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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

HOMILIA PARA O SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Neste Segundo Domingo da Quaresma, somos convidados a subir a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para contemplarmos o mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado que Jesus glorificado é o salvador esperado e que transformará nossa condição humana em realidade glorificada. [...] Imagino que os discípulos deram uma espiadinha no céu. [...]

           A visão da transfiguração de Cristo nos convida a ‘prestar ouvidos ao eleito Filho de Deus’, se quisermos ter forças no discernimento das ações que edificam o mundo segundo o projeto do Pai. A Palavra de Deus, neste dia, nos descreve a parábola ou nos desvela o grandioso plano salvador de Deus.

            A contemplação do Senhor transfigurado ressalta que ‘a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos’ (Carta Apostólica Porta Fidei, n.7).

            ‘Neste domingo da transfiguração, Jesus nos convida a escutar o que ele tem para nos dizer e a contemplar seu rosto luminoso. Firmes e cheios de fé no Senhor, celebremos a sua páscoa, que se realiza nos grupos e pessoas dispostas a transformar para melhor a realidade de cada um e a vida do povo sofrido.

            As leituras nos motivam a abrir o coração às promessas de Deus, que se preocupa e sempre quer fazer aliança conosco. Chamados a participar da glória do Senhor, escutemos o que hoje ele nos diz. [...] E o que Jesus, o Filho amado do Pai nos diz ao coração, à luz do ANO DA FÉ? Que nos amemos uns aos outros, e pronto. Isso parece simples, mas não é fácil. Amar o diferente, amar quem nos trai, amar quem nos difama e não nos perdoa, amar o inconveniente e o que nos faz sofrer... Mas é o que Jesus espera de cada um de nós. E à luz da Campanha da Fraternidade: FRATERNIDADE E JUVENTUDE, o que Jesus nos pede e diz? Que sejamos fiéis ao lema da mesma: Eis-me aqui, envia-me! (Is 6,8). Deixar-nos enviar implica num prolongado compromisso com nossa Juventude, que é convidada a ser bússola que oriente, através do testemunho, da coerência e do bom senso, todos ao Cristo transfigurado! [...]

            Na aliança com Abrão, Deus promete descendência e terra. A transfiguração de Jesus é prenúncio da glória que a humanidade toda deseja. Estamos a caminho da transformação, mas para isso é necessário empenho e renúncia’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da Paulus, pp. 75-78).

            Na caminhada da vida, por vezes, uma decisão importante, a realização de um acontecimento, é precedida por crises, trevas e expectativas. Jesus, como exímio Mestre, insistia que os discípulos deviam caprichar no seguimento e tomar a cruz de cada dia. Contudo, para eles, essa conversa da cruz e que ele tinha que sofrer para entrar na glória não fazia parte de seu imaginário e de sua compreensão. As palavras do Mestre sobre a cruz implodiram as esperanças messiânicas e a decepção foi geral.

            A transfiguração se traduz na revelação de que o caminho da glória passa pela cruz. A glória efêmera de um atleta, que no alto do podium recebe a medalha de ouro, é precedida por renúncias e sofrimentos alimentados pelo sonho de ser vitorioso.

            Envolvidos pela luz da glória, Jesus e os representantes da antiga aliança, Moisés e Elias conversam sobre o seu êxodo em Jerusalém. Enquanto isto, Pedro só tem olhos para a glória deslumbrante. Quer chegar à glória por um atalho que evite a cruz. [...] Conosco isto acontece frequentemente. Não raras vezes pulamos etapas. Até pisamos sobre os outros para chegarmos, por atalhos à glória do prestígio, daquilo que chamamos de cargos, funções, honrarias e poder, seja no âmbito eclesial, político e social. Geralmente tais comportamentos, tais atalhos, são desastrosos e fazem muitas pessoas sofrerem por conta de nosso egoísmo e infidelidade na missão que nos foi conferida. [...]

            Ao discípulo não compete inventar um caminho particular que evite a hora desagradável da cruz. Cabe-lhe assumir e andar junto com seu Mestre no mesmo itinerário. A transfiguração passa pela prova de um rosto desfigurado pela angústia para um rosto glorificado” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma de 2013 da CNBB, pp. 28-33).

            Esta Segunda Semana da Quaresma nos propõe profunda conversão em nossa missão, sobretudo ministerial.  Discípulos do Senhor que querem chegar à transfiguração pessoal, deverão descer da montanha e assumir a realidade. Muitos gostariam de permanecer, como Pedro, lá na montanha, diante da glória. Jesus dá outra orientação: descer ao hodierno, não contar nada a ninguém, e assumir com amor e dedicação incondicional a missão que nos é confiada. Muitas vezes não compreendo como nós ministros ordenados deixamos pessoas morrer sem nossa absolvição, unção dos enfermos; deixamos de atender as pessoas que nos procuram para reencontrarem a paz interior, porque nos ocupamos com tarefas que nem mesmo condizem com nosso Sacerdócio ordenado. Com quanta frequência deixamos de presidir a Eucaristia para nossas Comunidades, porque precisamos passear. Com quanta facilidade gastamos mal o dinheiro com coisas desnecessárias, ou não enviamos o valor realmente arrecadado nas coletas, como no caso da que faremos nesta Quaresma: A Coleta da Solidariedade no Domingo de Ramos?

            Enquanto agirmos sem uma profunda conversão e o resgate da clara noção de justiça em relação ao dinheiro da Comunidade, teremos a coragem profética de pedir maior justiça e transparência por parte de nossos Governantes, tantas vezes corruptos e desonestos, desviando recursos a benefícios pessoais? Oxalá esta Quaresma lapide, moldando-nos ao Mestre que nos escolheu para seu discipulado e não se decepcione ainda mais com nossa prostituição por dinheiro, fama, prestígio e bem estar descabido. Quando utilizo o termo “prostituição” não me refiro à sexualidade, mas à negação da própria consciência, princípios e valores, como acontece com tanta frequência em nossa Política que ou se prostitui aos partidos em demasia, ou não sobrevive ao esquema desonesto.

Sejam todos abençoados e com ternura, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
                               (Ler Gn 15,5-12.17-18; Sl 26(27); Fl 3,17-4,1 e Lc 9,28-36)