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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

HOMILIA PARA O VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM - Mês da Bíblia


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Senhor, sois bom e clemente,

cheio de misericórdia para

aqueles que vos invocam” (Sl 85,5).

 

            “Iniciamos com o Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum o denominado Mês da Bíblia por causa de São Jerônimo, o tradutor das Sagradas Escrituras, cuja festa celebraremos no dia 29 de setembro. O tema escolhido revela o Evangelho do Ano Litúrgico C e os cinco aspectos fundamentais do processo do discipulado: o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o seguimento, a comunhão fraterna e a missão propriamente dita. O lema indicado pela Comissão Bíblico-Catequética dos Bispos do Brasil (CNBB) é: ‘Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido’ (cf. Lc 15,9). Já o tema é: ‘Discípulos missionários a partir do Evangelho de Lucas’.

            ‘O Senhor nos reúne para tomarmos lugar na ceia eucarística e partilharmos de sua intimidade e amizade, ouvindo sua palavra e recebendo-o como alimento. Somos convidados ao banquete do reino, onde não há privilégios, mas sim privilegiados: os empobrecidos, para os quais Deus prepara a mesa com muito carinho. A Liturgia deste domingo abra o nosso coração ao espírito do evangelho.

            As leituras nos conclamam a viver a humildade e a gratuidade, que nos fazem encontrar graça diante do Senhor, nos aproximam dele e nos tornam felizes participantes do seu reino.

            A verdadeira modéstia nos conduz a Deus e nos dá a consciência da nossa fragilidade e da necessidade de aprender com os outros. Modéstia e gratuidade são as condições para sentar à mesa com Jesus em seu reino. Com Jesus, temos novo modo de experimentar Deus.

            Na eucaristia, renova-se o gesto de humildade de Jesus: tornou-se pequeno entre os pequenos. Ao tomarmos lugar à mesa eucarística, recebemos o vigor e a força que vêm do pão partilhado’ (cf. Liturgia Diária de Setembro de 2013 da Paulus, pp. 14-17).

            No Evangelho de São Lucas deste domingo, Jesus, convidado pelo fariseu, encontra naquele ambiente de festa pessoas que se consideravam umas melhores do que as outras. Cada qual queria superar seu vizinho em importância. Jesus, ao ver tal situação, toma uma atitude para levá-los a refletir sobre o que é realmente importante, sob a ótica misericordiosa de Deus. A parábola contada por Jesus deve ter chocado a todos, pois ela se contrapõe àquilo que os fariseus consideravam socialmente certo. Jesus lhes diz que aqueles que se consideram ‘os tais’ cairão do alto de seu orgulho e ficarão envergonhados ao perceberem que seu lugar é o menos importante. Mais ainda, Jesus diz que os melhores lugares estarão reservados aos que são autenticamente humildes. Por que isto? Porque os que se consideram grandes, os maiores e melhores são pessoas ‘cheias de si’, como se diz comumente. Elas estão com o espírito de tal modo repleto de orgulho e autossuficiência que, em seu interior, não sobra espaço para praticarem as virtudes evangélicas, especialmente a caridade. A festa a que Jesus se refere, com certeza, não é uma festa como as que realizamos em datas comemorativas. Jesus se refere à grande festa que acontecerá no céu ao final dos tempos. Nela, os convidados não serão nem os orgulhosos, nem os autossuficientes, nem os egocêntricos. Para ela, receberão convite os mais humildes, simples, que reconhecem sua fraqueza e se deixam guiar pela mão de Deus; os que se reconhecem simples e humildes e por isso são capazes de olhar seus irmãos.

            São Paulo nos fala desta festa celestial, reunião festiva de milhões de anjos, dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição. Obviamente, o caminho da perfeição não será o seguido pelos orgulhosos fariseus, mas o trilhado pelos humildes. Na própria resposta que damos à Palavra proclamada, dizemos isto a nosso Deus: ‘com carinho preparaste esta terra para o pobre’. No entanto, em muitas outras situações, ele próprio vivenciou aquilo que disse. Jesus é nosso modelo de humildade e doação. Qual humildade pode ser mais forte, mais autêntica do que a praticada por alguém que, embora sendo de condição divina, tornou-se humano como nós, tornou-se um conosco?

            Fica-nos ainda a lição do livro do Eclesiástico: encontraremos graça diante do Senhor, ao praticarmos autenticamente a humildade, pois o Pai escolheu os humildes para a eles revelar seus mistérios” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II de 2013 da CNBB, pp. 9-14).

            Só quem é humilde sabe o quanto é bom ser humilde. Muitas vezes nos deparamos, em nossas Comunidades, com a arrogância, a prepotência, o abuso de poder, cargos e funções. Quantas vezes, dizemos não aos mais simples, mas fazemos a chamada Pastoral da Amizade, dizendo sim aos que nos são convenientes? Saibamos rever nosso zelo e nossa sensibilidade pastoral. Não nos roguemos o direito de julgar, mas saibamos acolher, ouvir e inserir na Comunidade todos que nos buscam!

            Quando o Papa Francisco falou do clericalismo, referia-se aos nossos esmerados e queridos Agentes de Pastoral. Embora trabalhem incansavelmente, nem sempre são suficientemente humildes e acolhedores. Daí surge a Pastoral da Exclusão! Quando o Santo Padre falou de carreirismo, referia-se aos Ministros Ordenados que gastam suas energias na busca de poder, cargos, funções e prestígio, mesmo que, para alcançarem isso, tenham que “subir às custas dos erros dos outros”. Coisa feia! Devemos ser porta-vozes da misericórdia de Deus e, antes de julgar os outros, entrar aos porões de nossa própria intimidade, onde certamente encontraremos muitas coisas a serem mudadas. Sejamos Anjos uns dos Outros e não meros juízes!

            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Eclo 3,19-21.30-31; Sl 67(68); Hb 12,18-19.22-24 e Lc 14,1.7-14).

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

HOMILIA PARA O VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO COMUM


DIA DO CATEQUISTA

DIA DOS MINISTÉRIOS E SERVIÇOS NA COMUNIDADE
 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 

“Os últimos serão os primeiros

e os primeiros serão os últimos” (cf. Lc 13,30).

 

            A Palavra de Deus deste Vigésimo Primeiro Domingo Comum do Tempo Litúrgico nos coloca diante de Jesus Cristo, que nos ensina a desinstalar-nos de nossas eventuais e possíveis autossuficiências para vivermos melhor a proposta do Reino de Deus e, assim, sermos felizes, fazendo felizes os outros.

            “São poucos os que vão ser salvos? Muitos cristãos vivem com esta pergunta martelando em sua cabeça e afligindo seu coração, pergunta, às vezes, inculcada por pregadores insensatos.

            ‘O Senhor nos reúne para a celebração da eucaristia, que nos educa no caminho de Jesus. Mas não basta comer e beber na sua presença; somos chamados a passar pela porta estreita que conduz ao banquete do reino.

            Acolhamos a palavra de Deus, o qual chama todas as pessoas para formarem um povo santo que caminhe na justiça, instruído por seus ensinamentos, e que participe do banquete festivo do reino.

            O profeta Isaías convida todas as nações a ver e proclamar a glória de Deus. Deus prepara o banquete para todos; para entrar, porém, não basta somar rezas, é necessária a prática da justiça. Todos precisamos passar pela escola de Deus e aprender a resistir e perseverar.

            Oferecendo o seu Corpo e Sangue em alimento, Cristo nos torna todos irmãos e irmãs na fé. Apresentemos a Deus a vida e a missão de todos os que assumem algum ministério ou serviço na comunidade, especialmente os incontáveis Catequistas e Agentes de Pastoral’ (cf. Liturgia Diária de Agosto de 2013 da Paulus, pp. 82-85).

            Jesus hoje nos alerta que ‘salvação é para todos, vindos de todos os lados, dos quatro ventos, de perto e de longe. Só não é para aqueles que se fecham na sua autossuficiência e nos presumidos privilégios. A página do Livro do Profeta Isaías lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo da Aliança a todas as nações. Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a autossuficiência’.

            Isso leva, a nós, cristãos, a pensarmos! Existem muitos cristãos instalados, que se sentem seguros fazendo formalmente tudo o que lhes foi prescrito, mas não assumem com o coração aquilo que Jesus deseja que façam, sobretudo o incansável amor ao próximo. Eles ficarão de fora, se não se converterem, enquanto outros, considerados pagãos, vão encontrar lugar no Reino. Aqueles que só servem a Deus com os lábios e não com o coração e de verdade, o Senhor não os conhecerá!

            Numa palavra, o Reino exige desinstalação. Exige busca permanente daquilo que é realmente ser cristão: não apegar-se a fórmulas farisaicas, mas entregar-se a uma vida de doação e amor, que sempre nos desinstala. Então a questão não é se poucos ou muitos vão ser salvos. A questão é se estamos dispostos a entrar pela porta estreita de desinstalação e do compromisso com os que sempre foram relegados. A questão é se abrimos amplamente a porta de nosso coração, para que a porta estreita se torne ampla para nós também. Deus não fechou o número. A nós cabe nos incluirmos nele” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I da CNBB, pp. 113-119).

            Nosso amado Papa Francisco insiste numa Cultura do Encontro, capaz de superar  e de extirpar de nossas relações familiares, eclesiais, políticas e sociais, as Culturas do Consumismo, do Carreirismo, do Prestígio a todo custo, da Conveniência e da Conivência com as inúmeras injustiças sociais a que somos acostumados. Não basta ser um “Católico Certinho”, aparentemente apenas. É preciso algo mais: o compromisso com a promoção da Dignidade Humana. Despir-nos de nossa arrogância que nos leva, facilmente, a emitirmos juízos sobre o comportamento dos outros, e olhar mais para os porões de nossa intimidade, que não poucas vezes cheira mal. Tal conversão é um exercício contínuo e muitas vezes dolorido. Mas se não nos configurarmos com Jesus Cristo na relação com nossos irmãos, não passaremos pela porta estreita. Iniciemos hoje mesmo a dieta que nos emagreça de nossa prepotência, achando que somos melhores, porque damos o dízimo, comungamos sempre e até ocupamos algum cargo ou função nesta vida. Se não estivermos sempre dispostos a promover a Cultura da Vida, de nada terá adiantado o mero cumprimento de preceitos!

            Sejamos agradecidos aos tão queridos e esforçados catequistas e vocacionados para os vários ministérios e serviços na Comunidade. Lembremos hoje, especialmente, de que a Igreja de Jesus Cristo é toda ela, missionária e ministerial, ou não é Sua!

            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 66,18-21; Sl 116(117); Hb 12,5-7.11-13 e Lc 13,22-30).

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Felizes aqueles que ouvem a

Palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11,28). 

            “Celebramos no Vigésimo Domingo do Tempo Comum uma das festas mais populares e consoladoras dedicadas à Virgem Maria: Assunção de Nossa Senhora!

            ‘Cantamos as maravilhas que Deus realizou em Maria, exaltada acima dos anjos na glória junto a seu Filho Jesus. A páscoa de Cristo se realiza nos corações e comunidades que, a exemplo de Maria, se abrem à palavra de Deus e formam família com o Ressuscitado.

            Elevada ao céu, Maria intercede por nós e nos espera para que desfrutemos de sua companhia. Celebramos em comunhão com os vocacionados à vida consagrada: religiosos e consagrados seculares, que a exemplo de Maria, dão seu sim generoso ao projeto de Jesus.

            Mulher revestida de honras e glórias, Maria reconhece, agradecida, as maravilhas que Deus nela realizou em favor do povo. Ela é o grande sinal da nova humanidade redimida pelo seu Filho.

            Maria assunta ao céu é sinal da vida do povo grávido de Deus que aguarda a revelação da glória. Em Maria, humilde serva do Senhor, Deus tem espaço para operar maravilhas. A vitória de Cristo sobre a morte é símbolo também de nossa vitória.

            Maria já participa do banquete do reino com seu Filho. Quanto a nós, na eucaristia nos é concedido antecipar a alegria que o Pai reserva a todos os que são fiéis a Jesus’ (cf. Liturgia Diária de Agosto de 2013 da Paulus, pp. 62-67).

            É a partir da gloriosa vitória da Páscoa sobre o pecado e a morte que nós contemplamos Maria toda gloriosa no céu. Vemos como o próprio Evangelho coloca na sua boca palavras que proclamam a beleza de Deus que, na vitória de Jesus, ‘realizou uma tríplice inversão das falsas situações humanas, para restaurar a humanidade na salvação, obra de Cristo:

            No campo religioso, Deus derruba as autossuficiências humanas, confunde os planos dos que nutrem pensamentos de soberba, erguem-se contra Deus e oprimem os seres humanos.

            No campo político, Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos dos tronos e exalta os humildes; repele aqueles que se apoderam indevidamente dos povos, e aprova os que os servem para promover o bem das pessoas e da sociedade, sem discriminações...

            No campo social, Deus transforma a aristocracia estabelecida sobre ouro e meios de poder, e cumula de bens os necessitados e despede de mãos vazias os ricos, para instaurar uma verdadeira fraternidade na sociedade e entre os povos.

            A festa de Nossa Senhora da Assunção representa uma injeção de ânimo para todos que, em meio a tantas dificuldades, peregrinamos na fé e na caridade rumo à pátria definitiva. Nela celebramos a esperança de estarmos todos juntos, um dia, com Maria, participando da festa que no céu nunca se acaba, a festa da total e definitiva libertação.

            Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria também é Mãe da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.

            Para os tempos de hoje, no ‘momento histórico em que vivemos, a contemplação da serva gloriosa pode nos trazer uma luz preciosa.  Que seria a humilde serva no século 21, século da publicidade e do sensacionalismo? Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é um sinal de esperança para os pobres. Sua história joga também uma luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, duplamente oprimida, Maria é a mãe libertadora’.

            Assumindo responsavelmente o projeto de Deus, Maria é figura e esperança de quantos aspiram por liberdade e vida. Ela vem reforçar a confiança dos pobres, ao mostrar que neles o Poderoso opera maravilhas de libertação. Serva fiel, bem-aventurada porque acreditou nas promessas, solidária com os necessitados, é mãe das comunidades que lutam contra os dragões que procuram roubar-lhe as esperanças. Associada intimamente a Jesus por sua maternidade e mais ainda pela prática da Palavra participa da vitória de Cristo, primícia da vida em plenitude. O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo irá se tornando realidade concreta se formos cidadãos conscientes e responsáveis.

            Reunimo-nos, neste domingo, com Maria para proclamar as maravilhas operadas em nós pela morte e ressurreição de Jesus. Desta forma, iniciamos mais uma semana que, com a graça de Deus e proteção de Maria, será uma semana de paz, abençoada” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I da CNBB, pp. 106-112).

            Nada mais justo que Jesus acolhesse de corpo e alma Sua Mãe, a Virgem Maria, na feliz eternidade, uma vez que, totalmente Imaculada emprestou seu útero, a fim de que se tornasse o porta-jóias do próprio Deus, feito pessoa. Penso que o grande convite desta festa, é que cada um de nós se sinta, igualmente, o porta-jóias, o sacrário, o tabernáculo de Jesus Sacramentado, bem como no semblante do irmão, preferencialmente no rosto triste, enrugado, sofrido, desolado e desesperançado. Enfim, celebrar, a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, para nós é celebrar novo ânimo, nova esperança e novas perspectivas de um mundo mais humano e fraterno.

            Que todos sintam as carícias da bênção materna de Nossa Senhora Assunta ao Céu! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44(45); 1Cor 15,20-27 e Lc 1,39-56).

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

HOMILIA PARA O DÉCIMO NONO DOMINGO COMUM - DIA DOS PAIS


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“É preciso vigiar e ficar de prontidão;

em que dia o Senhor há de vir não sabeis, não!” (Mt 24,42.44).

 

            “A vida é uma caixinha de surpresas. A toda hora somos surpreendidos pelo inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente preparados, sobretudo para as situações desagradáveis ou, eventualmente, até dramáticas da vida. Por isso nos reunimos todos os domingos com nosso melhor mestre, o Senhor Jesus, para ouvir e assimilar dele a verdadeira sabedoria para viver a vida com perene sentido.

            ‘O espírito da liturgia deste domingo quer suscitar em nós o espírito de constante vigilância e serviço, tendo o coração voltado para Deus. O reino que ele nos oferece por meio de seu Filho é o verdadeiro tesouro que os ladrões não roubam nem a traça corrói. Com confiança e fé celebramos em comunhão com os vocacionados para a vida em família, especialmente com nossos pais.

            Com os olhos da fé, a palavra de Deus nos convida a avaliar nossa caminhada e a nos manter sempre vigilantes e preparados para acolher o Senhor, buscando em tudo a sua vontade.

            A vigilância de Israel na noite da libertação é modelo para todo cristão até a libertação final. A comunidade, pequeno rebanho, precisa estar sempre vigilante e pronta para o seu Senhor. A fé é a força dinâmica que projeta ao futuro a vida do cristão.

            A Eucaristia nos leva a partir o pão juntos. Neste dia oferecemos, com o pão e o vinho, a vida e a missão dos pais, responsáveis por manter a família unida e fraterna’ (cf. Liturgia Diária de Agosto de 2013 da Paulus, pp. 42-45).

            É bom nos conscientizarmos de que ‘o fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da libertação encontrou os israelitas preparados para saírem – como lemos na página do Livro da Sabedoria -, e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada de seu patrão – como lemos no Evangelho de Lucas’.

            ‘Devemos preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não tem filhos. Assim como os antigos judeus colocavam sua esperança de sobrevivência nos seus filhos, estas pessoas a colocaram na sociedade do futuro. É nobre. Mas será suficiente?

            Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Ali a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na terra.

            Para a cultura judaica, quanto maior o número de filhos, maior significava a graça de Deus. Em nossos dias, quanto maior o número de filhos, maior parece ser a desgraça. Tenta-se a todo custo controlar a natalidade, ao invés de planejá-la. Como não se investe o suficiente em educação, saúde, sanidade básica, oferecendo oportunidades aos cidadãos, jogam-se ‘migalhas’ para que sobrevivam. Refiro-me às tais bolsas família, escola e até Copa do Mundo, R$ 90,00! Para o tal controle da natalidade, aprovam-se leis e medidas que castram a sociedade, ao invés de educá-la a ser gente!

            A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À utopia histórica, a visão cristã acrescenta a fé, prova de realidade que não se vêem. A fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última – razão do nosso existir’.

            Lembro, que na minha infância, falar na morte era bem mais natural do que nos dias atuais. Hoje virou tabu falar em morte, como se as pessoas fossem imortais. Só nos damos conta de que morreremos, quando a morte passa perto de nós, levando-nos pessoas que amamos. Antigamente as pessoas morriam no aconchego familiar e hoje, na frieza e solidão de Hospitais, especialmente quando adormecem para a eternidade na geladeira de Unidades de Terapia Intensiva. Precisamos retomar a naturalidade da morte, que gosto de comparar ao nosso ‘terceiro e definitivo parto. Nós cristãos, partimos primeiro do útero materno; depois do útero da Igreja, a Pia Batismal e, finalmente, do útero da terra (vida terrena), em direção à vida definitiva, acostando-nos ao amoroso colo de Deus, nosso Pai! O Ano da Fé amadurece nossa certeza de que morrendo, veremos Deus como Ele é. Nossa fé se debruça sobre a esperança, de que vendo como Deus é, seremos santos!

            Celebramos, neste Décimo Nono Domingo do Tempo Comum o Dia dos Pais! E é justamente no Dia dos Pais, que no Brasil iniciamos também, A Semana da Família, uma das Prioridades de nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral! Com toda a família franciscana, celebramos a memória (ou festa) de Santa Clara de Assis, uma mulher que, com São Francisco de Assis, encontrou o verdadeiro tesouro que dá sentido pleno à sua vida. Por Jesus Cristo se apaixonou e com ele amorosamente se aliou para todo o resto de sua vida: Jesus Cristo, pobre (=desapegado de tudo), humilde, crucificado. Ainda, nesta semana, dia 14, quinta-feira, celebramos a memória do mártir São Maximiliano Kolbe, um sacerdote franciscano que, na última guerra mundial, preso num campo de concentração, num gesto de total desapego, entregou a própria vida para salvar a vida de um pai de família condenado à morte.

            Na busca que fazemos do verdadeiro tesouro como forma de vivermos em estado de serena vigilância ‘para o que der e vier’, Jesus vem ao nosso encontro com suas sábias palavras” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I da CNBB, pp. 99-105).

            Não deixemos para amar amanhã. Pode ser que hoje seremos chamados a prestar contas de nossa vida, passando pela temível morte, diante do Pai que nos amou primeiro, mas nos medirá pelo amor amado a cada dia de nossa vida!

            Sejam todos muito abençoados, especialmente todos os Pais vivos. Rezemos, também, pelos que já nos precedem no colo do Pai dos pais falecidos! Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Sb 18,6-9; Sl 32(33); Hb 11,1-19 e Lc 12,32-40).

AGOSTO – MÊS VOCACIONAL


Pe. Gilberto Kasper

 

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

            O mês de Agosto, no Brasil, por excelência, é o Mês Vocacional. Todo cristão é vocacionado ao amor! Pelo batismo todos participam do sacerdócio real e profético de Jesus Cristo. Os cristãos são convidados a serem discípulos e missionários do Senhor: são sacerdotes e sacerdotisas enquanto vivem os compromissos batismais, sendo no mundo a Igreja do Ir!

            Mas o Mês Vocacional se debruça sobre algumas vocações específicas na Igreja. Durante as quatro semanas, retoma e aprofunda, promove e reatualiza quatro grandes vocações, chamadas de específicas! O primeiro domingo é dedicado ao ministério ordenado. Rezamos e promovemos a Vocação ao Sacerdócio Ordenado. Toda a Igreja tem a responsabilidade de rezar pelas Vocações Sacerdotais, a fim de que nunca faltem Padres bons, dedicados e santos a serviço da santificação das Comunidades de Fé.

            O segundo domingo, dedicado aos Pais, retoma a vocação à paternidade e à maternidade. É, também, o início da Semana da Família, que em nossa Arquidiocese ocupa uma das prioridades do Plano de Pastoral. Os pais são os primeiros responsáveis para que os filhos tenham existência digna e feliz.

            O terceiro domingo do mês vocacional ocupa-se com a vocação à Vida Consagrada, rezando pelos Religiosos e Religiosas, imensa riqueza na evangelização da Igreja. São homens e mulheres que se consagram totalmente ao serviço do Reino de Deus, abrindo mão de constituir Família própria.

            Já o quarto domingo de agosto, agradece a vocação dos Catequistas e das Catequistas, bem como dos demais Ministérios Leigos que enriquecem a Igreja de Cristo presente num mundo sedento de Deus e de valores verdadeiros e essenciais à realização da humanidade.
            Possamos celebrar com esperança o mês vocacional, neste ano, premiado com a Jornada Mundial da Juventude, celebrada no Rio de Janeiro, que acolheu nosso amado Papa Francisco. Que seus sábios conselhos e exemplos concretos de vida austera, nos animem à conversão sacerdotal e ministerial, também nas bases: em nossa intimidade pessoal e na diocesaneidade, a partir das Comunidades que nos são confiadas. Nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto tem ainda outro grande motivo de gratidão: a chegada de seu novo Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, empossado no dia 23 de Junho passado. Com simplicidade, vai conhecendo nossa realidade; conversando com seu novo rebanho, nossa Igreja particular. Seu lema “Permanecei em mim” (Jo 15,4) “expressa sua firme convicção de que só é possível viver e realizar bem o ministério episcopal numa profunda intimidade com Jesus Cristo, o Bom Pastor”. Sejamos, todos: Sacerdotes e Diáconos, dóceis à “firme convicção” de nosso Arcebispo, vivendo sinceramente com ele, a comunhão, a unidade e o bem de todo nosso ministério pelo Reino de Deus a ser anunciado e vivido bem todos os dias. Nossa vocação é eterna, nosso sim generoso e verdadeiro deve ser diário!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

HOMILIA PARA O DÉCIMO OITAVO DOMINGO COMUM DE 2013


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

 

“Felizes os humildes de espírito,

porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3).

 

            “Ouvindo a boa nova do Reino de Deus relatada por Lucas caminhamos com Jesus rumo à Jerusalém. Nessa caminhada, fazemos de novo uma parada para nos reunirmos em assembléia litúrgica. Celebramos a páscoa cristã, dia do Senhor, dia da Comunidade. Como seria salutar para a humanidade, resgatar o valor do Domingo, o Dia do Senhor. Guardar o Domingo para o Senhor, para o descanso pessoal e para a Família, talvez seja um exercício que resgate a dignidade humana, engolida pela Cultura do Consumo, que por sua vez, leva a humanidade à ganância, ao egoísmo, ao intimismo, enfim, à Cultura da Morte em plena vida. Hoje também celebramos a memória de São João Maria Vianney, é dia do padre e dia das vocações sacerdotais.

            Hoje para celebrar a raiz de nossa fé cristã – a morte e ressurreição do Senhor Jesus – a Palavra nos traz à consciência o que é fundamental para que nossa vida, de fato, tenha sentido.

            “Vaidade das Vaidades”,recorda-nos o autor sagrado. Contra a vaidade e a ganância, a palavra de Deus nos convida a voltar o coração para as coisas do alto, onde está Cristo, nossa vida e riqueza.

            O que é ilusão e vaidade, e em que realmente vale a pena se empenhar? A ganância, fruto do egoísmo, um dia levará os gananciosos a julgamento. Buscar as coisas do alto é buscar o que está de acordo com o projeto de Jesus.

            Depositamos no altar do Senhor o dom da vida dos padres que presidem para nós as santas Missas e a de todos os vocacionados ao ministério ordenado’ (cf. Liturgia Diária de Agosto de 2013 da Paulus, pp. 23-26).

            Os bens materiais seduzem com muita facilidade o coração das pessoas. A verdadeira riqueza, segundo Jesus, é ser generoso com os demais, como o Pai é com todos. Por confiança nas riquezas é falta de bom-senso, falta de sabedoria. Quem põe o coração no dinheiro tem pouca consideração para com a vida humana, mergulha-a no mais absoluto fracasso. De fato, a experiência nos diz: quem se fecha em si mesmo e em seus bens, em seu mundo, perde o melhor de sua vida.

            Quem é materialista e só quer conhecer os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais não têm valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem se dedica. Talvez o consumismo de hoje tenha isso de bom: lembra-nos essa precariedade. O produto que compramos hoje amanhã já saiu da moda, e depois de amanhã nem haverá mais peças de reposição para consertá-lo. Nossa nova TV estará fora de moda antes que tivermos completado as prestações... Por outro lado, esse consumismo é grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a uma vida mais simples e mais desprendida. Haverá recessão econômica, mas também haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto.

            A caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão por que se insiste em produzir sempre mais é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem, ficam enjoadas; e em alguns casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia...

            A ‘sabedoria do lucro’ é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos. Um proeminente político deste país disse que ‘quem não pode competir não deve consumir’... O sistema do lucro e do desejo sempre mais acirrado, precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem superar a todos. Tal sistema é ‘intrinsecamente pecaminoso’, disseram os Papas Paulo VI e Beato João Paulo II.

            Ser rico, não para si, mas para Deus... Não amontoar riquezas que na hora do juízo serão as testemunhas da nossa avareza, injustiça e exploração (cf. Tg 5,1-6), mas riquezas que constituam a alegria de Deus!

            Não adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista, enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a produção para o ser humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos possível” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 93-98).

            Na terça-feira desta semana, dia 6 de agosto, celebraremos a festa da Transfiguração do Senhor, muito concorrida em nosso País, e conhecida como Senhor Bom Jesus, com inúmeros títulos, especialmente em nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto: Bom Jesus do Bonfim, da Lapa (completando seu centenário), da Alvorada, da Cana Verde e outros. Já dia 10 de agosto, celebrando a Memória de São Lourenço, agradeceremos o dom da vocação de nossos bons e esmerados Diáconos Permanentes! É o Dia do Diácono!

Sejamos todos agraciados e abençoados, com esta devoção e a festa que nos permite “uma espiadinha no céu”, juntamente com Pedro, Tiago e João que subiram ao Tabor com Jesus! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto kasper

(Ler Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89(90); Cl 3,1-5.9-11 e Lc 12,13-21).