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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - APRESENTAÇÃO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



            A Festa da Apresentação do Senhor no Templo ainda está ligada liturgicamente, às festas do Natal do Senhor. Em alguns lugares, somente neste dia, também chamado de dia de Nossa Senhora das Candeias, desmontam-se os presépios que lembravam o nascimento de Jesus.
            Na primeira leitura, o profeta Malaquias une as duas palavras-chaves da festa da apresentação do Senhor; encontro e purificação. A chegada do Messias no Templo encontra um povo desatento e despreparado. Incapazes de responder aos apelos do Salvador, o Messias prepara para Deus um povo bem-disposto e fiel. Ele vem para queimar as doenças do povo com o fogo devorador de sua palavra. Ele chega para lavar-nos de todas as nossas imundícies nas águas do Batismo. Nesse texto pós-exílico, o profeta anuncia a vinda do anjo, mensageiro divino, para renovar a aliança entre Deus e o povo mediante a purificação do coração para o dia do Senhor, que julgará o comportamento da sociedade injusta. Em situações complicadas, o povo fiel aguarda a intervenção de Deus para que o ilumine.
            O Evangelho de Lucas conta-nos a Apresentação do Senhor no Templo. Quatro movimentos compõem o texto do Evangelista. O primeiro movimento é a fidelidade de Maria e José que se apressam ao Templo de Jerusalém para cumprirem a Lei de Moisés. O segundo movimento é o encontro de Simeão e Jesus. Simeão viu chegar a Luz das Nações e testemunhou em alta voz. O terceiro movimento é o encontro de Ana com Jesus. Ela também passou a anuncia-lo a todos. O quarto e último movimento é o encontro de Maria com a entrega de seu amado filho na cruz: “uma espada traspassará a alma” (Lc 2,35). A Sagrada Família faz parte da história do seu povo e do seu tempo, está inserida no contexto social e cumpre as determinações da lei. Jesus é o Messias que veio, como servo do Senhor, para a obra da salvação que o Pai lhe confiou. Ele, como luz, provoca-nos a nos decidirmos por ele ou contra ele.
            A Carta aos Hebreus nos ensina que o Salvador, Jesus Cristo, filho da Virgem Maria, veio homem para cuidar de todos nós, as pessoas humanas. Sua humanidade concedeu-lhe o poder de sentir como sentimos, de sofrer como sofremos, de carregar os pesos que carregamos. Capaz de ser solidário, assumindo nossa condição humana, Jesus venceu a morte e livrou-nos da servidão do medo e da prisão do pecado. Tendo Jesus vindo ao nosso encontro, corramos nós também ao encontro dele. Jesus, derrotando o mal e assumindo a condição humana, torna-se sumo sacerdote por excelência, fiel e misericordioso, aquele que nos une diretamente a Deus. Para realizar a obra da redenção. Cristo escolhe o caminho da solidariedade com a humanidade.
            As palavras de Simeão nos acompanhem durante a semana que se inicia: “Agora, Senhor, podes deixar teu servo partir em paz, segundo a tua Palavra. Porque meus olhos viram a tua salvação que preparaste diante de todos os povos, luz para iluminar as nações e glória de teu povo Israel”!
            Sejam todos sempre e muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2020, pp. 21-25 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Fevereiro de 2020), pp.63-66.


QUERO PAZ NO MEU CORAÇÃO!


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


A minha geração cantou muito essa música que parecia o “hino oficial” do final do ano; e continuava dizendo “quem quiser ter um amigo que me dê a mão”. Era bonito, emocionante, mas depois do efeito emotivo das festas, tudo voltava ao normal e a carruagem voltava a ser abóbora, a Cinderela continuava escrava da megera e ninguém se lembrava da paz no coração ou da mão estendida aos amigos.
           
Quantas promessas de início de ano que eu vejo e escuto de diversas pessoas com uma certeza que os grãozinhos da romã, ou as ondinhas do mar por si resolvem todos os problemas. Aí a pessoa acorda e a vida continua na mesma.
           
Essas promessas, desejos e sonhos dependem do passo que damos em direção a eles; a vida se transforma se eu der o primeiro passo. Desejos de início de ano parecem-se com a reforma da previdência que quer economizar cortando os benefícios dos aposentados, como se resolvesse o problema. Até agora ninguém falou de cortar os privilégios, mordomias e similares que são um verdadeiro deboche da classe política em relação ao povo que sempre paga a conta.
           
O ano que começa precisa nos encher de ânimo e entusiasmo. Há muitos desejos e sonhos que podem se realizar; eles começam dentro de nós, dependem de nossa decisão. Quem deseja “saúde para dar e vender”, no mínimo precisa cuidar da própria saúde; as dietas durante o ano novo devem significar não só reduzir o consumo de alimento, mas evitar o desperdício que gera a miséria, partilhar o alimento com quem fica dias e meses sem comer...
           
Há os que querem malhar para ficar com o corpinho sarado, idolatram a academia, não podem ouvir falar das “rugas”... O Papa disse que as rugas não nos enfeiam, o que nos enfeia são as “manchas” do egoísmo, da arrogância. Investem no corpo que fica bonito por fora e não tem nada por dentro. São adultos só na idade, pois a fé não lhes ilumina a vida. Ainda escutei alguém dizer que no ano novo vai começar a investir no futuro dos seus filhos. E lhes enche de presentes, tecnologia, tablets, games, e não ensina a buscar a Deus. Quantos filhos com a vida desorientada por falta do incentivo da fé. Se os que rezam enfrentam cada “buchada” no dia a dia, imagina os que idolatram o mundo, a fama e o poder.
           
Eu não sou contra as famosas “promessas de fim de ano”, só penso que elas são esquecidas no dia primeiro de janeiro à noite. Tenho até algumas sugestões para a gente conquistar no ano novo: trabalhar a favor da Paz, desarmando as artimanhas da ira, do ódio e do preconceito. Lutar contra toda violência praticando o respeito ao pensamento do próximo, vencendo a intolerância e os rótulos.
           
Creio que ainda tem espaço para mais alguma sugestão para ser vivida no ano novo: evitemos reclamar, murmurar ou ofender. Ao invés, amemos mais, escutemos mais os irmãos, perdoemos mais, rezemos mais, ajudemos mais, sirvamos mais, participemos mais da comunidade, da cidade e da sociedade e semeemos os valores do Evangelho.

Já na próxima semana os Poderes constituídos: Suprema Corte, Senado, Câmara dos Deputados, Vereadores e Outros retomam suas atividades chamadas “normais”. O que esperar de nossos Governos afogados na lama de dívidas, da colheita de desmandos dos anteriores, sem as mínimas condições de honrar com compromissos descumpridos há anos? Criatividade e competência na administração da “coisa pública”. Transparência e solidariedade de todos para com o Bem Comum e jamais individual. Chega de perguntar: “O quê vamos ganhar com isso?”. Sejamos unidos e assim neste ano que nasce novo não caberão os vícios do ano que se foi.

(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“O Senhor é minha luz e salvação.
O Senhor é a proteção da minha vida” (Sl 26).

            O mistério pascal, que celebramos no Terceiro Domingo do Tempo Comum, permite-nos acompanhar Jesus no início de sua missão, na Galileia e sermos chamados à conversão e à missão.
            Junto aos doentes, aos sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus, chama os primeiros discípulos, cura e alivia as enfermidades do povo.  Na visão de Mateus, ele realiza a profecia de Isaías, proclamada no Natal – O povo que andava nas trevas viu uma grande luz – e repetida para nós, neste domingo, na primeira leitura.
            Jesus começa sua missão entre os mais desprezados, os que são considerados pecadores. A luz que resplandeceu no Natal é para todos, não apenas para os puros, os eleitos, os melhores. Pelo contrário, a preferência de Jesus é mesmo para os que são tidos como menores. Dessa opção, nasce a espiritualidade cristã do seguimento não de uma doutrina perfeita, mas de uma pessoa e seu projeto, Jesus. Seguir Jesus é entrar em sua escola, a favor de quem se encontra na periferia do mundo, como costuma insistir nosso amado Papa Francisco.
            Na Bíblia, o mar é sinônimo do mal, da escuridão, algo caótico e forças contrárias à vida. A missão dos seguidores de Jesus é tirar as pessoas dessa situação e levá-las para a luz. O chamado de Jesus se estende até nós. Deixemos com generosidade tudo para entrar nessa caminhada.
            Seguir Jesus parece uma loucura, a loucura da cruz. Seguimento que não cria divisões, mas abraça com amor e compreensão, tudo o que é humano e que promove a dignidade de filhos e filhas de Deus. Pertencemos a Cristo que pertence a Deus. Também nós somos chamados a anunciar o evangelho sem nos determos em competições e disputas sobre quem é maior.
            Podemos nos deixar iluminar hoje também pelas palavras de ordem ditas pelo Papa Francisco ao longo do Ano Santo – Jubileu da Misericórdia! Muitas vezes, ele repetiu que devemos viver a misericórdia. A misericórdia adquire o sentido amplo de “serviço”, “diálogo”, “proximidade”, “encontro”, “simplicidade” e “transparência”. Muitas vezes, ele repetiu que é preciso “sair de si” e ir para as “periferias existenciais”. Falando aos Bispos do CELAM – Comissão Episcopal Latino-Americana -, disse palavras que são programáticas para nós, para todos os cristãos, não só para os Bispos. São exigências feitas por Cristo para todos seus seguidores: “... amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade de vida”.
            O projeto de Jesus, sua pregação, tem seu início oficial, na Galileia das nações, entre os mais espezinhados, maltratados, pecadores, pobres em todo o sentido. Galileia das nações, periferia social, geográfica, existencial, lugar descartável, de gente descartável, considerada estorvo ao desenvolvimento global nas análises econômicas. É lá que devemos ir, ver o Senhor e permanecer com Jesus Cristo em seu projeto de salvação e libertação total.
            Como filhos e filhas da luz, somos chamados para, continuamente, vencer, pela conversão constante, as trevas e a dureza que envolvem nossa vida e a vida dos irmãos.
            Renovando hoje seu chamado, o Senhor nos revigora com seu Espírito, pela comunhão fraterna, por sua Palavra e com o sacramento de seu Corpo e Sangue, para que, mais disponíveis, prestativos e alegres, abandonemos também “nossas redes” para sermos pescadores de gente em vista do Reino.
            Segundo a Palavra de Deus deste Terceiro Domingo do Tempo Comum, bem como a Exortação do Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, somos convidados a tornar-nos discípulos e missionários do Senhor, seguindo em tudo, o modo de ser e de viver do Mestre. Penso que poderíamos levar de nosso Encontro, como alimento para a semana, dois pensamentos: sermos simples e humildes servidores do Reino de Deus e revestir-nos da ousada coragem profética de transformação de uma cultura do descartável, promovendo a cultura do encontro entre as pessoas, que lhes devolva a dignidade!
            Sejam todos sempre e muito abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 8,23-9,3; Sl 26(27); 1Cor 1,10-13.17 e Mt 4,12-23).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 83-86 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Janeiro de 2020), pp. 57-62.
           

É O SILÊNCIO QUE DIALOGA COM O CRIADOR!



Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

A vida pode ser uma sucessão de coincidências felizes, de encontros prazerosos, de união entre as pessoas. Mas nem sempre é isso o que vemos ao nosso redor. Na correria diária, são muitos os “ruídos” que tiram o nosso sossego e atrapalham a nossa convivência. É o silêncio que dialoga com o Criador! No ano que iniciamos, somos convidados ao difícil exercício do silêncio, que nos ajudará a sermos melhores diante de nós mesmos, dos outros e principalmente porque ouviremos o que nos tem a dizer nosso Criador!
            Por vezes nos tornamos porta-vozes da difamação ao invés de instrumentos da Paz. Quando não tivermos nada de bom para falar de algo ou sobre alguém, o silêncio será nossa voz e ecoará no coração misericordioso do Pai. O silêncio nem sempre é um exercício fácil, principalmente em meio a tantos meios tecnológicos modernos, bem como a liberdade de expressão!
            Na era da Internet, toda e qualquer mensagem se propaga num piscar de olhos. Fatos que ocorrem num canto do planeta atravessam fronteiras, chegando a outras cidades, outros países e continentes com a rapidez de um clique. Alimentadas pela fofoca, histórias que envolvem a intimidade das pessoas tomam proporções inimagináveis e invadem nossos lares como se fossem verdades absolutas. E essas histórias fomentam antipatias, preconceitos e desprezo.
            Outro agente semeador de discórdia é a necessidade que alguns têm de impor suas idéias e sua maneira de ser. Parecem querer provar a si mesmos que são superiores aos outros. Muitas pessoas gostam de recitar a Oração de São Francisco, como um poema em homenagem à Paz. É fundamental que todos compreendam que a construção desta Paz, em nível mundial ou dentro de casa, depende de cada um de nós. Depende de uma mudança de conduta pessoal. Nas palavras de São João Paulo II e retomadas pelo amado Papa Francisco, num discurso que fez em Assis, a Paz é descrita como um canteiro de obras aberto a todos: “A paz é uma responsabilidade universal: passa através de milhares de pequenos atos da vida cotidiana. Por seu modo cotidiano de viver com os outros, as pessoas optam pela Paz ou a descartam”.
            Sempre que deparamos com a tentação da discórdia, é bom lembrar o exemplo da Família de Nazaré. Foram muitas as apreensões vividas por Maria, José e o Menino Jesus enquanto buscavam um lugar seguro para morar, mas em nenhum momento perderam o sentido da união. Mantiveram-se juntos para o que desse e viesse.
            Assim também deve ser a nossa vida. Não podemos nos perder uns dos outros. E, mais importante ainda, não podemos nos perder de Deus, que é a fonte de toda união. Não nos afastemos de sua Palavra em nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. A fé em Deus nos ensina a contribuir para a união entre os seres humanos.
            Esse discernimento nos leva a refletir antes de realizarmos toda e qualquer ação. A reflexão é o exercício dos sábios. Quando desenvolvemos o hábito de refletir, conseguimos criar um equilíbrio entre razão e emoção, atuando com mais cordialidade e gentileza. Nossas palavras serão mais adequadas, nossas conversas mais oportunas e positivas. Nossas decisões serão mais justas. Nosso comportamento dará aos outros a certeza de que é o silêncio que dialoga com o Criador!


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM



Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Sabemos que Deus nos ama
e cremos no seu amor” (1Jo 4,16).


            O Segundo Domingo do Tempo Comum liga a Festa do Batismo do Senhor ao seu ministério público na Galileia. Ainda em clima de epifania, o evangelho de João torna-se mais adequado que o evangelho de Mateus (evangelista do ano A), para iniciar a narração da vida pública de Jesus. Continua assim o mistério de sua manifestação que terá seu desfecho final na cruz.
            Ao recordar o testemunho de João Batista após o batismo no Jordão, celebramos o mistério da Páscoa de Jesus. João o reconhece e o apresenta como o Servo Fiel, o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo e que batiza no Espírito para que o mundo seja renovado.
            Nossa missão é participar da missão de Jesus que recebemos em nosso Batismo na água e no Espírito. O Espírito do Ressuscitado está sobre nós para colaborarmos com a luta contra todo pecado que ainda domina a humanidade. Não podemos fechar nossos lábios, mas levar a todos os lugares as boas novas da justiça de Deus. O reino de Deus, diz Jesus, é um Reino de Justiça. Logo, onde não há justiça de verdade, não pode haver Reino de Deus!
            Em Cristo, sofrem e salvam, morrem e ressuscitam todos os que aceitam romper com os ídolos, acabar com o medo e sair da “casa da escravidão”, porque sabem que a Palavra que os conduz não cessou de ser eficaz. Não é possível dizer-se cristão, sendo conivente com a “Cultura do Descartável”, como afirma o Papa Francisco. Não é possível dizer-se cristão, ignorando a corrupção, as barganhas políticas, levando os mais simples e pobres “no bico” com migalhas, como Bolsas daqui e dali... Precisamos criar consciência crítica e, por onde andarmos, resgatar a dignidade de cada ser humano!
            Pelo Batismo assumimos nossa missão de seguir Jesus. Isto amplia nossa missão humana. Como filhos amados do Pai, servos de Deus, nossa fidelidade consiste em nos empenharmos, de todas as formas, para tirar o pecado do mundo, lutando contra todas as espécies de morte, e proclamarmos a vitória da vida, pelo cultivo constante da reconciliação, da justiça e da paz.
            Rezamos em nossas celebrações: “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós e dai-nos a paz.” O pecado consiste na autoafirmação do ser humano, que se encerra em seu próprio poder para colocar-se contra Deus e os irmãos. O pecado é algo que atinge o mais profundo da pessoa, pois vai desumanizando, pessoalmente, socialmente, até atingir as estruturas sociais e políticas. O pecado não se trata de uma violação de leis ou de uma ofensa a Deus, mas de uma recusa ao amor gratuito de Deus, infidelidade ao seu projeto, desprezo à sua Aliança, rejeição ao reinado do Senhor. Pecar é não aceitar que Deus quer que vivamos entre nós. Pecadores somos se formos “servidores” do nosso insignificante poder físico, intelectual, econômico, político, social e não aceitarmos servir aos irmãos e nos fecharmos a Deus a à sua graça e ao futuro último que Ele nos oferece em sua misericórdia e sabedoria.
            Deixemo-nos inundar pelo Espírito de Jesus. Como água viva, seu Espírito nos penetra, impregna e transforma nossos corações. Ele é fonte de vida nova, porque é Espírito de vida! É Espírito de verdade e não nos deixa enganar por falsas seguranças. É Espírito de amor, capaz de nos libertar da covardia e do egoísmo e nos abrir à solidariedade e a compaixão. É Espírito de conversão que nos faz viver com os critérios de Deus, suas atitudes e ternura. É Espírito de renovação, despertando o melhor que há em nós e na Igreja, levando-nos à maior fidelidade ao evangelho.
            Recordamos a vocação de toda a humanidade de realização plena. Todos somos chamados para a plenitude! Como discípula de Jesus, a comunidade cristã é chamada a irradiar a luz de Cristo em todas as situações e instâncias da vida.
            Saibamos alimentar nossa missão de transformar a realidade, comungando da Palavra e da Eucaristia, que são nosso mistério de fé, como também a fortaleza de que precisamos para mudar o que precisa ser mudado, a fim de que Deus encontre prazer e alegria em nós, seus filhos muito amados!
            Com ternura e gratidão, desejando-lhes muitas bênçãos, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 49,3.5-6; Sl 39(40); 1 Cor 1,1-3 e Jo 1,29-34).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 65-67 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum (Janeiro de 2020), pp. 51-56.
           

A TERNURA DE DEUS EM MEU SACERDÓCIO!


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Há 30 anos, na manhã do sábado, dia 20 de Janeiro de 1990, Festa de São Sebastião, na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto, ajoelhado sobre o túmulo do primeiro Bispo de nossa Arquidiocese, Dom Alberto José Gonçalves, por imposição das mãos de nosso amado Dom Arnaldo Ribeiro, fui ordenado Sacerdote para Sempre! Muitos erros e acertos, grande experiência de vida e profunda gratidão a cada dia, sem nenhum momento de arrependimento, pelo sim dado com minhas mãos entre as mãos do Arcebispo.

               Quantas pessoas passaram por minha vida nestes 30 anos? Pela vida de quantas pessoas passei eu? Penso ser um momento de avaliação, de balanço, de gratidão e de pedido de perdão, pelas vezes em que não consegui ser um bom padre! Escolhi como lema sacerdotal, a quinta bem-aventurança do Sermão da Montanha: "Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (Mt 5,7), já que sempre me senti um servo inútil e indigno da graça do ministério sacerdotal! Mesmo assim Deus me quis Padre, tamanha é Sua Bondade, Seu Amor e Sua Misericórdia para comigo.

               Ao longo do amadurecimento no meu exercício ministerial, fui descobrindo que a melhor maneira de ser fiel ao Sacerdócio, é adotar a Teologia da Ternura! Mesmo que não tenha conseguido ser fiel, como quis ou deveria sempre me acompanhou o esforço pessoal por ser um sacerdote bom e misericordioso, a exemplo de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars, cuja vida conheci no primeiro Seminário que me acolheu na Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dedicado a ele. Como ele, o Sacramento que mais gosto de celebrar, é o da Reconciliação, depois, é claro, da Eucaristia. Como é bom ser dispensador do perdão de Deus àqueles que perderam sua paz interior para o pecado. Pois é no Sacramento do Perdão, que Jesus nos devolve a paz que o pecado nos rouba. Tenho sido muito feliz ao acolher tantas pessoas em nossa amada Santo Antoninho, Pão dos Pobres, que é para mim, o lugar ideal para a santificação de meu sacerdócio, colaborando na santificação dos irmãos!
                                                                                                                                            
                Como coroinha na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, no Bairro Santo Afonso e Coordenador da Catequese, Regente do Coral e Animador de Comunidade na Capela Santo Antoninho, no Bairro Liberdade em Novo Hamburgo (RS) ou brincando de Missa com os vizinhos na estrebaria de casa, minha vocação ao sacerdócio foi se confirmando a cada dia que passava. Sentia sempre a necessidade de perdoar, desde tenra idade a quem me ofendesse ou machucasse. Nunca consegui bater em ninguém. Mas sempre fui muito peralta e, mais pedia perdão do que precisava perdoar. Daí meu lema sacerdotal ser a bem-aventurança da misericórdia.

               Que eu consiga viver meu sacerdócio pautado nos olhos de Deus, que promovem a justiça e amar as pessoas com o coração de Jesus, que dão sentido ao meu lema e à minha fidelidade sacerdotal: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”! E em cada Eucaristia que celebro, cabem todas as pessoas que me ajudaram a ser Padre, no precioso cálice do Senhor, como minha mais sublime e profunda gratidão!

                 Para selar A Ternura de Deus em meu Sacerdócio, celebrarei minha ação de graças na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, na Avenida Saudade, 202, nos Campos Elíseos, às 7 horas da manhã, Comunidade que me foi confiada há 11 anos e 9 meses. Neste ano o dia 20 de Janeiro será numa segunda-feira! Sintam-se todos convidados. Compreenderei aqueles que não puderem comparecer. Sei que poderei contar com suas orações, o melhor presente que poderia receber. Estarei ausente das Redes Sociais, especialmente com telefones desligados!

Aqueles que desejarem me cumprimentar, por favor, façam-no na oração por mim e sintam o carinho de minha oração por cada um dos que meu Sacerdócio permitiu amar!



quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Convite.


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DO BATISMO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 



         Concluindo as celebrações natalinas, festejamos o Batismo de Jesus. Embora não precisasse ser batizado, o Senhor quis se solidarizar com todo o povo que buscava o batismo de João. Esta liturgia é momento favorável para relembrarmos e renovarmos nossos compromissos batismais.
            As leituras nos revelam o servo de Deus, fortalecido pelo Espírito e enviado para proclamar a boa-nova da paz. Pelo batismo também nós recebemos o Espírito que nos anima na missão e nos dá força para perseverar no bem.
            Somos servos do Senhor a serviço da comunidade e responsáveis por construir uma sociedade justa. Jesus busca, em João, o batismo. Aí é proclamado “Filho amado de Deus”. A prática da caridade e da justiça deve ser nosso diferencial diante de Deus.
            Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé? Geralmente a reposta é “NÃO”. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia de nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. O Batismo do Senhor é um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “Útero da Igreja”, a Pia ou Bacia Batismal!
            A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade. Jesus se faz solidário, e mais ainda, Servo e Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele assume nossa condição humana, num ato solidário, que o leva até a Cruz. É uma caminhada que vai em direção à Páscoa.
            Podemos nos perguntar se, a partir do Batismo de Jesus, procuramos entender e concretizar o nosso batismo. Se estamos dispostos a “mergulhar” no projeto de Jesus para construir relações humanas construtivas, a começar pela família, no aconchego do lar, na escola, no trabalho, na Igreja, no mundo, com atitudes solidárias, ecumênicas.
            A liturgia deste evento, que encerra o Tempo do Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscavam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.
            Jesus havia acolhido o movimento de João Batista, a voz profética que ressoa, após anos de silêncio. Sobre ele desce a plenitude do Espírito Santo, a força do amor do Pai, para realizar a sua vontade. Assim o Reino, que se manifesta através de seu ministério, expressa o desígnio salvífico de vida plena para toda a humanidade. Quem o segue no caminho do discipulado é impelido a trilhar o seu caminho de justiça e de solidariedade.
            Deus se revelou em Jesus, confiando-lhe a missão de Servo e Filho amado. Pelo batismo, mergulhamos no mistério da morte e da ressurreição de Jesus para vivermos a vida nova. Em Cristo, recebemos o Espírito para a missão e fomos adotados/as como filhos e filhas de Deus. Somos gerados a cada dia, pelo amor misericordioso e bondade infinita do Pai, para renovarmos a nossa adesão e o nosso compromisso com o seu Reino.
            Iluminados e “banhados em Cristo, somos uma nova criatura. As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”. Unidos a Cristo, o Ungido do Pai, nos tornamos continuadores de sua missão profética, sacerdotal e régia. Ele nos confirma no anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino, pois “passou a vida fazendo o bem e curando a todos os que estavam sob o poder do mal”.
            Vamos abrir o ouvido do coração para acolher a voz do Pai, que ressoa dentro de nós, e que declara nossa missão: Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado.
            O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como Deus é, e isso nos basta. Renovemos nossos compromissos batismais, buscando viver nosso Batismo na relação com Deus, que nos adota como seus de verdade, e com os outros, que se tornam nossos irmãos, para santificar-nos. Todo batizado torna-se um ser divinizado, isto é, candidato à santidade. Por isso não é nenhuma pretensão descabida, queremos ser santos. Devemos, isso sim, esforçar-nos todos os dias, para sermos santos.
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto kasper
(Ler Is 42,1-4.6-7; Sl 28(29); At 10,34-38 e Mt 3,13-17).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2020, pp. 46-50 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo do Natal (Janeiro de 2020), pp. 47-50.

AINDA É TEMPO DE NATAL!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Deus fala à nossa alma por meio da leitura orante de Sua Palavra, de boas leituras, pregações, exemplos, testemunhos, boas inspirações. Sua voz  faz-se ouvir especialmente neste Tempo de Natal. Jesus Cristo nos convidou, por meio de João Batista, a aplainar as colinas do orgulho, do amor próprio, do egoísmo, da inveja, da avareza, a fim de preparar para a sua vinda, corações retos, onde Ele possa plantar e cultivar as virtudes, especialmente o amor: este amor tão mal compreendido e tão paganizado.

Deus é a fonte do amor puro, verdadeiro, sem fingimento. Amor que se dá, que busca satisfazer os desejos de bem, que compreende as fraquezas alheias, que dá até a própria vida sem temer sacrifícios.

Ainda é Tempo de Natal e a ternura é a marca registrada do Natal. Neste Ano Novo somos convidados a repensar o Menino nascido na gruta e na manjedoura, cercado de animais, cheirando a feno, que facilmente é substituído por Helliger Klaus, São Nicolau, que traz um saco cheio de presentes manufaturados e pré-fabricados. Pelas chaminés das grandes casas, entrou a nova economia, e no ideário dos pais e filhos, o Natal virou a festa dos presentes, mais do que a Festa de Alguém que se fez presente.

A urbanização do mundo tirou o protagonista de cena. Isto é: o Menino que nasceu pobre, numa gruta de um país carente, cedeu lugar a um velho gordo e opulento, que tem dinheiro, é bonzinho e chega com um sacolão de presentes. É o símbolo da riqueza europeia, generosa com os pobres, ao menos naqueles dias do Natal.

Na década de 80, quando vivi no Sul da Alemanha, participei do Natal das Famílias da Baviera durante quatro anos. Os presentes eram dissociados da Festa do Natal. No dia 6 de dezembro, Memória de São Nicolau, é que se distribuíam os presentes em torno da árvore do Natal. Algumas famílias encomendavam também o Papai Noel. Já na noite e no dia de Natal, ninguém falava em presentes: as Famílias todas participavam das Celebrações do Natal de Jesus Cristo, nas ações litúrgicas e confraternizavam em torno da mesa da Ceia de Natal, sem mais nenhum presente. Celebrava-se de verdade a presença de Deus feito pessoa. Jesus, nascido em Belém e em cada lar, era o maior Presente!

Pouco a pouco, as famílias influenciadas pela mídia e a serviço do comércio e da indústria aceitam substituir os Presépios e a cena agropastoril pelo Papai Noel. Os pastores, o povo simples, os colonos, o casal pobre, o Menino, os Anjos que trazem uma boa nova são substituídos por vitrines cheias de novidades, comidas raras e por um homem idoso, tipo vovô. É o ter e o dar derrotando o ser e o dar-se.