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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 DIA DA BÍBLIA!

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura

e a vossa compaixão, que são eternas!

Não recordeis os meus pecados quando jovem

nem vos lembreis de minhas faltas e delitos!

De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia

e sois sem limites, Senhor!” (Cf. Sl 24).

 

            A Palavra de Deus, proclamada, acolhida e celebrada no Vigésimo-Sexto Domingo do Tempo Comum nos convida a reconhecer que não basta só falar, o nosso agir é que demonstra se cumprimos ou não a vontade do Pai.

            A Palavra de Deus nos fala da responsabilidade que temos sobre nossos atos e suas consequências e salienta a importância da coerência entre o falar e o agir.

            Não podemos culpar Deus pelos nossos erros. Não basta apenas dizer sim (formalismo); é preciso trilhar o caminho da justiça. Imitar a Cristo na humildade e no desprendimento.

            A Eucaristia é a ação pela qual nos identificamos com a morte e ressurreição de Cristo, dispondo-nos a ir com ele até a cruz para que os outros vivam.

            Somos daqueles que pensam que basta dizer: “Senhor, Senhor” para entrar no reino de Deus? Daqueles que se acomodam com formalidades e com títulos religiosos e não se esforçam na prática da justiça? Seguir Jesus repercute em nossa prática. É ela que decide o destino diante de Deus. O fazer comprova ou desmente o dizer. A pergunta de Jesus exige discernimento: qual fez a vontade de Deus?

            A intenção de Jesus não é convencer seus adversários, mas dizer-se porque são rejeitados. Ouvimos, neste contexto, uma das frases mais duras de Jesus: “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus”. Aqueles que pretendem ser perfeitos, bons observadores da lei serão antecipados no Reino por aqueles que eles julgam e condenam como os maiores violadores da lei, os pecadores públicos. Pecadores públicos de nossos dias, são aqueles homens e mulheres públicos que escandalizam a Nação que representam, traindo a confiança de seus eleitores, legislando leis em benefício próprio, desviando verbas públicas destinadas à Saúde, Educação, Segurança Pública, Moradia, etc aos próprios bolsos. Somos também, nós, quando não somos honestos em relação às coletas, dízimo e demais contribuições destinadas aos mais pobres ou outras finalidades maiores, utilizando-nos dos bens da Comunidade em benefício de determinadas mordomias pessoais. A lei que Jesus exige é colocar em prática a vontade do Pai que ama toda pessoa e, em especial, os mais necessitados e desprezados.

            Jesus nos ensina a reconhecer a justiça das pessoas que não têm boa fama, mas praticam a justiça. Ensina-nos a denunciar, para o bem delas e de todos que sofrem sua influência, as que têm boa fama, os considerados santos, mas que não praticam a justiça, conforme o projeto do Pai. Jesus é o Filho que diz “sim” e faz o que o Pai decidiu. Todas as pessoas que acolhem e seguem concretamente Jesus cumprem a vontade do Pai.

            Ezequiel nos fala em praticar o direito e a justiça e a nos convertermos constantemente. Essa atitude julga a nossa vida. Julgar que somos “justos” é uma cegueira pessoal que faz semear dúvidas sobre a conduta e as crenças de quem é diferente de nós. Para fazermos a vontade do Pai, a Carta aos Filipenses nos mostra o caminho assumido por Jesus: “Esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de servo”. Jesus deixou de lado todo privilégio. O fato de sermos cristãos, de exercermos um ministério na Igreja, não deve ser motivo de elogios, de prepotência, de nos sentirmos mais e melhores que outras pessoas. É motivo sim de solidariedade, de espírito de comunhão e serviço; de um permanente processo de encarnação no mundo dos excluídos.

            Neste Dia do Senhor, celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se revela nas pessoas que procuram viver o discipulado, obedientes à Palavra de Deus. Além da Liturgia da Palavra, parte integrante da liturgia cristã e constituindo com o rito eucarístico um só ato de culto (cf. Sacrosanctum Concilium, n.56), toda a celebração como memorial do mistério pascal de Jesus, no hoje de nossa vida, está inserida no conjunto da História da Salvação, da qual somos testemunhas como missionários e missionárias!

            Em cada celebração, colocamos em nossos lábios muitos cantos e palavras, repetimos orações e fazemos tantos gestos. Tudo isso terá sentido e agradará a Deus como oferta bendita se for expressão de um coração orante e comprometido com a vontade de Deus.

            A Palavra de Deus nos faz mergulhar em nossa fragilidade humana e nos leva a experimentar a bondade sempre fiel do Senhor que nos propõe mudança de vida e acredita em nossa conversão. Ele, porém, não se contenta que apenas o invoquemos, repetidamente: “Senhor, Senhor!”.

            Penso que devemos “Fazer amor com Deus”. Amá-lo e deixar-nos amar profundamente por Ele. Quando amamos, fazemos de tudo para agradar o amado. Mudamos até nossos hábitos e gostos. Porém, para “fazer amor”, é preciso sentir-se atraído pela outra pessoa e a ela entregar-se totalmente, sendo-lhe infinitamente fiel! Portanto, quem diz amar a Deus, mas não conhece Sua Palavra, Sua Vontade e não sente Seu amor, ao invés de “fazer amor com Deus”, prostitui-se.  Porque fazer amor com quem não se conhece, é prostituição, ou não?

Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ez 18,25-28; Sl 24(25); Fl 2,1-11 e Mt 21,28-32).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2020, pp. 99-107 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro/2020) pp. 28-32.

ORIENTAÇÃO POLÍTICA PARA OS CRISTÃOS!

 Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, escreveu uma Instrução para os Fiéis da Arquidiocese de Ribeirão Preto sobre o Momento Eleitoral para as Eleições de 2020, datada de 6 de setembro de 2020, que se encontra na íntegra no Site: www.arquidioceserp.org.br. Inicia suas orientações com a frase: “A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2019).

A Igreja Católica Apostólica Romana, mãe e mestra, procura formar Consciência Política Cristã, como todas as mães procuram educar seus filhos para o Bem Comum. Nunca uma mãe cristã educaria seus filhos ao egoísmo, aos bens individuais ou partidários, que dividem e fazem os mesmos filhos brigarem entre si, desrespeitando-se mutuamente.

É preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela atual situação da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja. Prefeitos culpam Governadores e esses a Presidência da República. Tem-se a impressão que as Bases Aliadas nas esferas municipais, estaduais e federais são “marionetes” diante da falta de criatividade ou da incapacidade de governar dos Poderes Executivos, o que é muito feio. É escancarado desrespeito à democracia. Assim quem pensa diferente passa a ser visto como inimigo. Pura falta de maturidade. Obsessão por poder, cargos, funções e prestígio, quando não “vida fácil”. E “vida fácil” já foi conhecida como mera “prostituição”. Viver à custa dos mais simples, das pessoas de bem se torna “escândalo” e seus protagonistas merecem aquela pedra de moinho no pescoço e fundo do mar do Evangelho.

As eleições se aproximam e certamente muito poucos sabem em quem votar. São muitos os candidatos às Prefeituras e Câmaras de Vereadores. Muitas vezes somos cobrados, porque não indicamos, publicamente, os candidatos a serem eleitos no próximo dia 15 de novembro. A Igreja Católica não se arroga o direito de “obrigar” ou impor esse ou aquele candidato, porque respeita um dos valores fundamentais da Pessoa: a Liberdade.  A orientação é de que se observe a conquista da Lei da Ficha Limpa. É preciso arejar, pensar em perspectivas, oportunidades e esperanças novas. Quem realmente serviu o povo sem a pretensão de pensar-se insubstituível, contribuirá com o Bem Comum de nossa Cidade, mesmo sem exercer o que gosto de chamar de Serviço, embora digam serem Cargos, Funções e Mandatos. Afinal, nosso Governo ou está a serviço de seu povo, ou não é digno de nosso voto.

 O serviço dos eleitos nas urnas é de promover o Bem Comum oferecendo os meios para o desenvolvimento das pessoas em sua dignidade. Saibamos votar com lucidez, liberdade e esperança de uma cidade mais humana, menos violenta, com saúde, educação, infraestrutura cada vez mais a serviço da dignidade dos filhos que necessitam de oportunidades e que sejam respeitados em sua capacidade de eleições, e não subestimados com meras ilusões.



quinta-feira, 17 de setembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

MÊS DA BÍBLIA

 


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor.

se clamar por mim em qualquer provação,

eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre”.

 

            O Senhor é nossa salvação e está sempre pronto a ouvir e atender nossos clamores. Ele nos convida a participar da construção do reino de Deus e nos oferece a possibilidade de receber seus dons, ouvir sua palavra e experimentar seu amor para com toda a humanidade.

            Nossos pensamentos estão, às vezes, muito longe dos pensamentos de Deus. As parábolas de Jesus nos deixam inquietos precisamente porque mostram que a bondade e a justiça divinas superam nossos cálculos mesquinhos.

            Sempre é tempo de conversão, de buscar o Senhor. O cristão deve surpreender pela sua bondade com os mais fracos. A preocupação principal do evangelizador é dedicar-se à comunidade para que ela viva conforme o evangelho.

            A eucaristia nos dá ocasião de agradecer a Deus pelos dons recebidos e apresentar os frutos que a semente da palavra produziu em nós.

            A Palavra de Deus do Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum nos faz uma pergunta muito pertinente: “Você está com ciúme porque estou sendo generoso?” As situações de ciúme e de inveja são muito percebidas e sentidas em nossas relações, as mais diversas: pessoais, familiares, eclesiais, sociais, políticas e de mercado de consumo...

            O Evangelho deste domingo nos leva a pensar no trabalho, na oportunidade de emprego, no sustento da família e na vida digna para todos. Angustia ao coração humano e sensível, muito mais à consciência dos cristãos, a multidão de desempregados, as pessoas que passam fome, a falta de moradias dignas, as injustiças políticas e sociais e do outro lado, o número privilegiado de pessoas ricas e poderosas que pouco se importam com os que não têm pão, casa e emprego. É uma divisão complicada e fere profundamente o coração humano.

            A liturgia deste Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum nos ajuda a fazer uma reflexão sobre essa situação e nos aponta caminhos na perspectiva do patrão que saiu a contratar operários, desde a primeira hora, para trabalhar na sua vinha. Porém a liturgia corre o risco de ser lida e entendida de uma maneira espiritualista. Mas ela tem sérias implicações econômicas, políticas e sociais. A vinha, símbolo do povo de Israel, tem a missão de garantir vida e segurança para todos. O Senhor cerca e cuida dela para que produza frutos.

            Mas que frutos e para quem? A história da Igreja e dos cristãos é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Vinha são os espaços dignos e alimentos necessários para os filhos e filhas de Deus. A Igreja e a comunidade têm a missão de cuidar dessa vinha para que produza justiça, liberdade e pão para todos.

            Recordamos o apóstolo e evangelista São Mateus que apresenta Jesus como o Mestre da Justiça. Lemos seu Evangelho neste ano do calendário litúrgico.

            Para uma melhor compreensão da parábola do patrão justo, é bom ler Mateus de 19,30 até 20,16. Existe uma moldura para essa parábola: “Muitos primeiros serão últimos e últimos serão primeiros”. O versículo inicial anuncia a inversão de valores, e o final explica a relação correta entre Deus e a humanidade. É no trabalho cotidiano que Deus se revela e nós demonstramos nosso empenho pela justiça.

            Deus não é injusto ao ser generoso. A bondade de Deus ultrapassa os critérios humanos. Lembro-me ao meditar a Palavra deste domingo, de uma frase que marcou muito minha vida, proferida sempre por minha saudosa mãe: “Meu Filho, o combinado não sai caro!...”, querendo ensinar-me que devo sempre cumprir com o prometido, e fazer até mesmo mais do que prometi, quando estiver ao meu alcance. Isso não nos parece claro no Evangelho? O que importa não é o quanto fazemos, mas o como fazemos.

            Deus ultrapassa todas as nossas limitações e o nosso jeito de entender a vida.  Tanto quanto as nuvens estão longe de nosso chão, assim são nossos planos de Deus com relação à nossa estreiteza de visão e de projetos. Mas Deus se deixa encontrar, está em nossos caminhos para transformá-los em caminhos de Deus. Isaías nos revela que Deus nos convida a abandonar nossas maquinações e assumir a generosidade de Deus. Assumindo o projeto de Jesus, nossos caminhos se aproximarão do caminho do único “Patrão” que devemos ter. “Patrão” que é o Pai de Jesus, Pai Nosso!

            Ciúme e Inveja atrapalham relações harmoniosas entre as pessoas. Um bom exercício para nós, nesta Vigésima Quinta Semana do Tempo Comum, poderia ser uma profunda revisão, desde as entranhas de nossa intimidade, o quanto temos sido generosos com os outros e o quanto temos prejudicado os outros em suas atividades pessoais, familiares, sociais, eclesiais (principalmente em nossas Comunidades e, sobretudo entre nós clérigos, já que não conheço pior dano do que a Inveja Clerical), políticas (quantos horrores ouvimos entre nossos políticos!..., dos interesseiros, que somam lamentavelmente a maioria, já que honestos dificilmente sobrevivem ao sistema corrupto e diabólico de nossa falsa democracia), profissionais e tantas outras atividades, até mesmo na esfera do voluntariado?

            Concluo minha reflexão com Santo Agostinho: “A esperança tem duas filhas, lindas, a raiva e a coragem. Raiva do estado das coisas e coragem para mudá-las!”. Não nos falte a Esperança de que podemos mudar as coisas, se quisermos e usar da coragem que o Senhor nos confere!

Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 55,6-9; Sl 144(145); Fl 1,20-24.27 e Mt 20,1-16).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2020, pp. 78-85 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro/2020) pp. 22-27.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO COMUM

 MÊS DA BÍBLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


O Mês da Bíblia que estamos trilhando, instituído em 1971, tem como meta instruir os fiéis sobre a Palavra de Deus e difundir o conhecimento das Sagradas Escrituras. Já dizia São Jerônimo que ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. A implantação desse mês temático colaborou na aproximação do Povo de Deus com a Bíblia. Cresce a consciência e o esforço para a necessária animação bíblica de toda a pastoral. Propondo o estudo e a reflexão do Evangelho de Mateus para este mês, a Igreja deseja reforçar a formação e a espiritualidade de seus agentes e fiéis, no seguimento de Jesus Cristo.

            Na caminhada litúrgica que fazemos nos reunimos para celebrar o Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum, em que a imagem que perpassa o Evangelho de Mateus é Jesus como o mestre da justiça. Ele traz para a sociedade um ensinamento e práticas centradas na justiça que gera relações novas e, consequentemente, constrói o mundo novo.

            Na sociedade que nos é dado viver, o Livro do Eclesiástico propõe a superação da lei do olho por olho e dente por dente. Ele sintoniza com as bem-aventuranças e com o que Jesus ensina no Pai-Nosso. Rezar e viver o Pai-Nosso rompe com preconceitos e introduz na prática do Reino. E a melhor coisa mesmo é perdoar as injustiças a fim de que Deus perdoe os nossos pecados. E o autor é muito prático dizendo que acima de tudo, é necessário pensar no fim, na destruição e na morte que nivelam a todos. Aí cessam o rancor e a raiva. E o Eclesiástico ainda aconselha a seguir os mandamentos, síntese do projeto no qual todos podem usufruir da vida fundada na liberdade e no respeito mútuo.

            Jesus no Evangelho de hoje parte de um fato corriqueiro do seu tempo em que as pessoas podiam ser vendidas como escravas em troca de suas dívidas. Adverte severamente a Pedro, fazendo-o perceber que o perdão fraterno se apoia na misericórdia do Pai, que é gratuita e sem limites. É graças a isto que Pedro e cada um de nós podemos fazer parte da nova comunidade dos que creem. Os cristãos são filhos de Deus. Também no que se refere ao perdão das ofensas eles precisam se assemelhar ao Pai que está nos céus. Devem ter um coração grande como o dele e manifestar e viver um amor sem limites.

            Jesus ensina: “Pai, perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”. Na cruz, perdoando os que o matam, mostra que o seu amor é imenso como o do Pai. Quando, com toda a sinceridade, rezamos como ele nos ensinou, quando cultivamos os seus sentimentos em relação a quem nos prejudicou, então poderemos considerar-nos filhos de Deus.

            Somente o perdão pode salvar uma comunidade da ruína e esse perdão precisa ser contínuo e total. Se pusermos limites, já não seremos capazes de perdoar nem teremos “entranhas de misericórdia”.

            Paulo procura ajudar a comunidade a superar a desunião entre fortes e fracos, buscando a união, resgatando a dignidade de todos, como filhos de Deus, com direitos e deveres iguais. Ainda em nosso tempo, os que são economicamente privilegiados, os que detêm algum “poder” político, eclesiástico ou social, se comportam fortes diante dos fracos, covardemente. Na verdade são fracos diante dos que são fortes, porque portadores de igual dignidade por serem filhos do mesmo Deus!

            Falamos facilmente de perdão e misericórdia, mas nem sempre perdoamos e somos misericordiosos. Em nossas Comunidades, na relação eclesial, mais marcamos as pessoas cujos erros vieram à tona (como se marcam bois) do que perdoamos incondicionalmente. Selamos tantas vezes as pessoas com adesivos na testa, ou nos afastamos delas como se fossem contagiosas por terem caído aqui ou acolá. Tal comportamento geralmente é de pessoas que se sentem melhores, perfeitas e certinhas aos olhos dos outros, não obstante escondam pecados, geralmente até mais graves!

            Finalmente, somos convidados a colocar-nos no lugar de Jesus sempre: calçar suas sandálias, pensar seus pensamentos, falar suas palavras, agir seu imensurável amor por todos, indistintamente!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Eclo 27,33-28,9; Sl 102(103); Rm 14,7-9 e Mt 18,21-35)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2020, pp. 54-61 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro de 2020) pp. 17-21.

 

PERDA DE REFERENCIAIS!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’ Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Vivemos uma crise marcada pela perda de referenciais e pela perda de consenso. Isto nos desestabiliza em nossas raízes. Rompeu-se aquela unidade de raiz e já não caminhamos todos na mesma direção. Em vez de existir uma uniformidade e unanimidade, típica do Brasil rural, nossa sociedade é hoje plural e policêntrica. Sentimo-nos dispersos, muitas vezes sem rumo, com dificuldade de captar o sentido da vida e chegar à verdade. A vida pessoal e social fica cheia de dificuldades, às vezes até comprometida em seu equilíbrio. Estamos em meio a uma crise de paradigmas.

Esta situação aponta para uma consciência ética desorientada, numa “crise em torno da verdade” como escreve São João Paulo II em suas Cartas Encíclicas Fides et Ratio e Veritatis Splendor. Hoje, o pensar e o agir partem do próprio indivíduo, o que pode levar a um deslize individualista comprometedor. Por isso, faz-se necessário acionar a capacidade ética e teológica, enquanto capacidade humana de discernimento, de examinar tudo, mas ficar com o que é bom, como nos diz São Paulo (1 Ts 5,21). Se assim for, o ser humano sentir-se-á respaldado, caminhando mais seguro neste tempo da história.

Quantas vezes o novo nos assusta. São tantas as novidades, o que provoca um certo medo. Por isso, chegou a hora de recriar as bases que possam sustentar o humanum (o ser humano em sua raiz mais profunda, chamada também de ethos), em meio a uma cultura emergente que, marcada pela Modernidade, já é portadora de traços nítidos da Pós-modernidade. Precisamos dedicar nisto os melhores esforços, pois aqui se decide o futuro. Precisamos compreender e nos situar neste novo tempo para alimentá-lo com o Evangelho, colocando Jesus Cristo no centro.

Necessitamos de um itinerário ético, com clareza no tocante aos engajamentos morais, nutridos da fidelidade ao Evangelho, da fidelidade à nossa história, da centralidade de Jesus Cristo, da experiência de Deus. Só assim responderemos com adequação e perspicácia aos atuais desafios que enfrentamos, por conta da Pandemia do novo Coronavírus na Igreja e no mundo. Faz-se necessário apoiar a pessoa humana em seu processo educativo, no despertar da fé e na formação da consciência; é um percurso marcado pela unidade da pessoa, pela gradualidade no passo a passo que leve à coerência de vida. Todo este processo tem a ver com a totalidade da pessoa humana, em todas as suas dimensões: corporal, psicoafetiva, social e espiritual. Não podemos descuidar dos referenciais que dão suporte para que a pessoa possa crescer em espírito e vida, como nos diz São João (Jo 6,63).

Além disso, importa anunciar às pessoas de todas as idades uma proposta de vida concreta e atraente no Pós-pandemia. O crescimento será contínuo e a conversão permanente, de tal forma que comprometa a vida das pessoas por inteiro, chamadas a desenvolver a própria dimensão humana e cristã, na vivência do Evangelho. Precisamos de uma moral que cative as pessoas a crescerem na graça de Deus, atraídas pelos valores, sustentadas pelas virtudes, na clareza de uma opção fundamental de vida. Antes de dizer “não”, pronuncie-se o “sim” a ser buscado, levando as pessoas a crescerem porque se sentem cativadas, mesmo que algum “não” faça parte do caminho para a maturidade e a integração. Contemplemos com larga esperança o futuro, depois de tamanho aprendizado, trazido como e no presente!

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

 MÊS DA BÍBLIA

 


 Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença;

tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia” (Sl 118,137.124).

 

            O Mês de Setembro, especialmente, dedicado à Bíblia, incentiva-nos À Prioridade do Anúncio da Palavra de Deus. E o Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum nos apresenta o Evangelho, em que Jesus nos convida ao diálogo para superar os conflitos e garante sua presença na comunidade reunida. Além disso, mostra que a correção fraterna, apesar de difícil, é belo gesto de ajuda entre irmãos que se amam e se respeitam.

            A Palavra de Deus nos diz que todos somos responsáveis uns pelos outros. O amor faz que nos preocupemos com as pessoas e nos impulsiona a dialogar com quem se desviou do caminho do bem.

            Somos responsáveis pela violência que faz tantas vítimas na sociedade. A correção fraterna deve ser realizada em clima de amor e de oração. O amor pelo próximo é a plenitude da lei.

            A Eucaristia é o sinal da comunhão fraterna. Participando do Corpo e Sangue do Senhor, tornamo-nos solidários no bem e afastamos de nós o egoísmo.

            Estamos no mês dedicado à Bíblia. No Evangelho encontramos Jesus, o mestre da justiça, oferecendo ensinamentos e práticas geradores de novas relações e inspiradores de novas posturas na construção da sociedade justa e fraterna. A sua Palavra nos educa para o diálogo e a correção fraterna: única dívida que devemos ter uns com os outros.

            Que fatos e acontecimentos precisam ser lembrados na celebração deste final de semana e que nos ajudem a perceber e celebrar os sinais do Reino de Deus entre nós?

            Pelo profeta Ezequiel somos convidados a sermos sentinelas do bem e da justiça na noite das injustiças que existem e que ceifam a vida de milhões. Garantir e cultivar a justiça é um compromisso inerente que temos com o Deus da vida e da liberdade. Até que ponto a profecia de Ezequiel não deveria ser acordada hoje na missão da Igreja, promotora da vida e solidária com os excluídos?

O salmista nos pergunta se não abandonamos a aliança, não esquecemos o nosso Deus e nos instalamos numa religião fácil, sem compromissos com a criação e os mandamentos de Deus?

            Na Carta aos Romanos, Paulo nos dá a entender que há uma só maneira de amarmos a Deus que é amando o próximo, a cada pessoa, do jeito que ela é, e ninguém escolhe o próximo para amá-lo. Ele simplesmente se apresenta como dom de Deus e também como desafio à nossa capacidade de amar. Temos muita consciência que somos devedores diante de Deus de uma dívida impagável, a não ser que sejamos capazes de gestos gratuitos como os de Jesus, que se entregou radicalmente por amor.

            Quem ofendeu um membro da Comunidade rompeu com a Comunidade toda. O Evangelho nos convida a fazer de tudo, apelar a toda a criatividade para que reine entre nós o jeito de ser de Jesus. Mas, se não lhe der ouvidos, convide uma ou duas pessoas para ajudar no diálogo. Se mesmo assim não houver reconciliação, só depois de muitas tentativas é que se recorre à Comunidade, que age em nome de Jesus, ajudando nos conflitos e nas necessidades dos irmãos. Parece até que estamos pressionando o irmão, mas como se trata da justiça do Reino, precisamos fazer de tudo para que o irmão não se perca, não saia da caminhada da Comunidade, do seguimento fiel a Jesus e volte-se para as exigências evangélicas. E se nada der resultado satisfatório? Só aí a Comunidade tomará conhecimento do erro e será chamada a tomar uma decisão: Caso não der ouvidos, comunique à Igreja.

            Antes de denunciar, denegrir ou excluir é necessário acolher, perdoar, aconselhar e colocar em contato com o bem, inserir na Comunidade fraterna e fazer de tudo para que as pessoas não se afastem do bem e da prática da justiça. O Papa Francisco insiste tanto nisso em suas alocuções, sobretudo em seu primeiro livro: A Igreja da Misericórdia! Mas em nossas Comunidades acontece, frequentemente, o contrário: quantos líderes conhecemos que simplesmente se sentem no direito de excluir e mandar embora os filhos que ajudaram a escrever a história de suas Paróquias. Em minha opinião isso é diabólico e precisa urgentemente mudar! Nenhum Padre tem o direito de exigir que sua comunidade se adapte aos seus caprichos e não poucas vezes aos seus desequilíbrios afetivos e emocionais. Tais pastores não são configurados a Jesus, mas fazem da Igreja um trampolim para a própria sobrevivência. Não faltam casos concretos entre nós, que me parece gritar por uma séria conversão pastoral da Paróquia!

            Do começo ao fim dos Evangelhos, Jesus prega ser o Reino de Deus um Reino de Justiça. Logo onde não há Justiça, também não se sentirá o sabor do Reino de Deus! Ao lado da Justiça soma-se a Misericórdia, cujo resultado é o verdadeiro Amor com sabor divino!

            Tive, na Alemanha, um Reitor no Seminário, que detestava Dedo-Duro. Costumava dizer que, geralmente atrás de alguém que denuncia o erro do outro, gratuitamente, esconde o próprio erro atrás do erro desse outro. É o contrário da mensagem da Palavra deste domingo, que sugere a correção fraterna. Em nossas Comunidades, mas principalmente entre os próprios Ministros Ordenados, é muito frequente o caminho inverso do sugerido pelo Evangelho. Primeiro espalha-se o erro do irmão na Comunidade, difamando-o o quanto possível, para abastecer-se de argumentos a serem levados à autoridade eclesial: no caso da Comunidade, o Padre; no caso do Clero, o Bispo, e geralmente o último, a saber, que errou, é o irmão já totalmente difamado, triturado, esmagado pelos demais. Como isso é feio. Quem não tem a capacidade de corrigir fraternalmente o irmão, é também incapaz de perdoar e amar. Muitos se sentem tão “perfeitos e corretos” que não aceitam correção. A prepotência e a arrogância não permitem e não dão espaço nem mesmo a um exame da própria consciência. Esses geralmente se alegram em “pisar naqueles que erram” e na maioria das vezes os excluem de suas Comunidades que não têm espaço para pessoas que não agradam, não pensam como nós, ou questionam determinadas hipocrisias nossas. É mais fácil mandar embora do que dialogar com o “diferente” ou o “difícil”. Existe algo mais anti- evangélico do que dizer: “Em minha Paróquia eu fiz uma limpeza de pessoas insuportáveis... Quem não aceita dançar a música que eu tocar, sinta-se desconvidado...” Pior do que isso é aquele Sacerdote ou Agente de Pastoral, que além de não ter a capacidade de perdoar, talvez porque nunca tenha feito a experiência do verdadeiro amor de Cristo Misericordioso, sentir-se vitorioso por ter esvaziado sua Comunidade, desrespeitando a história da mesma, que certamente não começou com a chegada dele; ter o apoio de seus Superiores para surrar e machucar suas ovelhas, como se fossem inúteis. Este tipo de endeusamento clerical seguramente lhe garantirá aquele estado de vida descrito pelo próprio Cristo, como “Lugar do fogo do inferno, onde haverá choro e ranger de dentes...”.

            Rezemos pela conversão de nossa Igreja, a começar de nós Presbíteros, a fim de que prevaleça o Amor! Quem realmente se sente configurado com Cristo, o Bom Pastor, ama e acolhe quem lhe é confiado para tornar-se a verdadeira Igreja de Jesus Cristo e não desse ou daquele ministro, seja ele ordenado ou não.

                        Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Ez 33,7-9; Sl 94(95); Rm 13,8-10 e Mt 18,15-20).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2020, pp. 28-36 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II (Setembro/2020) pp. 12-16.