelou a todos.

Graças ao sim de Maria, Deus veio habitar entre nós na pessoa de Jesus. Todos devemos estar disponíveis para a ação do Espírito de Deus, acolhendo no coração o mistério da encarnação. A páscoa de Jesus se manifesta nas pessoas e grupos que se dispõem a receber a boa-nova trazida pelo anjo Gabriel.

De coração alegre e agradecido, acolhamos a Palavra de Deus. Ela nos mostra o plano divino de salvação e em Maria realiza a prometida encarnação do Salvador.

Deus quer caminhar com seu povo, e não ficar trancado no templo. Maria aceita a proposta de ser a mãe de Jesus. O mistério de Deus se revela à humanidade em Jesus encarnado.

Respondendo nosso amém à oração eucarística, aceitamos com gratidão o plano de Deus; acolhendo a palavra feita carne, deixamo-nos transformar, pelo Espírito, em novas criaturas.

A celebração do quarto domingo, como último Domingo do Advento histórico, na mesma dinâmica do terceiro domingo, antecipa a realidade festiva que se desabrocha no Natal. Nesta celebração a Igreja é a receptora do anúncio do Anjo, participando da encarnação do Verbo ao acolher a Palavra proclamada, exercendo seu discipulado na escuta e na obediência e deixando realizar em seu seio a salvação esperada. Contudo, a chave messiânica da compreensão dos textos nos convida a perceber que a salvação principiou neste mistério e se completa na páscoa do Senhor, para a qual rumamos. Nós, que também já desfrutamos da vida divina em Cristo pela participação em sua páscoa, não devemos fazer o seu caminho de encontro com as realidades carentes de vida nova? Prolongar o anúncio do Anjo ao mundo, descobrindo a semente do Verbo nas realidades mais sofridas, não seria nossa resposta obediente, discipular e atenta à vontade do Pai? O Natal do Senhor se orienta e se aprofunda também na páscoa do mundo que anseia por vida nova e por salvação.

O mistério da encarnação, iniciando hoje com a anunciação do Anjo à Virgem, é aprofundado pelo mistério da cruz que nos leva à ressurreição. Segundo uma mensagem de Natal, “Para quem consciência ainda tem, o Natal  é dura cruz na casa de alguém”, poderemos nos encaminhar mais ligeiramente para o acontecimento natalino, se estivermos mais atentos e solícitos aos sofrimentos e cruzes que carregam os outros!

Com a Igreja, portanto, somos convidados a sentirmo-nos também grávidos do Senhor! Mais ainda: somos conclamados a “dar à luz ao Cristo não mais Menino, mas Ressuscitado”.  Por isso o Natal do Senhor precisa ser motivado por nossa missionariedade e discipulado a exemplo de Maria. Sejamos o porta-jóias de Jesus, anunciando-O com a própria vida ao mundo que nem sempre O reconhece em nossas incoerências. Quantas aparências, falsidades, mentiras, fingimentos e invejas atrapalham um verdadeiro Natal que não aborte Jesus, por conta do consumismo, hedonismo e individualismo! Sejamos livres para celebrarmos um Natal diferente, como nunca antes em nossa vida pessoal, comunitária e social!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

 

Pe. Gilberto Kasper

(Ler: 2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88(89); Rm 16,25-27 e Lc1,26-38).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2020, pp. 65-71 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo do Advento (Dezembro de 2020), pp. 22-26.