Pesquisar neste blog

quarta-feira, 27 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO OITAVO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

Ouvindo a boa nova do Reino de Deus relatada por Lucas caminhamos com Jesus rumo à Jerusalém. Nessa caminhada, fazemos de novo uma parada para nos reunirmos em assembléia litúrgica. Celebramos a páscoa cristã, dia do Senhor, dia da Comunidade. Como seria salutar para a humanidade, resgatar o valor do Domingo, o Dia do Senhor. Guardar o Domingo para o Senhor, para o descanso pessoal e para a Família, talvez seja um exercício que resgate a dignidade humana, engolida pela Cultura do Consumo, do Descartável, que por sua vez, leva a humanidade à ganância, ao egoísmo, ao intimismo, enfim, à Cultura da Morte em plena vida.
            Hoje para celebrar a raiz de nossa fé cristã – a morte e ressurreição do Senhor Jesus – a Palavra nos traz à consciência o que é fundamental para que nossa vida, de fato, tenha sentido.
            “Vaidade das Vaidades”, recorda-nos o autor sagrado. Contra a vaidade e a ganância, a palavra de Deus nos convida a voltar o coração para as coisas do alto, onde está Cristo, nossa vida e riqueza.
            O que é ilusão e vaidade, e em que realmente vale a pena se empenhar? A ganância, fruto do egoísmo, um dia levará os gananciosos a julgamento. Buscar as coisas do alto é buscar o que está de acordo com o projeto de Jesus.
            Depositamos no altar do Senhor o dom da vida dos padres que presidem para nós as santas Missas e a de todos os vocacionados ao ministério ordenado.
            Os bens materiais seduzem com muita facilidade o coração das pessoas. A verdadeira riqueza, segundo Jesus, é ser generoso com os demais, como o Pai é com todos. Por confiança nas riquezas é falta de bom-senso, falta de sabedoria. Quem põe o coração no dinheiro tem pouca consideração para com a vida humana, mergulha-a no mais absoluto fracasso. De fato, a experiência nos diz: quem se fecha em si mesmo e em seus bens, em seu mundo, perde o melhor de sua vida.
            Quem é materialista e só quer conhecer os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais não têm valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem se dedica. Talvez o consumismo de hoje tenha isso de bom: lembra-nos essa precariedade. O produto que compramos hoje amanhã já saiu da moda, e depois de amanhã nem haverá mais peças de reposição para consertá-lo. Nossa nova TV estará fora de moda antes que tivermos completado as prestações... Por outro lado, esse consumismo é grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a uma vida mais simples e mais desprendida. Haverá recessão econômica, mas também haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto.
            A caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão por que se insiste em produzir sempre mais é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem, ficam enjoadas; e em alguns casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia...
            A sabedoria do lucro é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos. Um proeminente político deste país disse que quem não pode competir não deve consumir... O sistema do lucro e do desejo sempre mais acirrado, precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem superar a todos. Tal sistema é intrinsecamente pecaminoso, disseram os Papas Beato Paulo VI e São João Paulo II.
            Ser rico, não para si, mas para Deus... Não amontoar riquezas que na hora do juízo serão as testemunhas da nossa avareza, injustiça e exploração (cf. Tg 5,1-6), mas riquezas que constituam a alegria de Deus!
            Não adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista, enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a produção para o ser humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos possível.
            No sábado desta semana, dia 6 de agosto, celebraremos a festa da Transfiguração do Senhor, muito concorrida em nosso País, e conhecida como Senhor Bom Jesus, com inúmeros títulos, especialmente em nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto: Bom Jesus do Bonfim, da Lapa, da Alvorada, da Cana Verde e outros. Já dia 04 de agosto, celebrando a Memória de São João Maria Vianney, agradeceremos o dom da vocação de nossos bons e esmerados Presbíteros! É o Dia do Padre!
Sejamos todos agraciados e abençoados, com esta devoção e a festa que nos permite “uma espiadinha no céu”, juntamente com Pedro, Tiago e João que subiram ao Tabor com Jesus! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Pe. Gilberto kasper
(Ler Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89(90); Cl 3,1-5.9-11 e Lc 12,13-21).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 93-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 76-82.

A SUA TEOLOGIA JÁ PODE SER CONVALIDADA!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

O Grupo Educacional UNIESP é a União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo, situada na Rua Saldanha Marinho, 915 em Ribeirão Preto, que investe na formação dos futuros professores e profissionais do Brasil. Uno-me à ação de graças pelo reconhecimento da Teologia a todos, que de alguma maneira contribuíram: ao Pastor Paulo Renato Marques Rós, ao Corpo Docente, ao Corpo Discente, bem como à Direção e Presidência da UNIESP!
Convidado a lecionar Filosofia e Sociologia nos Cursos de Licenciatura em Pedagogia, Letras e Matemática na atual AFARP - Associação Faculdade de Ribeirão Preto, e em 2012 coordenar o Curso de Bacharel em Teologia pela Diretora da AFARP - Associação Faculdade de Ribeirão Preto, a Profª Valéria da Fonseca Castrequini, tento somar às Urgências do Plano de Pastoral da Arquidiocese de Ribeirão Preto, já que o Curso de Teologia autorizado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), com aulas presenciais, diurnas e noturnas, contempla nossos Agentes de Pastoral e Líderes das Comunidades. Também poderíamos pensar numa eficaz Pastoral Universitária, bem como somar ao Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, uma vez que temos alunos de diversas Confissões e Expressões Religiosas. Trata-se de um excelente laboratório para tal.
A AFARP - Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP tendo seu Curso de Bacharel em Teologia reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), dispõe, a quem desejar a Convalidação. Os critérios implicam em primeiro lugar o vínculo com a Instituição, a apresentação do Diploma ou Certificado e do Histórico de Disciplinas cursadas, o agendamento do Processo de Seleção no Projeto Social “in loco” ou pelo telefone (16) 3977-8000. Para obter o Diploma de Bacharel em Teologia reconhecido pelo MEC, é necessário que os interessados que se formaram em Instituições Teológicas com Cursos não reconhecidos pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) frequentem doze disciplinas durante dois semestres. As aulas são semipresenciais com avaliações bimestrais, cumprindo os procedimentos normais da AFARP/UNIESP. Para essa Convalidação a UNIESP não dispõe de Bolsas de Estudo, mas oferece descontos nas mensalidades. Há apenas 80 vagas para início previsto em agosto de 2016, em períodos a combinar entre Docentes e Interessados.

Esta é a oportunidade para quem desejar e puder convalidar seu Curso de Bacharel em Teologia, reconhecido pelo MEC. Aproveitemos essa chance única tão próxima de nós.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, ensina-nos a rezar,
como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1b).

            Temos todos um Pai comum. Foi Jesus que nos ensinou a chamar Deus de Pai, nosso Pai, o que foi ousado e escandalizou muitos religiosos de então. Aparentava ser verdadeira blasfêmia. Afinal de contas “pai” tem a ver com “parente”, e parente mais próximo. Portanto, a ousadia de Jesus de chamar a Deus de pai soava como se ele dissesse que Deus é nosso “parente” mais próximo e que nós somos seus filhos e filhas: existe um “parentesco” entre Deus e nós. E não é assim? Fomos, de fato, criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27) e agora somos renascidos em Cristo.
            Gosto de pensar: queremos uma noção mais próxima de como Deus é? Basta olhar para o rosto do nosso semelhante. Somos semelhantes ao nosso Criador. Não somos deuses, mas parecidos com Deus! Muitas vezes agimos uns sobre os outros, como se fôssemos seus deuses, ou seus donos. O namorado diz para sua namorada: “eu te adoro!” e vice-versa. Nós nos adoramos não como deuses, mas como semelhantes e isso nos torna ainda mais lindos. Isso nos torna Anjos uns dos outros! Por conta disso, também penso que não existem pessoas feias. As pessoas foram criadas lindas, porque à imagem e semelhança de Deus. Mas elas se fazem feias, na medida em que se distanciam desse “evento” ou “parentesco”, cuja novidade nos é trazida pela Palavra proclamada neste Décimo-Sétimo Domingo Comum do Ano Litúrgico!
            Jesus resgatou a dignidade que havíamos perdido e voltamos a ser família de Deus, povo de Deus. É nesta experiência de vida nova que nos unimos, de maneira especial, aos milhares de jovens na Jornada Mundial da Juventude nesta semana em Cracóvia na Polônia. Que o Espírito Santo de Deus ilumine a juventude de hoje para que, iluminada pela Palavra de Deus, sinta-se fortalecida para o testemunho da fé em Cristo.
Da mesma forma que Abraão, vamos nos pôr na presença de Deus, que quer nos comunicar sua palavra de salvação. Ele, que deu vida nova no batismo, agora nos dá a conhecer seu rosto e seu amor.
            A oração insistente e sincera do justo em favor do povo chega ao coração de Deus. Jesus nos ensina a pedir com insistência o que é fundamental na vida. Pelo batismo morremos e ressuscitamos com Cristo e nos tornamos novas criaturas. Já a oração eucarística, como ação de graças, súplica e intercessão universal, possui os múltiplos aspectos da oração perfeita de Cristo na cruz.
            Existem cristãos que, julgando-se esclarecidos, afirmam que as orações do nosso povo são muito egoístas, pois são quase sempre orações de pedido. Geralmente somos mais pidões do que agradecidos, também em nosso modo de rezar, até quando o fazemos conscientemente, como diálogo com Deus! Interessante que a Palavra deste Domingo acentua o contrário: é importante pedir, e até insistir no pedido. Abraão com seus incansáveis pedidos quase salvou as cidades de Sodoma e Gomorra. Infelizmente, as cidades eram ruins demais. Jesus, por seu turno, ensina aos discípulos o Pai-nosso, uma oração de pedido. O Pai-nosso pede inicialmente que a vontade de Deus seja feita. Ora, uma vez que rezamos em harmonia com a vontade e o desejo de Deus, podemos pedir bastante. O que não me parece justo é rezarmos para que a vontade seja feita, desde que coincida com a nossa. Precisamos antes, discernir qual é a vontade de Deus para conosco. Gostei muito, quando na sua homilia de posse, nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, pediu-nos que rezássemos por ele. “Rezem por mim. Rezem para que eu não atrapalhe a graça de Deus em meu ministério”. Quanta coragem e ousadia a de nosso amado Pastor! Mostrou-se um Homem de Deus, que quer sempre discernir a vontade e a graça divinas de Deus em sua vida.
            Será a oração em forma de pedido uma forma de oração mais egoísta que a meditação, a louvação, o agradecimento, a adoração? Parece que não! Na verdade, agradecer é a outra face do pedir. Quem agradece, gostou. Por que não pedir então? É reconhecer a bondade do doador! Como o frei que, depois de laudo almoço na casa de uma benfeitora, testemunhou sua gratidão com estas palavras: “Senhora, não sei como agradecer... será que posso repetir aquela gostosa sobremesa?”.
            De acordo com o espírito do Pai-nosso, devemos pedir antes de tudo a realização daquilo que Deus deseja: sua vontade, seu Reino. Ora, uma vez assentada esta base, pode-se pedir – com toda a simplicidade – o pão de cada dia, saúde, vida e todos os demais dons que Deus nos prepara. Inclusive, o perdão de nossas faltas. Só não se deve pedir a Deus o que Deus não pode desejar: a satisfação de nosso egoísmo. E sempre se deve lembrar que Deus sabe melhor do que nós o que nos convém. Podemos insistir naquilo que achamos sinceramente nosso bem... mas Deus sabe melhor.
            É importante pedir, pois pedir também compromete! Depois de ter pedido, a gente já não pode dizer: “Não pedi!”. Comprometer-nos com Deus e com aquilo que pedimos. Não é como no supermercado, onde você entra, olha e sai sem comprar. Assim as preces dos fiéis, na celebração da comunidade, devem ter sentido de compromisso: devemos querer mesmo que elas se realizem, e nos oferecemos a Deus para colaborar na realização daquilo que pedimos. Pedir é comprometer-se. Imaginemos Deus ouvindo nossas preces, como esta: “Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...” Se não perdoar o meu irmão, como peço a Deus que me perdoe? Se pedirmos a Deus saúde, não é para gozar egoisticamente a vida, mas para servir melhor. “Quem não vive para servir, não serve para viver!”. Se pedimos paz, não é para sermos deixados em paz, mas para nos dedicarmos à comunhão fraterna. Se pedimos por nossos irmãos e irmãs mais pobres, é porque queremos ajudá-los efetivamente. Importa saber como pedimos (cf. Tg 4,3).
            Saibamos rezar com mais consciência e fé madura, a oração que o Senhor nos ensinou, ao pedido de seus discípulos: O Pai-nosso! São sete pedidos. Será que nós, ao rezamos esta belíssima oração, temos plena consciência do que nela estamos pedindo? E se Deus realmente ouvisse nossos pedidos, como seria nossa vida, nossas relações com nossos semelhantes, aqueles que nos permitem “uma noção do rosto de Deus”?
            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,20-32; Sl 137(138); Cl 2,12-14 e Lc 11,1-13).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 76-79 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 69-75.

BÊNÇÃO DOS MOTORISTAS

Dia 25 de Julho de 2016 – Segunda-Feira
Memória de São Cristóvão, Protetor dos Motoristas!
Dia da Igreja Santo Antoninho
Das 08 às 14 horas!
Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres.
Av. Saudade, 202 – Campos Elíseos.
Ribeirão Preto – SP
Pe. Gilberto Kasper

Reitor

quarta-feira, 13 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Felizes os que observam a palavra do Senhor
de reto coração e que produzem muitos frutos,
até o fim perseverantes!” (Lc 8,15).

            Somos hóspedes de uma casa. Mais que hóspedes, somos já parte da família. Nossa casa é esta: este espaço físico e humano que nos abriga, esta comunidade cristã da qual fazemos parte, esta assembleia na qual vivemos uma experiência de fé. Isto é, acolhidos por Deus na pessoa de cada um de nós, aqui reunidos, sentimo-nos um corpo: corpo eclesial de Cristo.
            Deus hoje nos acolhe em sua casa e nos convida a sentar aos pés de Jesus para escutá-lo e participar do banquete eucarístico que ele nos oferece. Somos desafiados pelo evangelho a ter o coração hospitaleiro de Maria e as mãos laboriosas de Marta.
            As leituras (deste domingo) nos convidam à abertura ao projeto de Deus e à hospitalidade, atitudes que revelam a presença do Senhor em nossa vida.
            A hospitalidade de Abraão é retribuída com a promessa do nascimento do filho. Acolher Jesus e sua proposta de vida é o melhor que podemos fazer. O evangelizador enfrenta com otimismo e esperança o sofrimento decorrente do empenho pelo bem da comunidade. A celebração eucarística também é uma ação de hospitalidade na qual Deus nos acolhe e nós acolhemos a Cristo e dele nos alimentamos.
            Um grande mal em nossa sociedade, e também na Igreja, é o ativismo, a falta de disposição para aprofundar o essencial, sob o pretexto de tarefas urgentes.
            Jesus é um exemplo para todos nós. Sua pessoa está prioritária e permanentemente focada no modo de ser do Pai. Pelo hábito desta escuta é que ele desenvolveu uma atitude de serena e saudável acolhida de tudo e de todos. É a partir daí que Jesus observa a Marta que ela anda ocupada e preocupada com muitas coisas, enquanto uma só é necessária. Essa observação não é uma recusa da hospitalidade, mas indica uma escala de valores: a melhor parte é a que Maria escolheu! O que esta faz é fundamental e indispensável: escutar. O resto (as correrias pastorais, as reuniões) é importante, mas deve ter fundamento no escutar. Jesus censura Marta não porque ela cuida da cozinha, mas porque quer tirar Maria do escutar, para fazê-la entrar no ritmo de suas próprias ocupações. Marta não conhecia a escala de valores de Jesus.
            Podemos perceber, através da Carta aos Colossenses de hoje, que foi da identificação profunda com Cristo que Paulo tirou a força para seu surpreendente apostolado. Gente ocupada é o que menos falta. Mas sabemos muito bem que toda essa ocupação não tira em torno daquilo que é fundamental. Dá até pena de ver certas pessoas complicarem sua vida com mil coisas de que dizem que simplificam a vida. Ao lado delas encontramos o pobre, o lavrador, o índio, vivendo uma vida simples, mas com muito mais conteúdo e, sobretudo, com um coração sensível e solidário.
            A exemplo do nosso mestre Jesus, importa acolher (a Deus, a Jesus, aos outros) em primeiro lugar no coração. Só então as demais ações terão sentido. Isso vale na vida pessoal e também na vida comunitária. Comunidades que giram exclusivamente em torno de preocupações e reivindicações materiais acabam esvaziando-se, caem em brigas de personalismo e ambição. Mas comunidades que primeiro acolhem com carinho a palavra de Jesus num coração disposto saberão desenvolver os projetos certos e por a palavra de Jesus em prática. Buscai primeiro o Reino de Deus.
            Que Deus nos ajude a vivermos este espírito do Evangelho trazido por Jesus. Que pela força da Eucaristia, na qual o Pai nos acolhe como corpo eclesial de Cristo, possamos viver a atitude de Maria para que, empenhados como Marta, mas conectados ao único e necessário, que é Palavra reveladora do Pai, trabalhemos com serenidade e paz pelo bem da humanidade.
            A Palavra de Deus deste domingo nos coloca diante da Hospitalidade e de nossa Espiritualidade Eclesial: Ministros Ordenados, Agentes de Pastoral, nossas Comunidades são reconhecidos como bons cristãos por causa da hospitalidade e da espiritualidade ou por causa das intermináveis atividades, como construções materiais? Como é linda a Leitura Orante da Palavra que iniciam nossas reuniões, nossos encontros e atividades! O Padre Pitico nos tem incentivado a ouvirmos antes de tudo o que a Palavra de Deus (em outras palavras, o próprio Mestre Jesus) tem a nos dizer!?! Não poucas vezes nos envolvemos com atividades que nem nos dizem respeito como: decoração de Templos, coordenação de Quermesses, sempre preocupados em arrecadar recursos financeiros para a manutenção de nossas Paróquias, que deveriam ser tarefas dos Conselhos constituídos e não dos Presbíteros. O que não podemos jamais deixar de lado, é a mais rica espiritualidade na administração dos Sacramentos que só os Ministros ordenados podem presidir: a Reconciliação, Unção dos Enfermos e a Celebração Eucarística. Para todas as demais atividades, podemos formar Líderes de Lideranças em nossas Comunidades. E que também esses desempenhem suas atividades pastorais e sociais, sempre e cada vez mais à luz da escuta de Jesus, como fez Maria, escolhendo assim a melhor parte.
            Finalmente poderíamos nos perguntar: sendo o tempo uma questão de prioridade, quais são nossas prioridades no hodierno do exercício de nossa missão eclesial e do nosso ministério? Rezamos o suficiente todos os dias? Somos fiéis, sentados aos pés de Jesus, e justos, em nossas decisões? Nossas Comunidades rezam ou cozinham melhor? Se é que sabem o que pretendo refletir, a começar de meu próprio ministério?
            Sejam muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,1-10; Sl 14 (15); Cl 1,24-28 e Lc 10,38-42).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 58-60 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 63-68.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Contemplai, justificado, a vossa face;
e sereis saciados quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).

            Deus se fez próximo de nós. Revelou-se profundamente humano. Misericordioso, isto é: coração totalmente voltado para o mísero (=misericordioso). Tão próximo de nós que, na pessoa de seu filho Jesus, podemos afirmar: Só Deus é humano. Porque Deus é assim, é que nos reunimos no Dia do Senhor, o Domingo: para dele assimilarmos o verdadeiro espírito de humanidade. Tanto sua Palavra como o exemplo de doação, representado pelo Corpo entregue e pelo Sangue derramado de Jesus – agora sob as espécies de pão e vinho -, são para nós a principal fonte de aprendizado do que significa ser humano, profundamente humano, a fim de que todos tenham vida, e vida em abundância.
            Imagem de Deus e revelador do rosto misericordioso do Pai, Jesus neste domingo nos mostra o caminho da vida eterna: não só conhecer os mandamentos, mas também vivenciá-los, assumindo as atitudes do bom samaritano. A Eucaristia deste domingo abra nosso coração à misericórdia e à compaixão para com as pessoas caídas à beira do caminho.
            A Palavra de Deus está ao nosso alcance: não é proposta muito difícil de ser assumida e vivida, pois requer apenas o amor para se transformar em gesto de misericórdia. Vamos acolhê-la no coração, para que nos torne próximos de toda pessoa necessitada.
            A vivência do mandamento de Deus não está fora de nossas possibilidades. O autêntico amor nos torna próximos dos pobres e sofredores. Jesus Cristo é a plenitude do divino no humano. Cristo, o bom samaritano, faz-se mais próximo de nós, tornando-se nosso alimento e revelando o amor misericordioso do Pai celeste.
            Quem faz a experiência de estar mais próximo de Deus ou, inversamente, faz a experiência de sentir Deus mais próximo de si? Aquele e aquela – seja lá quem for; não importando raça ou religião – que se faz próximo do humano, e do humano mais arrebentado. O próprio Jesus, por sua vida, morte-ressurreição e dom do Espírito, viveu e vive esta experiência vital divinamente. E pensar que nós somos discípulos e discípulas dele!...
            Jesus não respondeu diretamente ao mestre da lei, porque a questão não é descobrir quem é e quem não é próximo. Coração generoso se torna próximo de qualquer um que precisa; a melhor maneira de ter amigos é ser amigo. A questão também não é teórica, mas prática. Na prática esquecemos a parábola de Jesus e fazemos como o sacerdote e o levita: afastamo-nos do necessitado, mesmo se pertence à nossa comunidade, e não nos aproximamos dele. Tornar-se próximo é ser solidário. Somos solidários com os que vivem na margem da estrada de nossa sociedade? Mesmo quando damos uma esmola a um coitado, não é para nos desviarmos dele? Vai e faze a mesma coisa... Imitar o samaritano exige solidariedade, assumir a vida do outro, não se livrar dele. Torná-lo um irmão, pois este é o sentido verdadeiro da palavra próximo. Só assim podemos fazer a mais verdadeira experiência de Deus, senti-lo próximo de nós e sentir-nos próximos dele.
            Existem Bispos e Padres que, no final da Missa, costumam dirigir-se à porta da Igreja para cumprimentar pessoalmente as pessoas que vão saindo, desejando-lhes um bom domingo, uma ótima semana, bênçãos para a família, para o trabalho, para os estudos etc. Afinal, a celebração continua também na vida... Assim se estabelecem laços afetivos e de aproximação entre o pastor e os fiéis, e entre os próprios fiéis entre si. Se houver possibilidade, é aconselhável e pastoralmente muito eficiente, que se adote tal procedimento nas comunidades.
            A Reitoria da Igreja Santo Antoninho é pequenina. Costumo omitir o Abraço da Paz após a Oração do Pai Nosso. Sempre achei aquele momento inoportuno e de certa forma, um tanto forçado, quando não falso. Prefiro deixá-lo para o final da Missa. Até porque valorizo muito os momentos de “silêncio para interiorização pessoal”: no Rito Penitencial, após as Leituras Proclamadas, após a Homilia, no Momento indicado para o Abraço da Paz e após a Comunhão. Quando cheguei, há mais de oito anos, o Povo que frequenta nossa amada Igrejinha, aproveitava para colocar as novidades em dia. Mais parecia uma feira do que um Templo. Sugeri que antes das Missas haja silêncio no interior da Igreja. As saudações de chegada acontecem fora da Igreja, no Átrio. Colocamos um fundo musical, permitindo a oportunidade das pessoas prepararem-se bem para a Celebração. Já no canto da dispersão, ao final das celebrações, todos se abraçam e desejam-se mutuamente a paz. Este sim parece ser um abraço espontâneo, verdadeiro. Eu fico à porta da saída e quem deseja passa por mim e também nos abraçamos desejando-nos todo bem e toda paz. As pessoas gostam e cobram quando isso não é possível. É, também, compreensível que nem sempre tal gesto é possível. No meu caso funciona bem, por sermos poucos. Praticamente todos se conhecem, o que enriquece ainda mais a celebração. Celebramos próximos uns dos outros, quase que “apertando-nos” na pequenina Santo Antoninho!
            Finalmente, a Palavra de Deus deste Décimo Quinto Domingo Comum nos propõe o “próximo” à luz da Parábola do Bom Samaritano! Trata-se de um “Próximo machucado, surrado, enxotado, incompreendido, engolido pelas drogas e alcoolismo, desemprego, abandono famíliar, envelhecido, enfermo mal servido, proveniente de famílias desestruturadas”. Nossas comunidades são realmente configuradas com o Bom Samaritano? Ou nos identificamos mais com o sacerdote e o levita que olham para o machucado e saem correndo para o mero cumprimento de seus preceitos e compromissos outros? Confesso que não consigo entender a presença real de Jesus Cristo no coração de um presbítero que não cumprimenta seu irmão por bobagens, ou até mesmo questões mais sérias. Já imaginaram um Sacerdote concelebrando com seu “próximo” virando-lhe a cara? Como um coração desses terá lugar para Jesus, se sua misericórdia não consegue acolher um simples irmão nem mais e nem menos importante; nem melhor e muito menos pior do que o próprio arrogante e prepotente “juiz não constituído pelo Evangelho” deste domingo do Bom Samaritano? E isso se estende também às nossas Comunidades: Pastorais, Movimentos, Serviços, Comissões, Conselhos que realizam obras magníficas para serem vistas pelos outros, mas além de excluir os que vivem em “situações irregulares ou desumanas”, ainda pisam sobre eles e os difamam? Que não deixemos escorrer pelas mãos esta rica oportunidade de conversão, coerência e bom sendo, fazendo em nossas relações humanas a experiência da mais verdadeira misericórdia!
            Desejando-lhes bênçãos e paz, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Dt 30,10-14; Sl 68(69); Cl 1,15-20 e Lc 10,25-37).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 41-44 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 57-62.