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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

ADVENTO, MEMORIAL DA ESPERANÇA!

Padre Gilberto Kasper 

Teólogo 

Reunindo desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transformações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em nossos dias, iniciamos o tempo do Advento, o memorial da esperança, que alarga nossa vida para acolher o grande mistério da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifestação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta espera, não seremos desiludidos.

A coroa do Advento, feita com ramos verdes, fita vermelha, com quatro velas que progressivamente se acendem, com um rito apropriado, nos quatro domingos do Advento, retoma o costume judaico de celebrar a vinda da luz à humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que vem e quer nos encontrar acordados e com nossas lâmpadas acesas.


A Novena de Natal, preparada carinhosamente pelo nosso Seminário Maria Imaculada, pela Comissão para a Liturgia da Arquidiocese de Ribeirão Preto, o Pilar do Pão, e alguns padres colaboradores, é um instrumento muito importante para ajudar-nos viver, em família e em comunidade, este tempo de piedosa e alegre expectativa, este tempo de preparação para o Natal do Senhor. Neste ano ela é novamente impressa. Basta encomendá-la pelo Site: www.arquidioceserp.org.br.

Advento é também tempo especial de escuta e atenção à Palavra de Deus. Tempo de nos engravidar da Palavra, gestando em nós e entre nós o Verbo, como Maria, figura que tem especial destaque neste tempo.

Esperança tem muito a ver com perseverança. Perseverar em Deus. Não se trata de esquecer o que vivemos e seguirmos como se nada tivesse acontecido. Podemos viver calejados, com cicatrizes na alma, algumas vezes com momentos de dor, mas nunca perder a Esperança de que dias melhores virão.

A Esperança não nos ilude, mas nos faz caminhar com serenidade, acreditando que novas possibilidades surgirão, como nos fazia ver o Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires: “Caminhar, de certo modo, já é entrar numa Esperança viva. Assim como a verdade, a Esperança é um dom que nos faz seguir adiante e nos convida a acreditar que cada novo dia trará consigo o pão necessário para a nossa subsistência”.

           Como alpinistas da graça divina, precisamos seguir em frente. Do meio das sombras nascerá a luz. Na hora da dor, brotará a verdadeira Esperança.

           Bem por isso, iniciamos o rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, a Luz que veio iluminar os corações aquecidos pelo Príncipe da paz, num Advento, O Memorial da Esperança!

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

APADRINHE UMA CRIANÇA!

 Padre Gilberto Kasper - Teólogo.


O FAC – Fraterno Auxílio Cristão da cidade de Ribeirão Preto necessita da ajuda generosa de mais parceiros e amigos, que queiram ajudar-nos a cuidar dos pobres de nossa cidade. Você poderá ser um sócio mensal ou benfeitor ocasional! Partilhando de sua pobreza, enriquecerá nossa vontade de mantermos nossos projetos que precisam da ajuda de todos!

O FAC desenvolve suas atividades por intermédio de dois projetos: o Núcleo de Solidariedade Dom Helder Câmara, instalado na sede do mesmo, na Rua Barão do Amazonas, 881, Centro de Ribeirão Preto, classificado como Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, atendendo jovens e adultos, de ambos os sexos, em situação de vulnerabilidade social.

O Núcleo de Solidariedade Dom Bosco, instalado na Rua Imigrantes Japoneses, 1065, Parque Ribeirão Preto, classificado como serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, atendendo crianças e adolescentes dos 6 aos 15 anos, assegurando espaços de referência para o convívio grupal, comunitário e social, além do desenvolvimento de relações de afetividade, solidariedade e respeito mútuo, desenvolvendo sua convivência familiar e comunitária. Contribui para a ampliação do universo informacional, artístico e cultural de 80 crianças e adolescentes, diariamente, no contra-turno escolar.

O custo mensal de uma criança acolhida pelo Núcleo Dom Bosco é de R$ 537,00. Em 2018 iniciamos o Projeto “Apadrinhe uma Criança”. O primeiro Padrinho desse projeto é Dom Moacir Silva, nosso amado Arcebispo Metropolitano, que nos dá o bom exemplo a ser seguido. Porém muito poucas pessoas apadrinharam uma criança até agora, como nossa Conselheira Amália Terezinha Balbo Di Sicco e nosso Benfeitor Newton Pedro Mendonça (somos apenas quatro, na verdade). Sabemos que são muitos os desafios e as nossas Entidades passam por grandes dificuldades para manterem seus projetos.

Se conseguíssemos um padrinho ou uma madrinha para cada uma das 80 crianças, não precisaríamos desgastar nossos queridos Voluntários com tantas promoções, que nem sempre têm resultados suficientes para honrarmos nossos compromissos mensais com Folha de Pagamentos, Encargos Sociais e Boletos, esses que não se quitam com alimentos ou roupas. Quem sabe, pudéssemos reunir 80 Famílias que, mensalmente, abrissem mão de algo supérfluo e remetessem esse valor de R$ 537,00 ao FAC, apadrinhando assim uma criança? Gastamos tanto mais, muitas vezes, em coisas desnecessárias! Não há nada mais nobre do que partilhar de nossa pobreza em favor de uma criança que terá um futuro bem mais digno e promissor, e que depende de nossa sensibilidade no presente.

O FAC procura responder, na medida do possível, aos anseios do Papa Francisco, que deseja “Uma Igreja pobre para os Pobres!”. Contamos com a generosidade de quem desejar unir-se a nós, para juntos cuidarmos dos nossos irmãos mais pobres do que nós. Participando, nos ajudará a manter o FAC funcionando e acolhendo os mais pobres de nossa cidade. Basta telefonar (16) 3237-0942 ou E-mail: facribeirao@facribeirao.com.br!

Quem não puder apadrinhar uma Criança, mas deseja mesmo assim colaborar poderá depositar qualquer quantia na Conta Corrente do FRATERNO AUXÍLIO CRISTÃO no Banco do Brasil – Agência 4242-0 e C/C 20029-8. Deus certamente recompensará a generosidade de nosso povo!

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

PERDA DE REFERENCIAIS!

 

Pe. Gilberto Kasper – Teólogo  - pe.kasper@gmail.com

                                                                                                          


                

 

Vivemos uma crise marcada pela perda de referenciais e pela perda de consenso. Isto nos desestabiliza em nossas raízes. Rompeu-se aquela unidade de raiz e já não caminhamos todos na mesma direção. Em vez de existir uma uniformidade e unanimidade, típica do Brasil rural, nossa sociedade é hoje plural e policêntrica. Sentimo-nos dispersos, muitas vezes sem rumo, com dificuldade de captar o sentido da vida e chegar à verdade. A vida pessoal e social fica cheia de dificuldades, às vezes até comprometida em seu equilíbrio. Estamos em meio a uma crise de paradigmas.

Esta situação aponta para uma consciência ética desorientada, numa “crise em torno da verdade” como escreve São João Paulo II em suas Cartas Encíclicas Fides et Ratio e Veritatis Splendor. Hoje, o pensar e o agir partem do próprio indivíduo, o que pode levar a um deslize individualista comprometedor. Por isso, faz-se necessário acionar a capacidade ética e teológica, enquanto capacidade humana de discernimento, de examinar tudo, mas ficar com o que é bom, como nos diz São Paulo (1 Ts 5,21). Se assim for, o ser humano sentir-se-á respaldado, caminhando mais seguro neste tempo da história.

Quantas vezes o novo nos assusta. São tantas as novidades, o que provoca um certo medo. Por isso, chegou a hora de recriar as bases que possam sustentar o humanum (o ser humano em sua raiz mais profunda, chamada também de ethos), em meio a uma cultura emergente que, marcada pela Modernidade, já é portadora de traços nítidos da Pós-modernidade. Precisamos dedicar nisto os melhores esforços, pois aqui se decide o futuro. Precisamos compreender e nos situar neste novo tempo para alimentá-lo com o Evangelho, colocando Jesus Cristo no centro.

Necessitamos de um itinerário ético, com clareza no tocante aos engajamentos morais, nutridos da fidelidade ao Evangelho, da fidelidade à nossa história, da centralidade de Jesus Cristo, da experiência de Deus. Só assim responderemos com adequação e perspicácia aos atuais desafios que enfrentamos, por conta da Pandemia do novo Coronavírus na Igreja e no mundo. Faz-se necessário apoiar a pessoa humana em seu processo educativo, no despertar da fé e na formação da consciência; é um percurso marcado pela unidade da pessoa, pela gradualidade no passo a passo que leve à coerência de vida. Todo este processo tem a ver com a totalidade da pessoa humana, em todas as suas dimensões: corporal, psicoafetiva, social e espiritual. Não podemos descuidar dos referenciais que dão suporte para que a pessoa possa crescer em espírito e vida, como nos diz São João (Jo 6,63).

Além disso, importa anunciar às pessoas de todas as idades uma proposta de vida concreta e atraente no Pós-pandemia. O crescimento será contínuo e a conversão permanente, de tal forma que comprometa a vida das pessoas por inteiro, chamadas a desenvolver a própria dimensão humana e cristã, na vivência do Evangelho. Precisamos de uma moral que cative as pessoas a crescerem na graça de Deus, atraídas pelos valores, sustentadas pelas virtudes, na clareza de uma opção fundamental de vida. Antes de dizer “não”, pronuncie-se o “sim” a ser buscado, levando as pessoas a crescerem porque se sentem cativadas, mesmo que algum “não” faça parte do caminho para a maturidade e a integração. Contemplemos com larga esperança o futuro, depois de tamanho aprendizado, trazido como e no presente!

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O DIREITO DE NASCER!

 

Pe. Gilberto Kasper

pe.kasper@gmail.com

Teólogo

 

 

Deixem as crianças virem a mim. O Reino de Deus é delas”. (cf. Mc 10,13-16)

           

Um dos pontos mais interessantes da Sagrada Escritura, a meu ver, é a narrativa da criação no livro do Gênesis. Deus criou tudo com um amor indiscutível e carinhoso e viu que “tudo era bom”. Ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança, faz do homem e da mulher sua obra prima, imprimindo em cada pessoa o desejo do bem e a busca por seu amor. Entregando ao homem e à mulher a tarefa de “cuidar” da criação lhes deu a responsável missão de gerar novos filhos para a vida e para a fé.

           

O autor sagrado descreve a criação do homem e da mulher com a perfeição de detalhes próprios do amor que se entrega e que sabe sem ele não há felicidade. O ser humano se viu passar do isolamento e da infelicidade à comunhão e à reciprocidade: “agora sim, carne de minha carne e ossos de meus ossos”!  Ao mesmo tempo, entram em cena os palpites e murmurações do ser humano querendo mais e mais, e, com sua esperteza deixa de lado a busca pela sabedoria; cai no conto da serpente e daí em diante, sabemos que quanto mais longe de Deus, mais o ser humano fica egoísta e se desumaniza.  Do egoísmo surgem as mais variadas disputas, desavenças, intrigas, divisões e ódios.  Assim, os que foram criados para a comunhão e a fraternidade, para gerar a vida e aperfeiçoá-la, acabam por desrespeitar o grande dom divino: a Vida! Afinal, o Criador soprou Seu próprio hálito de amor nas narinas da criatura humana!

           

Recentemente a discussão que chega ao Supremo Tribunal Federal é sobre a possibilidade de se matar os embriões com doze semanas de gestação. O grande absurdo é que senadores, deputados e desembargadores que se posicionam a favor do aborto, se dizem defensores da vida das mulheres! Menos das que serão abortadas com doze semanas. Olha o disparate! Comparam um novo ser, com doze semanas, três meses de vida, com um furúnculo a ser removido, ou uma “unha encravada” que a manicure retira...

           

Um político que hoje é prefeito de uma grande capital chegou a dizer que o aborto diminuiria o nascimento de menores delinquentes... quanto preconceito; outra hipocrisia é dizer que o aborto de embriões até três meses é um direito sexual da mulher, como afirma uma nobre senadora. Uma pessoa gerada é direito sexual de outra? Faça-me o favor! Direito sexual é orientar as pessoas a respeito das doenças possíveis em uma vida sexual desregrada; vida sexual é uma coisa, matar um embrião, uma vida que já tem três meses, é bem diferente. Mais espanto me causa o ministro do Supremo Tribunal que afirma que legalizar o aborto “vai diminuir muito o seu número”. Outro insulto à inteligência humana.

           

Não será mais viável punir os que roubam milhões de reais do povo e fazer devolver aos cofres públicos para os hospitais, médicos e remédios que estão em falta? Não será melhor investir em escolas públicas com qualidade para que os estudantes mais pobres não fiquem à deriva num sistema que privilegia uns e condena outros a viver sem escola e sem trabalho?

           

Será um desrespeito às mulheres uma sociedade hipócrita e abortista comemorar, todos os anos, o dia das mães. Se não se respeita o santuário da vida, se se nega o direito à maternidade não se pode celebrar a data como desencargo de consciência. Ouso aqui dizer que não podem aproximar-se da Sagrada Eucaristia os que, como Herodes e Hitler querem a morte de Inocentes. Seja através do aborto, seja através de tantas outras formas de assassinatos, pretensamente justificadas institucionalmente! Todos têm o direito de nascer, viver dignamente, adoecer e até morrer com igual dignidade!

           

(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – São Paulo)

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Uma reflexão sobre o dia de Finados - Padre Gilberto Kasper


 O DIA DE FINADOS!

Neste dia 2 de novembro celebramos o Dia de Finados, lembrando de todos os nossos fiéis falecidos, especialmente, as pessoas mais próximas que tanto amamos, mas que precisamos devolver a quem de direito o Criador.

Se há alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que tanto medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez tivessem de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.

Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...

Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!

Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas devem caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!

O ônibus, de vez em quando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um e-mail, uma mensagem de WhatsApp para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, as mensagens são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!

Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e fizemos, nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!"

Pe. Gilberto Kasper.