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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O SANTO PADRE TESTEMUNHA PROFUNDA HUMILDADE


Pe. Gilberto Kasper*

            A notícia da renúncia ao “Serviço Petrino” que o Santo Padre, o Papa Bento XVI anunciou no dia 10 de Fevereiro, surpreendeu o mundo, não apenas os católicos, como todas as denominações religiosas. Dia 28 de Fevereiro de 2013, às 20 horas (Hora de Roma e 17 horas de Brasília) fica vacante a Sé de Roma e a Cadeira do Sucessor de Pedro, o primeiro Papa nomeado pelo próprio Cristo.
            A renúncia mais surpreendeu porque o último que o fez foi Gregório XIV em 1415, há seiscentos anos. Os motivos que o Papa Bento XVI apresenta são sua idade avançada; completará 86 anos dia 16 de abril, sua saúde debilitada e rápida mudança de época que exige uma assoberbada agenda papal de compromissos. Diz-se frágil para continuar “remando a barca de Pedro, que é a Igreja Católica Apostólica Romana”.
            Ao ser eleito (no caso de Bento XVI a 19 de abril de 2005), o Papa despe-se de todo seu ser, para dedicar-se plenamente ao “Serviço Petrino”, que é conduzir a Igreja com suas conquistas e limites. Entrega-se totalmente à vontade de Deus, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, em busca da configuração de Cristo, o Bom Pastor. E a exemplo de Cristo na cruz, atrai para si todas as culpas, já que a Igreja é santa porque conduzida pelo Espírito Santo, mas também pecadora porque formada por todos os  seus filhos, pessoas cheias de limites e pecados.
            Com quanta rapidez emitimos juízos e críticas, tantas vezes infundadas contra a pessoa do Papa, esquecendo-nos, de que quando eleito, se desfaz do próprio nome, de seu vestuário, nunca mais volta para o aconchego de seu lar, nem mesmo para apanhar algo de sua predileção. O Papa anula-se totalmente para, com a liberdade necessária dedicar-se exclusivamente ao Reino de Deus. Só que tal liberdade o aprisiona ao Vaticano, a Residência Pontifícia, tendo de usar sempre as mesmas vestes, cercado por dezenas de seguranças, abrindo mão de seus hábitos e não poucas vezes de suas vontades próprias. Coloca em seu coração uma Igreja do mundo inteiro: seus filhos, seus desafios, seus problemas e projetos. Quem sou eu e quem somos nós, para “falar mal do Papa” o que fazemos sem medidas com tanta frequência? Só uma pessoa profundamente corajosa, coberta pela graça de Deus, escolhida a dedo por Jesus Cristo, conduzida pelo Espírito Santo e agraciada pela proteção de Maria Santíssima, é capaz de prestar tamanho “serviço pela santificação da humanidade”.
            Não me agradam expressões como cargo e função. Prefiro a expressão “serviço”, o mesmo instituído pelo próprio Cristo na Última Ceia com seus Apóstolos, Seguidores e Seguidoras mais próximos. Naquela ocasião instituiu os Sacramentos da Ordem, da Eucaristia e gosto de afirmar, também da Humildade!
            Ao renunciar seu Serviço Petrino, O SANTO PADRE TESTEMUNHA PROFUNDA HUMILDADE! Oxalá todos nós, especialmente os que não abrem mão de suas funções e cargos e pensam ser insubstituíveis, aprendamos a lição de tão linda Humildade. Saibamos, com João Batista e o Papa Bento XVI, reconhecer nossos limites e ter a coragem de dar lugar a outros, com maior vigor, saúde, sabedoria e disposição, para sentar em nossas cadeiras, nas quais alguns se sentam colados com a intenção: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
            Se o Beato João Paulo II lotava a Praça de São Pedro, por ter tido o carisma mediático, para que as multidões o vissem, o Papa Bento XVI, tímido e discreto, lotava a mesma Praça no Vaticano, por sua sabedoria revelada em suas catequeses e riquíssimas obras escritas, para que as multidões o ouvissem! Reconhecer sua fragilidade e renunciar é um gesto de grandiosidade, que seguramente poucos líderes políticos e eclesiais tem.
            Finalmente, ao celebrarmos o cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II ambos: o Beato João Paulo II e o Papa Bento XVI se cobriram de coragem e ousadia para pedir perdão à humanidade, dos pecados de alguns dos membros da Igreja Católica Apostólica Romana, bem como para alargar como nunca antes na História da Igreja, o diálogo ecumênico e inter-religioso com as diversas denominações, sem, porém, relativizar a fidelidade de tudo aquilo em que cremos. A grande preocupação dos dois Papas, e muito especialmente de Bento XVI, foi a recristianização da Europa e de outros Continentes ocos de valores evangélicos e do próprio Deus de nossa História.

*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.