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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

HOMILIA PARA O PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.

            Para as comunidades cristãs, a caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus, por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.

            A Quaresma deste ano insere-se nas comemorações do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Na palavra de João Paulo II, o Concílio se constituiu numa grande graça que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do próximo século. E o Papa Bento XVI, por sua vez, afirma: ‘o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja’ (Carta Apostólica Porta Fidei, n.5). Em sintonia com o Ano da Fé, a Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5,31).

            ‘A profissão de fé no Deus salvador é disposição constante do povo fiel ao longo da história da humanidade. O ‘credo do israelita’ é reconhecer a ação libertadora de Deus na história, comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina como nos libertar das tentações do dia-a-dia. O ‘credo do cristão’ é aceitar Jesus como o Senhor ressuscitado dos mortos.

            Frutos da terra e do trabalho humano, os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo pelo qual devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que têm menos do que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à eternidade no dia em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o que poderia enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam fome, diariamente, no mundo) tornam-se pela ação de graças a ele, sinais sacramentais de sua benevolência e promessa de bens maiores e eternos’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da Paulus, pp. 59-62).

            Depois de ser batizado nas águas do rio Jordão e ser publicamente proclamado como o ‘Filho amado de Deus’, Jesus é ‘conduzido pelo Espírito ao deserto’. Mais do que lugar geográfico, o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do tentador, ratificando sua determinação de se entregar até às últimas consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o projeto que fora confiado. [...]

            Gosto de pensar que o problema não é o pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na medida em que cedermos ao pecado e às tentações. [...]

            A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.

            Por isso, a caminhada quaresmal pode se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o consumir.

            Naturalmente, a conversão quaresmal só é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos ‘ídolos’ que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa nos alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo mais radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.

            Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos ao deserto para uma experiência viva de fé. Caminhando nas areias do deserto, o Espírito nos liberta do ‘homem velho’ e nos amadurece para o compromisso com o ‘novo’. Que o grande retiro quaresmal alimente nossa fé” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma 2013 da CNBB, pp. 21-27).

            Finalmente a primeira semana da Quaresma, neste ano à luz do ANO DA FÉ, nos indica pequenos exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada, envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante de nós mesmos, de Deus e dos outros.

           Desejando-lhes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,13)