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quarta-feira, 20 de julho de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, ensina-nos a rezar,
como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1b).

            Temos todos um Pai comum. Foi Jesus que nos ensinou a chamar Deus de Pai, nosso Pai, o que foi ousado e escandalizou muitos religiosos de então. Aparentava ser verdadeira blasfêmia. Afinal de contas “pai” tem a ver com “parente”, e parente mais próximo. Portanto, a ousadia de Jesus de chamar a Deus de pai soava como se ele dissesse que Deus é nosso “parente” mais próximo e que nós somos seus filhos e filhas: existe um “parentesco” entre Deus e nós. E não é assim? Fomos, de fato, criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27) e agora somos renascidos em Cristo.
            Gosto de pensar: queremos uma noção mais próxima de como Deus é? Basta olhar para o rosto do nosso semelhante. Somos semelhantes ao nosso Criador. Não somos deuses, mas parecidos com Deus! Muitas vezes agimos uns sobre os outros, como se fôssemos seus deuses, ou seus donos. O namorado diz para sua namorada: “eu te adoro!” e vice-versa. Nós nos adoramos não como deuses, mas como semelhantes e isso nos torna ainda mais lindos. Isso nos torna Anjos uns dos outros! Por conta disso, também penso que não existem pessoas feias. As pessoas foram criadas lindas, porque à imagem e semelhança de Deus. Mas elas se fazem feias, na medida em que se distanciam desse “evento” ou “parentesco”, cuja novidade nos é trazida pela Palavra proclamada neste Décimo-Sétimo Domingo Comum do Ano Litúrgico!
            Jesus resgatou a dignidade que havíamos perdido e voltamos a ser família de Deus, povo de Deus. É nesta experiência de vida nova que nos unimos, de maneira especial, aos milhares de jovens na Jornada Mundial da Juventude nesta semana em Cracóvia na Polônia. Que o Espírito Santo de Deus ilumine a juventude de hoje para que, iluminada pela Palavra de Deus, sinta-se fortalecida para o testemunho da fé em Cristo.
Da mesma forma que Abraão, vamos nos pôr na presença de Deus, que quer nos comunicar sua palavra de salvação. Ele, que deu vida nova no batismo, agora nos dá a conhecer seu rosto e seu amor.
            A oração insistente e sincera do justo em favor do povo chega ao coração de Deus. Jesus nos ensina a pedir com insistência o que é fundamental na vida. Pelo batismo morremos e ressuscitamos com Cristo e nos tornamos novas criaturas. Já a oração eucarística, como ação de graças, súplica e intercessão universal, possui os múltiplos aspectos da oração perfeita de Cristo na cruz.
            Existem cristãos que, julgando-se esclarecidos, afirmam que as orações do nosso povo são muito egoístas, pois são quase sempre orações de pedido. Geralmente somos mais pidões do que agradecidos, também em nosso modo de rezar, até quando o fazemos conscientemente, como diálogo com Deus! Interessante que a Palavra deste Domingo acentua o contrário: é importante pedir, e até insistir no pedido. Abraão com seus incansáveis pedidos quase salvou as cidades de Sodoma e Gomorra. Infelizmente, as cidades eram ruins demais. Jesus, por seu turno, ensina aos discípulos o Pai-nosso, uma oração de pedido. O Pai-nosso pede inicialmente que a vontade de Deus seja feita. Ora, uma vez que rezamos em harmonia com a vontade e o desejo de Deus, podemos pedir bastante. O que não me parece justo é rezarmos para que a vontade seja feita, desde que coincida com a nossa. Precisamos antes, discernir qual é a vontade de Deus para conosco. Gostei muito, quando na sua homilia de posse, nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, pediu-nos que rezássemos por ele. “Rezem por mim. Rezem para que eu não atrapalhe a graça de Deus em meu ministério”. Quanta coragem e ousadia a de nosso amado Pastor! Mostrou-se um Homem de Deus, que quer sempre discernir a vontade e a graça divinas de Deus em sua vida.
            Será a oração em forma de pedido uma forma de oração mais egoísta que a meditação, a louvação, o agradecimento, a adoração? Parece que não! Na verdade, agradecer é a outra face do pedir. Quem agradece, gostou. Por que não pedir então? É reconhecer a bondade do doador! Como o frei que, depois de laudo almoço na casa de uma benfeitora, testemunhou sua gratidão com estas palavras: “Senhora, não sei como agradecer... será que posso repetir aquela gostosa sobremesa?”.
            De acordo com o espírito do Pai-nosso, devemos pedir antes de tudo a realização daquilo que Deus deseja: sua vontade, seu Reino. Ora, uma vez assentada esta base, pode-se pedir – com toda a simplicidade – o pão de cada dia, saúde, vida e todos os demais dons que Deus nos prepara. Inclusive, o perdão de nossas faltas. Só não se deve pedir a Deus o que Deus não pode desejar: a satisfação de nosso egoísmo. E sempre se deve lembrar que Deus sabe melhor do que nós o que nos convém. Podemos insistir naquilo que achamos sinceramente nosso bem... mas Deus sabe melhor.
            É importante pedir, pois pedir também compromete! Depois de ter pedido, a gente já não pode dizer: “Não pedi!”. Comprometer-nos com Deus e com aquilo que pedimos. Não é como no supermercado, onde você entra, olha e sai sem comprar. Assim as preces dos fiéis, na celebração da comunidade, devem ter sentido de compromisso: devemos querer mesmo que elas se realizem, e nos oferecemos a Deus para colaborar na realização daquilo que pedimos. Pedir é comprometer-se. Imaginemos Deus ouvindo nossas preces, como esta: “Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...” Se não perdoar o meu irmão, como peço a Deus que me perdoe? Se pedirmos a Deus saúde, não é para gozar egoisticamente a vida, mas para servir melhor. “Quem não vive para servir, não serve para viver!”. Se pedimos paz, não é para sermos deixados em paz, mas para nos dedicarmos à comunhão fraterna. Se pedimos por nossos irmãos e irmãs mais pobres, é porque queremos ajudá-los efetivamente. Importa saber como pedimos (cf. Tg 4,3).
            Saibamos rezar com mais consciência e fé madura, a oração que o Senhor nos ensinou, ao pedido de seus discípulos: O Pai-nosso! São sete pedidos. Será que nós, ao rezamos esta belíssima oração, temos plena consciência do que nela estamos pedindo? E se Deus realmente ouvisse nossos pedidos, como seria nossa vida, nossas relações com nossos semelhantes, aqueles que nos permitem “uma noção do rosto de Deus”?
            Sejam todos sempre abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,20-32; Sl 137(138); Cl 2,12-14 e Lc 11,1-13).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2016, pp. 76-79 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Julho de 2016), pp. 69-75.