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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO COMUM


Dia da Bíblia

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            
Estamos celebrando o último domingo do mês de setembro. Neste dia, recordamos, de uma maneira toda especial, a Bíblia. Nenhum outro livro conseguiu ser traduzido para tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos a Palavra de Deus. Mesmo escrita há séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer momento de nossa vida.
            A liturgia deste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum se apresenta com uma série de ensinamentos, que manifestam a essência da Bíblia. Claramente, podemos ver, pelas palavras de Jesus, que ninguém pode autodenominar-se dono da verdade e muito menos se sentir como exclusivamente único na promoção do bem, em nome de Deus. Temos que ser capazes de reconhecer e aceitar a presença e a ação do Espírito de Deus, através de tantas pessoas boas não pertencentes à nossa instituição, que talvez não pratiquem os mesmos ritos e devoções por nós praticados, nem professem nossa fé, mas que também são sinais do amor de Deus neste mundo.
            O Espírito de Deus não está preso a nenhuma instituição, mas age livremente e pode se servir dos instrumentos mais inesperados. A páscoa de Jesus se manifesta nos grupos e pessoas que, independentemente de credos, se doam a favor dos pequenos e procuram realizar o bem em meio à sociedade. Neste dia da Bíblia, acolhamos com alegria a carta que o Pai celeste deixou para cada um de nós.
            Pode haver profetismo ligado a uma instituição, mas existem outros não menos verdadeiros, fato reconhecido por Moisés e por Jesus. A palavra de Deus nos mostra que a defesa dos pequenos e a vivência da justiça transcendem instituições e crenças.
            O dom da palavra para profetizar e anunciar as maravilhas de Deus não é exclusividade de algumas pessoas ou de alguns grupos. Riqueza acumulada é sinal de morte; partilhada, sinal de vida. Venha de onde vier, o bem sempre será bem-vindo.
            A liturgia deste domingo nos coloca, mais uma vez, no contexto do ensinamento de Jesus a seus discípulos, enquanto caminham para Jerusalém. Apresenta alguns elementos importantes que precisam ser continuamente recordados. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho, nos recordam que Deus não é propriedade de ninguém. Nenhuma igreja, instituição ou hierarquia possui o monopólio do Espírito, nem pode contratá-lo e, muito menos, acorrentá-lo. O Espírito, porém, está em todos aqueles que, pela prática dos valores ensinados por Jesus, estão abertos e dispostos a assumir o caminho que leva à verdadeira construção do Reino de Deus, que não é comida nem bebida, mas amor, paz, justiça, solidariedade, partilha.
            Nossa comunidade deve ser capaz de promover o diálogo e saber valorizar as ações boas de outros grupos.
            O verdadeiro cristão não tem inveja do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus atua através de outras pessoas, mas esforça-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos que lutam por construir um mundo mais justo e fraterno.
            A postura de Jesus evitou que a comunidade se fechasse em si mesma. Hoje poderíamos até dizer que sua orientação tendeu a um discurso ecumênico. Para reafirmarmos essa postura, é interessante lembrar que, há mais de 50 anos, o Concílio Ecumênico Vaticano II reconheceu a ação do Espírito Santo, no movimento pela unidade dos cristãos.
            O evangelho também nos coloca diante do problema do escândalo dos pequenos na comunidade. É importante entender que “os pequenos” não são necessariamente as crianças, mas os excluídos, os pobres, os doentes, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, hoje os migrantes. Originariamente, o sentido da palavra “escândalo” significa “pedra de tropeço”. Então, ai de quem for essa pedra e for causa de tropeço. Ela pode ter até mesmo certas atitudes que não permitem o crescimento da comunidade. Esta é uma advertência especial aos líderes que são os primeiros responsáveis pela comunidade.
            A radicalidade exigida por Jesus não deve ser considerada no âmbito físico. Usando imagens e linguagem tipicamente semitas, Jesus manda cortar e jogar fora tudo o que possa causar problemas, seja no contexto pessoal ou comunitário, mesmo se isso exigir uma atitude drástica, a fim de não sermos motivo de queda para ninguém.
            A Bíblia é a Carta de Amor de um Deus apaixonado pela Humanidade. Orienta-nos, sobretudo neste domingo, à coerência entre o que pensamos, celebramos, rezamos e vivemos em nossas relações humanas. Jesus, Moisés e Tiago são muito lúcidos em suas orientações para nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor. Devemos estar atentos: líderes eclesiais, agentes de pastoral, autoridades religiosas, mas também e, principalmente as autoridades políticas! Ai de nós, se escandalizarmos a quem quer que seja. Geralmente os maiores escândalos são promessas impossíveis de serem cumpridas, mentiras deslavadas, corrupção, desvio de enorme quantidade de verbas, falcatruas escancaradas, subestimando a capacidade de discernimento dos cidadãos. Pior, é quando os eleitores não exercem sua cidadania. Quando votam por interesses pessoais e não pelo BEM COMUM!

            Desejando-lhes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Nm 11,25-29; Sl 18(19); Tg 5,1-6 e Mc 9,38-43.45.47-48)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2018, pp. 96-99 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Setembro de 2018, pp. 47-52.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO COMUM


Setembro - Mês da Bíblia

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 



            
Animados pela celebração do Mês da Bíblia, na qual encontramos a Palavra por excelência, que se diferencia das que normalmente ouvimos, queremos orientar nosso agir tentando entender, a cada domingo, o que Deus nos fala. À medida que celebramos o Tempo Comum o anúncio da Paixão é uma realidade muito próxima.
            A liturgia deste domingo apresenta a palavra como luz para nossa vida e nos coloca diante de duas realidades que, continuamente, nos interpelam e até exigem nossa opção: a “palavra do mundo” e a “palavra de Deus”. Convida-nos a pensar no modo como nos situamos na comunidade cristã e na sociedade e até que ponto esta palavra é capaz de orientar nosso agir.
            Discípulos dele (de Jesus) somos chamados a tomar posição, em meio aos conflitos sociais, a favor do direito e da justiça e pôr-nos a serviço de todos, principalmente dos empobrecidos, sem ambicionar honrarias. Façamos de nossa prática religiosa não um trampolim para o prestígio, mas um sinal de nosso compromisso com o reino de Deus.
            A Palavra de Deus denuncia as intenções perversas dos injustos contra os justos, ensina que a inveja e a rivalidade são causas de obras más e nos convida a abraçar Cristo no pobre e no pequeno.
            A presença do justo sempre incomoda os perversos e corruptos. Jesus anuncia novamente sua paixão e convida os discípulos para a humildade e o serviço. A inveja e a rivalidade são causa de muitos males na comunidade.
            Jesus denuncia e pede que tenhamos cuidado com o poder, com as tentativas de domínio sobre os outros, com os sonhos de grandeza, com as manobras para conquistar honras, lucros e privilégios, com a busca desenfreada por títulos e posições de prestígio, pois são atitudes que revelam uma vida segundo a “palavra do mundo”.
            Jesus nos convida a uma opção de vida que manifeste o que ele mesmo é, tendo nos deixado como testamento: um coração simples e humilde, capaz de amar e acolher a todos em especial os excluídos, sem necessidade de retribuição e reconhecimento público.
            Não há meio termo, Jesus é claro e exigente: quem quiser segui-lo deve acolher sua proposta e consequentemente seus desafios. Como Igreja devemos estar dispostos a testemunhar nossa fé por meio de atitudes que manifestem a verdadeira palavra que é Caminho, Verdade e Vida.
            Os “ímpios” descritos pelo autor da primeira leitura são que, além de não aderirem aos valores de Deus, ainda zombam dos costumes e dos valores religiosos, por considerarem essas práticas religiosas inadequadas para os dias de hoje, ou seja, não compatíveis com a modernidade. Os justos, com sua prática de vida, acabam por ser uma espécie de empecilho aos ímpios que se sentem continuamente questionados. Estes reagem, atacando os justos e colocam Deus a prova para ver até onde ele permite o sofrimento dos que o temem.
            O Livro da Sabedoria nos oferece uma palavra de ânimo, muito oportuna para nossos dias, pois todo justo será recompensado e sua vida experimentará a plena e definitiva vida que Deus reserva para aqueles que escutam suas palavras, aceitam seus desafios, trilham seus caminhos e se comprometem com a construção de um mundo mais fraterno, lutando pela justiça e pela paz.
            Quem optar viver segundo a “palavra de Deus’” não terá facilidades, nem viverá em um romantismo mágico pelo qual tudo acabará em alegrias e grandes realizações. Estará, porém, sujeito a críticas, a perseguições, a incompreensões e até ao próprio fracasso. Entretanto não serão as situações contrárias que farão com que desanimemos na prática da justiça.
            O texto que nos é proposto na carta a São Tiago leva o cristão a fazer uma sincera análise sobre a origem das discórdias que destroem a verdadeira vida das comunidades cristãs. O autor exorta a comunidade para que não perca os valores cristãos autênticos e coloque em prática a palavra de Deus, que se encontra, de maneira privilegiada, em Jesus Cristo, fazendo de suas vidas um dom de amor aos irmãos, traduzindo em gestos concretos de partilha, serviço, solidariedade e fraternidade.
            Vigiemos para que nosso coração não esteja ocupado por ambições, invejas, orgulhos, competições, egoísmos que nada mais criam que divisões e nos impedem de entrar na vida plena.
            Jesus teve dificuldade de fazer com que entendessem. Ainda hoje podemos ter essa mesma dificuldade. Não temos tempo para saborear e entender a palavra de Deus, pois nossas preocupações podem estar sobre outras realidades. Será que não ficamos falando tantas coisas que não são tão importantes ou fundamentais? Por isso, a dinâmica de Jesus é muito importante: sentou-se, chamou mais perto, tomou a criança como exemplo... Sempre vai educando os discípulos sobre que tipo de messias é e como quer que sejam os que se dispõem a segui-lo. O evangelho é um contínuo ensinamento, mas a cegueira dos discípulos persiste. Quem quiser segui-lo deve dispor-se a servir.
            Assim como no tempo de Jesus, o interesse de saber quem é maior toma conta de muitas rodas de conversas e orienta as ações de muitas pessoas hoje, determinando as prioridades e os investimentos. Neste dia, cabe uma pergunta: em que estamos investindo nosso tempo, nossas energias, nosso dinheiro, enfim, nossa própria vida? Em realidades passageiras que, aparentemente, podem ser importantes, pois vivemos em uma sociedade capitalista e imediatista, ou em ações que conscientemente constroem pessoas, famílias e um mundo que proporcione o prazer de uma vida integral? Jesus nos convida a abandonarmos nossos sonhos egoístas e orientarmos nosso agir para a essência de sua proposta.
            No Reino de Deus não há uma escala hierarquizada de pessoas que possam ser umas mais importantes que as outras, mas há uma proposta de amor que se realiza no próximo. Algo difícil para nossos dias. O próximo, neste caso, está simbolizado pela criança que é sinal dos que são os últimos. Assim, a proposta de Cristo deve começar pelos que são últimos: os sem direitos, os fracos, os pobres, os indefesos, os facilmente manipulados, tal como eram vistas as crianças em seu tempo. O maior é aquele que ama e serve”.
            Pouco tempo antes de sua páscoa, tive o privilégio de conversar longamente com o Pe. Léo da Canção Nova, enquanto aguardávamos nosso voo atrasado no aeroporto de Navegantes (SC) com destino a São Paulo. Havia muita neblina. Entre as tantas coisas profundas que ouvi do Pe. Léo, lembro a propósito da Palavra de Deus deste domingo, duas: “Sempre tive muita pena dos pobres. Depois que fiquei doente e percebi que não era de nada, passei a ter pena dos ricos. Os pobres, quando chamados à eternidade, não terão praticamente nada a deixar para trás. Mas coitados dos ricos, que acumulam coisas desnecessárias. Quando esses forem chamados a deixarem este mundo, terão de deixar tudo que acumularam para trás. De quantos projetos precisei abrir mão, desde que soube que tenho pouco tempo de vida. É doloroso demais...” “O cristão autêntico é como um bambu: vem ventos fortes que o levam ao chão e ele se reergue... vem as chuvas fortes, e ele se refresca, porque não teme as tempestades... vem os relâmpagos e ele os absorve e enterra... o bambu, como o cristão, por mais que seja surrado, nunca desiste de crescer para o alto!”
            Não desanimemos jamais. Olhemos para o alto e façamos dele nosso destino, nosso Fim Último, porque lá está a esperança de nosso futuro e de nossa felicidade verdadeira!

Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Sb 2,12.17-20; Sl 53(54); Tg 3,16-4,3 e Mc 9,30-37)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2018, pp. 78-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Setembro de 2018, pp. 42-46.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO COMUM

MÊS DA BÍBLIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

O Mês da Bíblia que estamos trilhando, instituído em 1971, tem como meta instruir os fiéis sobre a Palavra de Deus e difundir o conhecimento das Sagradas Escrituras. Já dizia São Jerônimo que ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. A implantação desse mês temático colaborou na aproximação do Povo de Deus com a Bíblia. Cresce a consciência e o esforço para a necessária animação bíblica de toda a pastoral. Propondo o estudo e a reflexão do Evangelho de Marcos para este mês, a Igreja deseja reforçar a formação e a espiritualidade de seus agentes e fiéis, no seguimento de Jesus Cristo.
            Na caminhada litúrgica que fazemos nos reunimos para celebrar o Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum, em que a imagem que perpassa o Evangelho de Marcos é Jesus como o Messias. Ele traz para a sociedade um ensinamento e práticas centradas na justiça que gera relações novas e, consequentemente, constrói o mundo novo.
            Na sociedade que nos é dado viver, proclamamos hoje uma página de Isaías. No terceiro “canto do servo”, ainda que se sinta perseguido, o profeta mantém-se confiante, pois sabe que a seu lado está Deus, que o auxilia. Com esta certeza, ele consegue levar em frente sua missão, apesar dos obstáculos que encontra.
            Jesus no Evangelho de hoje quer saber dos discípulos qual é a compreensão deles acerca de sua identidade, de sua pessoa. A resposta vem por meio da profissão de fé que Pedro faz em nome do grupo. Depois disso, Jesus faz a primeira predição de sua paixão e morte. Em seguida, convida os discípulos a segui-lo no caminho da cruz. Apesar de proclamá-lo como o Messias, Pedro coloca-se como obstáculo à missão do Mestre, pois, assim como os outros do grupo, ainda não tinha conseguido compreender verdadeiramente o messianismo de Jesus.
            Tiago mostra-nos que há uma “fé viva” e uma “fé morta”. A primeira produz “frutos do bem”, a segunda não produz nenhuma ação concreta, é simplesmente um ato intelectual de adesão a uma ideia. Desejos e boas palavras não defendem o indigente do frio nem saciam sua fome.
            Na vida da comunidade, sobretudo, no contexto social e político, ainda reina a pedagogia de Pedro que consiste em querer resolver as diferenças em conchavos, à parte. Precisamos assumir a pedagogia de Jesus, em dizer as coisas abertamente e corrigir o erro imediatamente. Jesus não fecha o olho ou relativiza o problema, nem adia o conflito, mas o enfrenta e faz com que o outro assuma seus atos. Diz o que deve ser dito, nem que doa. Dessa forma, possibilita que os companheiros cresçam e se tornem maduros.
            Não dá para seguir Jesus e querer ficar somente com o que agrada. Seguir Jesus significa enfrentar e superar os conflitos, e os sofrimentos inerentes de quem entrega a sua vida.
            Por isso, a primeira condição para o seguimento de Cristo é a renúncia de si mesmo, negar a si mesmo, correr o risco de perder a própria vida. Quem quiser controla-la irá perdê-la.
            Morrer para si, concretamente, significa enfrentar, “como profeta, as realidades que contradizem o Reino de Deus” (cf. Evangelii Gaudium do Papa Francisco, n. 53-99), e dizer não: “Não a uma economia da exclusão. Não à cultura do descartável. Não à globalização da indiferença. Não ao fetichismo do dinheiro. Não à especulação financeira. Não à desigualdade social que gera violência. Não à fuga dos compromissos. Não ao pessimismo estéril. Não ao mundanismo espiritual. Não à guerra entre nós”.
            É assim, vivendo esse compromisso, diria o apóstolo Tiago hoje, que mostraremos a nossa fé pelas ações.
           
            Finalmente, somos convidados a colocar-nos no lugar de Jesus sempre: calçar suas sandálias, pensar seus pensamentos, falar suas palavras, agir seu imensurável amor por todos, indistintamente!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Is 50,5-9; Sl 114(115); Tg 2,14-18 e Mc 8,27-35)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2018, pp. 59-62 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Setembro de 2018, pp. 37-41.

FALAI A VERDADE!


Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

O falecido pai do Pe. João Paulo, Sr. Roque Ielo, costumava dizer um provérbio interessante quando as noticias traziam alguma informação de algum desvio, corrupção, abuso de poder ou de autoridade. Dizia o antigo mestre que “mentiroso é ladrão”; e ele afirmava que ouviu tal ditado de seu pai que, através de gerações se mantém presente e atual.

            Quando lemos a Bíblia Sagrada e nos encontramos com a Lei de Deus transmitida a Moisés e que este deveria ensinar a todo o povo, vemos que após ensinar que não se deve furtar imediatamente se proclama que não se deve mentir, não levantar “falso testemunho”, ou seja, furto e mentira são atitudes que acabam por quebrar a amizade do ser humano com Deus e com seus irmãos. Aprendemos de Jesus que a “verdade é libertadora” (cf. Jo 8,32) e assim os que andam por esse caminho carregam a “lâmpada para seus pés” (cf. Sl 119,105) que evita todo tipo de queda. Mas, a mentira é própria dos que temem a Luz, agem às escondidas e se especializam em trapacear e prejudicar seus semelhantes.

            Uma das carências de nosso tempo, e que já enfrenta uma situação crônica, é a vida na verdade. Ao longo dos anos parece que as maquiagens foram tentando encobrir as rugas da história, por vezes duras e profundas; as pinturas nos cabelos disfarçaram as cãs reveladoras de maldades intensas, a aparência se destacando mais que o mundo real e os mais espertos construindo e vendendo um “país de maravilhas” que só existe na ficção. Os fraudadores da verdade levam atrás de si inocentes úteis que acreditam cegamente nesses mentirosos que outra coisa não fazem senão enganar, abusar, extorquir e destruir os seus fanáticos seguidores. Acho que precisamos criar um esquema de comportamento na base do “mentira zero”, algo que nos lembre sempre que “verdade e amor se encontrarão; justiça e paz se abraçarão.”! (Sl 85,11)

            “A verdade vos libertará”, ensinava com firmeza Jesus Cristo, e tal palavra serve como um critério importante para nós todos nestes tempos de campanha eleitoral. A Palavra de Deus nos mostra e revela a coerência de nosso Pai; a sua Palavra é sempre verdade, seus filhos vivem iluminados por sua Sabedoria e por isso constroem fraternidade e solidariedade, ao passo que a mentira e os mentirosos, os que tramam às escondidas vivem de enganar as pessoas e se engordam a custas dos golpes e safadezas a que se acostumaram. Assim hoje, mais do que nunca, é urgente que tudo o que se referir a vida, à política e propagandas - eleitorais ou não - tenha passado pelo crivo da verdade. Há muitas propagandas enganando de propósito, cobrando por produto que não entregam e por efeito que não causam. A gente compra um litro de óleo que não tem um litro, o quilo de farinha que não tem um quilo... E ainda temos de ouvir propaganda de candidatos maquiados com óleo de peroba, que dizem o que não acreditam e esquecem o que já escreveram...

            A vida na verdade revela a sinceridade em cada atitude; revela também simplicidade de quem não faz adeptos, mas sabe ser e se fazer irmão. Quem vive na sinceridade não teme a chuva porque não usa maquiagem que pode mostrar a falsidade que a pintura escondia. Quem vive a verdade pratica a caridade, testemunha a fraternidade, realiza a solidariedade e seu coração é repleto de amizade, de entusiasmo e de uma fé viva e radiante. É uma verdadeira pérola, daquele tipo que só a muito custo se encontra.

(Parceria com Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu, SP)
                                                                      


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM


SETEMBRO - MÊS DA BÍBLIA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 
           


Estamos no Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Com o intuito de uma interação sempre maior entre a Palavra e a Eucaristia, as duas mesas que constituem um só ato de culto, é que propomos a reflexão da liturgia deste final de semana. Neste Ano B, em que acompanhamos o Evangelho de Marcos, a Palavra nos propõe um encontro com aquele que anunciou e mostrou presente o Reino de Deus, por suas ações e ensinamentos: Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem.
            O refrão: “Ide pelo mundo, e proclamai a Boa Nova a toda criatura!”, que sintetiza a tarefa principal do missionário e discípulo descrito em Marcos, acompanhado do Salmo 145(146), foi o escolhido para a Celebração de minha Ordenação Presbiteral há 28 anos e seis meses.  Canta-lo neste domingo, remete minha profunda saudade àquela manhã, em que fui ordenado Presbítero para sempre. Tenho procurado viver com fidelidade, não obstante meus incontáveis limites, a missionariedade e o discipulado, sob meu lema sacerdotal: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7).”
            Sabendo que a liturgia “não esgota toda a ação da Igreja” (SC, n.9), mas é seu cume e fonte (SC, n.10), importa também, que, especialmente neste Mês da Bíblia, nos empenhemos, pessoal e comunitariamente, para um encontro com Cristo na Palavra. Como nos dizem os bispos reunidos em Aparecida: “A Palavra de Deus não são meras palavras. A Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa, busca estabelecer uma relação...” (Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja, Documentos da CNBB, n. 97, introdução).
            A atividade de Jesus em território pagão realça a universalidade da sua missão. Marcos assim destaca que Jesus veio para comunicar a vida a todas as pessoas, abolindo a distinção entre povos impuros e povo puro.
            O gesto da imposição das mãos, solicitado pelos que trouxeram o homem surdo, era um gesto familiar a Cristo e de uso tradicional para a transmissão de poder e autoridade, para a transmissão de bênçãos. Os que trouxeram o enfermo pensavam, pois, que esse gesto fosse essencial para a cura. Jesus, apartando-se da multidão com o surdo-mudo, queria muito provavelmente evitar qualquer mal-entendido de cunho messiânico. Jesus colocou os dedos em seus ouvidos, como que indicando que ia abri-los, e, cuspindo, com a saliva tocou a língua dele. Vale lembrar que, na antiguidade, a saliva era considerada remédio medicinal. Os gestos e os toques de Jesus vão despertando, excitando a fé daquele homem, preparando-o para o que vai realizar (ver Is 50,4-5). Antes da palavra de ordem para a cura, Jesus, olhando para o céu suspirou, assim indicando que a cura que haveria de seguir era obra do Pai, a fonte de todo o bem. Depois de sua oração silenciosa, ordenou a cura: abre-te (efatá)! “Imediatamente seus ouvidos se abriram e sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”. Uma vez que Marcos não se refere nem à possessão, nem a algum espírito, como faz em tantos outros casos, é bem provável que se tratasse de um defeito natural. Cristo, consciente de que realizava o plano do Pai e não buscava “atrair os holofotes” sobre si mesmo, além de afastar-se da multidão para realizar a cura, recomenda insistentemente que não o digam a ninguém. Marcos evoca Isaías, lembrando que Jesus havia feito os surdos ouvirem e os mudos falarem. Foi Jesus mesmo que, interrogado pelos mensageiros do Batista se ele era o Messias, deu exatamente essa resposta (cf. Mt 11,1-6; Lc 7,18-23).
            Quando os israelitas exilados encontravam-se desanimados e abatidos, o profeta oferece-lhes um oráculo de esperanças e de reconforto: “Coragem! Não temais! O vosso Deus vem para vos salvar!” (v.4). Segundo o profeta, Deus está para entrar em ação em favor deles. Com Jesus tem início o cumprimento dessas promessas messiânicas. Num tempo em que a falta de sentido, a desesperança, a depressão campeiam inexoravelmente, cada cristão em particular, nossas comunidades em uníssono devem oferecer uma mensagem de alento, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados; testemunhando ao mundo que Deus, nosso Pai, cuida de todos como seus filhos e filhas.
            As injustiças e desigualdades que verificamos constantemente em nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são banalizadas, jamais poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs (2ª leitura). Os preconceitos discriminatórios, praticados dentro das comunidades cristãs, constituem pecados graves que precisam ser extirpados, uma vez que estas foram constituídas justamente para ser um sinal de esperança para os empobrecidos e marginalizados.
            Redimidos e adotados como filhos e filhas, esperamos pela fé em Jesus Cristo, de nosso bondoso Pai, a verdadeira liberdade e a herança eterna. Jesus Cristo em sua atividade provoca a admiração das pessoas, porque faz bem todas as coisas.
            Alimentados e fortalecidos pela Palavra e pelo Pão, dons de Jesus Cristo, esperamos viver com ele para sempre. Esperamos ainda que a nossa participação na Eucaristia reforce entre nós os laços da amizade.
            Vejamos o que mais, em nossa comunidade, podemos fomentar em termos de estudo e celebração em torno da Palavra de Deus.
            Não basta celebrarmos uma liturgia bem preparada. Não basta contarmos com uma multidão de fiéis em nossas celebrações, que saem das mesmas tão vazias como nelas entraram. Há até mesmo quem se satisfaz em ver seu Templo lotado de fiéis em busca de gestos espetaculosos, como curas emocionais, geralmente equivocadas, quando não enganosas. A surdes e a mudes continuarão reinando em nosso mundo tão oco de Deus. É necessário e urgente, anunciar o espetacular, e este se chama ninguém, a não ser Jesus Cristo, Deus de Amor no meio de nós! O grande e único milagre do “efatá” já aconteceu a todo aquele que se digna chamar-se cristão: é aberto ao anúncio do Reino de Deus, que é um Reino de Amor, Verdade, Justiça, Liberdade e de Paz! Só quem acolhe Jesus na pessoa do outro, mesmo surdo, mudo, cego, coxo, pobre e marginalizado, porque diferente das convenções de uma sociedade consumista e hipócrita e de comunidades que se desfiguram do verdadeiro cristianismo, compreende sua missão e seu discipulado nos dias atuais!

            Sejam todos sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Is 35,4-7; Sl 145(146); Tg 2,1-5 e Mc 7,31-37)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de 2018, pp. 40-42 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Setembro de 2018, pp. 32-36.


HORA DE RECONHECER E AGRADECER!


Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Faculdade de Ribeirão Preto da UNIVERSIDADE BRASIL e UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Muitas são as pessoas que ao longo dos 61 anos e oito meses colaboram com as atividades do FAC – Fraterno Auxílio Cristão da Cidade de Ribeirão Preto. Precisaríamos de inúmeros artigos para elencar todos que de alguma maneira já ajudaram na manutenção dos Projetos dos Núcleos de Solidariedade Dom Bosco que atende diariamente 80 crianças e adolescentes com suas famílias e Dom Hélder que acolhe pessoas desde a adolescência à idade adulta através de parcerias indispensáveis. Mas hoje fui incumbido de fazer menção especial, porque parece ser Hora de Reconhecer e Agradecer!

No ano passado, durante o exercício do então Presidente do FAC, Pe. José Alceu de Souza Júnior, o Vereador Bertinho Scandiuzzi, por acreditar nos projetos do FAC, mediou um encontro com o Sr. Manoel Jorge Pereira, Assessor do Deputado Roberto Engler de Franca (SP), que conhecendo o FAC também por ele se encantou e, graças ao seu esforço conseguiu que a Deputada Mara Gabrilli e seu Assessor Lennon destinassem uma valorosa colaboração de 200 mil reais para “custeio” desta sofrida Instituição.

Durante a cerimônia da apresentação da nova Diretoria, dia 4 de abril deste ano, afirmei que só acreditaria na doação, depois de depositada na conta do FAC, já que nos últimos anos muitas das promessas de “verbas parlamentares” ficaram apenas na boa intenção de quem prometeu. O Sr. Manoel me garantiu, com certa tristeza, de que eu estava enganado e que a verba da Deputada Mara Gabrilli chegaria a tempo hábil, antes das consolidações eleitorais, conforme dita a lei.

Agora é, pois, Hora de Reconhecer e Agradecer à Deputada Mara Gabrilli, Integrante de um Comitê da ONU, Parlamentar que pautou seus dois mandatos sob a ética e transparência, trabalhando incansavelmente pela “Redução das Desigualdades Sociais”. Com a intercessão do Prefeito Municipal de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Filho e sua Esposa Samanta Duarte Nogueira, depois de cumpridas as normas da Secretaria Municipal da Assistência Social, a verba foi depositada na Conta do FAC graças à lisura e zelo do Dr. Carlos Cesar Barbosa, Vice-Prefeito e Secretário da SEMAS.

É também mérito do então Contador e hoje Presidente do Conselho Diretor do FAC, Sr. Jedaías do Amaral Costa e de seu Conselheiro, Diácono Pérsio Luiz Dugaich e nem por último da Coordenadora Geral do FAC. Sra. Ana Cláudia Abe, que esta verba alivia as preocupações financeiras para a manutenção qualificada dos dois Projetos do FAC. É Hora de Reconhecer e Agradecer às verbas municipais, vindas por meio da SEMAS e do CONDECA que além das inúmeras promoções realizadas ao longo do ano com a benevolência e generosidade de tantas pessoas com boa vontade não permitem que o FAC paralise suas atividades. Todos sabemos o quanto é desafiador manter uma Entidade em nossos tempos difíceis.

Quem ainda puder e desejar colaborar, poderá adotar uma de nossas Crianças do Núcleo Dom Bosco, que custa para o FAC, mensalmente, R$ 370,00. Se for muito, qualquer quantia mensal poderá integrar mais pessoas como Sócios-Voluntários. Basta ligar de segunda a sexta-feira entre 8 e 17 horas: (16) 3237-0942 ou visitar a Sede do FAC na Rua Barão do Amazonas, 881, bem no centro de Ribeirão Preto. A partilha de sua pobreza enriquecerá a nossa, sempre agradando o Coração Bondoso de nosso Criador!