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quarta-feira, 26 de julho de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Maravilhosos são os vossos testemunhos,
Eis por que meu coração os observa.
Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina,
Ela dá sabedoria aos pequeninos” (cf. Sl 118).

            Refletiremos a Palavra viva do Pai, que é Jesus, do Décimo-Sétimo Domingo do Tempo Comum, que continua a nos falar dos segredos do Reino dos Céus.

            A Palavra de Deus deste domingo leva-nos a encontrar os verdadeiros tesouros do Reino de Deus. Somos convidados a entrar na posse do tesouro escondido, centrando nele o projeto de nossa vida e escolhendo entre coisas novas e velhas.
           
Salomão pede sabedoria para governar e julgar com justiça; Paulo nos diz que Deus convida a todos os seres humanos a fazer parte de sua grande família e Jesus nos ensina que o seu reino deve ser nossa principal preocupação.
           
A sabedoria é necessária aos governantes para bem servirem o povo. É necessário investir com decisão no reino dos céus. Deus, artesão perfeito, fez de nós uma obra-prima.
           
Insisto em diferenciar o sabido do sábio! Sabido é quem possui uma avalanche de informações, sem saber administrá-las. Tais informações podem levar a pessoa ao “oco”, ao “nada”, ao “superficial” e “aparente”. Já o sábio, mesmo sem diploma nenhum, é aquele que acolhe, compreende e vive a sabedoria divina! É exatamente o que o Rei Salomão pede a Deus. Como nosso mundo seria diferente, se deixássemos Deus, nosso Criador, respirar nas entranhas de nossa intimidade. Se deixássemos os dons do Espírito Santo agir em nossas escolhas. Muitas vezes tem-se a impressão de que a pessoa tem a arrogante pretensão de querer ser deus sobre o Criador e até chega a convencer-se de que consegue manipular e “barganhar” o Espírito Santo. Tais pretensões, chamamos de “politicagem daqui e dali”, em instituições familiares, comunitárias, sociais, políticas e nem por último eclesiais, o que naturalmente é  desastroso, quando não pecaminoso.  Mas o que não é Deus cai. Um dia cai e cai feio. O grande convite, portanto, é deixar Deus agir em nós, esvaziando-nos de qualquer ganância prestigiosa e elogiosa. Gosto demais de rezar o terço com o povo simples, que às quatro horas da madrugada, ligado na Rádio Aparecida, retransmitida pela Rádio CMN 750-AM de Ribeirão Preto, reza por tantas necessidades e por tantos que além de não rezarem, ainda os ridicularizam. Esse povo, na minha modesta opinião, é verdadeiramente sábio e não simplesmente sabido.

            Para Deus, os pobres e desprotegidos são seu tesouro. Por este tesouro ele investiu o melhor de si, isto é, seu próprio Filho que se fez pobre com os pobres. Aí está o tesouro da sabedoria de Deus, o segredo de seu Reino, infinitamente mais valioso do que todos os poderes e riquezas deste mundo.
           
Então, qual é o Reino de Deus hoje? Aquilo que queremos ter em nosso poder, aquilo que com tanta insistência agarramos e procuramos segurar? Nossas posses, privilégios de classe, status etc.? Ou não será antes a participação na comunhão fraterna, superar o crescente abismo entre ricos e pobres e transformar as estruturas de nossa sociedade, para que todos possam participar da construção do mundo e da História que Deus nos confia?
           
A verdade é que cada pessoa, mais cedo ou mais tarde, em algum dia, terá, obrigatoriamente, que se desfazer de tudo, até mesmo da vida. É o dia em que vamos morrer. Naquela hora derradeira, faremos a experiência de total pobreza: experiência de não sermos, de fato, donos de nada, nem mesmo da vida. Suprema hora em que todo poder, orgulho, vaidade, apego necessariamente caem por terra. Hora, portanto, da suprema e bem-aventurada chance de, no vazio de nós mesmos, Deus ser tudo em nós.

            Pouco tempo antes do Padre Léo da Canção Nova falecer, encontrei-me com ele no aeroporto de Navegantes (SC). Ele viajava de Brusque e eu de Blumenau para São Paulo. Tive o privilégio de viajar ao lado dele e, o que me marcou profundamente foi a seguinte frase dele:

“Padre Gilberto, antes de adoecer e chegar a este estágio de minha fase terminal da doença, já aguardando o dia de ver Deus face a face, sempre tive muita dó dos pobres. Hoje, fazendo a experiência da enfermidade que me consome tão rapidamente, passo a ter dó dos ricos. Você já imaginou a hora em que tiverem de deixar tudo para trás?”

            Já antes, quando num velório, eu me imaginava confinado naquele pedaço de madeira, pensava como ele. Depois deste encontro com o Pe. Léo ficou ainda mais intensa a reflexão: no dia em que meu nome ecoar na eternidade, não terei como não ir. E irá comigo somente aquilo que fui e, nada do que possuí. O que tive, ficará para trás.
           
Que meu tesouro seja de valores essenciais: amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz! O resto é apenas resto!...

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper

(Ler 1Rs 3,5.7-12; Sl 118; Rm 8,28-30 e Mt 13,44-52).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2017, pp. 99-102 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2017), pp. 45-48.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida.
Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício
e dar graças ao vosso nome, porque sois bom” (Sl 53,6.8).

            A Palavra de Deus do Décimo-Sexto Domingo do Tempo Comum encaminha-nos à Paciência de Deus para com a Humanidade! A Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã nos ajuda a penetrar nos pensamentos de Deus, com frequência, bem diferentes dos nossos. Na liturgia deste domingo, o Pai paciente e misericordioso vem em nosso auxílio para que, embora convivendo com o joio, não desistamos da construção do seu reino.
            Deus espera pacientemente a conversão do pecador. Orando no Espírito como filhos e filhas de Deus, deixamo-nos iluminar pela sua palavra, que não nos permite julgar e agir precipitadamente.
            O poder de Deus se mostra na capacidade de perdoar. Devemos aprender com Jesus a ser pacientes e perseverantes na construção do reino. O Espírito Santo nos auxilia em nossas fraquezas.
            Apesar de nossas infidelidades, Deus é paciente conosco. Pelo memorial do amor de Cristo, o Pai continua demonstrando sua confiança de que nosso joio não sufocará a boa semente do reino.
            Embora criaturas prediletas de Deus, porque criados à Sua imagem e semelhança, temos nossas imperfeições. Não há quem seja totalmente bom ou totalmente mau. Temos nossos defeitos e qualidades; nossas virtudes e pecados. Gosto de pensar que não são nem pecados e nem boas ações que nos levarão diante de Deus, porém, o esforço que empreendermos para sermos bons. O querer ser sempre melhor hoje do que ontem, parece-me ser nossa tarefa. Não me refiro a ser melhor do que os outros, mas ser bondoso. Talvez sejamos convidados a perguntar-nos ao que mais nos identificamos em nossas relações humanas? Ao Joio ou Ao Trigo?
            Somente quem faz a experiência da bondade, sabe o quanto é bom ser bom!
            Muitas vezes nos deferimos o direito de julgar, condenar e determinar a sentença sobre os outros. Isso só Deus tem direito de fazer. Ninguém tem o direito de ser “deus” sobre o outro. Porém, todo cristão tem o dever de ser bom, humilde e misericordioso para com o outro. Por isso, é preciso aprender de Deus a PACIÊNCIA que Ele tem para conosco. Quantas vezes escondemos nossos erros atrás dos erros dos outros? Ser joio significa ser diabólico e ser trigo, significa ser angelical em nossas relações. É muito frequente entre nós, os cristãos, falarmos mal dos erros dos outros, difamando-os. Feio mesmo é quando escondemos nossas fraquezas e incapacidades atrás dos deslizes dos outros. Há quem não consegue alegrar-se com o êxito alheio e deixa, por isso, corroer-se pela inveja, que é um mal horroroso entre nós. Oxalá busquemos na força dos dons do Espírito Santo, o êxito de nossa conversão, coerência e misericórdia para com quem nos magoa, surra, machuca ou prejudica. Não acredito que “perdoar é esquecer”; antes, “perdoar é lembrar sem rancor, sem mágoa, com coração misericordioso e tomado de paciência para com quem pecou!...” Quem esteve atento às Homilias do Papa Francisco nas Celebrações da Casa Santa Marta em Roma, deverá ter ouvido iguais alocuções. Há muitos anos tenho insistido na necessidade de superarmos, principalmente a Inveja Clerical para sermos melhores servidores do Senhor!
            A Palavra viva de Deus, que é Jesus mesmo, vem iluminar uma série de questões que nos colocamos com frequência e que, com certeza, eram propostas no tempo em que foi escrito o evangelho: Por que o bem e o mal se apresentam juntos? Por que é que Deus permite que haja imperfeição, o mal, o pecado, mesmo nas Comunidades mais perfeitas? Com todos os meios deixados por Cristo para atingir a perfeição, por que tantos maus discípulos?
            Basta olhar um pouco a realidade que nos cerca: injustiças, corrupção, violência, miséria, fome, doença, morte, para sentir logo os desafios que a vida apresenta. E mesmo que nos joguemos com toda generosidade no trabalho pastoral, constatamos que nossos esforços tantas vezes trazem poucos frutos e muitas desilusões. E acabamos perguntando: Por quê? Vale à pena? Por que Deus não se manifesta de forma mais incisiva? Se a causa do Reino é justa e válida, porque é tão difícil mudar as estruturas? Será que nossas pastorais são estéreis, frutos de nossa ilusão? A Palavra de Deus deste domingo poderá ajudar-nos a ver, julgar e agir melhor, fortalecendo nossas opções em favor da liberdade e vida. O Espírito vem socorrer nossa fraqueza, tornando-se a súplica de quantos lutam por um mundo melhor.
            Quando Jesus fala do joio semeado pelo inimigo no meio do trigal, ele se refere às pessoas e estruturas injustas que crescem junto com a semente do Reino.
            Temos muito a aprender com a paciência de Deus. Ele não é apressado. Ele é calmo, tranqüilo, não se estressa. Ele dá um tempo. Nós é que somos impacientes, intolerantes, dominadores para com os outros, cobrando resultados imediatos. Deus é diferente. Deus tem tanto poder, que ele domina a si mesmo... Não é escravo de seu próprio poder. Sabe governar pela paciência e o perdão. Seu reino é amor, e este penetra aos poucos, invisivelmente, como o fermento. Impaciência em relação ao Reino de Deus é falta de fé. O crescimento do Reino é mistério, algo que pertence a Deus.
            A Palavra nos mostra o grande respeito que Deus manifesta pela liberdade das pessoas. Deus semeia o bem no campo do mundo. Mas não força ninguém a receber o presente. Deixa conviver o mal com o bem. Existe um desenvolvimento, um crescimento. Este fenômeno verifica-se não só dentro da Comunidade. Existe também dentro de cada pessoa. Importa que cultivemos com paciência o bem. Ele não se impõe. É como o grão de mostarda. Pequenino, vai se desenvolvendo e aparece como arbusto vistoso. O bem é comparado ainda ao fermento que, invisível, acaba transformando toda a massa. Assim é o Reino de Deus. Não se impõe de fora, mas age a partir de dentro, pela ação do Espírito Santo.
            Insisto comigo mesmo que obtenhamos frutos saborosos em nossas relações humanas e diante de Deus, no uso do dom gratuito da liberdade, esforçando-nos pela conquista da CONVERSÃO, COERÊNCIA e BOM SENSO sempre!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 12,13.16-19; Sl 85; Rm 8,26-27 e Mt 13,24-43)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2017, pp. 80-83 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2017), pp. 41-44.

A BÊNÇÃO DOS MOTORISTAS NA SANTO ANTONINHO!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

Na próxima terça-feira, dia 25 de Julho, a Igreja celebra a Memória de São Tiago Maior, Apóstolo e Evangelizador. Filho de Zebedeu e irmão de João, recebeu de Jesus o chamado para fazer parte do grupo dos doze. Foi testemunha privilegiada de alguns acontecimentos importantes da vida de Jesus e o primeiro apóstolo a conhecer o martírio. É tido como o primeiro evangelizador da Espanha.
            Celebraremos a Festa de São Tiago na Igreja Santo Antoninho às 7 horas e 30 minutos. Logo a seguir, entre 8 e 14 horas, diante da mesma, na Avenida Saudade, 202, nos Campos Elíseos, em Ribeirão Preto, ofereceremos a bênção aos Motoristas que desejarem.
            É, também, a Festa de São Cristóvão, Protetor dos Motoristas, o que nos motiva a benzer todos os Motoristas e suas conduções diante da Igreja Santo Antoninho, na Avenida Saudade, 202 entre as Ruas Minas e Rio de Janeiro nos Campos Elíseos em Ribeirão Preto.
 Este gesto da Bênção dos Motoristas nos remete a pedir maior zelo, cuidado e proteção para o trânsito de nossa cidade, um dos mais violentos do Interior de São Paulo. É um grito por maior civilidade, educação e cavalheirismo entre os transeuntes de nossa malha viária. Não cansamos de afirmar com muitos sociólogos, que o trânsito de uma cidade demonstra o grau de educação de seus cidadãos. Perguntemo-nos: somos um povo educado ou violento, estressado e egoísta, enquanto disputamos espaço em nossas avenidas e ruas? Em apenas uma semana, nas proximidades de nossa Santo Antoninho, foram atropeladas quatro senhoras por motociclistas. Uma faleceu, as outras continuam machucadas. Não passamos um único dia, sem sabermos a notícia de um número razoável de acidentes, provenientes de imprudência, pressa, falta de respeito para com os outros. A disputa entre motociclistas, transporte coletivo agressivo e demais conduções torna-se um terror psicológico a pedestres que, tampouco utilizam das faixas a eles reservadas. Transitam entre conduções que nem sempre os avistam. Se contarmos os que desrespeitam os semáforos ou as vias preferenciais, levantamos as mãos para o alto, por não termos ainda mais acidentes fatais!

            Todos se sintam convidados a humanizar mais nosso trânsito, cada um de acordo com sua parcela de responsabilidade. Na Festa de São Cristóvão, Protetor dos Motoristas, recebendo a bênção na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, saibamos renovar de verdade este bom propósito!

quarta-feira, 12 de julho de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO-QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Contemplarei, justificado, a vossa face;
e serei saciado quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).

            Neste Décimo-Quinto Domingo do Tempo Comum, celebramos mais uma vez a páscoa de Cristo, a qual se manifesta nas comunidades que vivem a Palavra de Deus e nos corações que se deixam transformar por ela. Nosso coração quer ser terreno fértil para acolher a mensagem de vida e liberdade semeada por Jesus.
            Assim como a terra fértil recebe a semente e a faz germinar e crescer, vamos acolher a Palavra de Deus, que Jesus deseja semear em nosso coração.
            A Palavra de Deus tem muita força. A semente da palavra tem tudo para crescer e frutificar, mas precisa ser acolhida num coração aberto e generoso. Nós e a criação inteira ansiamos pela libertação de toda escravidão.
            Jesus, como semente lançada à terra, frutificou e faz-se pão para nosso alimento. Participar da Eucaristia significa acolher a semente da palavra viva.
“Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia”. Uma multidão se reuniu em torno dele. Como estavam à beira do mar, Jesus entra numa barca para, de lá, falar àquele povo todo. Fala em parábolas. Entre elas, conta a parábola do agricultor fazendo a semeadura. Gosto de pensar que a madeira está sempre presente na vida de Jesus: nasceu numa manjedoura de madeira entre animais e foi adorado primeiro pelos pastores, depois pelos magos; trabalhou com seu pai adotivo, marceneiro e, que lidava com madeira na infância; tomou um barco de madeira do qual fez sua Mesa da Palavra, proclamando, anunciando, explicando a Palavra de Deus, comparando-a a semente semeada na terra boa dos corações dóceis ao Seu convite de produzir frutos saborosos de amor, verdade, justiça, liberdade e de paz. Finalmente, Deus reservou um Madeiro a Cruz, como trono que O glorificou.
            O que será que Deus está a nos dizer, ao insistir sobre a importância de sua Palavra?
            Em primeiro lugar, é bom lembrar que, para a linguagem bíblica, essa Palavra é muito mais que um som vocálico, pois manifesta a própria essência de Deus: ele fala libertando. De fato, a Palavra (em hebraico: dabbar)... é bem mais que a pronúncia de sons; esse termo significa o que está por trás, ou seja, o coração, a força, a essência de quem fala. A Palavra de Deus, portanto, é a própria essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo em libertação e vida. Ele é capaz de, mediante sua Palavra, criar o mundo, pondo ordem no caos (cf. Gn 1). Muito mais quando o povo vive numa situação de morte, bem pior que a terra árida, sua Palavra fecundará novamente a vida desse povo, resgatando-o da situação de não-vida em que se encontra.
            Quando Jesus conta a parábola do semeador, ele está falando de si mesmo. Ele é a própria Palavra vida do Pai, agora encarnada (cf. Jo 1,14), ou seja, ele é o verdadeiro acontecimento divino de salvação no meio de nós, a presença viva do mistério salvador do Pai. Por isso, Jesus diz a seus discípulos: “Felizes vós, porque vossos olhos vêem e vossos ouvidos ouvem. Muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir o que vedes e ouvis, e não viram nem ouviram(Mt 13,16-17).
            Acontece que a própria Palavra, que é Jesus, nos leva pela parábola a constatar uma triste situação: diante deste acontecimento de salvação que ele é, existem pessoas que ouvem e veem exteriormente, mas não percebem interiormente o que este acontecimento significa. São os de “coração insensível”, gente tão fechada, travada, cheia de máscaras e couraças criadas pelos apegos e pelas preocupações deste mundo, que ouve de má vontade e fecha seus olhos, para não ver nem ouvir, nem compreender com o coração, perdendo a chance de se converter e ser curada pela Palavra (cf. v. 15). A Palavra não cria raízes em tais pessoas. E as causas de tudo isso, onde estão? Jesus mesmo as expõe no evangelho deste domingo: é “o maligno” (isto é, as forças contrárias a Jesus e ao Reino de Deus), a superficialidade, a desistência na hora da dificuldade, as “preocupações do mundo e a ilusão da riqueza”. Tais causas, ainda hoje são as mesmas: a estratégia das forças antievangélicas, consumismo, idolatria da riqueza.
            Graças a Deus, há, entretanto, gente que ouve a Palavra e a compreende. São pessoas, cujo corpo é um chão aberto, generoso, preparado... num coração acessível e profundo ao mesmo tempo.
            Pessoas simples que, por serem assim, acolhem e assimilam facilmente e em profundidade a Palavra (isto é, o acontecimento salvador chamado Jesus) e produzem abundantes frutos de solidariedade, justiça e paz. Até que ponto somos tais pessoas?
            Importa, pois, prepararmos o chão dos corações para que possam receber a Palavra: combater os fatores de “endurecimento” (dominação ideológica, alienação, consumismo, culto da riqueza e do prazer etc.). Em vez do fascínio dos sempre novos (e tão rapidamente envelhecidos) objetos do desejo, a formação para a autenticidade e simplicidade, a educação libertadora com vistas ao evangelho. Então a Palavra, que desce como a chuva do céu, poderá penetrar no chão e fazer a semente frutificar.
            Vale a pena todo esse trabalho de conversão e assimilação da Palavra que é Jesus, o Cristo, ressuscitado, em nossos corpos. Vale a pena sermos assíduos nesse trabalho, pois, como ouvimos na segunda leitura, “os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. De fato, junto conosco toda a criação espera ser libertada da escravidão e, assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. Com a graça de Deus, um dia vamos chegar lá.
            Lançamos a semente da Palavra de Amor de Deus! Somos convidados a examinar que tipo de terreno é o nosso coração para acolher e deixar frutificar nas entranhas de nossa intimidade tamanho AMOR!
            Desejando a todos muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 55,10-11; Sl 64; Rm 8,18-23 e Mt 13,1-23).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2017, pp. 61-65 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2017), 37-40.

AMAR OS ENFERMOS COM AMOR DE MÃE!

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da Teologia na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

No dia 11 de fevereiro a Igreja celebra, por proposição de São João Paulo II, o Dia Mundial do Enfermo! No dia 14 de Julho comemoramos a Memória de São Camilo de Léllis, Protetor dos Profissionais da Saúde.  Recomendamos nossos amados enfermos à proteção de Nossa Senhora de Lourdes e nossos Agentes da Pastoral da Saúde à proteção de São Camilo.
            A mente humana compreende duas faculdades exímias: o intelecto e a vontade. Convém, desde logo, lembrar que o intelecto não se restringe à razão, ou seja, não procede apenas por argumentos ou provas lógicas ou empíricas, mas tem também uma capacidade de intuir a verdade. A mente humana nos proporciona, pois, a capacidade de conhecer e amar. Ou, olhando por parte do objeto, coloca-nos em contato com a verdade e com a bondade por parte do objeto, coloca-se em contato com a verdade e com a bondade dos seres, respectivamente.
            Nossa época pós-moderna nos adverte contra o perigo de cairmos no objetivismo. Nosso relacionamento com o objeto envolve também sentimentos. E logo discernimos entre os objetos de nível físico, vegetativo, sensitivo e racional. Nosso relacionamento, ou seja, nosso conhecimento com os minerais, as plantas, os animais não pode ser o mesmo que temos com os homens e com Deus. No caso dos homens e de Deus, nosso relacionamento, que envolve conhecimento, vontade e sentimentos, é intersubjetivo. E essa característica envolve todo o nosso relacionamento com o universo, na medida em que o acolhemos de Deus e ele nos revela as suas maravilhas, tornando-se habitação e ambiente de vida para nós e nossos semelhantes. É o que nos ensina Saint Exupéry, no Pequeno Príncipe: a raposa, por não comer pão, não teria nenhum relacionamento com o trigal. Mas se for cativada pelo Pequeno Príncipe, lembrará as ondulações de seus cabelos e adquirirá um profundo e novo significado.
            Viver humanamente é realizar-se. É tornar-se pessoa. Isso se faz pelo relacionamento, que tem, na intersubjetividade, sua matriz. Sua atitude básica será a acolhida de cada pessoa, para que ela se sinta amada e realizada. Não é, pois, possível curar uma pessoa – de qualquer doença – sem levá-la à vivência de sua subjetividade, que resulta da intersubjetividade das pessoas que cuidam dela. Curar, no fundo, é demonstrar carinho, ir em socorro, tirar do isolamento, mostrando que ela não está a sós no combate à doença. Não conseguindo reagir com as próprias forças, há quem lhe venha em socorro. E isso deve ser feito humanamente, o que equivale a dizer, intersubjetivamente. A doença humana não se reduz a um fenômeno biológico. Envolve e afeta profundamente sua mente (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha da Saúde – Um Apelo da Bioética. Presscom, Porto Alegre (RS), 2008 pp. 29-30).

            Especialmente a Igreja, através de seus Ministros Ordenados e da Pastoral da Saúde, deve priorizar nas Comunidades de Fé, Oração e Amor, os Enfermos, que fazem de seus limites físicos e leitos de dor, o verdadeiro Altar do Sacrifício do Senhor. Assim as Missionárias da Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres visita, semanalmente, 285 Enfermos ou Idosos, e nós celebramos em suas residências, na medida do possível, sendo para eles a Igreja do Ir a quem já não pode mais vir! Por isso, saibamos sempre amar os enfermos com amor de mãe!

quarta-feira, 5 de julho de 2017

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            A Palavra de Deus do Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum trata da vocação, do chamado recebido pelos profetas, pelos apóstolos, pelos discípulos e por todos os que se reúnem, para serem enviados na força do Espírito Santo.
            Jesus foi rejeitado porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram nele nada de extraordinário que o identificasse com o Messias de Deus. Mas o extraordinário está justamente aí: no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum.
            O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós. Muitos afirmam que não creem porque não veem. Os conterrâneos de Jesus não creem justamente porque veem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante. O escândalo da encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de muitos cristãos de boa vontade. Isto faz pensar no desafio que é a encarnação do Evangelho na realidade do povo.
            A Palavra de Deus nos faz um apelo: não depositar nossa confiança nos grandes. Também não precisamos ter medo de nossa pequenez e fraqueza. Na trajetória de Jesus, o maior fracasso se transforma em vitória e ressurreição. Junto a Ele, há lugar para os fracos. Em Cristo, somos fortes.
            Jesus fica admirado com a falta de fé das pessoas de sua terra, as quais não acreditam que Deus possa falar através de pessoas simples. A Palavra de Deus se reveste de roupagem humana e vem a nós com o auxílio da história e de pessoas frágeis, enviadas por Ele.
                        A fraqueza humana dos enviados por Deus cria um espaço de liberdade; quem ouve pode decidir a favor ou contra. Às vezes, gostaríamos que Deus se revelasse mediante atos maravilhosos e, assim, evitaríamos o trabalho de discernir quando e por meio de quem Deus se revela.
            Jesus se fez servo e, por isso, entra em choque com os que preferem o privilégio e o poder. A encarnação continua nos questionando e nos empurrando para a missão junto aos marginalizados e enfraquecidos.
            Neste ano de tantas crises politícas, econômicas, éticas e morais, é preciso saber distinguir os poderosos que se revestem de aparente humildade para manipular e enganar o povo, em proveito próprio. É muito comum, também entre nós, considerar o poderoso como único capaz de realizar algo pelo povo.
            O Documento de Puebla nos fala do “potencial evangelizador dos pobres”. O que podem nos dizer os pobres, os deficientes de nosso país? Aceitamos a revelação de Deus vinda na fraqueza de nossos irmãos e irmãs, na simplicidade do dia a dia?
            A Palavra de Deus nos convida a renovar nossa adesão a Jesus, consagrando-nos mais generosamente à causa do Reino. Essa nossa profissão de fé nos leva a confirmar que seguimos aquele que foi rejeitado por ser trabalhador, filho de Maria, uma pessoa comum de seu tempo, vindo de uma aldeia e, por isso, motivo de desprezo e rejeição.
            Acima de qualquer expectativa humana, o Senhor manifesta sua grandeza na singeleza do pão e do vinho, frutos da terra e do nosso trabalho. Na simplicidade da partilha. Ele nos confirma no seu caminho. É em nossa fraqueza que Deus continua manifestando sua força.
            Todo ser humano é chamado à Vocação ao Amor! Ela é a primeira vocação e o fundamento de todas as demais, as chamadas Vocações Específicas! O cristão, tendo consciência de sua vocação ao amor, só consegue viver sua Vocação Específica, na medida em que se configura com Jesus Cristo: na sua humildade, no seu espírito de serviço, na sua simplicidade e no seu total desapego de prestígio, poder, ganância, acúmulo de bens e diplomas. Não poucas vezes nossa vontade de queremos ser melhor do que os outros, bem como a acepção e discriminação de pessoas de nossas relações, desfiguram nossa missão de discípulos verdadeiros. Somos convidados a superar a inveja, a busca de prestígio, o “querer aparecer-se diante dos outros”, o “tentar esconder nossos defeitos atrás dos defeitos dos outros”, assumindo com simplicidade nossa história e nossa vida do jeito como ela é. As falsas aparências, aquelas que enganam os outros, são abomináveis ao Reino de Deus que deve ser sempre anunciado com nossa própria vida, mesmo que nem sempre compreendidos, aceitos, reconhecidos por uma sociedade que pensa sustentar sua sobrevivência sobre a hipocrisia. Quantas pessoas conhecemos que tentam comprar o prestígio, pagam preços altos, muitas vezes pisando sobre os mais fracos, para subirem na vida, aparentemente, porque se consideram superiores. Como é feio achar que os outros são feios e nós os bonitinhos! A fome de querer ser melhor nos consome e nos apodrece, enquanto a fome de ser humilde, simples e desapegado de qualquer prepotência, é saciada pelo próprio Cristo, que se dá em alimento vital, a fim de tornar-se o refúgio dos justos!

            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Zc 9,9-10; Sl 144; Rm 8,9.11-13 e Mt 11,25-30).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus, de Julho de 2017, pp. 42-45 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2017), pp. 33-36.