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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS E SANTAS!



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

"Alegremo-nos todos no Senhor,
celebrando a festa de Todos os Santos.
Conosco alegram-se os anjos e
glorificam o Filho de Deus".

O Trigésimo-Primeiro Domingo do Tempo Comum cede lugar à Solenidade de Todos os Santos e Santas, celebrado, segundo o calendário litúrgico, no dia 1º de Novembro, porém no Brasil, no domingo seguinte.

            A Igreja militante honra a Igreja triunfante celebrando numa única solenidade todos os santos - são as palavras que o sacerdote pronuncia na oração da missa - para render cumulativamente homenagem àquela multidão de santos que povoam o Reino dos céus. A epístola repete as palavras de são João no Apocalipse: E vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as gentes e tribos e povos e línguas.

 Aquela grande multidão que está diante do Cordeiro compreende todos os servos de Deus, a qual a Igreja decretou a canonização, e todos os que - em número imensamente superior - conseguiram a salvação, com a eterna visão beatífica de Deus.

Deus prometeu de fato dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da humilhação. Hoje todos esses santos que tiveram fé na promessa de Cristo, a despeito das fáceis seduções do mal e das aparentes derrotas do bem, alegram-se e exultam pela grande recompensa dada por um Rei incompreensivelmente misericordioso e generoso. E a Igreja militante, unida pelo indissolúvel vínculo da caridade com os filhos que passaram à melhor vida, honra-os com particular solenidade.

A origem da festa hodierna remonta ao século IV. Em Antioquia celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI e cem anos após era fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do Panteon a Nossa Senhora e a todos os mártires. O monumento pagão assumiu o nome cristão de Santa Maria dos Mártires. Naquele dia, durante a missa, fazia-se chover uma chuva de rosas vermelhas. No ano de 835 esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV para 1º de novembro, provavelmente por motivos de simples comodidade, como refere João Beleth no século XII, isto é, porque após a colheita do outono era mais fácil arrecadar comida e bebida para a grande multidão de peregrinos que acorriam a Roma naquela oportunidade.

 Todos são chamados à vida e vocacionados à santidade, tendo como auxílio o testemunho de tantos que são reconhecidos pela Igreja como modelo de vida. Vivendo em plenitude as bem-aventuranças, formamos comunhão com todos os que já foram glorificados com Cristo. É grande a multidão dos que buscaram o Senhor. Eles estão vivendo a plenitude da vida feliz, convivendo face a face com o Deus da vida. As leituras de hoje apontam o caminho que devemos trilhar para também conquistar essa felicidade. São vitoriosos os que se mantêm fiéis ao projeto de Jesus. As bem-aventuranças são o caminho da santidade proposto por Jesus. Já somos filhos de Deus e seremos semelhantes a ele. A Eucaristia transforma-nos, lenta e progressivamente, em seres capazes de contemplar o Pai com todos os que já são salvos. A santidade não só é possível, mas é uma realidade.

Com frequência ouvimos de lábios católicos e cristãos: "Não sou santo... Não nasci para ser santo... Não sirvo para a santidade..." Tais pessoas não compreenderam ainda o próprio Batismo. Uma vez mergulhados no útero da Igreja e tornando-nos filhos de Deus, passamos a seres divinizados! Não divinos, mas divinizados, ou seja, candidatos à Santidade! Gosto de pensar que santo é todo aquele que morrendo, vê Deus como Deus é: tem coisa melhor? Todo ser divinizado procura esforçar-se para viver o Projeto de Vida de Jesus, que são as Bem-aventuranças! Se conseguirmos ou não viver tal proposta de vida, não importa. O importante para Deus é o esforço que empreendemos diariamente por vivê-lo, abrindo-nos à Sua graça. Gosto de comparar esse esforço com as características da criança. Jesus afirma que entra no Reino dos céus, quem for como uma criança. Tais características nós perdemos facilmente quando crescemos, e penso ser necessário reconquistá-las em nossas relações com os irmãos, conosco e com o próprio Deus:
A criança é sincera, nós ao crescermos, mentimos... E como!
A criança é espontânea, nós ao crescermos, fingimos... Por conivência ou conveniência!
A criança é pura, nós ao crescermos maliciamos... Tudo e todos!

Oxalá possamos reconquistar as características da criança, tornando-nos desde já candidatos à santidade!
           
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1Jo 3,1-3 e Mt 5,1-12)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2019, pp. 27-30 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Novembro de 2019), pp. 68-72.

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


SÍNODO SOBRE A AMAZÔNIA
“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. 

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Quem se eleva será humilhado e
Quem se humilha será elevado” (Lc 18,14b).

            Neste Trigésimo Domingo do Tempo Comum, continuamos acompanhando Lucas, que nos fala sobre a oração. Hoje a insistência é sobre como orar.
            A parábola do fariseu e do publicano, a última das parábolas próprias de Lucas, marca a centralidade da celebração e da pregação deste domingo. Certamente o merece, mas convém procurar que a assembleia penetre no sentido da parábola e não fique na superficialidade de dizer que o fariseu é mau e o publicano é bom.
            Pode ser perigosa uma interpretação mal feita: se justificaria o pecado e se desestimularia a observância dos preceitos sagrados, que são importantes, mas não bastam. A justificação por meio do reconhecimento do próprio pecado e pela fé no amor de Deus é o tema de fundo desta parábola.
            Tanto o fariseu quanto o cobrador de impostos eram pessoas de fé. Também para nós, hoje, o problema não é tanto o contraste entre fé e falta de fé, mas entre modos diversos de colocá-la em prática. Ninguém tolera que uma pessoa religiosa viva de forma errada. Todos sentimos simpatia por uma pessoa de bem, independentemente de sua religião.
            A oração do publicano torna-se um modelo não só de oração, mas também da atitude de quem reza. Nossa oração deve partir de uma atitude fundamental de humildade, reconhecendo que não podemos nos salvar a nós mesmos. E igualmente isso que ouvimos na primeira leitura do Livro do Eclesiástico: a humildade é indispensável para que a oração possa atravessar as nuvens e obter resultado. A oração do Salmo 33 se contrapõe aos soberbos que têm o coração atribulado: o Senhor está perto de quem tem o coração ferido.
            A salvação da pessoa humana somente poderá vir de Cristo, o qual, embora sendo de natureza divina, humilhou-se a si mesmo até a morte e morte de cruz, e, por isso, foi elevado na glória. O cristão só se pode gloriar da cruz. Foi assim que São Paulo entendeu bem expresso no final de sua vida: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro (1Tm 1,15). Quando era jovem fariseu, não teria dito palavras semelhantes, porém depois ele se converteu e experimentou, em si mesmo, a obra poderosa do Senhor que o libertou do mal, ou seja, de sua orgulhosa autossuficiência.
            O centro de tudo é este: saber-se e sentir-se pecador e fraco. O farisaísmo está hoje presente no mundo cristão tanto no contexto individual quanto no comunitário. No contexto individual, devemos confessar que, muitas vezes, educamos nossos cristãos no farisaísmo: damos a eles as leis como norma fundamental de suas vidas. No contexto comunitário, o farisaísmo se manifesta em grupos da Igreja que se crêem os bons, os cumpridores, os fiéis. Estes rezam para que os que não pensam como eles se convertam, porque estão errados! Onde está radicado o mal do farisaísmo? Na nossa visão de Deus, a quem vemos como um comerciante que vende o céu em troca de obras humanas. Esta parábola prepara muito bem a teologia paulina da justificação que Deus concede a quem não pode se justificar a si mesmo. Esta justificação se obtém por meio da cruz de Cristo, e o Batismo é o seu instrumento.
            Aproximar-se de Deus consiste em abandonar o próprio egoísmo para encontrar a felicidade em Deus. Os santos sempre se consideravam pecadores: quanto mais perto da luz se está, mais se percebem as manchas do pecado em nós. Quando se toma consciência do pecado, então, e somente então, aparece Deus com a promessa da salvação.
            Deus salva os que não têm como se salvar: todos nós. Cristo, no evangelho, não louva a situação humana de pecado do publicano, nem sua indigência moral, sua escassa prática religiosa. Louva, isto sim, seu arrependimento, sua humildade, seu não julgamento dos demais. Jesus também não condena o fariseu por ser religioso, por levar uma vida moral digna, por fazer jejum e dar o dízimo. Critica sua soberba e o julgamento que faz dos outros.
            Em 2007, o Santuário Nacional de Aparecida, sediou a Vª Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, debatendo, como tema central a Missão, sob o lema: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que n’Ele nossos povos tenham vida.” Marcado pelas palavras “missão” e “missionários”, o texto base resultante dessa conferência (presidido pelo Papa Francisco, o então Dom Jorge Mario Cardeal Bergoglio) constitui um grande entusiasmo para impulsionar a forma como nossa Igreja, na América Latina e no Caribe, propõe e incentiva a missão.
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 35,15-17.20-22; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.16-18 e Lc 18,9-14)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2019, pp. 92-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro de 2019), pp. 57-63.

OUTUBRO EXTRAORDINÁRIO!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com


O ano caminha para seu final e promete muitas emoções e surpresas que certamente irão nos envolver e desafiar. Este outubro traz consigo o foco de grandes discussões sobre o respeito e cuidado com a natureza e meio ambiente com a realização do Sínodo para a Amazônia que se realiza no âmbito do mês missionário extraordinário, ambos convocados pelo querido Papa Francisco.
Nossa missão é a mesma que Jesus entregou aos seus apóstolos, ou seja, continuar proclamando o Reino de Deus que se estabelece já neste mundo quando vivemos a justiça, a caridade, a fraternidade, a fé e o amor de tal forma que esses valores, impregnados em nossa vida lançam a base de uma nova sociedade. Evangelizar é proclamar a “Notícia Boa” do Reino e do amor do Pai para nós, é anunciar que além das tragédias e desgraças que fazem crescer a audiência de certos programas de televisão ou aumentam a venda de revistas e jornais sanguinários que não têm consideração pelo ser humano, o cristão tem a certeza da fé e a confiança em Jesus Cristo que são maiores que as dificuldades e problemas a ser enfrentados. Nossa alegria de saber que somos amados por Deus anima e entusiasma a nossa vida para continuar a missão de fazer acontecer os sinais do Reino onde nós vivemos.
Neste contexto da “Missão” acontece o Sínodo para a Amazônia, convocado pelo Papa para nos fazer voltar o olhar para essa região vasta e tão importante para o nosso planeta. Desde o início de seu pontificado, Papa Francisco deixou clara a preocupação com o meio ambiente, publicou a encíclica “Laudato Si” trazendo à tona questões que passam despercebidas quando o mercado domina as relações entre países e governos que levam em consideração o lucro monetário desrespeitando a nossa “casa comum” que deve abrigar todos os filhos e filhas de Deus chamados a viver e crescer e manifestar as feições do nosso Pai que habita o coração do ser humano nem sempre valorizado pelos seus semelhantes.
A Amazônia, importante região que abrange diversos países, engloba nações de diversos povos, biomas, ecossistemas que correm sério risco de desaparecerem pela erosão causada pela ganância desmedida dos que só exploram a natureza, a vegetação, o subsolo causando uma grande chaga na obra criada por Deus. Mas não é só isso. A evangelização nessa área é preocupação antiga; as longas distâncias, a carência de padres, as comunidades que se esforçam para manter acesa a chama da fé e da fraternidade. Momento ímpar para todo o mundo e toda a Igreja olharem para essa região com suas fraquezas e belezas e ver que ali o Evangelho vive e entusiasma as pessoas.
Desde há muito tempo, a Igreja no Brasil tem realizado projetos e colaboração com a região amazônica no sentido de favorecer as comunidades e os povos que lá vivem. Muitos cristãos, missionários, religiosos e padres derramaram seu sangue para que o Evangelho da vida fosse semeado naquele vasto mundo na metade da terra. E muitos outros continuam evangelizando sem desânimo. Os desinformados ou mal intencionados criam intrigas entre as pessoas e, falando mal a respeito desse Sínodo fazem aparecer confusões desnecessárias. Sínodo é um grande momento para a Igreja e para os cristãos; tempo de caminhar juntos, de pensar soluções e alternativas para que a vida aconteça como Deus pensou ao criar o universo. É também tempo de conversão, de mudança de atitudes, mudança de pensamentos e, ao mesmo tempo, é oportunidade de sonhar com os novos céus e a nova terra.


(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP).

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM


DIA MUNDIAL DAS MISSÕES
“Batizados e enviados. A Igreja de Cristo em missão no mundo”.


 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A Palavra de Deus do Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum nos remete ao tema da oração, nossa relação direta com Deus, do discipulado, nossa relação direta com Jesus Cristo, e da missão, nossa relação direta com o mundo, nesta mudança de época!
            Falar de oração, em nosso tempo, nem sempre é fácil. As pessoas de nosso tempo falam umas com as outras, como nunca antes. Mas como se comunicam? Basta observarmos um pouco, pessoas em encontros sociais, de trabalho ou no simples hodierno: elas (as pessoas) falam com diversas outras pessoas ao mesmo tempo. Temos diante de nós, pessoas que falam conosco, sim, porém, com um ou mais celulares ou outros aparelhos da modernidade de um mundo tecnologicamente avançado, porém virtual, conectados!
            Encontrar um sentido novo, mais burilado em nossa forma de rezar, é talvez, a intenção da Palavra de Deus deste domingo, desde Moisés no Livro do Êxodo, de Jesus no Evangelho de Lucas e dos conselhos de Paulo em sua Segunda carta a Timóteo. Afinal, a oração é o meio mais eficaz de dialogarmos com Deus. E na qualidade de nossa oração, que encontramos ou não, a confiança no amor de Deus para conosco. Só nos abrimos de todo coração, em quem confiamos de verdade. Só nos sentimos felizes e à vontade com quem amamos e queremos bem. O desabafo é sinal de confiança; significa confiar nossas aflições a alguém que sabe ouvir, entender e aceitar nossas limitações e fraquezas, que não poucas vezes nos levam a crises, angústias e depressões. Ou seja, a oração surge dos momentos nossos de todos os dias. Daí a importância da consciência de vivermos em oração sempre, dialogando com Deus que nos ama loucamente e seguramente quer estar em constante comunicação conosco.
            Para rezar, é preciso situar-nos num contexto. Como realidade absoluta de Deus; e Deus é inacessível à nossa realidade. Por isso, não devemos “negociar” com Ele; seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Se nossa realidade íntegra (total) não contém uma referência interna de Deus, e se não interferir em todas as ordens, nossa relação autêntica será impossível. Por isso, vivemos numa exigência interna de Deus (cf. Santo Agostinho de Hipona). São Paulo afirma: “Cristo é a imagem visível de Deus que é invisível” (cf. Cl 15). A forma como Deus chega pessoalmente até nós, é o amor ao próximo; daí nunca esquecermos o novo mandamento do Amor!
            Por outro lado, na relação com Deus, não há nenhuma mediação legal, nem ritual (cf. Hb 8,8-12; Jr 31). Deus se relaciona com a pessoa através de uma lei escrita no Antigo Testamento, através de uma estrutura social, de preceitos. Agora já não está a lei fora da pessoa, e sim dentro, em seu interior. Por isso, a relação de Deus com a pessoa se faz de forma direta, profunda, em seu interior, em seu coração que significa o mais profundo do ser humano. Com São Paulo VI poderíamos dizer, que Deus adentra ao “sacrário humano, a consciência da pessoa”, e mergulha aos porões de sua intimidade, para soprar-lhe do silêncio de seus dóceis lábios, uma declaração de amor ao ouvido de quem está disposto a acolhê-lo.
            Uma das formas místicas e belíssimas de dialogar com Deus é o próprio silêncio, num mundo tão conturbado e barulhento. “Deus é de longos silêncios e raras palavras...”. Não podemos correr o risco de não ouvir o que Deus tem a nos dizer.
            Conta uma pequena estória, que em determinada Igreja, por volta do meio-dia, um homem entrava na Matriz e sentava-se no último banco. Nada dizia. Apenas ficava sentado lá, olhando para frente, sem pestanejar. As zeladoras daquela Igreja, preocupadas, achando que poderia tratar-se de um mal-feitor, pediram que o padre falasse com o homem. Ao perguntá-lo o que fazia todos os dias, no mesmo horário, no último banco da Igreja, ouviu do homem simples: “Senhor Padre, venho aqui todos os dias e olho para Ele e Ele olha para mim. Tem algum problema que eu faça isso?”. O padre retrucou: “Mas o senhor olha para quem, se a Igreja está sempre vazia quando vem aqui?”. O homem concluiu: “Eu olho para Jesus! Não é ele que está naquela caixinha dourada (sacrário)?”. O padre envergonhado passou a fazer, desde aquele dia, companhia mais assídua, em espírito de oração, a Jesus Sacramentado.
            E é, finalmente, o Dia da Coleta Mundial para as Missões. Distribuímos os envelopes, que deverão ser devolvidos neste domingo, contendo a partilha de nossa pobreza, em favor de nossos missionários e missionárias, dos quais não poucos passam grandes dificuldades em seu dia-a-dia, anunciando o Reino de Deus e fazendo conhecido Jesus a milhões de pessoas, muitas vezes passando fome. Enquanto em Ribeirão Preto (SP) usufruímos de mais de 200 Missas Dominicais, semanalmente, em lugares de missão, como na Amazônia, nossos irmãos passam anos sem celebrarem a Eucaristia. Um de nossos Padres, ao chegar a uma Comunidade Ribeirinha na Prelazia de Itaquatiara, na Amazônia, no início do Projeto Missionário de nossa Arquidiocese, leu uma faixa com os seguintes dizeres: “Seja bem-vindo Padre. Faz cinco anos que não vemos um!”.
            Ao distribuir os envelopes à minha Comunidade de Fé, Oração e Amor, sugeri, que durante este Mês Missionário, abríssemos mão de alguma guloseima, coisas supérfluas ou até mesmo de algum alimento ou vestuário secundários e colocássemos o resultado de tal renúncia como oferta generosa em favor de nossos missionários. Que ninguém: nem Padres e nem Conselhos Econômicos deixem de enviar à Cúria toda a coleta arrecadada neste Dia Mundial das Missões em todas as celebrações, e também fora delas. Nossa oração exige isso de nós: honestidade, justiça, transparência e generosidade. Só assim nosso amor terá cheiro de Deus. Quem retiver um único centavo, mesmo tendo rezado direitinho, cheirará a mofo, bolor e corrupção. Não sejamos, por favor, “corruptos eclesiásticos e pastorais”. Como exercer nossa missão profética de formar consciência crítica de justiça, de ética e de amor ao próximo, se não formos diferentes de tantos de nossos governantes (a minoria não), que tratam nosso povo, de um lado, como “galinhas” com as tais bolsas daqui e dali, mas de outro lado, tirando-lhes as mesmas migalhas da boca, com o vergonhoso desvio de verbas destinadas à saúde, saneamento básico, educação, moradia digna e oportunidades de trabalho justamente remunerado? Que Deus estampado no rosto de nossos missionários não se decepcione conosco!
Mas a Palavra de Deus, que trata com delicadeza o tema da oração, quer mais: nossa oração não pode ser individualista, pidona ou simplesmente preceitual. A oração precisa produzir frutos com sabor de justiça, já que o Reino de Deus é um reino de justiça. Logo, onde não há justiça, não há Reino de Deus. Nossa oração deve refletir esperança aos que são oprimidos, pobres, enfermos e desolados. Oração sem confiança não produz esperança. E comunidade sem esperança é inútil. Como diz o Papa Francisco, não passa de uma ONG piedosa.  Assim sendo, nossa oração deverá trabalhar nosso discipulado e nossa missionariedade, justamente neste Mês Missionário!
            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex 17,8-13; Sl 120(121); 2Tm 3,14-4,2 e Lc 18,1-8)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2019, pp. 74-77 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Outubro de 2019), pp. 53-56.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO-OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM


MÊS MISSIONÁRIO EXTRAORDINÁRIO
Canonização da Irmã Dulce no Vaticano
  


"Senhor, se levardes em conta as nossas faltas,
quem poderá subsistir?
Mas em vós encontra-se o perdão,
Deus de Israel!" (Sl 129,3s).

Meus queridos amigos e irmãos na fé!

A Palavra de Deus do Vigésimo-Oitavo Domingo do Tempo Comum coloca nosso coração acolhedor diante do grande Milagre da Vida de Deus para conosco e de nossa Gratidão para com Ele!

Sou do tempo em que se pedia as coisas "por favor”, e depois de conseguir realizar o pedido, mesmo vindo dos pais, dizia-se "muito agradecido". Os tempos mudaram e a educação também. Os filhos exigem que os pais os sirvam com imediatismo e quando isso não é possível, comportam-se mal-educados e até agressivos. Isso se transfere às nossas Comunidades: somos hoje mais uma Igreja "pidona" do que "agradecida", e ai de Deus, quando não nos atende imediatamente! Viramos as costas para Ele, nos afastamos da Comunidade de Fé e corremos atrás de outros meios. Muitos ainda reduzem Deus a um "camelô", tentando "barganhar" com promessas incabíveis e sem sentido algum. Tenho certa dificuldade com as "salas de milagres": o que Deus fará com tanta coisa, como cabeças e pernas de cera, muletas, fotografias, roupas, e cartinhas?... Será este tipo de gratidão que o Senhor espera de nós? Com todo respeito à religiosidade popular e aos inúmeros Santuários que conservam tais depósitos de objetos, penso que a gratidão esperada por Deus de cada um que agracia com o precioso dom da vida é o amor com sabor divino, o amor realmente gratuito, a capacidade de perdoar e a acolhida, principalmente dos preteridos, discriminados e excluídos de nossa sociedade que vive da aparência e não da essência das pessoas.

O próprio Papa Francisco na Exortação Apostólica Amoris Laetitia reafirma que O Amor na Família parte da suposição de três palavrinhas orientadoras: Por Favor, Agradecido, Desculpa!

Em minha infância, conheci no bairro onde cresci, duas senhoras hansenianas. Uma muito pobre já sem nariz e orelhas, trabalhava naturalmente na lavoura e tentava fazer de sua enfermidade um caminho de santidade. Trabalhava rezando e agradecendo a Deus por poder ajudar no sustento da família. Sentia uma admiração muito profunda por ela, pois me ensinava a ser ainda mais agradecido pelo corpo perfeito que Deus me dera. Nossa única semelhança era a pobreza material e a riqueza espiritual. Alguns coleguinhas me repreendiam porque me aproximava dela e a tratava com naturalidade, pois sentiam nojo e temiam serem contagiados com a sua lepra. Tratava-se em Hospital Público e faleceu logo. Nem os medicamentos conseguia comprar. Já na minha infância os preferidos de Deus morriam por falta de condições de tratamentos caros e pelo descaso da Saúde Pública, algo que continua em nossos dias, não obstante promessas jamais cumpridas em campanhas megalomaníacas e mentirosas. A outra, de família economicamente privilegiada, ficava escondida no quarto. A família sentia vergonha e não a expunha a ninguém. Numa tarde consegui, escondido de todos, espiá-la e até falar com ela. Disse-lhe que não se revoltasse, pois eu me comprometia a rezar por sua cura. Tempos depois a internaram numa Clínica em Manaus. Já sacerdote, anos mais tarde a encontrei praticamente curada, ao que me disse: "Tu tinhas mesmo que ser padre. Deus ouviu tuas orações, quando ainda criança. Já tive alta e agora ninguém mais tem vergonha de mim..." Minha alegria foi tamanha, que celebrei várias Missas em ação de graças, esforçando-me para não reclamar de dores insignificantes! 

            “Não foram dez os curados? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro? Levanta-te e vai! Tua fé te salvou” (cf. Lc 17,18-19).
           
            Entre outras, a mensagem principal da Palavra Proclamada neste domingo poderia ser: A maturidade e a grandiosidade de nossa fé consistem na generosidade de nossa gratidão. Sabemos se nossa fé é de verdade madura, na medida em que formos agradecidos a Deus! 

             Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2Rs 5,14-17; Sl 97(98); 2Tm 2,8-13 e Lc 17,11-19)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2019, pp. 55-58 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Temo Comum II (Outubro de 2019), pp. 46-52.

O CPC – CENTRO DO PROFESSORADO CATÓLICO CONVIDA!

O Centro do Professorado Católico da Arquidiocese de Ribeirão Preto convida os Professores e Amigos para a Missa de Ação de Graças pelo Dia do Professor, em seu Salão Social, na Rua Nélio Guimarães, 501 no Alto da Boa Vista, com a participação especial do Coral Branca Moro do CPC sob a Regência da Maestrina Adriana Morais. A Missa será dia 15 de outubro, terça-feira, às 09 horas!
 Santa Teresa de Jesus, Doutora, incentive nossos Professores e interceda junto aos nossos projetos de educação plena!

Padre Gilberto Kasper
Conselheiro Espiritual

MINHA PRIMEIRA COMUNHÃO!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com


A preparação da minha primeira comunhão ocorreu durante a primeira série do Primário cursada no Colégio Sagrado Coração de Jesus em Novo Hamburgo (RS). A Irmã Neófita da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria, proprietárias da Escola, foi minha Catequista. Os pais inscreviam seus filhos na Catequese no ato da matrícula. Foram meses de intensa preparação até um dos dias mais felizes de minha vida, que coincidiu com a Memória de São Francisco de Assis, omitida naquele ano de 1964 por ser o dia 4 de outubro um domingo.
Em pleno Concílio Ecumênico Vaticano II a Irmã Neófita nos preparou com zelo e profunda dedicação. Muito séria e enérgica teve o cuidado de orientar-nos bem para nossa primeira confissão. Insistia de que o Sacramento da Reconciliação não poderia passar despercebido durante a semana de ensaios para a Missa da Primeira Comunhão, essa última, geralmente mais solene em relação à Primeira Confissão. Agendou a tomada do Ato de Contrição individualmente. Deixou-me de recuperação porque entre o mais longo e o mais breve, decorei o mais breve. Em três dias fui obrigado a decorar o Ato de Contrição mais longo. Graças a Deus fui então aprovado!
Outro problema carecia de solução. Os meninos se vestiam de terno azul marinho, camisa branca com gravatinha “borboleta”, sapatos pretos e meias brancas. As meninas mais pareciam pequenas “noivinhas” com véu e tudo. Meu irmão mais velho tinha suas vestes garantidas. Já eu não. Nunca vestira terno e nem sapatos pretos. Minha avó paterna jogava no Bicho. Rezamos e ela ganhou um premio na cabeça. Conseguiu comprar-me um terno, só que cinza. Tingindo-o com anil ficou aproximadamente azul marinho.
Os dias que antecederam o domingo da minha primeira comunhão pareciam demasiados longos. Contava as horas e nem dormia direito, tamanha era minha alegria. A continência sugerida pelo Pároco após a primeira confissão era tão séria, que não pensava em outra coisa, a não ser como seria receber pela primeira vez Jesus Sacramentado, fazendo de meu coração, o porta-joias do Senhor. Não obstante a imposição de uma disciplina muito rígida, por parte das Irmãs envolvidas na preparação da minha primeira comunhão, desde o modo de andar na fila indiana juntamente com 122 coleguinhas, até a afinação dos cantos da Sagrada Liturgia, que foi um primor, minha alegria era indescritível. Nem a pobreza material de minha família impediu que todos participassem de um dos dias mais felizes de minha vida.
Após a minha primeira comunhão a Irmã Neófita andando de um lado a outro no corredor central da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus no Bairro Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS) incentivava-nos a fechar os olhos e a vivermos aquele momento único e tão feliz. Ela sugeriu que sentíssemos Jesus Sacramento em nós com as seguintes palavras: “Queridas crianças, procurem sentir Jesus na Hóstia Consagrada agora na vida de vocês. Procurem sentir para onde Jesus foi? Ele foi para o coração ou para o estômago? Se a Hóstia foi direto ao coraçãozinho de vocês, é porque o receberam pela primeira vez em estado de graça. Mas se foi ao estômago, é porque depois da primeira confissão, vocês cometeram ainda algum pecadinho. Sintam, crianças, para onde Jesus foi!”
É bem verdade que procuro saber até hoje para onde Jesus na Hóstia Santa foi: para meu coração ou para meu estômago. Independentemente à pedagogia da época, fica a certeza indiscutível: o dia da minha primeira comunhão foi o primeiro mais feliz de minha vida!