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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A FAMÍLIA QUE REZA UNIDA, PERMANECE UNIDA!

 

Pe. Gilberto Kasper

pe.kasper@gmail.com

 

 

Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.

 

A minha infância não foi nada fácil, mas não a trocaria por nada deste mundo. Meu pai faleceu aos 27 anos de idade, quando minha mãe tinha 25, meu irmão mais velho 6, eu 4, o mais novo 2 e minha irmãzinha que com 5 meses faleceu no dia do enterro de meu pai. Fomos morar com os avós paternos. Minha mãe optou por educar-nos, e dedicar seus 73 anos de vida por nossa manutenção sozinha. Com 5 anos de idade, junto com meus irmãos, dividíamos as tarefas do lar; estudávamos gratuitamente num bom Colégio da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria em Novo Hamburgo (RS). Mais ou menos gratuitamente. Enquanto nossos coleguinhas de escola iam para suas casas almoçar, meus irmãos e eu limpávamos a Escola. Só depois de tudo em ordem éramos dispensados para andar 4 km até chegarmos em casa e então almoçávamos. Limpávamos a casa, cumpríamos as tarefas de escola e só então íamos brincar. Enquanto meus irmãos juntavam seus amigos para uma “pelada de futebol” num campinho em frente de nossa casa, eu convidada outro bom grupo de vizinhos, para brincarmos de “rezar missa” no curral de vacas. Era a estrebaria mais limpa da vizinhança. Quando uma de nossas “artes” era descoberta, apanhávamos com relhos de animais, já que nosso avô era veterinário e fazia os arreios para carroças e animais como cavalos e bois.

 

À noite, antes do jantar, nos reuníamos em torno da mesa e rezávamos o terço, em família. Em cada quarto havia uma estampa emoldurada com a Sagrada Família e em volta um Terço, com a frase: A FAMÍLIA QUE REZA UNIDA, PERMANECE UNIDA! Aos sábados, juntamente com nossa avó e nossa mãe, passávamos o dia lavando a Escola das Irmãs, deixando-a um “brinco”. Assim, segundo a pedagogia das Irmãs, aprenderíamos a dar valor ao estudo que parecia ser gratuito, mas que pagávamos com nossos serviços braçais, o que hoje daria um bom processo, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, e a proibição de crianças e pré-adolescentes trabalharem.

 

Imagino que muitos discordarão, mas confesso que o trabalho só nos edificou. Quando passamos a trabalhar com carteira registrada, entregávamos o salário todinho para a mãe, que administrava o caixa comum da família. Depois dos 18 anos de idade, pagávamos uma chamada “pensão” determinada pela mãe, para ajudar nas despesas da casa. Isso acontece até os dias de hoje em muitas famílias, até que os filhos deixam a casa dos pais. Nos dias atuais os filhos nem sabem quanto se gasta para manter uma casa. Quando trabalham, utilizam o salário para gastos pessoais. Quando não trabalham, contam com os pais para manterem seus gastos, nem sempre modestos.

 

Não me contenho em testemunhar que sou uma pessoa muito feliz, e profundamente agradecida pela educação que recebi, tanto de minha mãe, uma heroica e corajosa mulher, como de meus avós paternos. Penso que se tal cultura fosse cultivada, não constataríamos que a família continua de bruços!



quarta-feira, 19 de outubro de 2022

COLETA DAS MISSÕES!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 


No Brasil a Igreja realiza durante o ano cinco grandes coletas. Essas coletas devem ser remetidas aos seus destinos e jamais retidas nas Comunidades que as realizam.

            A primeira coleta é a da solidariedade, realizada no domingo de ramos, frutos saborosos das campanhas da fraternidade e dos exercícios quaresmais, destinada aos incontáveis projetos de ação social das comunidades tanto diocesanas, como nacionais; a segunda é para os lugares santos, tão bem cuidados por nossos irmãos franciscanos na Terra Santa, realizada na sexta-feira santa da paixão do Senhor; a terceira é o Óbolo de São Pedro, realizada no dia do papa, com a qual o Santo Padre socorre, em nome dos católicos do mundo inteiro, povos em extrema situação de vulnerabilidade, consequentes de enchentes, terremotos, guerras, fome, cataclismas diversos, etc.; a quarta é a das missões, realizada no Dia Mundial das Missões, que ajuda nossos missionários no anúncio do Reino de Deus mundo afora, e a quinta coleta é para a evangelização, destinada à manutenção das dezenas de projetos pastorais Brasil afora, realizada no terceiro domingo do Advento.

            Costumo sugerir ao amado povo de Deus presente nas Comunidades que sirvo, que as coletas devem ser a partilha de nossa pobreza. Não devemos colaborar por mero desencargo de consciência. A coleta deve ser o resultado ou os frutos de algo que gostamos muito e, que abrimos mão em favor dos que se beneficiarão com nosso sacrifício, abstinência ou penitência. Alguma guloseima, algo supérfluo, gasto não poucas vezes em tantas coisas desnecessárias. Por um mês ou certo período fazer o bom propósito de deixar de consumir algo que não será necessário para nossa saudável sobrevivência, e depositar tal valor não gasto, mas economizado, no envelope ou na cestinha no dia de determinada coleta em nossa comunidade de fé, oração e amor. Não tenho dúvidas de que é essa coleta, proveniente de tal exercício de abstinência, que mais agrada o coração de Deus, e mais servirá para quem necessita da partilha de nossa pobreza.

 Nas celebrações do próximo final de semana (dias 22 e 23 de outubro), em todas as Comunidades do mundo realizar-se-á a Coleta das Missões! Ao longo das primeiras semanas de outubro, distribuímos envelopes para serem devolvidos numa dessas celebrações, contendo a partilha de nossa pobreza. As Cúrias destinarão o resultado de nossa doação, e não simples esmola, às Pontifícias Obras Missionárias!

Também nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto mantém projetos missionários com Sacerdotes presentes em campos missionários: Padre Acássio Ferreira Rocha no Quênia (África), o Padre Edmário Bezerra Gomes na Paróquia São Sebastião do Uatumã na Prelazia de Itacoatiara (AM), o Padre Aparecido Donizeti Maciel na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Careiro da Várzea (AM), o Padre Rodrigo Barcelos na Paróquia Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos em Manaus (AM), e nem por último, o Padre Gabriel Balan Leme na Paróquia Nossa Senhora Desatadora dos Nós no Parque Cristo Redentor, no Jardim das Oliveiras, a Paróquia Missionária criada por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, no Ano Missionário de 2019.

Que a Beata Paulina Jaricot e os padroeiros das missões, São Francisco Xavier e Santa Teresinha, nos inspirem a sermos testemunhas missionárias até os confins do mundo, todos os dias de nossa vida!

terça-feira, 11 de outubro de 2022

FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

Os católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que celebramos neste dia 12 de outubro, pois todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história, transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em luz, de miséria e pobreza em abundância.

 


            A imagem de Nossa Senhora que há 305 anos apareceu no rio Paraíba do Sul é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e esposa peregrina, é chamada a fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o Messias.

 

            O aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu, e a abundância foi readquirida.

 

            Neste dia, no Brasil, também se comemora o dia das crianças. Elas aguardam de todos nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz. Que a honestidade espane do cenário de nossa rica Nação a tão sistêmica corrupção.

 

            Gosto sempre de imaginar a cena daquele casamento em Caná da Galileia. Deve ter sido um casamento de pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos os chamados “ricos emergentes” ou ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos verdadeiramente ricos!

 

            Maria, que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando sua mãe de “Mulher”. Em outras palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto, vai aos serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente pela fé de Maria em Jesus. Da Festa de Nossa Senhora Aparecida, também nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou para nós!



quarta-feira, 5 de outubro de 2022

SEGURANÇA PÚBLICA QUE DÁ MEDO!

 

Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com

 

Nos Evangelhos, Jesus insiste em afirmar, que o Reino de Deus é um Reino de Justiça e de Paz. Portanto, onde não há justiça, não há reino. O Papa Francisco insiste em superarmos a Cultura do Descartável na Cultura do Encontro e da Paz, da Fraternidade e da Ternura!

 

            A Segurança Pública não garante mais “segurança” ao cidadão. Produz medo. E o medo nos rouba a paz, porque cresce, em nossas relações interpessoais, a incredulidade. As fobias, os traumas, as crises de medo em geral e sobre o futuro, e as indecisões do presente, nos fecham para todas as experiências que deveríamos ter com Jesus Cristo. O medo é uma das fortalezas que mais está presente em nossa mente. As pessoas têm medo umas das outras. Inverteu-se o espaço da liberdade. Há medo na família, na escola, no trânsito e em todos os lugares.

 

            Falar em Segurança Pública neste contexto nos questiona seriamente. Houve uma inclusão do crime organizado que aprisiona os cidadãos de boa vontade. As tantas casas de detenção construídas nos últimos anos, inclusive as de segurança máxima, oferecem mais liberdade – incutindo medo – do que os inúmeros – centenas de condomínios fechados, que viraram, por sua vez, prisões de seus habitantes.

 

            O tráfico de drogas, de armas e as tantas corrupções de agentes de segurança, questionam e colocam em risco a vida de pessoas inocentes, que sentem medo de ir e vir, de dormir e não acordar. Até mesmo o Poder Judiciário em sua Suprema Corte está em descrédito, por um fio da banalização.

 

            Entre tantas tragédias que a mídia nos elenca diariamente, vivi uma experiência ímpar, que passou bem perto de mim. Uma senhora trabalhadora, honesta e sofredora, mãe de quatro filhos, perdeu numa mesma tarde de domingo o marido e o filho mais velho, que nadando embriagados num rio, morreram afogados. Ela não suportou a perda e sofreu um derrame cerebral. Seis meses depois, inerte à mesa, o filho alimentava-a, dando-lhe o almoço na boca. Ela não se mexia. A filha mais nova, de apenas 16 anos, envolvida com um traficante de drogas, apareceu com o namorado. Este matou o jovem de 27 anos, que alimentava a mãe, com três tiros, e, o rapaz caiu morto sobre o colo da mãe. O outro irmão, de 19 anos, reagiu e também foi morto, caindo sobre o irmão. Dona Zulmira, com dois filhos mortos sobre o colo, só conseguia olhar para eles, pois já não se mexia, nem para um último abraço, devido ao derrame. Uma verdadeira “Pietà” – Nossa Senhora da Piedade – de nossos tempos.

 

            Enquanto não investirmos na educação, a injustiça e a insegurança públicas, geradoras de medo, ao invés de encontros que gerem paz, o medo de viver dentro da própria casa, ou de ser alvo de balas perdidas, continuarão.

                       

            Todos os dias são noticiados furtos, latrocínios e invasões até de condomínios guardados por segurança sofisticada. Sei do esforço das Polícias em proteger os cidadãos de bem, mas sempre me pergunto, como os receptadores dos furtos continuam dando a última palavra nesse mundo do crime, que gera uma segurança pública que dá medo?