Pesquisar neste blog

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

PREGAÇÃO PARA O SEGUNDO DIA DA NOVENA DE SÃO SEBASTIÃO


“Nossa Igreja Particular: uma história sonhada por Deus e

concretizada por Ele através de nossos Pastores”
 

Nossa Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a construção da vinha do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux 

Meus queridos Irmãos e Irmãs na Fé!

Profundamente agradecido aos meus irmãos sacerdotes responsáveis pela Igreja-Mãe de nossa Igreja Particular, por me terem convidado, confiando-me a pregação do segundo dia da Novena que prepara a Festa de São Sebastião, Mártir, Padroeiro da Catedral Metropolitana e de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto, venho com o coração transbordando de alegria, para juntos, celebrarmos também, na Festa do Batismo do Senhor, o término do Ciclo de Natal. Celebramos quatro grandes novidades neste Natal; como que presentes antecipados que prepararam os corações dos cristãos e não cristãos, para acolhermos o projeto de Deus que se fez pobre, para enriquecer-nos: a ousada coragem do Papa Emérito Bento XVI, que a exemplo de João Batista se retirou, com a expressão do profeta: “É preciso que eu desapareça, a fim de que Jesus seja anunciado por alguém menos idoso, mais saudável e cheio de novo vigor e novas forças!”. A eleição do Papa Francisco, o Papa da Ternura, que encanta o mundo com seu jeito humilde e descomplicado de ser. Desejoso, como expressa em sua primeira Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho, de arejar, restaurar e reanimar a Igreja de Jesus Cristo, como o fez com tanta propriedade São Francisco de Assis. A chegada de nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, que com delicadeza, serenidade e sutileza desce ao rebanho, para cheirar, como o pede o Papa Francisco, as ovelhas que lhe são confiadas em nossa Igreja particular. Por fim, a 28ª Jornada Mundial da Juventude, iniciada no Rio de Janeiro sob a presidência do Santo Padre o Papa Francisco, e que se estende mundo afora com um ânimo primoroso, parecendo nossa Juventude com aquela estrela que conduziu os Magos a Belém.

            Achei muito criativa a preparação desta Novena. Muitas são as coincidências aproveitadas, para enriquecer nossa espiritualidade, animar nossa missão, tornando-nos à luz da Festa de nosso Padroeiro, discípulos ainda mais fiéis de Jesus Cristo. Penso que toda Novena em preparação a festa dos padroeiros de nossas Comunidades, deve sempre enriquecer nossa maneira de sermos Igreja! Foram nove, os Pastores que serviram nossa Arquidiocese, desde sua criação em 1908. Durante a Novena serão “celebrados os Mistérios da vida, recordando e fazendo memória dos nove Bispos falecidos”. A mim cabe celebrar o Mistério da Vida e fazer memória, recordando a breve, embora riquíssima história, do segundo Bispo Diocesano, com vocês nesta noite: Nossa Igreja Particular: Uma Igreja que gera colaboradores para a construção da vinha do Senhor, pelo exemplo de Dom Manuel da Silveira D’Elboux.

            Dom Manuel, nascido na cidade paulista de Itu, antes de sentir o chamado ao sacerdócio, foi jogador de futebol e músico, pois tocava violino. Ingressou ao seminário já com 21 anos de idade e depois de sete anos era ordenado sacerdote na Igreja Santa Efigênia de São Paulo, onde anos depois nosso saudoso Dom Joviano seria pároco. Coincidência ou Providência de Deus! Com apenas 36 anos de idade foi nomeado Bispo Titular de Barca e Auxiliar de Ribeirão Preto.

            Outra Coincidência ou Providência foi dia 17 de abril (dia de meu natalício, embora 17 anos antes do meu nascimento) que Dom Manuel chegou a Ribeirão Preto, para auxiliar o já convalescente primeiro Bispo, Dom Alberto José Gonçalves. “Dinamizou a Obra das Vocações Sacerdotais, apoiou a fundação do Círculo Operário Ribeirãopretano, incentivou as Congregações Marianas (masculina e feminina), promoveu a construção do salão ‘Dom Alberto’ – destinado às Associações Religiosas da Catedral -, procedeu à reforma da Igreja São Benedito, destinando-a a Adoração Perpétua ao Santíssimo Sacramento”, onde posteriormente foi instalada a mesa da sagrada comunhão, que hoje embeleza o altar da celebração desta linda Catedral, em que vemos esculpida a Santa Ceia, pelas mãos de Antônio Palocci.

            “As características do trabalho de Dom Manuel como bispo auxiliar foram excepcionais nos seguintes pontos, que resumimos:

            - Discrição, prudência e paciência aliados a um dinamismo de todos os dias, procurando sustentar e dinamizar os planos de Dom Alberto, já combalido pela doença. Neste esforço, foi-lhe de grande valia a ajuda constante e criteriosa do Mons. João Laureano, esforçado Vigário Geral, que muito contribuiu para encaminhar problemas e aplainar as naturais dificuldades de visão entre um bispo idoso e cansado e outro moço e cheio de entusiasmo”. Coincidência ou Providência: na época Mons. João Laureano era também o Capelão da Igreja Santo Antoninho, onde hoje sirvo com alegria aquela Reitoria cuja Igreja é a mais antiga em pé, já que o início de sua construção data de 1892. No ano em que Dom Manuel nasceu, 1904, Padre Euclides Carneiro abriu a mesma Santo Antoninho ao povo dos Campos Elíseos e da cidade!

            Foi o responsável pela abertura do Seminário Diocesano no dia 19 de março de 1945. O prédio da Rua Rui Barbosa era ocupado pelos seminaristas dos Padres Estigmatinos, que o devolveram à Diocese, quando concluído seu Seminário Próprio, que lá funciona até os dias atuais, na Rua Conde Afonso Celso. Coincidência ou Providência. Em 1995, quando o Seminário Diocesano comemorou seu Jubileu de Ouro, servindo na formação do atual prédio, o Seminário Maria Imaculada de Brodowski, alunos e formadores, estudando a história de fundação, deparamo-nos com a figura dinâmica e zelosa pelas Vocações Sacerdotais, Dom Manuel da Silveira D’Elboux. Ele adquiriu o terreno na Vila Virgínia, o atual Conjunto Habitacional D’Elboux, pensando num Seminário moderno, distante do centro da cidade, sonhando com um eficaz crescimento de Vocações.

            Após o falecimento de Dom Alberto, foi eleito o segundo Bispo Diocesano de Ribeirão Preto no dia 31 de janeiro de 1946. Coincidência ou Providência: tomou posse com parecida jovialidade e vigor de Dom Moacir, nosso Arcebispo atual! Segundo a imprensa da época, a Posse de Dom Manuel foi uma das mais solenes festividades vistas até então pelo povo de Ribeirão Preto. A recepção carinhosa seguramente devia-se ao trabalho de Dom Manuel como Bispo Auxiliar. Foi profundamente amado por nossa Igreja particular.

            Coincidência ou Providência, Dom Manuel criou cinco paróquias e ordenou oito padres, dos quais convivemos com sete. Entre eles o Côn. Arnaldo Álvaro Padovani, que sucedemos na Igreja Santo Antoninho e no Centro do Professorado Católico, onde foi Assistente Eclesiástico; ambos serviços assumidos por nossa pobreza nos dias atuais. Ordenou também o Côn. Antônio de Oliveira, que doou a maior parte de seu ministério a Sertãozinho; Dom Jaime Luiz Coelho, primeiro Bispo e Arcebispo de Maringá (PR); Côn. Sebastião Ortiz Gomes, falecido em Pontal; Pe. Alceu Garcia Prado, que conhecemos em Franca; Côn. Aguimar Luiz de Paula Marques, falecido em Bento Querino e o Côn. Gilberto Maria Delfino, de São Simão, que por longos anos foi o Diretor Financeiro da FAI – Faculdades Associadas do Ipiranga. Os sete passaram de alguma forma por esta Catedral, no exercício de seu ministério. O tempo de Dom Manuel foi marcado por uma maior espiritualização e insistência na formação daquilo que já existia. Não deixou muitas obras materiais, mas espiritualizou as que aqui encontrou. Insistiu, sobretudo, na espiritualidade eucarística. Dinamizou a Ação Católica; dedicou-se ao Círculo Operário, atestando suas preocupações com a classe operária.

            Um marco, na vida da Igreja, em Ribeirão Preto, que revelava a abertura de visão de Dom Manuel, foi a aquisição do Diário de Notícias, o maior Jornal da região, entre 1º de setembro de 1945 até 1978. Outras tantas fundações poderiam ser elencadas, mas nos alongaríamos demasiado, não obstante Dom Manuel estivesse à frente da Diocese de Ribeirão Preto apenas por quatro anos, porque foi nomeado Arcebispo de Curitiba no Paraná em 1950. Deixou para trás, entre outros, o sonho de fundar uma Faculdade de Filosofia da Diocese. Depois de 20 anos servindo a Arquidiocese de Curitiba, acolheu serenamente seu nome ecoando na eternidade no dia 5 de fevereiro de 1970, 24 dias antes de completar 74 anos. Seus restos mortais se encontram na Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral daquela Metrópole paranaense!

            Dom Manuel, homem bom, sorridente, amável, discípulo e imitador do suave São Francisco de Sales. Viera da reitoria do Seminário do Ipiranga e lá deixara, ao sair em 1940, um vazio que não sei se chegou a ser coberto: o vazio da bondade... Há os que preferem ser temidos e os que sabem ser amados. Dom Manuel escolheu esta melhor parte: ‘Itu, sua terra, onde tudo tem fama de grande, deu-lhe um enorme coração’, segundo Dom Benedito de Ulhôa Vieira, Arcebispo Emérito de Uberaba (cf. CORREIA, Francisco de Assis. História da Arquidiocese de Ribeirão Preto (1908-2008). Brodowski: Grafcolor, 2008, pp. 150-169).

A liturgia deste domingo, que encerra o Tempo de Natal, recorda o batismo de Jesus, por João Batista, nas águas do rio Jordão onde ele é manifestado como Filho amado do Pai. Solidário com os que buscam a conversão e a vida nova, ele se deixou batizar, enquanto permaneceu em oração. Em sintonia com o povo e com Deus, Cristo ouviu a voz do Pai que o consagrou para cumprir o seu plano de salvação.

Em cada batizado que celebro, costumo fazer três perguntas aos pais e padrinhos: “Sabem o dia em que foram batizados? Quem (o padre) os batizou? São de Igreja, participando de alguma Comunidade de Fé?” Geralmente a resposta é “não’. Quem não sabe o dia do batizado, também não o celebra, pelo menos, consciente e livremente. Talvez por tradição, ou porque é hábito da família. Sem uma Comunidade, que sustente os compromissos batismais, a fé recebida no dia do nosso batismo esclerosa, resseca, mofa. Já o Ano da Fé foi um insistente convite, de que arejemos nossa fé, cultivando-a e por meio dela, anunciemos as maravilhas que os dons do Espírito Santo realizam naqueles que se abrem a Ele. Esconder tais dons significa insensibilidade, indiferença e até omissão. Eis a hora de assumirmos nossa fé, como dom precioso que nos é dado desde o “útero da Igreja”, a Pia Batismal!

A festa do Batismo de Jesus revela para nós mais uma dimensão de sua encarnação. É a manifestação pública da sua missão. Solidário com o povo, Jesus também entra nas águas do Jordão para receber o batismo. O seu mergulho na água se liga com seu mergulho na nossa humanidade, tornando-nos assim, seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade.

O Batismo é nosso segundo parto. Primeiro partimos do útero de nossa mãe. Quando batizados, partimos do útero da Igreja, preparando-nos à luz da fé que nele recebemos, para o parto definitivo, que se debruça sobre a esperança de que morrendo, partindo do útero da terra, veremos Deus como é, e isso nos basta. Renovemos sempre nossos compromissos batismais, recordando-nos que através do Batismo Deus nos adota como seus. E, por conseguinte, tornamo-nos irmãos uns dos outros. Sejamos mais do que irmãos. Sejamos anjos uns dos outros, a fim de celebrarmos com o vigor de nossa fé, a Festa do Padroeiro de nossa Catedral e Arquidiocese de Ribeirão Preto. Nos encontramos, em espírito batismal, na oração. Tenham uma abençoada Festa de São Sebastião. Com ternura, minha gratidão! 

Padre Gilberto Kasper