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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


 Neste Primeiro Domingo da Quaresma, em comunhão com a Igreja, iniciamos um caminho batismal. A Quaresma tem caráter essencialmente batismal, sobre o qual se fundamenta o caráter penitencial. A Quaresma é tempo de vivência profunda do mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Uma experiência que acontece na comunidade de fé.

Neste domingo, com Jesus, somos conduzidos pelo Espírito ao deserto. A Quaresma, tempo especial de reflexão e conversão, é uma ocasião privilegiada para rever nosso modo de agir, tomar novas decisões, promover mudanças significativas. Nesta Campanha da Fraternidade a Igreja nos convida a dirigir esse processo de conversão para a defesa da vida, a criação que Deus criou com sabedoria. Somos chamados a contemplar e proteger a vida, também como forma concreta de louvar e servir a Deus, a partir da “FRATERNIDADE E VIDA: DOM E COMPROMISSO”. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

Conduzidos pelo Espírito de Deus, celebramos em louvor daquele que venceu as tentações. Em comunhão com Jesus, vamos nos alimentar com o pão da Palavra e da Eucaristia, para também nós podermos superar toda tentação e obstáculos em nossa caminhada. 

A história humana se move entre o projeto de Deus e o poder do mal. Fortalecidos pela palavra de Deus, podemos vencer, a exemplo de Jesus, as forças que geram opressão e morte no mundo.

A humanidade continua a pecar contra a vida da criação, obra de Deus, negociando-a. As tentações de cada dia nos afastam do projeto de Jesus. Há o contraste entre Adão, desobediente a Deus e responsável pelo pecado, e Cristo, obediente a Deus e responsável pela graça.
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Como o Filho de Deus, somos tentados, a todo instante, a nos desviarmos do projeto de Deus e a trilharmos nosso projeto pessoal, segundo nossos interesses, e a fazermos uso ou nos servirmos da vida da criação em vista do lucro (de nosso bem-estar descabível). Basta lembrarmos as inúmeras denúncias da imprensa sobre alguns dos pecados que se tornaram públicos: escândalos com desvio de verbas, mensalões, homicídios, devastações da obra maravilhosa do Criador! Eles manifestam a ganância do ser humano e sua pouca preocupação com o destino de seu próximo e com o cuidado da vida.

A Palavra de Deus (deste domingo), não nos condena por nossos pecados, mas nos alerta para o triste fim a que eles nos levam: desarmonia comigo mesmo, com a vida humana, com os outros e com Deus, ou seja, a morte.
Gosto de pensar que o problema não é o pecado, o problema também,
não é a tentação, pois ela existe; e nem mesmo o mal parece ser o problema. O problema consiste em ceder ao pecado, à tentação e ao mal.

Quanto mais públicos, mais vulneráveis nos tornaram ao pecado, à tentação e ao mal. Somos tentados a ceder ao poder sobre os outros; à inveja dos outros (por conta disso machucamos, maltratamos e surramos os outros com nossa língua felina e nossa incapacidade de perdoar - um padre que não consegue perdoar estaria habilitado a dispensar a absolvição?) e à desenfreada busca de prestígio (necessitamos de elogios e precisamos aparecer sempre mais do que os outros), escondendo nossos limites atrás dos limites dos outros. Isso me parece abominável e profundamente contraditório à proposta do Primeiro Domingo da Quaresma, que nos conclama a uma profunda e verdadeira conversão ao BEM! Só quem é bom sabe o quanto é maravilhoso ser BOM! 

Desejando a todos uma Quaresma muito abençoada, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 2,7-9; 3,1-7; Sl 50(51); Rm 5,12-19 e Mt 4,1-11).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2020, pp. 15-19 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma (Março de 2020), pp. 15-21.


Pela  escuta  da  Palavra  do  Mestre  e  pela  acolhida  da  misericórdia  divina revelada  em  Jesus,  superam-se  a  falsidade  e  a  infidelidade,  constitui-se  o  novo povo  de  Deus.  É  nesta  perspectiva  que  podemos  compreender  a  palavra  do Evangelho  proposto  para  a  celebração  da  Quarta-Feira  de  Cinzas:  os  cristãos são  chamados  pelo  Mestre  a  assumirem,  com  fidelidade,  as  obras  da  justiça  - no  relacionamento  com  o  próximo:  a  partilha;  para  com  Deus:  a  oração;  para consigo mesmo:  o jejum. Na  caminhada  quaresmal,  somos  convidados  a  experienciar  o  Deus  que acolhe  nossa  penitência,  corrige  nossos  vícios,  cuida  de  nós  incansavelmente, fortifica  nosso  espírito  fraterno,  nos  dá  a  graça  de  sermos  nós  também misericordiosos. Agradecemos  a  todos  que  colaboraram  na  confecção  do  material anexado!  Sintam-se  incluídos  no  cálice  precioso  do  Senhor,  como  nossa  forma de gratidão! Além  de  iniciarmos  desde  a  Quarta-Feira  de  Cinzas  a  partilha  de  nossa pobreza  para  a  Coleta  da  Solidariedade,  levando  para  casa  o  envelope  que acolherá  os  frutos  saborosos  de  nossa  penitencia  quaresmal,  renovamos  o bom propósito de, durante toda a Quaresma,  não falarmos mal de ninguém! A  Coleta  da  Solidariedade  deverá  iniciar  na  Quarta-Feira  de  Cinzas  e  o envelope recebido deverá ser devolvido na Celebração do  Domingo de Ramos! Na  Igreja  Santo  Antoninho,  teremos  a  Celebração  da  Abertura  da Quaresma  com  o  Início  da  Campanha  da  Fraternidade  de  2020,  às  19  horas desta  Quarta-Feira de Cinzas! Desejando-lhes  um  Tempo  muito  rico  de  Bênçãos  Quaresmais,  com ternura e gratidão, nosso abraço amigo, Pe. Gilberto Kasper (Ler Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2 Cor 5,20-6,2 e Mt 6,1-6.16-18). Fontes:  Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 88-92 e Roteiros Homiléticos da CNBB para a Quaresma (Fevereiro de 2020), pp. 9-14.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


Iniciamos, nesta Quarta-Feira de Cinzas, dia de Jejum e Abstinência, o sagrado tempo da Quaresma para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal de Jesus. Desde os tempos mais antigos, a Quaresma foi considerada como período de renovação espiritual, de revigoramento interior, para o testemunho do Evangelho.

A celebração da bênção e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: "Convertei-vos e crede no Evangelho". Na abertura da Quaresma, tempo favorável de conversão, as leituras fazem forte apelo de mudança de vida e nos convidam a intensificar as práticas de caridade, oração e jejum.

Quaresma, quarenta dias que nos separam da grande festa da Páscoa da Ressurreição do Senhor! Neste tempo, procuremos trilhar o caminho da conversão proposto pelo Evangelho e pela Campanha da Fraternidade, que nos leva a refletir sobre o tema: “FRATERNIDADE E VIDA: DOM E COMPROMISSO” e sobre o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). (Ler no Site: www.arquidioceserp.org.br a PASCOM, convidando ao Lançamento da Campanha da Fraternidade).

Quaresma é tempo de voltar para o Senhor, ele é benigno e compassivo. Há três grandes práticas quaresmais: caridade, oração e jejum. Neste tempo favorável, reconciliemo-nos com Deus e com os irmãos.

Pela escuta da Palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da Quarta-Feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as obras da justiça - no relacionamento com o próximo: a partilha; para com Deus: a oração; para consigo mesmo: o jejum.

Na caminhada quaresmal, somos convidados a experienciar o Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de sermos nós também misericordiosos.

Agradecemos a todos que colaboraram na confecção do material anexado! Sintam-se incluídos no cálice precioso do Senhor, como nossa forma de gratidão!

Além de iniciarmos desde a Quarta-Feira de Cinzas a partilha de nossa pobreza para a Coleta da Solidariedade, levando para casa o envelope que acolherá os frutos saborosos de nossa penitencia quaresmal, renovamos o bom propósito de, durante toda a Quaresma, não falarmos mal de ninguém!
A Coleta da Solidariedade deverá iniciar na Quarta-Feira de Cinzas e o envelope recebido deverá ser devolvido na Celebração do Domingo de Ramos!

Na Igreja Santo Antoninho, teremos a Celebração da Abertura da Quaresma com o Início da Campanha da Fraternidade de 2020, às 19 horas desta Quarta-Feira de Cinzas!

Desejando-lhes um Tempo muito rico de Bênçãos Quaresmais, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2 Cor 5,20-6,2 e Mt 6,1-6.16-18).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 88-92 e Roteiros
Homiléticos da CNBB para a Quaresma (Fevereiro de 2020), pp. 9-14.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 


            
Em Jesus, o Pai nos oferece sua compaixão, dando-nos seu perdão, a força da reconciliação que nos leva ao amor incondicional e guia-nos no caminho da concórdia e da justiça.
            Neste Sétimo Domingo do Tempo Comum, a primeira leitura ajuda a iluminar o evangelho proclamado. O Levítico nos fala da necessidade de sermos santos, porque Deus á santo. A santidade que Deus exige de nós, não se reduz a práticas externas da religião, mas ao amor sem limites. Pela Aliança, os israelitas são de Deus. Pelo Batismo, os cristãos são de Deus. Aqueles que formam o “povo de Deus” não podem desonrar esse nome, mas assemelhar-se a ele que é amor e perdão, como nos diz o livro do Êxodo 34,6-7: “O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações e perdoa culpas, rebeldias e pecados...” Por isso, é necessário que sejamos irrepreensíveis.
            Jesus, como filho amado do Pai, compreendendo e vivendo a pertença plena de Deus, explica e exige a santidade de seus seguidores. Portanto, não se trata de ser pretensioso querer ser santo. Antes se trata de uma exigência interna de todo batizado. O batismo nos torna seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade. E santo é todo aquele que morrendo vê Deus como Deus é, e pronto!
            A caridade fraterna, o amor aos inimigos devem ser as características de quem segue Jesus, o Cristo. No seguimento do Senhor, não cabem ódio, vingança, egoísmo, corrupção, injustiças, violências, guerras, comércio de armas, competições, incompreensões, divisões. Entretanto, no mundo, vemos acontecer tudo isso entre nações, grupos, pessoas. Até entre igrejas e dentro das igrejas existem diversos tipos de inimizades, competições, exploração de pobres e pequenos. Muitos de nós agimos como se fôssemos deuses diante de nosso próximo. Rezamos ingenuamente sem pensar nas conseqüências: “perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve” (Lc 11,4). Coitados de nós, se Deus ouvisse esse pedido da Oração do Pai Nosso que tanto rezamos com os lábios, mas não com o coração! Rezar o que não se deseja realmente é mera hipocrisia!
            O sinal de que somos seguidores de Cristo crucificado e ressuscitado é o amor sem medidas.
            “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35).
            A medida de nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós, a ponto de entregar sua vida. Mais ainda, a medida é o amor que o Pai tem por Cristo: “Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo” (Jo 15,9). O amor ao próximo está indissoluvelmente ligado ao preceito do amor a Deus.
            Realizamos nossa vocação de sermos semelhantes ao nosso Deus, quando amamos todas as pessoas com o amor gratuito de Deus, sem busca de retribuição. Por esta razão, nosso empenho maior é amar os pobres, os estranhos, os diferentes e, o mais difícil, amar os inimigos.
            Como santuário de Deus, habitação do Espírito, rompendo com ressentimentos, diferenças e preconceitos, a assembléia litúrgica torna-se sacramento do amor de Deus entre nós.
            Num mundo de discriminação, ódio e violência, a mesa da ceia eucarística sinaliza profeticamente a reconciliação e a comunhão universal. Nela recebemos o Espírito de santidade que, com Cristo, nos faz perfeita oferenda ao Pai, vida doada incondicionalmente para a salvação do mundo, cujo penhor recebemos neste sacramento.
            O pão partido e partilhado, participando na igualdade de irmãos, nos mantém no caminho da santidade e cultiva, em nós, a atitude fundamental de discípulos daquele que, na cruz, chegou à radicalidade do amor sem limites.
            Depois de comungarmos a Palavra deste Sétimo Domingo do Tempo Comum é impossível guardar no coração alguma forma de rancor, ingratidão, incapacidade de perdão em relação a quem quer que seja. Não percamos tempo. Se tivermos guardado nos porões de nossa intimidade qualquer sentimento que não coincida com o amor gratuito, corramos ao encontro de quem “desamamos” e celebremos a reconciliação. Só assim teremos de volta a paz que o pecado nos rouba. Só assim poderemos dizer que realmente somos cristãos e dignos deste nome. Mágoa, insensibilidade com as fraquezas dos outros e indiferença com quem sofre, não combinam com um cristão que se alimenta do Cristo Sacramentado. Ou nos tornamos o sacrário do Senhor, ou estaremos vazios dele, o que seria desastroso. Não canso de dizer, que o mais nobre e lindo no cristão é esforçar-se que sejamos Anjos uns para os outros!
            Sejam sempre e muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Lv 19,1-2.17-18; Sl 102(103); 1 Cor 3,16-23 e Mt 5,38-48).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 81-83 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2020), pp. 75-79.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Os olhos do Senhor estão voltados para os que o temem.
Ele conhece todas as obras do homem” (Eclo 15,20).

            No Sexto Domingo do Tempo Comum a Palavra de Deus nos ilumina sobre a relação de Jesus e a lei. Sua missão não é abolir nem facilitar, mas libertar do formalismo e do fundamentalismo. Para Jesus, não basta a observância externa apenas para “ir para o céu” após a morte. Jesus exige radicalidade. A Palavra de Deus deve atingir até o mais profundo do ser humano. É uma procura amorosa da vontade original de Deus que ultrapassa a simples letra da lei. É necessário ver e ouvir por “trás das palavras”, encontrando-se pessoalmente com o Espírito da Lei.
            Para o cristão ser justo, conforme a exigência de Jesus, não basta observar preceitos, cumprir mandamentos, é necessário viver e realizar o bem proposto por Deus em sua Palavra. A letra da lei mata, mas o Espírito vivifica. Conforme o Salmo 119 (118), a lei é uma luz, um caminho, razão de viver e se sentir interiormente como povo escolhido de Deus. A lei foi dada para podermos viver e testemunhar o bem que Deus propõe.
            Jesus nos alerta que podemos observar a lei em outro espírito, que não seja o Espírito de Deus. O espírito que motivava os fariseus da época se afastava do projeto do Pai, porque não beneficiava os pobres e pequeninos. Não era espírito de Deus, mas um negócio com Deus, troca, barganha. Os fariseus tornaram-se donos da lei e ela passou a ser instrumento de dominação econômica, política e religiosa sobre os demais: “Amarram pesados fardos e impõem-nos aos ombros dos irmãos, ao passo que eles mesmos se negam a movê-los com o dedo” (cf. Mt 23,4) Jesus, então, deseja tirar a lei das mãos de quem oprime em nome de sua observância e devolvê-la a Deus. O que Deus deseja é a justiça, seu plano amoroso. Procurar a justiça verdadeira é olhar a vida com amor radical. Então os mandamentos de Deus significarão muito mais do que a letra diz, e nos levarão à perfeição de filhas e filhos de Deus.
            Cumprir toda justiça é a justiça que inclui lei e profetas. O essencial da lei é a prática da justiça e da misericórdia que ultrapassam a observância legalista. Jesus toma alguns exemplos para deixar claro até onde devem ir a justiça e a misericórdia. Vai até a raiz e mostra que o objetivo da lei é a defesa da vida. Não basta “não matar”, é necessário construir uma sociedade humana, fraterna e solidária, na qual a vida plena seja para todos. A lei é “não cometer adultério”, mas não; é preciso eliminar o desejo de posse sobre a mulher, extinguir todo machismo e todos os privilégios do homem, raiz de toda opressão presente nas relações humanas. O bem-querer é a proposta de Deus. Nossa resposta é um amor verdadeiro, com raiz na totalidade da pessoa, o qual se insere na fonte do amor que é o próprio Deus. Não basta “não jurar em falso”; temos que promover a convivência fundamental na verdade, na integridade, na honestidade, na ética.
            O que a Palavra de Deus exige hoje de nós é cortar o mal pela raiz. Jesus não nos prescreve apenas normas, mas uma proposta evangélica nova que batize, lave até nosso inconsciente, nossa consciência profunda, e faça da vida um contínuo ato de discernimento, de busca de sentido de nosso ser, de nosso viver, do nosso agir. A primeira leitura nos convida, a cada momento, a tomar uma posição diante da LEI, o projeto de Deus.
            Somos convidados a uma profunda conversão em todas as dimensões de nossas relações humanas. Na dimensão familiar, evitando acepções e discriminações. Na dimensão política não poucas vezes a lei é aplicada com maior rigor aos adversários políticos e relaxada aos correligionários, o que é profundamente injusto. A lei deveria ser aplicada de igual modo a todos, já que todos deveriam ser tratados com igual cidadania. Na dimensão social o jogo de interesses determina a lei, quando não a “Cultura do Descartável”. Quantas pessoas conhecemos, que só sobrevivem à custa do dinheiro, do prestígio, do poder, da ganância e da avareza? Na dimensão religiosa também carecemos de séria conversão pastoral. Nossas normas pastorais nem sempre são acolhedoras; mais espantam do que acolhem os filhos da Igreja. Não se trata de “banalizar” a pastoral, mas também não dificultar a vida dos que nos buscam sendo-lhes um peso sobre os ombros. As secretarias paroquiais geralmente só dão expediente em horário comercial, quando as pessoas trabalham. Se a Igreja é Mãe, seus filhos deveriam encontrá-la sem que isso prejudique sua sobrevivência. Gosto de pensar, que a Igreja deve sempre edificar e nunca dificultar a vida de seus filhos nas dimensões: pessoal, familiar, profissional e social. Muitas vezes somos mais exigentes com nossos Agentes de Pastoral, do que foram os fariseus do tempo de Jesus. Fazê-los nossos “funcionários” e exigir que deixem o convívio da família não me parece o projeto de quem diz amar seu rebanho. Como seria bom, se todos nos  propuséssemos a uma verdadeira e profunda conversão, deixando a última palavra para o amor totalmente gratuito. Se nem Deus impõe nada, apenas propõe, quem somos nós para exigências tantas vezes absurdas, que demonstram nossa incapacidade de conduzir as pessoas a Jesus Cristo livremente? Sejamos humildes e nos esforcemos por maior criatividade e, sobretudo coerência entre o que pregamos e vivemos!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Eclo 15,16-21; Sl 118(119); 1 Cor 2,6-10 e Mt 5,17-37).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 64-67 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2020), pp. 70-74.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Uma luz brilha nas trevas para o justo,
permanece para sempre o bem que fez” (Sl 111).

            No Quinto Domingo do Tempo Comum fazemos memória de Jesus, o bem-aventurado do Pai, que deu a vida pela humanidade. Manifesta-se como luz do mundo e presenteia-nos com o novo sabor e o suave vigor de seu Espírito.
            No contexto das bem-aventuranças, o Senhor nos renova na missão de ser sal da terra e luz do mundo. Ele nos convida a “provar”, como cristãos, a qualidade de nosso sal e a ver com que obstáculos ocultamos a luz do evangelho, numa Igreja e numa sociedade de tanta desigualdade, competição, discórdia, corrupção e miséria.
            Se relermos atentamente a Carta Encíclica do Sumo Pontífice FRANCISCO Lumen Fidei – sobre a fé e sua primeira Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – Alegria do Evangelho sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, chegaremos à conclusão de que só conseguiremos experimentar “A doce e reconfortante alegria de evangelizar”, na medida em que nos tornarmos “Uma Igreja em saída” e acolhermos com humildade a proposta de uma profunda “Pastoral de conversão” (cf. Capítulo I da Evangelii Gaudium, nn. 19-49). Tanto a Igreja como a sociedade precisa, urgentemente, pensar como superar tanta desigualdade, intriga, inveja, busca de poder e prestígio. A impressão que fica, é que o melhor clérigo é o que constrói a Igreja maior e mais suntuosa. Mesmo que não encontre tempo para administrar os sacramentos da Reconciliação, da Unção dos Enfermos e não goste de ir a velórios. Como é possível falar em Alegria do Evangelho, quando em nossas relações vivemos exatamente o contrário? Como podemos falar numa “Igreja pobre para os pobres”, quando entre nós ministros ordenados, há os que ostentam luxo exacerbado ao lado de outros tantos passando necessidades básicas, sem dinheiro para um justo tratamento de saúde? Já ouvi de lábios sacerdotais, que os Padres pobres não são criativos e não se esforçam por angariar fundos para a manutenção de suas Comunidades, principalmente as de periferias de nossas Dioceses. Será assim? Como seríamos mais configurados com uma Igreja desejada pelo Santo Padre FRANCISCO, se fôssemos menos avarentos e mais fraternos uns com os outros. Não seria lindo que as Paróquias ricas doassem de coração aberto, uma espécie de dízimo às que são pobrezinhas? Se dessem pelo menos 1% de suas arrecadações mensais, para aliviar as dificuldades das Comunidades carentes, teriam os outros 99% para realizar suas atividades e não teríamos o que me parece vergonhoso, irmãos indigentes entre nós. Voltaríamos às Comunidades dos Apóstolos, onde todos repartiam o pão, e não havia necessitados entre eles!
            Cristo é luz do mundo! (cf. Jo 8,12) Quem o segue não andará nas trevas! Será luz também! – essa é nossa missão no mundo! Deus será reconhecido através das boas obras de seus filhos e filhas. Não posso crer que Deus seja mais feliz quanto maior forem as torres de nossos Templos. Mas se os “Templos Humanos” estiverem saudáveis e viverem com dignidade com nossa promoção e nosso investimento nas pessoas, antes das obras de concreto, Deus será tão feliz conosco, que a Alegria do Evangelho transformará a vida toda de toda a Igreja e de toda a sociedade! Aí, porém, surge o perigo da vaidade, da sede de sucesso, de ofuscar a luz de Deus pelo engano de achar que temos luz própria. Uma luz boa não ofusca, mas ilumina.
            Hoje existem muito brilho e excesso das luzes do luxo e do esbanjamento, da erudição para enganar, roubar, corromper; muita esperteza para prejudicar os outros e se manter na acumulação, na riqueza e no poder social, ideológico, político, eclesial e econômico. Esses se colocam no lugar de Deus. Infelizes os que vivem olhando para esse lado. Ficarão cegos. Essa luz ofusca a visão.
            O cristão é sal. A vivência do evangelho dá “sabor” à vida, ilumina tudo o que acontece, leva à ação. Com sua presença, o cristão é desafiado a impelir que a humanidade se corrompa. Num mundo onde cada qual procura o próprio interesse, o cristão é chamado a ser o sal que dá sabor e que conserva a força do evangelho.
            Jesus diz que somos sal e luz para o mundo, se seguirmos suas pegadas, se formos verdadeiros discípulos, anunciando a Alegria do Evangelho com a própria vida, diariamente!
            Ser luz do mundo significa trabalhar para que o Reino de Deus aconteça. Será que nós, cristãos, somos realmente luz do mundo?
            Que esta Quinta Semana do Tempo Comum nos anime a sermos luz, dando nova cor; sal, dando novo sabor ao mundo em que nos movemos e vivemos: em nossas relações pessoais com Deus, com os irmãos e com a sociedade, especialmente em nossas relações nas Comunidades Cristãs! Isso poderá queimar-nos ou até machucar-nos. Mas com São Paulo, deixemo-nos derreter como o ouro no cadinho, a fim de que o Senhor faça de nossa vida, uma vida de verdadeiros discípulos e missionários de Jesus. Não tenhamos medo de derretermos, como a vela derrete acesa no altar, desde que sejamos luz que verdadeiramente ilumine a vida de todos, por quem somos responsáveis!  Sejamos sal que tempere a vida, especialmente, dos que se sentem destemperados neste mundo que ainda opta pela Cultura do Descartável”! Só assim seremos configurados com Jesus Cristo, luz do mundo e sal da terra!
            Sejam todos muito e sempre abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 58,7-10; Sl 111(112); 1Cor 2,1-5 e Mt 5,13-16).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 45-47 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2020), pp. 67-69.